quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A tortura do tempo


Uma tortura causada por um tempo que parece não passar. Nada definido, nada parece sequer inclinado. No exato meio, no ponto central, em cima do muro, no fundo do poço. Em comum a falta de tendência, nenhuma indicação de onde ir, para onde andar, também porque, no fundo desse poço, subir não é uma escolha possível. Fosse jogada uma corda eu subiria mas, quem a jogará? O tempo trará, com o vento do Espírito que vem dos céus, alguém, uma alma viva que faça viver. Enquanto isso a espera. No poço, no muro, no meio. Fechar os olhos e dormir é plausível porém há de se ter consciência de que o tempo pode passar muito além do que deve e a estadia no centro, no meio do nada e do tudo, vira eternidade. Eterno é o que o tempo não afeta, não muda. O eterno pode durar segundos ou um tempo que foge das mãos humanas, dos relógios de pulso e das previsões do jornal. O eterno é aquilo que volta toda vez que a luz brilha, que o calor é recebido pelo corpo cansado, que a palavra é ouvida pelo ouvido da solidão. Ouvida, lida, apenas sentida por uma intuição que, caramba, pode não passar de simples vontade criada, expectativa gerada, fala inacabada... Tempo, no poço, em cima do muro, no ponto central, tanto faz, é cruel, ainda mais com a dúvida, com o receio, agrava o passado e muda um futuro que só existirá quando o arrependimento bater.

*um passo foi dado mas não sinto alívio algum. 
Continuo no centro, pensando e esperando. 
Sentindo cada raio de sol, 
cada partícula de ar em movimento, 
vento. 
Lembrando de cada brilho que o piscar de olhos emana.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Histórias de uma vida não vivida(30)


*O que fazer quando quem tem o poder e a verdade pede para esperar? O natural seria esperar, mas um par de pontos verdes, a luz de pontos brancos que são quase retas e a simples presença que remete a um passado vivo, intenso, sincero, quase indescritível, tornam o esperar uma dificuldade imensa. Não há como explicar a quem não viu e ouviu sobre a espera, sobre a paciência, sobre o tempo. Não esperar e acertar em cheio a resposta que vem de cima pode acontecer, mas não é simples assim. Para um lado ou para o outro, pouca coisa pode ser feita além de tentar explicar por que se está parado, por que se estaria em movimento ou o porquê de tanta confusão. É confuso ter o pedido de espera feita por quem sabe das coisas e não esperar. Felizmente não passa pelo conformismo. A questão passa por uma confusão, pelo medo de ir em frente e não acertar, de perder, quem sabe por todo o tempo futuro, os dois pontos verdes do campo de visão, que tanta verdade fez ser descoberta, que tanta ansiedade trouxe, que tanta sinceridade fez sentir e que, com toda a certeza que pode existir em meio à dúvida, é vontade Daquele que tem o poder, a verdade, Daquele que é o amor.




O significado é grande demais. Você, se não sabe, já deveria saber. É incrível como a novidade do nada desce por água abaixo com a já conhecida rotina da interrogação. Continuo me perguntando, como posso ainda, depois do tempo e do espaço, sentir o talvez mais constrangedor dos sentimentos em relação à você? Você me conhece, sabe que sou estranho, sabe que tenho grandes dificuldades em demonstrar, mas minhas palavras explicando minha fuga, mostram que sim, a interrogação existe ainda, aqui.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Histórias do Bandiolo - Um sapo não chega às estrelas


Passos dados são passos dados. Voltar atrás é físico, espacial, jamais temporal. Enquanto caminhava lembrava de todo o tempo que perdia por estar pura e simplesmente caminhando ali, naquele lugar. Ruas fétidas, sujas, sapos e rãs caminhavam por elas e por pouco não eram esmagados pela raiva dos passos que meus pés pisavam.

Eu não queria ter estado lá. Meus passos raivosos, meus pés inquietos, minha boca silenciosa e meu olhar, que ia muito além das placas sujas, das pessoas mesquinhas e das lojas com decorações de um gordo com um saco nas costas, provavam isso. Era raiva, era nervosismo por estar onde estava, sem fazer diferença o tempo, o dia ou o dado momento presente.

Malditos foram meus passos, maldita foi essa história que não quis escrever. Meus passos pisaram, isso é história, chega. Lembrarei pela última vez agora que olhei para o céu e dei nome a duas estrelas. Imaginei se algum dia um astronauta ou qualquer coisa criada pela humanidade chegaria lá. Duas, nenhuma, todas, tanto faz. Estrelas distantes, como eu daquele lugar sujo, daqueles sapos que eram tão estúpidos que nem barulho faziam. As folhas secas quebravam em silêncio, a música não tocava, apenas ruídos foram ouvidos por mim, ao longe. Ouvidos que não ouviam e olhos que não viam nada que pudesse fazer essa raiva cessar.

Longe, sempre longe. Longe, demais, de tudo, em um parafraseamento de Frejat e seu Barão Vermelho, semelhante ao da Corrida maluca. Idiota, longe da ideia de um texto que não deveria existir, assim como a história escrita pelos meus passos curtos, pesados, cheios de raiva. Raiva por não querer estar, por não conseguir distinguir qual estrela, qual pensamento, qual era o motivo, para qual seriam cada um dos motivos. Indefinido, com raiva.

Da distância.

Como sempre, estava longe, dessa vez ainda mais, de onde queria estar.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Nenhuma necessidade, nenhum sentido


Essa história de vida poderia ser resumida. Sério, você não precisar passar tantas vezes pelas mesmas coisas seria uma boa maneira de ter mais tempo para passar uma única vez por coisas que nunca imagino passar. Passar, estar, viver ou apenas olhar. Imagine escolher um momento como o almoço e fazer com que um substituísse no seu tempo, e no seu corpo, vários outros, quem sabe por uma semana. Assim, durante seis dias, você teria o tempo que gastaria almoçando para, sei lá, ir ver os pássaros na árvore da praça, comendo pipoca que os velhinhos que só vão lá ao meio dia jogam.

Ilusório, é claro, mas é suposição. Resumir atividades seria uma boa para uma história mais longa. Porém, depara-se aqui com a física, antiga, moderna, tradicional e quântica, e nada disso será possível, certamente nunca.

Então o que fazer quando você vê, pela milésima vez, algo que não gosta de ver, que traz sentimentos ruins ao seu coração já cansado de sentir aquilo, mas não pode sair dali? Sabe, pular essa parte seria interessante. Não com um controle remoto, mas com, quem sabe, um piloto automático. Você não estaria mais ali em mente, mas estaria em corpo, passando por aquilo sem saber.

A química e a astronomia nos mostram que isso, nem em filme, será possível.

Então, quem sabe, arrancar o coração do peito, as lembranças ruins do cérebro e jogar tudo isso na lata do lixo. Que maravilha! O problema seria se algum ambientalista viesse com a ideia de reciclar o lixo. Aí você estaria na sarjeta pelo seu próprio lixo. Ou não. Poderia você mesmo reciclar suas lembranças, seu coração, vivendo então em paz consigo mesmo.

Bom, a psicologia nos ensina que, se não temos algo que nos faça evitar alguma coisa, jamais evitaremo-na-la. Então não ter lembranças ruins e dores no coração sentimental acarretaria em diárias e constantes novas decepções, tristezas, lágrimas.

Incrível, nada do que poderia facilitar pode existir.

Se alguém pergunta 'por quê?' alguém acabaria respondendo 'porque a vida não é fácil' e então não chegaríamos a lugar algum.
É mais fácil dizer que nenhuma história faz sucesso se não tem um drama. Nenhuma árvore cresce como deve se a terra onde está não é bem adubada, também pelas suas folhas e frutos velhos, já podres, que caem ao chão. Ninguém é autodidata nessa história de vida, nessa história da vida. Ninguém faz um sonho ser vida se não tiver certeza, com lágrimas ao seu redor, de que aquilo sim é um sonho.

No fim das frases, é só um texto bobo escrito às 4 e meia da manhã. Viram só, a vida é tão fácil que nem nesse horário os mosquitos me deixam escrever em paz, e silêncio.

*bom, dia 25 é Natal, 
que o nascimento do Menino Deus seja revivido no coração, 
e na mente, de cada um que busca vida, e vida de verdade.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Palavras claras para olhos fechados


O cansaço parece desaparecer. Um sono diário, consequência de várias situações, passa a não ser nada além de desculpa para uma piscada mais longa aqui e outra acolá. Há, claro, um envolto que afasta da realidade e aproxima da pureza, da ligação perfeita. Mas há, inegavelmente, um brilho diferente, intenso, real. Quando o sentido mais sincero é trazido à tona, a felicidade torna-se palpável. Como não perder a concentração naquilo que aproxima os olhos do chão e passar a movimentar em pró de uma luz que guia para um lugar tão sereno e sincero quanto a nuvem envolvente e racionalmente irreal. Pensar como humano, usando do livre-arbítrio, levaria a negar nuvem, sentimento, sonho e brilho. Em ambas situações. Pensar como humano tiraria a beleza, o prazer e o espontâneo. De parte em parte, pensar eliminaria o risco de insanidade, a incerteza sobre uma intensidade vibrante de pancadas vivazes e muito convenientes. Pensar apenas como um humano me tiraria o complemento de alegria de um dia que não foi feito por sorrisos, boas ações, descanso ou mesmo alegria. Não pensar como um simples ser humano, usando de uma razão indiferente ao que se vive de verdade, me impediria de escrever frases. Pensar apenas como humano me impediria de disfarçá-las nas entrelinhas, em um contexto em que por vezes eu acabo por esquecer a saída. Dúvidas que volta e meia aparecem, volta e meia podem ter sido respondidas. Não há certeza.

Pensando bem, não pensar me dá uma resposta que, se não toda verdadeira, pelo menos leva um sorriso ao final.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Entender, sem resposta


O que está acontecendo? É tanta movimentação que ultrapassa o tato e passa a ser visão constante, irritante, para quem vê e para quem mostra. Seja ansiedade, angústia ou nervosismo, seja pelo motivo que for. É desconhecida a razão, o motivo e também o sentimento. O que está acontecendo aqui, comigo? É como se o mundo fosse desabar sobre as minhas costas e meus ombros já estivessem se preparando. Movimentos contínuos, impulsos nervosos inacabáveis. Quem poderá amenizar ou mesmo acabar com isso? Alguém poderá? O que poderá? Possibilidade? É desconhecida qualquer resposta, como de costume. Perguntas nunca faltam. Respostas nunca existem. Nunca, nada, todas negações. Sempre com essa constatação. Como o sempre também, mentiroso. Exceções de uma regra que não importa, sobre palavras que não importam com respostas que não existem para perguntas que não fazem diferença concreta.

Mas eu queria mesmo saber por quê.*


*com ou sem acento, separado ou junto.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Pés molhados e olhos fechados


Chuviscos que formam uma névoa fazem sumir o calor do corpo, encharcam as roupas recém colocadas e fazem do tempo passado olhando-se no espelho um tempo mais do que inútil. Vem do alto, não deixando de ser nuvens, atrapalham a visão, dificultam o entendimento de onde se está. Como qualquer dúvida, como qualquer medo, como qualquer angústia ou receio. Ficam até atordoados aqueles que não sabem para onde estão indo. Mal sabem que, mesmo julgando saber, nem sempre estão verdadeiramente cientes de onde seus passos os farão chegar. A água cai em gotículas que nunca vêm sozinhas. Isso é visto pelos olhos humanos, os mesmos que sempre acrescentam à sua dificuldade outras que, mesmo que como gotas caiam longe, parecem estar intimamente ligadas às que caem em seu cabelo, já molhado. O medo do que não se vê é pior do que o medo do que se vê. A agonia de não conseguir progredir como se quer, pela névoa e pelo vento, é semelhante à agonia de quem busca e não encontra, de quem abre os olhos e não vê o que era quisto ou de quem os abre e vê tudo aquilo que julga não precisar. Insistência em querer abrir os olhos quando o melhor é mantê-los fechados. Costume de quem não acredita, de quem não confia, de quem não sabe esperar.

Costume de quem sempre reclama das gotas de chuva, da névoa e do vento.

*a trilha sonora encaixa 
melhor no momento do que nas palavras

Histórias do Bandiolo - Costas para a porta, para a dúvida, para o entendimento


Fechou a porta, não voltaria mais ali. Virou as costas e, com princípio de lágrimas nos olhos, caminhava tentando não pensar no que havia acontecido. Não poderiam ter sido tão ruins as suas palavras. Porém, sentia-se mal. Pela situação, por si, por ela. Uma mistura de arrependimento com vontade de desaparecer. Não era a primeira vez que acontecia. Rezaria para que fosse a última, mas que conseguisse enfim, deixar de lado seus problemas pessoais passados, libertando-se das amarras que acabavam, inevitavelmente, prejudicando-o e interferindo negativamente em suas relações. Explicações que, contudo, não justificam. Há algo que vai além disso. Talvez a vontade de parecer menos... alguma coisa. Chegou à calçada. Aquele longo caminho seria mais longo ainda enquanto estivesse pensando. Não havia música, barulho de carro ou qualquer evento naquela noite que tirasse sua atenção de seus pensamentos. Dos pensamentos que estavam em um lugar bem definido: atrás da porta da casa de onde acabara de sair. Chutar pedras como autoflagelação não adiantava. Ele sentia e não sabia explicar. Não sorria e nem chorava. Atônito, querendo se entender.  Raiva de toda a situação, da porta mais uma vez fechada. Entendimento das suas palavras nesses e em tantos momentos menos importantes. Talvez fosse isso, talvez desse importância demais para poucas palavras, para consequências ruins dessas palavras. Entretanto, como não dar importância? Sentir-se sem saber como definir, por tempo quase incontável. Horas que eram segundos, todos anos que não passavam de dias. Tudo isso era motivo suficiente para entender por que dava tanta importância a pequenas palavras, a pequenos momentos, a todos aqueles pequenos segundos que, agora sim, passavam a ser horas. Ansiedade com frio. E aquela nuvem de dúvida sobre... Já nem sabia mais do que duvidava.


*sem saber da dúvida, 
da explicação, 
da justificativa, 
da razão. 
Sem saber.
**Claro, eu não gostei.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Sobre a incapacidade da descrição


Distante de paranoias complexas, ainda assim com o quase ininterrupto sentimento de incapacidade. Não é difícil entender. O subjetivo está escondido, com medo do literal. Há possibilidade de clareza maior? Não, não há. A ironia, ou algo normal que se passa por ela, irritam tanto que não há remédio senão fechar os olhos e virar para o lado. Em busca de nada. Meus olhos se fecham, não deve haver de ser. Infinitivo, gerúndio ou particípio, a resposta provavelmente é não, você não. Independentemente do que possa ser negado pelo não. Lascas saiam dessa situação, caindo todas ao chão, como míseras... lascas, insignificantes.

Como um par de olhos, fechados, que gostaria de ser garganta para gritar alto, até perder-se no torturante silêncio.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Histórias do Billi J. - Era apenas... alguma coisa


Algumas das lembranças do Billi J. eram tão incompreensíveis quanto a própria vida do Billi J.. São tantas lembranças que fica complicado escolher uma e transcrever aqui. Bom, como em muitas das lembranças de histórias significativas contadas pelo Billi J. para mim, havia nessa uma mulher. Mentira, ainda era uma menina, no salto alto dos seus 17 anos. Nem velha demais, nem nova demais. Da mesma idade do Billi J.. E foi a única que conseguiu, por um pequeno espaço de tempo, fazer com que o Billi J. esquecesse a Renata. Ah, a Renata... como ela era linda, e como seus cabelos balançavam quando ela caminhava...

A menina em questão era Verônica. Contrariando a lógica, em vez de Vec, como o Veranópolis Esporte Clube, seu nome para os íntimos era Vic, como as pastilhas para a garganta e as pomadas. Vic era tão bonita que ninguém a chamava de bonita, ou de linda. Ela era deslumbrante. Desfilava em passos certeiros, chamando a atenção e fazendo tremer qualquer par de olhos que a colocava em seu campo de visão. Usava uma rasteirinha e, contrariando o que muitos dizem, tinha um jeito de andar que prendia a atenção. Não parecia modelo, não parecia uma qualquer. Era apenas Verônica. Vic. Chamá-la assim era perigoso, seu misterioso sorriso sempre surgia quando chamavam-na pelo carinhoso nome. Sim, Vic era nome carinhoso e jamais apelido, pois ela não merecia um... apelido.

Atormentava aquele sorriso misterioso. Se o sujeito tivesse o privilégio de receber um sorriso particular para si sem antes conhecê-la, ele tremeria. Todos tremeriam. Todos tremiam. O Billi J. tremeu quando, poucos segundos após vê-la, teve em sua direção aquele sorriso. Mais bonito que os de propagandas publicitárias, mesmo não sendo tão branco quanto neve nova. Tremedeira inexplicável, pois não havia medo, não havia sequer razão alguma. Ele apenas olhou, recebeu aquele sorriso e... tremeu, sentindo um frio na espinha, na barriga, em qualquer lugar interno que pudesse estar momentaneamente congelado.

Ela, exuberante, cativante. Ela sorria sempre que via o Billi J.. E quando sorria para o Billi J., sorria apenas para o Billi J.. Os matumbos dos colegas do Billi J., asnos em razão e arrogância, não entendiam como podia aquela... maravilha de jovem, aquele ser deslumbrante e incomparável dar o mínimo de atenção para aquele... como era mesmo o nome daquele cdf de óculos? Bom, eles sequer sabiam o nome do Billi, mesmo sendo seus colegas desde... o jardim da infância. Quanto ao Billi, no começo apenas estranhou aquelas sensações estranhas. Porém compreendia que a cada dia a Renata não parecia ser mais a pessoa perfeita. Porque, sendo bem racional, a Vic era mais decidida, não ficava com um pé atrás para largar tudo o que estava fazendo e ir apenas dar-lhe um oi... Vic, aquela intimidade toda não era normal.

Vic não era normal.

A Renata percebeu que o Billi J. estava ficando todo bobão e como quase todo mundo nessa história, ficou sem entender por que sentia tanto... ciúme(?!) quando via Verônica com Billi. Renata não sabia o que sentia, quando via, quem via. Acabava afastando-se todas as vezes em que Verônica se aproximava de Billi J., com isso, o Billi sentia-se cada vez mais distante dela, cada vez mais próximo da doce e incrível Vic. E como seu caminhar era hipnotizante, como ela ficava mais bela quando usava uma flor no cabelo, como...

Bom, e quanto a Verônica, o que sentia, como chegara até ali, por qual motivo havia trocado de colégio naquele momento final do ensino médio? Ninguém sabia, principalmente porque ninguém queria perguntar alguma coisa a ela quando estava na sua frente. Como por encanto, tinha todos os meninos do colégio, todos aqueles marmanjos de 16, 17, 20 anos em suas suaves e pequenas mãos. Todos queriam segurar aquelas mãos que, só por serem as mãos de Vic eram encantadoras.

Ela sorria, para uns e outros, para o Billi em especial.

Dia qualquer, vendo Renata se afastar quando acabara de chegar, foi atrás dela. Conversaram 10, 20, 57 minutos e 12 segundos, cronometrados mentalmente pelo Billi J.. Voltaram abraçadas, rindo, sorrindo como se fossem velhas amigas. Billi não entendeu. Mais uma vez. Como todos que há haviam percebido a repulsa de Renata por Ver...digo, Vic. Chegando perto de Billi, separaram-se. Renata foi para algum lado e Vic foi falar com Billi.

Conversaram, mas dessa vez o Billi J. não conseguiu se concentrar no tempo, apenas naquele sorriso, naqueles olhos, naquela... namorada do filho do prefeito?! Billi J. não tremia mais, não sentia mais frio. Pelo menos não pelo sentimento de outrora. Namorada do filho do prefeito? Primeiro perguntou a Vic... agora Verônica, porque estava contando a ele aquilo. Não conseguiu disfarçar o... ciúmes?. Não, não conseguiu disfarçar. Verônica riu. Disse que... bom, ela disse isso:

- Billi, você é um menino muito legal, muito querido, mas você não pode se apaixonar por mim. Primeiro porque eu tenho um namorado, rico, que tem um carro. Segundo... bom, você é muito querido mas...

Não deixou-a terminar. Ser chamado de legal e querido no começo de uma frase sempre indica que você é um idiota e não serve para a outra pessoa em questão. Billi J. estava certo, ser chamado de querido era o fim. Porém não chegava ser chamado de legal e de querido para aliviar o peso do... bom, Billi J. pode não ter dito nada, mas como todos os outros, sentia uma forte atração por Verônica. Não podia negar isso, nem quando lembrava que...

...Renata. Céus, como pode...

E saiu correndo, atrás da sua amada. Daquela que sempre saía de perto quando Verônica se aproximava dele. Por que será que a Renata...

Renata!

Da mentira, o desdém


Eles falam que não querem, que não precisam, que tudo isso é bobagem. Falam que é passado, que não importa mais. Falam com desdém inigualável, tentando demonstrar repulsa somente pela lembrança. Falam e mentem, pois sua natureza é mentir, aprenderam que, quando não se tem uma coisa, deve-se desdenhá-la, fingir não querer, fazer de conta que é bobagem, que não se precisa de tal coisa. São criados para mentir, para fingir, pela e para a inverdade. São criados para serem falsos. Por isso são culpados apenas dois terços por serem o que são. Poderiam sim, mudar, escolher não mentir, não fingir, demonstrar a verdade mas não, acomodaram-se e passaram a fazer parte de um mundo comum, rotineiro, mentiroso. Passaram a defender esse mundo. Eles mentem, continuam fingindo que não, mas sabemos que é mentira. Porque eles querem. Eles desejam. Ambicionam. Sonham como crianças inocentes, fantasiam ilusões irreais. Tão irreais quanto suas verdades mentirosas. Coitados, quem abre os olhos por poucos milímetros e alguns segundos vê claramente que são apenas mentirosos.

Incomoda um tanto considerável seu desdém. Irrita, perturba, chateia. E irrita novamente. Porque a mentira quando entra em um lugar não habituado a ela faz isso, irrita, perturba, faz sujeira, deixa sujeira. As verdades sobressaem quando seus emissores não são covardes. Profetas da verdade, de verdade, não mentem, pois a verdade está com eles e eles a fortalecem, fazendo-a imperar sobre uma mentira casual e mísera que possa surgir. 

A verdade impera quando não há um cômodo transmissor de si.

Antes de pensar no que você está sentindo, pense se você está sentindo alguma coisa. Muitas vezes a superficialidade de uma suposição leva ao irreal, à fantasia boba, à mentira. Porque um sonho mentiroso é medíocre.

Tão medíocre quanto aqueles que desdenham o que querem, mas não podem ter.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Um velho nada


Se pudesse ao menos entender como isso acontece, como é possível esse tudo estranho e disperso acontecer simultaneamente. Se pudesse. Como de costume, maldito presente condicional. Possibilidade de resposta, zero. Nada. Sem chances. É como treinar, preparar-se, estar pronto e fracassar. Como de costume, fracassar. Sem ter feito diferença a mudança de hábito, o abdicar de situações, de vivências ou pessoalidades, existindo ou não essa palavra estranha, entretanto significativa. Chegar ao ponto de perceber que nada do que se altera traz uma diferença no final faz concluir que há sim um grande fracasso correndo, concorrendo com um sucesso cada vez menos visível, cada vez mais ilusório, cada vez, em realidade, apenas uma vontade, um desejo. Nem um sonho. Para completar o todo de nada antes citado, outras tantas derrotas, os mesmos joelhos caídos sobre terrenos diferentes, por circunstâncias diferentes. Há um céu, sim, há! Hoje, porém, não o vejo. Minha cabeça rende-se ao solo, às rochas e à integração disso com tantos outros elementos, tantas outras componentes. São tantos e tantas que levam ao nada. Irônico, sem dúvida. Mais ainda por... bom, chega de aumentar para, no fim da história, do pensamento e, claro, do texto, terminar em nada.

sábado, 27 de novembro de 2010

Um ponto em lugar qualquer


Por tanto tempo você disse. Escreveu. Tornou conhecidas tais palavras. Demonstrações claras e provas literais de um sentimento. Por tanto tempo recebi e guardei essas palavras. Com muitas dúvidas sim, mas tornava-as bobas e infundadas, pois você me convenceu sempre de que era sim, tudo verdade. Nem mesmo as fortes e concretas constatações de que tudo aquilo poderia ser mentira, que era muito duvidoso que tudo aquilo existisse em meio à essa perdida falta de fatos concretos e não apenas palavras. Fui levado por suas palavras, suas doces e agradáveis palavras. Sorri por muito tempo ao recebê-las. Hoje vejo quão mentirosas são. Verdades não existem em palavras que não são tornadas vida, realidade, verbos no infinitivo, gerúndio ou particípio. Nunca pedi uma prova clara, visível a esses rasos olhos humanos. Apenas pedi que fosse verdade. E você mentiu todas as vezes que confirmou ser verdade o que, hoje concluo não ser. Eu precisava das suas palavras e, admito, hoje continuo precisando, mas não posso mais conviver com elas sabendo quão mentirosas são. Mentiras em cima de falsas verdades, encobertas por um sorriso. Um grande e visível sorriso. Sua vontade era mentirosa. Suas palavras foram mentirosas. Seu sorriso... pelo que ainda há de verdade em você, que o seu sorriso não tenha sido mentira também.



*entristece, tira forças que não tenho por natureza.
Estranho, está sendo e será.
Eu cansei.
E, que se alguém tiver razão, 
que me perdoe por isso 
porém eu não correrei mais contra esse vento, 
tão distante.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Histórias do Billi J. - A carta de uma mísera lembrança


"Vini, sem muita enrolação no começo, vou direto ao motivo que me levou a escrever-te mais essa carta, que será curta, prometo.

Certa feita em dia passado, estava eu em conversas com a Renata e me lembrei, após uma frase dela, de uma antiga conhecida. É, por aí mesmo, você sabe como era. Essas coisas de sentimento de fato nunca aconteceram, o amor que sempre senti pela Renata era maior. Mas você já sabe disso, também. A questão é que, lembrar de uma conversa passada nunca me havia feito tão mal. Tentarei explicar. 

Eu estava há cerca de 1 ano longe da Renata. Sabe quando a desilusão faz com que a saudade e a dor fiquem em segundo plano? É, sabe. Eu estava assim: desiludido. E como. Conversas com pessoas diferentes ajudavam a amenizar essa desilusão. Aquela menina era diferente. Ela demonstrava muita paciência com meu marasmo incansável, com minhas dores explícitas mas encobertas. Como que sem muito sentido ela, que sequer me encantava, foi me fazendo deixar de lado todos esses fatos que me deixavam, e por muito tempo estava e acabaria sendo assim, deprimido, para baixo, desanimado em um todo. Ela não tinha nada em especial, apenas me fazia companhia. A sensação que sentia quando conversava com ela era de que eu era único. Não por ser quem eu era, apenas por estar ali, conversando com ela. Não conversávamos nada muito profundo, não contei mais do que qualquer amigo rotineiro meu soubesse. Ela não dava nada a entender, não havia indireta, nada oculto. Eram conversas claras, sem frescura. Apenas conversas. Ela e eu, me sentindo especial mesmo. Aí você se pergunta, Vini, o que remeteu a um sentimento ruim pela lembrança dela, de uma conversa sua. Assim, é complicado explicar o que causou isso porém aconteceu tão repentinamente quanto começaram as nossas conversas. Em algum momento, sem nada pontual claro, ela fez uma comparação. Entre eu e outro alguém. Não pela situação, pelo dia ou pelo assunto. Ela comparou por comparar, como se quisesse medir quem era mais... bom, não lembro mais o adjetivo. É uma coisa mínima, sim, mas foi se repetindo e aquela sensação de que eu era único por ela desapareceu tão rapidamente quanto surgiu. Talvez seja bobagem sim, mas eu não gostei, mesmo. Sinto-me mal por lembrar da decepção que foi quando percebi que eu não estava mais na condição de especial. Fosse quem fosse a me alegrar e depois me decepcionar, ficaria mal ao lembrar. É bobagem minha, lembranças bobas de uma época um tanto difícil, mais ainda vulnerável. Qualquer micro-decepção era uma bomba gigantesca. Tanta coisa me foi tirada e tudo parecia ruim. Você sabe, me conheceu e já naquela época me ajudou. Hoje é diferente, sou feliz por tudo que comigo está, pela Renata estar comigo, por estar perto de casa. Bom, você sabe que não é fácil apagar traumas, por mais que sejam ínfimos perto ao que se pode, e acaba-se, vivendo. Bom, era apenas (mais) uma lembrança que gostaria de compartilhar com o amigo. Mais uma bobagem, sinto por ter tomado seu tempo. Acredito ter escrito muito sem dizer nada de mais. Espero que as coisas aí estejam andando. Há um tum tum tum louco por aí atualmente ou só lembranças?

Abraço, amigo.

Billi .Johansson, 21/11/10"

domingo, 21 de novembro de 2010

Histórias de uma vida não vivida(29)



*O que iria acontecer? Seus tiques nervosos estavam à flor da pele, dos nervos, das veias, dos ossos e das pontas duplas dos fios de cabelo, já cheio de caspa. Nada de imundícia, caspa acontece com qualquer um em qualquer momento da vida, é como chutar uma bola e arrebentar a vidraça da velha que odeia meninos. Não que a velha importasse para ele, maldizendo assim o dia em que perdeu o senso de normalidade e passou a ser mais um perturbado pelas manias incontroláveis do próprio corpo. Esses problemas de nervos que afetam toda uma vida são incríveis, não adianta remédio, autocontrole ou socos nas regiões que se movimentam desordenadamente. Aquilo havia uma razão de ser. Só faltava descobrir se era nervosismo por ansiedade, medo, angústia, felicidade ou, o mais provável, nervosismo por estar nervoso.

Nenhuma imaginação estava ali. Das milhares de possibilidades, nenhuma era sua. Sem cair no tédio, seguiu seu ritmo lento, com passos cuidadosos e cheios de receio. Quase parando, com medo de tudo e todos à volta. Que poderiam fazer, agarrá-lo? Bobagem. Era medroso por natureza. A natureza o fizera assim por colocá-lo diante de sua face mais imunda. Passado explicativo, nunca justificativo. Sem dúvida aqui. Nem lá, fez o certo, sem matar ou morrer. Caminhou querendo, apenas no fundo da vontade, chegar. Também por não saber onde, como e com quem chegaria, estaria, ficaria.

Sozinho às avessas, realidade invertida, boba mas muito significativa. Não era irreal, não era visível. Apenas era. E, mesmo andando lentamente nessa estrada sem volta, aproveitava. Deleitava-se com leite e mel próprios de uma natureza que, sonhando, um dia seria sua. Lento porém andante, jamais parado. No fim, fazendo valer o que tinha à disposição, ainda que, como essas frases, nada estivesse muito bem definido.

Olhou para o lado ao perceber que aquela solidão o incomodava. Solidão repetida às avessas que incitava uma imaginação. Um pensamento qualquer, bobo, simples, apenas pela companhia. Ali estava, ali queria ficar dando passos lentos à frente. Quem sabe alguém pudesse acompanhá-lo. Não que fosse realmente necessário, mas a diversão de uma imaginação por ser imaginação é ter o que não se precisa, sequer o que se deseja, em uma realidade que nem paralela acaba sendo. Movia-se passivamente, com um tom bruto, e futuramente estrondoso, de vivacidade.

Perdeu-se em ideias, querendo o que não queria. Confundindo a realidade lenta com uma imaginação fugaz, imprevisível. O que não era e, com improvável possibilidade seria, passou a ser por um momento, e toda ladainha banal veio à tona, desnecessariamente. Um sonho que, se bem sonhado, valeria à pena, mas não era o caso, não era o momento, não era a vontade, não era... coisa alguma. Não existe sentimento de culpa, não houve perda ou dano para qualquer um. Um nada insistente, uma imaginação persistente que só teve fim quando a solidão mudou de figura. Não por ter acabado, mas por estar no seu lugar habitual, diário, onde já fica fácil controlá-la, mais pelo costume do que pela sua aquietação.

Percebeu a tempo que aquela era uma estrada em que não importava a companhia, incerta, na duração, mas sim a certa na chegada. Sorriu. Feliz. Não pela imaginação ter sido apenas imaginação. Não por ter chegado a um lugar onde demorará, e muito, a chegar. Tampouco por estar com a solidão habitual novamente consigo. Sorriu por ter descoberto-se um pouco mais. Por ter-se conhecido um detalhe a mais, um pensamento a mais, uma solidão a mais. Bobamente sorria, como criança com sorvete ou mulher com sapato novo. Não havia motivo claro, mas sorria.

*mas a inquietação nervosa continuava

sábado, 20 de novembro de 2010

Sem definir ou tentar entender


É tão fácil não explicar nada, dizer pouco mais que dez ou quinze palavras e já encaminhar o término de uma sequência de frases. Fica tão tranquilo quando não há muito mais do que dizer além do que se diz. Confuso ao ponto de não saber como começar esse fim. Poucos admitem isso. São tão poucos quanto aqueles que entendem uma possível razão de ser na existência própria. Sim, na sua. Alguns acreditam, outros não, tanto faz também no que eu acredito daqui, seja o sim ou o não a resposta. Alguns entendem muito bem o que precisam fazer, o que devem fazer. Outros não entendem, vivendo então desregradamente uma vida que algum dia talvez percebam não ser a sua. Ninguém nasceu para ser lixo, para ser bandido, para dar o corpo por trocados ou nada. Ninguém nasceu para matar, para roubar ou para mentir. Ninguém nasceu para a hipocrisia, as traições ou outros desvalores. Mas muitos acham que esse é o seu caminho, a sua história, e vivem-na, achando que nada existe, que nada tem valor. Poucos entendem o que é da natureza e o que é da influência.

Daqueles que tentam encontrar-se nessa possível razão de existir, a dúvida quanto ao estar ou não onde se deve estar é assombrosa. Ela impacienta, inquieta, faz ansiar pelo que não se tem certeza, pelo que não se sabe. Dúvida, quem sabe cruel em uma forma disfarçada. Incerteza.

Mas também, que diferença faz para quem não se importa?

*muito sono

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Mais uma queda, mais uma lamentação


O mundo pode até me levar a fazer o que não quero, pelo impulso iniciado em olhos famintos, que assim o são por culpa de uma mente mal instruída quando o início de sua consolidação. Malditos sejam todos que influenciam negativamente cedo e impõe erros difíceis, nunca impossíveis, de serem corrigidos. Hoje me sinto um perdedor, um grande e verdadeiro perdedor. Sofro muito, lamento, estou triste por ser formador de um erro, que explica sim, mas não justifica esse erro. Também, maldito erro. Desculpa, não consegui, fracassei. Felizmente apenas eu sou prejudicado nessa infelicidade toda. Infeliz, sim, sou quando esqueço, impaciento, forço uma angústia inexplicável, atordoante. Que pensamentos estúpidos. Trariam dor menor se o entorno não levasse à tristeza ainda maior.

Tantas vezes caí, tantas vezes mais me levantarei. Jamais sozinho. Tu sabes, Me conheces, Me levantas. És a única fortaleza inquebrável no meio desse deserto onde me perco. Sei que Estás comigo. Eu não sei como me sentiria se o Teu amor não curasse essa minha dor. Cura lenta, não importa. Minhas lágrimas Secas quando Julgas necessário.

Obrigado.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Dias de incrível, de indescritível


Mais de um dia de viagem, coroada com horas de congestionamento no trânsito mais do que caótico. E dentre confusões aceitáveis em uma dimensão maior do que se está acostumado a ver, caminhar à meia noite, ou perto dessa hora, em uma cidade enorme, desconhecida, com malas e outros entulhos nas mãos. Teria mais, porém é o menos da história. De sexta a ontem, incluindo depois a quinta e o hoje, nada do que irrita vez alguma diferença. Inconformar-se com o que pode ser melhor não é tirar mérito do gigantesco bom presente.

Foram dias incríveis. Resumir é complicado por terem sido tão numerosas e intensas situações. As correntes cortadas e a percepção de que, no fim, nada foi estragado empurram o resumo em uma palavra para o lado do incrível.

E nos pequenos detalhes, os grandes detalhes ficam maiores ainda. Uma, duas ou duzentas chuvas caíram. Todas com a mesma intensidade, lavando, fertilizando, gerando frutos. Direta ou indiretamente.

No mais uma missão. Várias missões. Vários verdadeiros significados. A sensação de que podia durar mais, pois falta alguma a minha vida rotineira fez nesses últimos dias.

Aos irmãos, de todos os cantos do Brasil, reunidos em um Rio de Janeiro conturbado ,por amor ,um abraço.

E sim, Ele é a minha força. Sempre será.

*não há como escrever muito, não agora ao menos. 
Muitas ideias em mente, 
muitas coisas escritas nesses últimos dias mas, 
organizar tudo vai demorar um tempo.
Ah, cadê o pato?

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Definitivo como tudo que não existe


Começo aqui. Com um resumo na desolação, mas que vai muito além de uma palavra que significa, dentre outras coisas, ruína. Quem sabe um dia virem ponto turístico, como tantas outras em diversos lugares do mundo. Só que ao invés de câmeras, os turistas trariam suas próprias desolações, traduzidas gramaticalmente para ruínas, e completariam todo esse vazio, essa ausência, essa minha falta de ser, de pensar, de sentir. Explicações no início são piores que justificativas no final. Elas tentam fazer com que sejam antevistas situações para, quem sabe, serem evitadas. É como dizer a uma criança 'não come doce antes do jantar'. Esqueçam. Também que vou explicar por que justificativas no final são ruins. Viaje sem sair do pensamento. E sem aditivos. Para onde você quer ir? Qualquer lugar é possível quando se pensa, quando se sonha. Você para de pensar, acorda e decide que já é hora de voltar a estudar, a ouvir música ou escrever. Onde você está mesmo? Ah sim, onde estava antes da viagem. Mais do que imagens, pré-vistas ou puramente imaginadas, você não tem. Mais do que um sonho você não tem. Não querendo desvalorizar sonhos, eles podem até ser motivacionais, porém eles não te tiram do lugar. Pensamentos não fazem você sair de onde está imediatamente. A ideia é fugir, é sumir, é viajar, se distanciar e começar algo novo, do seu jeito, a vida dos seus... sonhos. Acorda, o despertador tocou, você tem que lavar a louça, o cabelo, estudar e trabalhar. Parabéns, você não tem a vida que quer, mas tem sonhos incríveis, em lugares incríveis, com a pessoa dos seus... sonhos. Porém ela não está aí. Ela nunca estará aí. Não porque ela não exista, mas sim porque ela existe no seu sonho. Partindo de uma suposta existência dela na realidade, você sonha porque não a tem por perto. Porque a ama, ou quer amar, e mais nada. Porque quer  falar, transformar, criar, literalmente enlouquecer. Sonha e... sonha.

E termina. Começando para, no fim, acabar no aqui, no começo.

sábado, 6 de novembro de 2010

Histórias do Billi J. - Em cada riso, um sonho. Em cada sonho, você.


Em cada lugar uma nova história era construída. Com pressa, quase irracionalmente. Sem muitos detalhes. Com o mínimo do pensar na construção, no enredo, na história em si, no próprio pensar. Não havia começo, meio ou fim. Havia apenas algumas partes, alguns fragmentos de histórias inacabadas, sequer começadas. Uma aula de 'acorda para a vida' era dada por si, em si, para si todas as vezes que a percepção surgia. Ficava embasbacado consigo. Eram quase tantas histórias quantas eram as pessoas que por ele passavam. Papeis pequenos em um livro de microcontos, com hífen ou sem. Participações nada especiais escolhidas com os olhos, pela semelhança com a cor do cabelo, com o sorriso, com a voz ou o jeito de falar, com as maçãs do rosto, os braços ou mesmo a semelhança no branco do olho...

...Semelhança com o cabelo, o sorriso, a voz ou o branco do olho dela. Renata. Que tão longe estava. E que mesmo tão distante, se fazia presente em cada dia seu, através das outras pessoas. Desconhecidas outras pessoas. Que amor era esse que ultrapassava não só as barreiras da distância e da saudade como também a da própria existência?

Sem saber a resposta, Billi J. batia na cabeça, resmungava que não deveria ficar sonhando acordado com pessoas que no fim, do microconto, do pensamento ou do tapa na cabeça, acabam sempre sendo Renata. A sua Renata.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Definitivo como tudo que é simples, como tudo que é verdadeiro


É definitivo que o país está perdido. E não é porque estamos em uma mesa de bar, bebendo uma cerveja bem gelada em uma tarde de verão, bem quente. O país está perdido pelas eleições, pelo que está sendo e será feito. Pela covardia de um povo que aceita tudo que lhe é colocado como opção indutiva. Pela influência que a mídia e tudo o que é visível têm sobre aqueles que não possuem capacidade de discernimento.

Definitivo é também que, além do país, nossas vidas estão perdidas. Porque o trabalho nos cansam. As namoradas ou quase esposas exigem-nos atenção e damo-lhes. Exigem carinho doamo-lhes. Exigem que sejamos fieis, autênticos e únicos. E assim o somos. Mas elas continuam desconfiando dessa nossa simplicidade, desse nosso jeito pacato. Estamos perdidos porque raramente sentamos nessa mesa de bar, na escada da praça ou nas cadeiras sujas da lanchonete com nossos amigos, para lhes contar sobre essa nossa vida, corrida, cansativa, mas um tanto divertida.

Definitivo como tudo aquilo que é simples apenas pelo fato de ser. Definitivo como olhar para o céu e dizer que vai chover. Minutos depois rir, vendo o palpite furado. É definitivo aquilo que não muda. Como a nossa cabeça. Quanto cabelo tínhamos, e hoje as entradas da calvície ameaçam a nós e aos nossos, quem sabe, futuros filhos. Definitivo é aquilo que não muda, ao contrário da nossa fome. De leões vorazes com fome insaciável, chegamos ao ponto de recusar o aperitivo porque o almoço de ontem não desceu bem. Estamos ficando fracos, envelhecendo, perdendo a capacidade até de jogar futebol, de resmungar com uma mulher, de sair por aí apenas para beber, uma ou duas cervejas, ou um litro de pepsi cada um. Eu disse sim, cada um.

E isso é um tanto definitivo.

Entretanto, toda essa porcaria que se encaminha para o definitivo, tudo o que a nossa juventude antiga, que vai passando a cada dia e tirando nossa vivacidade física, nossa sagacidade mental e nossa intolerância ao pouco, toda essa porcaria não consegue tirar de mim uma definição, um definitivo, muito mais importante do que todas essas reclamações. Muito mais confortante que o abraço da mãe quando ralávamos o joelho na infância. Muito mais forte do que o tapa do pai quando quebrávamos um vidro. Ainda mais, tudo que se encaminha para o definitivo não elimina um definitivo que tenho comigo e que terei, definitivamente, sempre.

Vocês. Sem promessa banal de eternidade, sem promessa fútil daqueles que dizem ser de verdade, sem promessa atemporal de todo o tempo. Definitivo que me conforta é o saber de que, estando onde estiver, estarão comigo.

Aos amigos, um brinde, alegre, sorridente, definitivo. Aos amigos, a amizade que é definitiva, que não se altera com o tempo, a distância, os rumos pessoais de cada um, trabalho, estudo ou companheiras. Aos amigos, da barriga cheia, da cabeça cheia, das palavras e dos sonhos cheios.

Aos amigos. Que são definitivos com a bênção de Deus.

Aos definitivos amigos.

*cabe a lembrança aos amigos,
companheiros de futebol,
de histórias, da vida,
que nos deixaram e que nesse
dia de finados merecem
 todas as nossas orações.

**É uma pena não ter uma foto para ajudar 
a representar o que me fez escrever hoje.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

De passo em passo, de olhar em olhar


Quando percebi que estava sendo observado, olhei direto nos olhos de quem o fazia. Era um menino que, como qualquer menino, olhava com curiosidade para aquele rapaz barbudo que estava à sua frente. Sem maldade, sem preconceito, apenas olhava para mim e para minha barba comprida, imaginando coisas. As crianças imaginam muitas coisas quando olham para homens barbudos. Ele me olhava fielmente, como se mais ninguém existisse. Um olhar puro, como qualquer olhar de criança. Ao ver que eu olhava-o, desviou sua atenção como olhar para um sujeito barbudo fosse errado. Também como toda criança ele foi contra o que parecia ser errado e voltou a olhar para mim e minha barba. Saí de onde estava e pus-me a caminhar pelas ruas estreitas dessa cidade. Mas aquele olhar curioso não saiu da minha mente. E foi isso que motivou uma das experiências mais estranhas e perturbadoras que já tive. Assim como o menino, decidi olhar com curiosidade de criança para as pessoas que passavam por mim, tentando imaginar como seriam, o que pensavam, por que estavam ali. Eram muitas, todas passageiras na rua, na cidade, na minha vida. Estranho e tolo, mas precisava olhar para aquelas pessoas e pensar nelas, mesmo que por poucos instantes. A curiosidade que o menino despertara momentos antes era grande demais para ficar presa na minha mente. Segui meu caminho, agora olhando para aqueles seres humano com interesse e simplicidade, buscando uma suposição para cada uma das minhas indagações, apenas pelos seus olhares. Direcionei minha atenção para uma mulher, sentada no canteiro da praça com um saco de latas amassadas, olhando para o chão, sem notar a presença daqueles que caminham como se ela não existisse. Ela não olhou para mim. Outra, uma jovem loira, olha-me nos olhos e é conduzida pelo seu namorado para o outro lado da rua. Ele demonstrou sentir ciúmes naquele momento. A moça da farmácia que olha para a rua apenas esperando o tempo passar para poder ir embora, sem notar que eu a via. A senhora de quarenta anos que troca olhares ríspidos com o senhor de terno e gravata, que posteriormente olha-me e acelera os passos, com medo do barbudo que imaginava estar seguindo-o. O jovem musculoso que torceu o pescoço para a moça que estava escorada no balcão de um bar, e o seu amigo que ouvia música nos fones de ouvido, sem perceber o que acontecia ao seu lado. A menina de olhos verdes que sente-se envergonhada quando notada no meio da multidão. Pessoas diferentes, com motivos diferentes, com rostos diferentes. Nenhuma igual à outra.Caminham para algum lugar como se estivessem sozinhas ali. Pessoas que quando olham, em sua maioria, fingem não ver, não olhar, não reparar na aparência daquele sujeito barbudo, da mulher com a sacola de latas, quando na verdade já definiram o que pensar sobre eles. Pessoas que carregam uma série de pré-conceitos, tentando manter-se distante de todos os desconhecidos com quem cruzam nas movimentadas calçadas da cidade. Vi que essas pessoas perderam o sorriso espontâneo, o olhar curioso e terno daquele menino. Deixaram essa pureza em algum lugar de suas histórias, preferindo seguir seus próprios caminhos sem importar-se com os caminhos percorridos ao seu lado. São pessoas que esbarram e, ao invés de desculparem-se, trocam ofensas. Que deixaram de sorrir sem motivo, por educação, de pedir desculpa, de pensar no semelhante, de dar atenção com um olhar. Que têm pressa e não se importam com a vida de seres estranhos, tão parecidos consigo. Que, infelizmente, deixaram de lado o ser humano.

*eis uma crônica fracassada, 
a grande prova de que as pessoas estão erradas. 
Inclusive eu.
Aqui, lá, em letras ou palavras. 
Ao sol ou ao vento. 
Ao nada.

domingo, 31 de outubro de 2010

Frase do dia


Quem aqui nunca pegou uma bolacha recheada e comeu primeiro o recheio? 


*eu dissertaria, sim, sobre essa frase.
Mas escrevi tanto, de uma maneira tão subjetiva
que decidi apagar e deixar apenas a frase.
Eu teria tanto para dizer porém não quero pensar,
hoje,
em tudo que preciso dizer.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Histórias do Billi J. - Quando se conhece uma dor


Eram passados alguns anos da vida do Billi J. . Poucos anos, uma vez que o Billi tinha apenas 7, 8 anos quem sabe. Já era, injustamente, motivo de chacota pelos colegas, que não perdoavam seus óculos, seu jeito simples de falar e sua sede por conhecimento. Mas eles, os colegas, tiveram uma importância ainda menor naquele sábado de maio, ou junho.

O Billi estava na cozinha, vendo sua mãe fazendo bolachas, e colocando em cima delas açúcar com canela. Como era divertido colocar açúcar com canela naquelas bolachas que ficavam tão gostosas. A mãe do Billi realmente sabia como fazer bolachas. Porém aquela alegria, aquele momento mãe e filho que deveria ser apenas de sorrisos foi interrompido pela campainha. Billi atendeu e não gostou nada da cara de tristeza daquela mulher morena, alta, vestida toda de preto, como se estivesse de luto.

Chamou sua mãe e a mulher pediu que ele as deixasse a sós. Billi J. foi então continuar seu divertido trabalho de colocar açúcar com canela em cima das bolachas enquanto sua mãe  e aquela mulher de preto conversavam na sala, em tom tão baixo que nem desligando o rádio o Billi conseguia ouvir.

Então ouviu a porta fechar, sua mãe, antes alegre, agora estava com o semblante sério, como se algo ruim tivesse acontecido. Não, algo muito ruim havia acontecido sim. Billi perguntou o que aquela mulher havia dito. Sua mãe, como quem não sabe como dizer alguma coisa, pediu que o filho viesse para perto. Ela sentou e colocou ele sentado em seu colo, afinal, o Billi era pequeno e parecia ter uns 4 anos. Começou a falar com calma para o Billi sobre o que acontece com as pessoas que morrem.

O Billi não entendia o que ela falava. Céu e Deus eram coisas boas, mas a morte era uma coisa boa para os velhinhos, que haviam vivido bastante. Percebendo a inocência de Billi, sua mãe então deu aquela que, até dias atrás, foi a pior notícia que o Billi J. recebera.

Seu padrinho, de tantos caminhões de madeira, tantas brincadeiras, tantas risadas e tantos sorrisos, havia falecido. O Billi J. percebeu que não era uma brincadeira quando viu uma lágrima escorrendo pelo rosto de sua mãe. Ela o abraçou, disse que ele havia ido para o céu e que de lá protegeria-o.

Billi J. não sabia o que dizer. Sequer pensou em perguntar como aquilo havia acontecido. Em verdade, não tinha consciência do que era a morte. Não raciocinava que não poderia mais ver seu padrinho, que nunca mais receberia um carrinho de madeira dele, que nunca mais iria em sua casa visitá-lo. Billi J. não sabia mesmo o que dizer, o que pensar. Estava triste mas não conseguia entender ao certo o que estava acontecendo, aquela dor grande, aquele vazio, aquelas...

...lágrimas. Billi J. começou a chorar. O abraço de sua mãe não bastava mais. Desceu de sua perna e correu para o banheiro, trancou a porta e se escorou atrás dela. E chorou. Porque aquilo doía, machucava, era tão ruim que não havia remédio ou chá que fizesse aquela dor passar. Nada. Nem o abraço de sua mãe.
Ficou um longo tempo sentado atrás da porta do banheiro, chorando. Tentando entender por que, como, seu padrinho, ah não, aquela mulher morena, com cara de defunto, aquela mulher estava mentindo, não era verdade que seu padrinho havia... morrido. Não, ela era uma mentirosa que veio estragar o sábado com sua mãe. Era mentira, ela estava mentindo.

Passada a... aquele sentimento de inconformidade, de não querer acreditar no que havia acontecido e, passada a raiva daquela mulher de preto, Billi, à pedido de sua mãe, tomou banho. E chorou durante todo o tempo em que o chuveiro ficou ligado. Hoje ele ri ao contar que não lembra se tomou banho com água do chuveiro ou dos próprios olhos. Entretanto naquele momento parecia tudo tão... triste.

Billi estava triste. E não... não, seu padrinho não devia...
Era verdade. A mulher não estava mentindo. E doeu muito mais ter a certeza disso quando seu pai, um homem que nunca mente, ao contrário daquela mulher de preto, lhe disse que sim, seu padrinho estava agora chegando no céu, pois a viagem era longa. Até seu pai disse...

Não. Meu padrinho não, balbuciava Billi. Não tinha vontade de comer. Não foi ao velório, ao enterro, à missa de sétimo dia. Estava triste, muito triste. Nem o abraço de sua madrinha que, pensando de maneira quase sobrenatural, estava mais triste do que ele aliviou sua tristeza.

Estava triste e com muita dor. Dor que incomodava, cutucava, batia forte. Tão forte quanto a lembrança do padrinho que havia perdido.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Histórias de uma vida não vivida (28)


*Passos que mudam de direção sem motivo certo. Dobrar à esquerda na rua seguinte apenas por achar que lá estará alguém, aquele alguém lá, é tão tolo quanto... dobrar à direita na rua seguinte, por achar mais uma vez que alguém, que aquele alguém, estará passando por lá naquele momento. Em um mundo gigante, cheio de ruas, esquerdas e direitas, só o que é forte demais para não ser controlado deve tirar do caminho, certo, rotineiro ou mesmo melhor. Mesmo que o melhor esteja na outra rua, do outro lado da calçada. Ainda que o melhor esteja apenas em um sonho.

Certas coisas acontecem porque precisam acontecer, pensou. Afinal, não queria sair de casa. Seus pais insistiram tanto para que ela fosse junto com eles... no supermercado(!) que ela largou seu msn por alguns minutos e decidiu dar aos seus pais a oportunidade da sua companhia. Supermercado era lugar de gente apressada, mesquinha ou esbanjadora. Gente que faz de conta que não tem tempo e reclama da fila grande, formada por ela e outras pessoas igualmente apressadas, mesquinhas ou esbanjadoras. Gente que critica os preços, a qualidade e até a atendente. Ah, aquela gente estressava-a. Ainda assim, foi. No caminho, ao parar do carro frente uma sinaleira, semáforo ou qualquer que seja o termo para aquela caixa de metal que acende uma luz verde, amarela ou vermelha, ela olhou para o lado e viu alguém. Ele! Ela pulou do banco, não sem antes sorrir e arrumar o cabelo no espelho da frente. Era ele! Depois de tanto tempo sem vê-lo, sem poder ouvi-lo, sem... ter coragem de responder às mensagens, os recados, os toques no celular... era uma boba, idiota, pensou. Mas como aquilo, a ida ao supermercado, a parada e a passada dele pela calçada não eram mero acaso, faria algo.

O sinal ficou verde, seu pai acelerou o que pode e seguiu em frente rumo ao supermercado. Ela gritou, estridentemente. Queria que o pai parasse o carro, fizesse a volta e fosse ao encontro dele. Ele! O pai parou, de susto, mas disse que não iria fazer retorno algum. Ela não se importou, abriu a porta, desceu do carro e foi correndo atrás dele. 40, 50 metros e ele estava a centímetros. Caminhou lentamente, alcançou-o e cutucou suas costas. Antes mesmo que ele virasse por completo para trás, ela o abraçou com todo o carinho que guardava, escondia, dele, do mundo, de si própria. Que tola fora todo aquele tempo. O apertou forte. Quando o soltou, olhou para o seu rosto e... ah não, não era ele. Não era ele!

Sentiu-se a maior idiota do mundo. Passou a odiá-lo. Sim, passou a odiar ele! Tudo porque ela errou o ele, o abraço, e o sair de casa para ir ao supermercado com os pais. Tudo por culpa dele. Dele!

Grosso, monstro, idiota!

*um tantão de suposição, um tanto de exagero, um tantinho de verdade.

domingo, 24 de outubro de 2010

Reflexões de um maluco (12)


Em meio ao turbilhão de calmaria duvidosa que assombra o meu pensar nos últimos dias, a certeza de que não há risco de cometer novamente um erro que já não faz parte de mim. Não há dúvida que me leve a pensar que talvez venha a ser diferente dessa vez. Por mais que, agora, o pensamento é muito melhor, a perspectiva existe e o que não havia antes, nesse caso a consciência sobre o que é necessário ou não, marca presença consistentemente. Sim, é consistente o pensar que, da maneira que ando está bom, mesmo que pudesse sim, ser melhor. Porém, fico tranquilo por não estar de alguma forma arrebentando um caminho que não é o meu, uma história que não é a minha, onde eu teria grandes chances de ser vilão por um erro que eu poderia cometer novamente. Insistir no erro é burrice, ainda mais quando se atravessa um abismo gigantesco por causa disso. A solidão daquele tempo é desnecessária já que, como devo ter dito, aprendi a não errar nessa situação, nesse pensamento, nessa possibilidade, hoje inexistente.Por mais que pareça com o estudioso que olha para o atlético saindo da academia e pensa "eu estudo e tenho futuro, ele malha e tem músculos, mas não um futuro garantido", e recebe em troca um pensamento do atleta, algo como "eu aproveito a minha vida enquanto esse nerd vive estudando e só vai se arrepender quando for velho". Os dois erram. Toda vez que o estudioso vê um rapaz com porte atlético pensa que esse não tem futuro. E erra todas as vezes por não aprender que cada vida é diferente. Da mesma forma o atlético erra ao pensar que o estudioso não aproveita a vida.

E essa insistência, há tempos, deixou de ser minha. Prefiro ajudar a construir uma história, com frases aleatórias e participações nem tão especiais do que decidir um capítulo e acabar como vilão. Por mais de um capítulo provavelmente.

*De qualquer forma, algo insiste em me desanimar, 
em espantar qualquer inspiração que eu pudesse ter.
Talvez seja essa espera que me sufoca e que me faz perder qualquer raciocínio.
Sério, não tenho conseguido entender, escrever, ver.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Crônica de uma política do cão


O debate na televisão mostra que os políticos não querem mais mostrar alguma qualidade. Pelo contrário, querem mostrar o máximo de defeitos possível. Do rival na disputa, óbvio. A hipocrisia é tanta que trocam acusações de coisas que, sabem eles e todos que param para pensar, nenhum têm relação direta. Passados que não são seus, histórias, erros e fracassos que não são seus. É como se eles fossem uma senhora de idade, com cabelos cor de neve, que passeia com seu cachorro pela praça. Se ela recolher as porcarias que o seu cão fez no pátio público, terá feito o suficiente. Muito mais do que muitos fazem. Coisa que muitos não fazem. Recolher a sujeira do seu cachorro na praça é o mínimo que se pode fazer. Porém, pode até custar, mas não seria ruim se essa senhora recolhesse a sujeira do cachorro feio do gordo que se arrasta bebendo cerveja. Faria por si? Não, faria por todos que ali passam. Por que fazer? Ela já está recolhendo sujeira, uma a mais, uma a menos, tanto faz, certo? Então por que balde ou caixa d’água os políticos não fazem o mesmo? Ao invés de recolher a sujeira do outro, fazendo então um bem para toda, eu disse TODA a nação, resolvem acusar o oponente que apenas conhece o gordo dono do cachorro feio. Quem caminha na praça sabe quão difícil é que alguém recolha a sujeira que não é sua, assuma o erro que não é seu ou pelo menos tente compensar ou corrigir os erros dos outros. O pior é que só é tão difícil porque é muito mais fácil apontar para o outro e dizer que ele não fez nada. Que ele olhou e não criticou o gordo. Que ele não ajuntou a sujeira do outro. Ninguém quer ser a senhora boazinha de cabelos cor de neve. Ninguém. E tudo por que? Porque é mais fácil ser o idiota que aponta o dedo para outro idiota que não corrigiu o erro do gordo beberrão, pelo bem de todos.

Então imaginem quando o filho de um dos dois idiotas pisar na sujeira que nem o gordo, nem a velhinha(que a essa altura já deve estar sentada, lamentando a discussão boba dos dois idiotas) nem os dois idiotas recolheram. Imaginem!

Eu não quero estar por perto. Porque, do jeito que vai, eu é que vou ter que limpar o sapato da criança, já que seus pais, iludidos com uma discussão inútil, não terão tempo para fazê-lo.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Do silêncio veio, para o silêncio vai


Dúvidas que, de tão grandes, fazem cessar os risos, calar as palavras e emudecer qualquer boca passível de fala. Dúvidas que afogam em qualquer oceano, mar ou mesmo riacho de lágrimas. Tristes, desnecessárias e um tanto incompreensíveis lágrimas. Como dizem, escolher o mais fácil faz sentido. Como se nada existisse, como um pássaro que apenas passa sem deixar nada além de um pequeno surto de ar em movimento.

Vento.

Seu sentido contraria o sentido da lógica, do próprio sentido. Direção e sentido exaustivos. Longínquos demais para se pensar, quanto mais entender, compreender. Ver.

Visão que impede negação de existência, presença, acontecimento obscuro mas não menos presente, existente. Chuva que molha. Enxurrada que apenas mais barro forma. Sem cobrir nada. O que se pensa ser não é. O que se pensa querer ser, também não é. Será para algum? Será para nenhum? Dúvidas sucessivas, que tonteiam, impedindo qualquer passo, qualquer lado que pudesse vir a ser.

Confusão incoerente. Sabe-se para onde quer ir, tenta-se saber para onde deve-se ir, não compreende algo além do que se sabe e do que talvez se saiba.

Calafrios, com outro frio, ruim, contínuo, duvidoso e suspeito. Críticas reflexivas que bombardeiam ainda mais todos os caminhos em torno. Independente do ponto central.

Menos de muito e muito de menos, de nada, de tudo.

Que insanidade intensa essa!

*sem comentários aqui

domingo, 10 de outubro de 2010

O vazio de viver e só (20)


As pessoas dizem que água insistente fura pedra dura. Que a vida é feita de frases, de momentos, de fases e de pessoas. Que felicidade é o caminho e não um destino. Que um gesto vale por milhares de palavras. Que isso e aquilo. Do começo ao fim. Da alegria à tristeza. Dizem tanto que nem pensam mais no que estão dizendo. Apenas falam, por acharem certo, mas não vivem de acordo. Não sentem de acordo. Não idealizam ou sonham de acordo com o que falam, ou pensam estar falando. Nem sempre com má intenção, mas quase sempre com falta de um complemento para a intuição. Grande bobagem nem tão boba, nem tão prejudicial, nem um pouco significativa para quem fala, mas quem sabe muito para quem ouve. É preciso coragem para deixar de ser esse faz de conta e passar a ser uma realidade, uma promessa. Para deixar de ser muito mais do que palavras, do que verbos e intuições. Por costume, solidariedade ou... sei lá. Palavras explicativas cansam, às vezes. De poços profundos à redenção ligeira e efetiva, como uma boia, sem acento agudo, que é aberta no fundo do mar, emergindo rapidamente à superfície, deixando a escuridão e a pressão fortes que jogam cada vez mais para baixo. Uma emersão muito significativa, por si e, no fim do pensamento, para todos em torno. Prender a respiração por alguns abraços, algumas palavras, lidas ou ouvidas, alguns sorrisos e muita, mas muita vida. Não como explicação para tal feito, mas como justificativa. Há forças que ninguém explica estando longe dos olhos do Ser. Depois disso, tudo o que vem é alegria, é sorriso, é recompensa. Calçados fortes para aguentar caminhos difíceis, óculos novos e uns bons tapas para acordar e ver que o viver é muito mais intenso do que se vive quando se pensa em explicar tudo que acontece. Talvez nem eu entenda ao certo todas as explicações, mas sei que a justificativa é muito mais do que justa, é sincera e espontânea. É real e feliz. É amor, amizade. É felicidade. Porque não há sonho que não possa ser realizado quando se tem uma justificativa como a minha. Ontem, sexta, hoje e em todos os dias, passados e, sim, futuros. Uma justificativa muito extensa. Muito espontânea. Muito sincera.

Muito feliz.

*não há mais razão para continuar, ao menos enquanto, pois ao vigésimo texto, 
a certeza estrondosa do fim de um vazio que não existe mais há tempos, 
mas que custou a ser visto como simples inspiração para escrever 
e era confundida constantemente como realidade, 
vista hoje e há algumas semanas, como irreal. Literalmente.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Histórias de uma vida não vivida (27)



*Dentre tantos anos, muitas mudanças. Evolução natural que foge à regra da involução que ocorre com muitos. Evolução demorada, sofrível, sentida na pele e na mente. Pulsações que evoluíram do compulsório para o essencial, do complemento para a razão. Da simplicidade pura à transição passageira pelo mundo imundo para então chegar ao presente. Hoje que seria tão mais hoje se fosse acompanhado por um brilho azul que iluminasse um tanto mais esse plano de fundo estranho, porém original.

A vontade da razão, do sonho puro e sincero, era fazer o que pudesse para que alguém, no fim, sorrisse à salvo. Fosse um bombeiro, policial ou qualquer outra profissão que, no fim, é doação. O piloto de avião, motorista de caminhão e o famoso jogador de futebol também foram imaginados, vividos em um mundo tão próprio quando a ideia de um dia poder ter uma bicicleta.
Viver seria tão melhor se fosse assim, simples, sincero. Cheio de esses e cores vibrantes, uniformes novos e sensações de dever cumprido no fim do filme. Que loucura seria ser um ator louco, dirigindo um carro que explode e sair pela janela antes que isso acontecesse. E saltar loucamente de uma ponte após uma luta fantástica contra alguém que... superpoderes, poder voar ou carregar pedras enormes, derrubar portas e, mais uma vez, salvar pessoas. Era tudo tão incrível, tudo tão simples.

Como a vida deveria ser, pelo bem próprio, pelo bem social. Pelo bem do ser humano. Simples como não desperdiçar, comer tudo o que está no prato e agradecer aos céus por ter o que comer. Quem sabe até ser dono de uma fazenda e doar parte da produção para um orfanato. Simples assim, sem qualquer ambição de enriquecer. Para que dinheiro se existe o talão de cheques, economizarei aos montes e poderei comprar aquele banco imobiliário novinho.

Tudo passa, tão simples e rapidamente. Como correr uma maratona. Ou dirigir um carro de fórmula 1. Carro que poderia muito bem ser um daqueles redondos, com um reboque para poder levar tanta coisa junto para a praia. Água que vem e vai, que cobre e desenterra. Água salgada, eca. Areia quente, que nem esse sol que queimou as minhas costas. Mãe, tá doendo. Agora só falta dizer que eu não... tá bom, eu vou dormir.

Passando. Passou. Tanta coisa que não é mais lembrada. Tudo tão fundamental hoje, mesmo sem a recordação. Lembranças de tempos difíceis, de afastamento, distância monstruosa para algo que nunca passou de um nada. E como esse nada foi um tudo pesado, complexo e até hoje não muito entendido. Pedra que nem com muita raiva pode ser quebrada, ficando ali, parada no meio do caminho. E que coisa foi esse caminho. Essa pedra. Isso. Ou melhor, aquilo.

Sem essa história de museu. Lágrimas correram, inundaram um poço muito maior do que aquela pedra idiota poderia tapar. Nem aquela nem as outras, maiores, mais pesadas e mais idiotas. Pedras, em forma de serpentes venenosas. Até pareciam ter uma língua para fora. Pedras, cobras, o que fosse, não preenchiam o vazio do buraco próprio, cavado com as próprias mãos para fugir da chuva que só aumentava o buraco. Credo, alguém consegue entender o que eu quero dizer?

Impossibilidade de falar, de demonstrar. Pois é, de sentir também. Nada. Muito menos o que eu deveria saber. Sei que agora é aqui.Não há para onde ir. Até que um dia alguém apareça e traga, ou crie, ou transforme uma estrada, com pedras também, mas não tão pesadas. Que diferença faz?

Até que Alguém fez. Um caminho, uma casa, um rio de lágrimas. Agora também por sorrisos. Correnteza louca que desgasta qualquer pedra pesada no cansaço, na insistência. Uma enchente de loucura que faz sorrir o cético, mudar a feição franzina e irritadiça, esquecer aquela pedra, serpente, o que fosse. Do provérbio da água e da pedra, pelo caminho da pedra do caminho, na loucura da água salgada do sorriso de um sol poente.

Que nasce novo, forte e imponente a cada dia.

Que grande loucura pensar que Alguém capacita os incapazes, fortalece os fracos e faz renascer os mortos. Inconforma os conformados e conforta os sofridos. Para então fazer com que todas aquelas muralhas sujas, sem pontos brancos no fundo preto, desçam e virem um pó que vira barro, que vira solo para ser pisado. Com o tempo que não é imediato. Tanto quanto o vento, que vai, volta e nunca define direção, sentido, vetor ou campo magnético. Prova de loucura, digna de construtor de foguetes. Ou astronauta. Ver tudo de cima, comer a lua que era feita de queijo. Como o Jerry.

Lua, maré, oceano, olhos. Que enxergam e retransmitem a visão como se fosse a última. Última como o suspiro final de alguém que dá adeus ao que perseguia, incomodava, maltratava e derrubava. Da morte do passado para o renascimento da fênix. Fogo que se levanta e seca ainda mais aquele solo que outro dia fora pedra gigante. Em nada virou, um nada maior ainda será. Para alguém que não terá noção de tudo que já fora aquele lugar.

Como ninguém imagina, nada será além do nada. Para o qual estar ou não é semelhante falta de ser, de significar.

Hoje, oceano, bombeiro e a transformação em nada daquilo que foi um dia um tudo indesejado e triste, são parte de história que, torta e mal contada, por incapacidade, reflete e transfere parte de realidade que se fosse sonho seria bom, muito bom de ser sonhado.

Longe de ter realizado muitos dos meus sonhos, continuo sonhando. Com um oceano em dois pingos d'água, com um rio que transforme e rompa barreiras, com uma árvore que dê muitos frutos em torno e com pulsações cada vez mais intensas de um coração alimentado por um amor que não pode ser explicado, apenas vivido por quem quer ser muito mais do que um simples ser social, do que uma simples roleta da fortuna, mais do que uma simples pedra que desce a montanha ou é corroída pela água, salgada ou doce.

Amor que só pode ser vivido por quem sente pulsar um coração a cada novo nascer do sol. Ou cair da chuva, tanto faz. Com calor ou frio, não importa. Sempre pulsando. Um amor que vêm de todos os lados, em todos os gestos sinceros. Em todos os sonhos espontâneos.

Obrigado, por tantos dias, tantos sonhos, tantas mudanças. Obrigado por toda vida.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O vazio de viver e só (19)


Queria entender tudo que vem à minha mente. Ao menos a parte que acaba sendo mais importante nesse momento. Momento estranho, dispersivo e de pouca ou nenhuma atenção clara, razão pontual ou qualquer fim de frase. Não há fim, de frase, de pensamento, de entendimento qualquer em pensamento, sonho, ilusão própria de quem perde a razão, com muita paciência ou com total falta da mesma. Tanto faz, é apenas descrição do que não se consegue entender, imaginar. Mentira, imaginar é fácil. Sonhar é fácil. Querer é fácil. Fazer algo para trazer o que é fácil para a realidade, a parte difícil desse sonho, é procurar um ponto preto em uma parede branca. É preciso criatividade espontânea que leve os olhos a verem o que pode sim existir mas é difícil de perceber. Olhos que enchem de branco qualquer sorriso, apenas por serem olhos humanos, com algum ponto de muito especial, e um algo mais que para outros... olhos humanos, talvez não seja tudo o que é para esses, os meus, olhos humanos. Meus olhos que enxergam e mudam todo o entorno de um papel de parede não muito claro. Pintura infantil, pintada com lápis de cor de várias cores, tentando disfarçar os defeitos do desenho, da pintura, dos contornos todos.

Não esperava, mas queria mais. Hoje não só se tivesse plena certeza de que algum dia viesse a ter. No papel de parede, frente aos olhos humanos ou ao lado de uma mão trêmula, inconstante.

Ainda assim o abraço preencheu alguma coisa há tempos vazia. Obrigado.

*não entendo o que acontece, 
queria ter apenas uma palavra de certeza que me desse tranquilidade e razão para esperar, 
tempo curto, médio ou longo. Tempo qualquer. Tempo todo. Ainda assim, espero. Com motivo mas sem razão, talvez sequer tempo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O vazio de viver e só (18)


Cansado da espera, do ontem, extasiado do tédio que essa espera traz. Mais todas aquelas palavras comentadas que não levam a lugar nenhum, tampouco algum. Variação imediata de opinião que definição, com mais dois ou três ãos, não trará. Confus...ão de verbos e palavras e adjetivos, qualificativos ou desqualificativos que induz ao erro de achar que não há nada a ser dito. Nada a ser escrito. Nada há de sentir quem escreve, tampouco quem lê pelo que lê. Diferença que não faz sentir ou não, aqui, por aqui ou por lá. Quem entenderia essa miséria? Tampouco um cego, tendo tudo isso lido para si entenderia que não há muito o que dizer, além de que a culpa não é do cansaço, não é do tédio, não é da falta de vontade, do desgaste ou da longínqua lembrança que fora muito refrescada apenas pela visão. Até um cego veria que a culpa é da espera. Complexa, irritante, pavorosa e necessária?! Sem tempo definido, de começo ou fim. Sem tempo no meio de tudo, de nada, lá ou aqui. Tempo de espera. Olhos que esperam. Barriga que faz tremer de frio feito futuro morto à beira do precipício ou caroneiro em descida acentuada. Pensamento que voa. Feito pássaro bobo, sem saber para onde ou porquê vai. Feito comparação idiota. Feito essa. Ou esta. Talvez já aquela. Vida de esperas covardes, que nem sempre trazem o que intuem. Antes disso fazem o comodismo aparecer. A vontade desaparecer. Ilusões ou desilusões surgirem como barro em dia de chuva. Não quisto, mas esperado, perceptivelmente esperado. Mais uma vez, espera. Que vence pelo cansaço, pela tristeza, pelo comodismo e, algumas vezes, a subsequente vontade de mudar tudo de uma vez. Só. Toda a vida. Todo o olhar. Toda a espera. De um lado para outro. Impaciente. Irracional. Covarde e cômodo.

Como o pássaro bobo que voa para onde o vento leva.


*não há tristeza aqui, hoje, pelo contrário.
Esse texto não passa de uma constatação da situação presente e da clara, 
porém muito bem contida impaciência. 
De qualquer forma, 
não há mais como errar nesse mesmo ponto impaciente 
que já lateja em uma mente que já não se importa tanto assim em esperar. 
Sete que passou a ser três, ou dois.
Dias, meses ou anos.

domingo, 3 de outubro de 2010

O vazio de viver e só (17)


Trabalho, determinação e capacidade natural ou adquirida, como preferirem ou possuírem. Isso define a vitória, o vencedor, o campeão. Sendo competição ou não, vencedor é quem alcança o objetivo, concretiza o projeto ou mais vezes coloca a bola no fundo do gol. Que diferença faz todo o trabalho, a determinação, o empenho e a capacidade quando o resultado não vem? Quando o sonho fracassa? Quando a bola não entra? Nenhuma. O mundo não gosta de perdedores, de quem fica em segundo lugar, de quem luta até o fim e morre na praia, à beira de um oceano de lágrimas mais amargas ainda pelo sal grosso da derrota. Sal que, de tão ruim, nem os males consegue espantar, considerando a mentira de que superstições existem baseadas na realidade. Você não alcança, não realiza, não concretiza. Você é um fracasso. Cai no esquecimento. Suas palavras, seu exemplo de dedicação, sua boa vontade, seus bons valores. Nada disso importa quando você não vence. Quando você não é o primeiro. Não é o único. Não é um campeão. Nada importa quando você não confirma a verdade da sua vida, do seu sonho, do seu trabalho. Fraqueza é sinônimo de derrota. Confiança é sinônimo de vitória. Isso também não faz diferença se você, confiante, erra e o outrora fraco acerta. A vida é injusta ainda mais quando se pensa assim. Que erro único faz perdedor. Se fosse verdade mesmo, todos seríamos perdedores, pois todos erramos todos os dias, sem exagero. Falhamos, por sermos limitados. Embora sejam assim, um fracasso diário por erros, pecados e derrotas, buscam e exaltam as vitórias daqueles que fingem que não erram, que não pecam, que não perdem. Exaltam quem finge ser vencedor, por inveja. Inveja que impede de ver que não há vencedores para serem exaltados.

Ou melhor, não há perdedores para serem humilhados. Se a grama do vizinho fosse mais verde mesmo, por que ele ficaria o tempo todo olhando por cima da cerca, para a sua? Para rir de você ele não precisaria ficar olhando para você, se fosse mesmo um perdedor. Porque vencedores não olham para baixo, não olham para trás, não olham para perdedores.

Vencedores, nessa banal visão popular, não existem. Pelo menos são poucos os perdedores que conseguem vencer essa limitação e concluir isso.

*sono