sábado, 17 de maio de 2014

Pedaços de um pensamento (88)

Não sei a origem pontual, se é que houve, para gostar dos dias de neblina. De ver a cidade coberta por uma serração densa ou superficial, não importa. Aquele tempo com cara cinza, em que o horizonte é invisível, em que um quilômetro a frente é tapado por aquela massa(?) cinza claro(durante o dia), em que poucas pessoas saem de casa porque, se não há Sol, não há muitas pessoas na rua. Por vontade própria, é claro.

Gosto da cor cinza mas essa não é, nem de perto, a explicação para gostar de dias assim.

Talvez toda a tristeza que por anos habitou - e a parte dela que ainda habita - meu coração seja uma boa explicação. Dias cinzas são tristes. São claros quando há apenas neblina mas quando o Sol, escondido, vai para o outro canto do planeta, a escuridão vem e o cinza, exceto pelas luzes da cidade - que também são ofuscadas por essa massa de água - é completo, é escuro, torna-se praticamente um preto.

Acho que as pessoas reclamam demais em dias assim. O Sol sempre é fonte de elogios - exceto quando a pele fica vermelha e hipersensível. Dias claros, de céu azul bebê, são sempre os preferidos. São sempre os divertidos. São os escolhidos para tudo.

Gosto de dias cinzas. De neblina. De serração. De ficar em casa. Dias em que olhar para fora não traz à visão muitas coisas. Só um grande céu cinza, borrado, que se pode tocar.

Se pode tocar, claro, de um jeito não físico. Porque fisicamente falando...

Não sei. Mesmo. Como para várias outras coisas. Não se por que gosto de dias em que fico nostálgico. Talvez, também, utópico. Acho que sonhos são como dias de neblina. Você quer ver alguma coisa lá na frente mas não consegue. Então, se quer mesmo ver, tem que caminhar, chegar até lá.

Ficou motivacional. Ficou superficial. Acabo por aqui.

Vou repensar se gosto, ainda, de dias cinzas.

sábado, 10 de maio de 2014

Pedaços de um pensamento (87) - Sobre errar


Parte considerável dos nossos erros, pequenos ou grandes, vem propriamente do fato de considerar que há diferença entre erros grandes e pequenos. Talvez nas consequências, talvez no efeito que traz para a consciência, talvez em algum outro aspecto relativo e subjetivado da realidade humana mas não, erros pequenos não valem menos que erros grandes. Não são menos erros do que erros gigantescos.  Não existe essa bobagem de pequenos e grandes erros. Existem erros. Existem acertos. Só isso.

Tentamos sempre falar em pequenos erros, relativizá-los como distrações, percalços, detalhes, sempre na intenção de suavizar nossas falhas, nossas atitudes erradas, nossa falta de caráter, de vontade ou de consciência social ou mesmo humana. Até certo ponto, entendo, essa suavização ajuda a manter um equilíbrio mental e emocional, visto que erros considerados menores são esquecidos com maior facilidade, perdoados com maior facilidade e não influenciam com algum significado pessoas de modo que seja preciso um grande esforço para revertê-los ou consertá-los.

Porém, como se vê demasiadamente por aí, essa suavização acaba sendo feita para aquilo que é grave, para aquilo que é nojento, para o que é degradante e imoral. Feito isso uma vez, em todas as outras vezes, ou seja, em todos os outros grandes erros, novamente por assim dizer,  será feito e temos então uma pessoa - no nosso caso grande parte da sociedade - que tenta desesperadamente a cara erro cometido amenizar para o seu lado a culpa pelo gesto que prejudicou alguém, pela palavra que feriu a autoestima de outro, e assim por diante.

Uma sociedade que não encara seus erros de frente, que não tem humildade para reconhecer que é necessário buscar a Verdade em todas as coisas, não consegue evoluir porque, vejam bem se isso não ocorre com alguém no seu dia-a-dia, acaba sendo tudo tão difícil pois a zona de conforto criada em volta de si ao não ter coragem de reconhecer as próprias falhas impede que alguma atitude venha a ser tomada para fugir disso. Zona de conforto, comodismo, como queiram.

Um pai que não repreende o filho e, nas suas atitudes, erra sem reconhecer, foge da responsabilidade de educar social e moralmente, acaba criando mais uma criança que acredita que seus erros são pequenos, sempre, porque são SEUS erros e não dos outros. Os erros dos outros são gigantes, imperdoáveis, por falha de caráter, etc. Os dele, os do filho, os da maioria dos eu's viventes na sociedade, é assim. Os dos outros são 'aumentados' para compensar a 'redução' dos meus erros. E dos meus pecados. E das minhas falhas. E dos meus desvios de conduta e caráter.

Chegamos a um ponto onde a busca pela Verdade, na Justiça e pela honestidade, deve ser feito de modo radical afim de fazer com que outros fujam dessa maldita zona de conforto dos erros suavizados para que possamos encontrar, em algum ponto do futuro, condições de dizer aos nossos filhos, aos filhos dos nossos filhos e a todos os que convivem conosco, que a Justiça existe, sim.

Que tem a ver os erros com justiça? Coloque uma laranja apodrecendo em um saco de laranjas verdes. A questão aqui não é como os meus erros influenciam as outras pessoas a errarem também e sim, evidentemente, como os meus erros relativizados irão levar-me, cedo ou tarde, a cometer erros cada vez maiores. E os desvios de conduta, de caráter e a imoralidade por si é mera consequência. Afinal, já estou acostumado a pensar 'que não foi nada', que 'é só um errinho', etc.

Chega de ser blasé e achar que a conquista de uma sociedade justa não passar por mim. Chega de discursos eloquentes e apaixonados por uma sociedade honesta, capaz de educar seus filhos sob o manto de valores como a humildade e a justiça, se não conseguimos sequer reconhecer que nossas falhas são falhas, não grandes ou pequenas, apenas falhas. Que nossos erros tem consequências na minha vida, no meu caráter e na vida dos que estão à minha volta. Que a Justiça seja buscada para os assassinatos, roubos, desvios de 10 milhões dos cofres públicos mas também nos 10 centavos de troco, no reconhecimento de um erro, no pedido de desculpas quando esse ocorrer e em todos os outros surtos diários que tentam nos fazer esquecer do que é certo.

Certo a ser pensado, dito e feito.

Que a Verdade ilumine nossas escolhas e que os dons do Espírito Santo possam nos guiar.

Sim, podemos. A Justiça deve ser tão diária quanto forem nossas escolhas. Podemos sim, ser base para uma geração que nos tire dessa miséria social - e não estou falando de dinheiro - que tanto tem nos cegado.

O que é certo, é certo. Não muito certo, não pouco certo. Apenas certo.

Bem, como escrevi antes, o errado é, por si, errado.