segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Histórias do Bandiolo - alguém já viu esse filme?

- Mãe, e a Ana?
- Querida demais, um doce de pessoa. Gostaria muito de tê-la como nora.
- Hum... e a Marina?
- Simpática que só, um sorriso imenso.Gostaria muito de tê-la como nora.
- Fabiana?
- Muito inteligente, conversa sobre qualquer assunto. Gostaria muito de tê-la como nora.
- Júlia?
- Linda ela, olhos azuis que encantam qualquer pessoa, voz suave e gestos amáveis. Gostaria muito de tê-la como nora.
- E quem você não gostaria de ter como nora.
- A Sabrina.
- Por que?
- Não sei, ela me parece muito arrogante. E com aquele ar de superioridade, fala tudo o que vem na cabeça. É uma inconsequente, não tem noção do que as palavras dela podem causar. Aquele cabelo dela também não me agrada, parece que ela não se cuida. E ela fala e fala e fala e fala. Como se fosse uma tagarela. E reclama demais viu. De todas as gurias que já vieram aqui em casa, fosse por amizade ou com segundas intenções, ela é a que eu não gostaria que entrasse pra família. Ouviu bem?
- Mas vocês nem conversaram direito, como pode criticar tanto ela?
- Eu achei e pronto. Você sabe que a primeira impressão é a que fica para mim, então. Escolha uma das quatro primeiras, a Sabrina não, ela não é mulher para você.
- Mas ela tá terminando o doutorado, tem um emprego fixo, é dedicada, sempre me fez companhia, não comete excessos nas festas, sabe fazer o trabalho de casa e disse que você parece ser legal.
- Ela disse? Tá querendo puxar o saco.
- Mas m...
- Não, você não tá querendo me dizer que...
- Sim mãe, estou namorando com ela.

domingo, 29 de novembro de 2009

Histórias de bergamota (12)

Perguntei para minha mãe como eu nasci. Ela não sabia responder. Perguntei ao meu pai. Ele também não sabia. Então fui perguntar ao meu avô, a mais sábia alma que eu conhecia, mas ele também não sabia me explicar com eu nasci. Cegonha, couve-flor, nada disso é verdade, sabia eu. Como eu nasci? O que aconteceu quando nasci? Por que ninguém sabe me explicar?

Depois de algum tempo, percebi que meus pais não eram meus pais. Meus avós não eram meus. Todos eram meus irmãos. E aquele sábio não era nada meu, porque era uma laranja do céu.

Ninguém sabia me explicar como nascem as bergamotas. Por não achar uma resposta sensata para o 'de onde vim', decidi definir logo o 'para onde vou' e, sem fazer esforço, caí no chão, sendo ajuntado por um xeba, que me descascou e chupou todo o meu suco.

Eu sou uma bergamota, e essa pode ser a minha história.

*escrever coisas como essas me afasta um pouco daquele sentimento de vazio total

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Uma grande quantidade de nada

(O amanhã colorido - Cidadão Quem - trilha sonora do texto e da(com boa vontade) reflexão de hoje. Ótima música e ótima letra)

*Para sonhar é preciso apenas viver. Mesmo que o sonho não se possa viver. E mesmo que o viver não passe de um sonho.

Muita coisa já escrevi, já apaguei, já lembrei e já pensei.

Tanta coisa que não sei de mais nada. Como nunca soube de tudo. E nunca saberei.

Nunca precedido de verbos no futuro é algo perigoso e, no mínimo, impreciso. Seja qual for a pessoa. O verbo. O nunca.

Porque o nunca nem sempre é nunca. Assim como o sempre também não o é por completo.

Exceções, malditas e benditas exceções.

Tempo que não será assunto hoje. Não intencionalmente.

Porque acho que todos já sabem que eu tenho uma raiva imensa do tempo. E pena daqueles que nele, ou seja, no tempo confiam.

E não é só por esperar e não viver. É por achar que o tempo vai fazer aquilo que a própria pessoa precisa fazer.

Comodismo? Não. Sinceramente, é falta de vergonha na cara. Falta de coragem, de sinceridade, de vontade.

Eu disse, o tempo não deveria estar aqui.

Porque ele não é o culpado pela volta de alguns problemas que eu tinha, e agora voltei a ter.

Olhar para o chão enquanto falo com alguém ou alguém fala comigo. Falta de educação? Não. Problemas relacionados à timidez.

Tique nervoso no pescoço cada vez mais intenso, cujas dores musculares(óbvio, no pescoço) são cada vez maiores. Engraçado? Não. Irritante e inexplicável.

Um aumento progressivo na ansiedade, sem motivo algum, e na preocupação, que não é com a necessidade de notas ótimas em provas tiradas do inferno.

Voltaram. Ou começaram. Piores do que eram, do que outra haviam sido.

Frases. Voltas, mudanças.

Continuo na mesma. No nada. Num deserto de tudo e nada. Só não consigo achar o tudo.

No meio de um oceano. De desilusão? Talvez. Talvez seja um oceano de desmotivação. Tudo tão parado, a água, o sol, o vento.

Sem rumo, sem destino, sem saber onde estou. Perdido.

Em mim.

O que era ruim piora.

E o que alguém pensa que mudou continua a mesma coisa. E, sabe-se lá o mente que deveria colocar aqui, acaba aumentando.

Talvez esse aumento, sem percepção, sem valorização, sem retribuição seja o pior.

Talvez.

Porque se eu não sei nada, ou quase nada, não posso, ou não é provável, saber.

Lamentação. Mais do que tristeza.

Desmotivação, mais do que pareça.

Frases. Recurso muito utilizado no passado e só re-utilizado agora porque o texto escrito antes havia ficado terrível.

Enfim.

Deve haver um propósito nisso tudo. Escolheria sempre o mesmo caminho, quantas fossem as vezes repetidas.

Sempre o mesmo caminho porque algo maior existe sim.

E só um cego, ou alguém que se faz de cego, não vê, e não... entende(ou qualquer coisa do tipo "cai na real") o que é isso.

Depois não entende por que tanta coisa ruim vinda de mim.

Não esperem nada de mim. Nem um texto bom consigo escrever. Nem um pensamento bom consigo.. pensar. Nem um sonho bom consigo imaginar, que dirá realizar.

Se bastasse a inconformidade, a vontade e a sinceridade, eu não estaria aqui. Se bastasse qualquer razão, qualquer motivo, qualquer prova, eu não estaria aqui.

Por mim, e também não por mim.

domingo, 22 de novembro de 2009

Não é bem assim (8) - voltando a estragar frases feitas

Se não for pra me fazer voar bem alto, não me faça tirar os pés do chão.


Começando essa análise bem simples e simplificadora, vamos levar em conta que essa frase deveria ser apenas dita para pilotos de avião, ou veículos que voem. Mas em todo o caso, levarei em conta o lado patéticamente figurativo dessa frase.

Vejamos, para quem assiste filme, sabe que durante cenas impróprias para menores de 18 anos os caras, ou mesmo as mulheres dizem 'vou te levar pro céu'. Então. No caso não é nesse sentido, mas poderia ser, o que desmoraliza a frase(e, o que não muda nada, o blog).

Hum...

Agora, com um abraço bem apertado pode-se tirar os pés de alguém do chão. Mas a pessoa não vai voar. Então quem diz isso não gosta de abraços bem apertados que as fazem levantar. Que bobagem. Que grande bobagem. Bom, não posso fazer nada. A frase é uma bobagem por completo.

Vamos ver. Voar, felicidade grande, alegria, êxtase(não confundir com aquelas drogas de plaiboizinhos e patricinhas alucinados e, óbvio, estúpidos). É, acho que há uma relação. Bom, se não é para fazer a pessoa feliz, nem chegue perto. Por aí né? Tá bom.

Se não é pra fazer a pessoa viver, de fato, alguma coisa indescritível, nem comece a dar indícios de que pode ou quer isso.

É isso?

Talvez seja, mas não fica claro. Muita gente burra há no mundo. Muita gente burra fala português. Muita gente burra usa orkut e/ou procura essas frasesinhas feitas sem razão alguma. É patético esse tipo de frase que todo mundo usa. Por isso ironizo(na falta de outro verbo) elas. Mesmo que a ironia seja tão ruim quanto a frase.

Mas que não fica nada muito claro na frase, não fica. E que gente burra não entende essa  frase direito(seja lá qual for o direito dela)(talvez seja a última tentativa de explicação que eu escrevi).

Eu precisava escrever uma grande bobagem sem fundamento ou sentimento algum. Era isso. Foi isso.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Histórias do Bandiolo - Para não ficar só no tchau

Olhou-a e despediu-se. Sem beijo, abraço, nada. Nem aperto de mão, olhar nos seus olhos ou qualquer outro tipo de afago. Nada. Estava atrasado e, acima disso, magoado. Não importava mais o que ela lhe fizera, as coisas ridículas que ouviu daquela boca que quando sorri ilumina cavernas profundas e escuras. Não importava mais o que lhe fizera pensar, sentir. Passado.

Mas ainda estava magoado.

Sentiu-se a pior pessoa do mundo por aquilo. Sentiu-se pior do que a pior pessoa do mundo sentiria-se. Senti-se como se fosse... de fato, a pior pessoa do mundo. Como se tivesse cometido o pecado mais grave, a falta mais dura, dito a maior blasfêmia e provocado a pior das dores. Sentiu-se como se fora culpado de algo que nem ao menos sabia o que era. De algo que, de fato, percebeu não existir.

Fora acusado, incriminado, culpado, criticado, ofendido, destroçado e destruído. Sentiu-se tão mal que não sabia como em tão pouco tempo voltou a estar com ela. Sabia, mas não queria saber. Não queria entender. Era injusto. Não merecia ter passado pelo que passou, sentido o que sentiu. Sensações estranhas. Sentimentos profundos. Tristeza. Mágoa, mágoa, mágoa.

Despediu-se como se ela não fosse mais do que uma empregada de seus pais e, por consequência, uma empregada sua. Despediu-se como o dono se despede do cão.

"Tchau."

Virou as costas. Precisava fazer aquilo. Deixar aquela impressão de que ele poderia fazer o mesmo, embora ela não fosse sentir um centésimo do que ele sentiu. Era uma forma de vingança, para ele era. Indiferença. Sentimento terrível. Tantas vezes sentia como se estivesse há anos-luz dela mesmo estando abraçados. Agora era a sua vez de retribuir. Tchau e nada mais. Isso mesmo, sentia-se agora bem.

A mágoa passou. Rápido demais. Parou, pensou bem, refletiu e sentiu-se mal. Parecia que algo estava lhe chamando, embora ela estivesse quieta. Será que ela se arrependeu? Será que falará alguma coisa, que pedirá desculpas? Não. Ele não vai fazer nada disso, sabia ele. Deixou de lado o orgulho que era próprio dela e sentiu-se aliviado por ter desistido de tentar fazer o que, de fato, nunca quis fazer.

Voltou e beijou-a. Para não ficar só no tchau. E para não se arrepender e sentir-se mal por ter dito apenas uma palavra na última vez em que a veria naquele dia.

Voltou e nem foi mais, sabe-se lá o porquê...



*O autor acha textos como esse, 
escritos em dias como esses, 
patéticos, 
e não esconde sua preferência 
por textos postados com verdadeiros sentimentos 
e um algo a mais de explosão, 
que nesse caso não passa de uma espontaneidade sincera,

e cheia de... enfim.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Só para constar, de passagem

(não levem em conta esse texto. Não o leiam. Sério. Eu não o escrevi para que alguém lesse. Escrevi para tentar cuspir para fora alguma coisa que hoje me impediu de pensar, de sonhar, de tentar, de fazer. Leiam os textos abaixo. Tenho escrito cada vez menos, mas tenho gostado cada vez mais do que escrevo. Sério, não leiam esse texto, pulem para o próximo, ou achem no histórico ou nos marcadores algo que lhes interesse. Nesse ano escrevi pouco, mas insisto, menor quantidade com maior realização. Realização? Sério, não leiam. Esse texto está aqui apenas, também, para que o blog passe pelo mesmo que eu passo.)

Acho que devo desculpas a quem lê o blog. Acho que devo desculpas a quem comenta no blog.

Tempo até eu tenho, pouco mas tenho. Estudo bastante, muito mais do que havia estudado em toda a minha vida. E mesmo somando todas as horas de estudos antes da faculdade, do fundamental e do ensino médio, não conseguirei chegar perto do que tenho estudado aqui.

O que tem faltado é cabeça. Para escrever, para comentar, para responder. Um ou outro desabafo consigo fazer no twitter, mas falta muita coisa. Faltam textos, palavras, atitudes. Na cabeça. Nesse espaço onde eu acredito estar alojado um cérebro. Talvez não haja nada lá, mas um dia houve. Se não espirrei tudo aquilo, então ainda possuo uma massa cerebral. Isso é complicado.

Faltam motivos. Ou não. Ou faltam olhos, ouvidos, tato, coração. Não sei. Talvez não falte nada. Talvez falte tudo. Generalizar não vai me ajudar. Reclamar não vai me ajudar.

Engraçado, nunca precisei desses ou daqueles motivos, para qualquer que fosse o verbo subsequente, mas agora sinto que chegou a hora de tê-los para continuar. Continuar algo, alguma coisa. Não sei. Eu já não sei. Não sei se preciso fazer algo, se preciso pensar, se preciso rezar, se preciso estudar. Não sei do que eu preciso.

Não sei como ainda levanto da cama(e hoje demorei mais de meia hora para levantar). É sério, desmotivação total. Um vazio. Um sentimento de nada incomparável.

Falta motivação, falta vontade, falta muita coisa. Muita coisa que eu não faço a menor ideia do que pode ser, do que é. Desiludido, perdido, deprimido. Não sei. Falta de sonho, de vontade, de sentimento, de coragem. Acho que não. Mas não sei. Incapaz. Vem à tona a maldita síndrome passada. Sensação de segundo lugar estúpida, pois não há qualquer tipo de competição ou algo que eu possa perder nesse momento na minha vida.

Um vazio que toma conta de alguém que nunca foi nada além de um maluco. Estranho, diferente. Cheio de teorias, de frases, de ideias, de ideais, de sonhos. E agora nada disso é motivo. Nada disso faz sentido. Nem isso nem a fé. Muitos hoje, se estivessem como estou, diriam 'Deus não existe" e isso e aquilo. Que gente mais estúpida. E mais deprimente que eu. Conseguem ser piores, ser pessoas piores.


Eu realmente não sei onde estou. Não sei onde fui parar. Mas não é culpa de Deus. Talvez amanhã um raio de sol bata no meu olho e me mostre onde estou, para onde preciso ir ou mesmo, o que já me seria suficiente, para onde quero ir.

Desculpa pessoal. Até poderia dizer que já não sei mais quem sou, mas não. Sei bem quem sou. Eu só não sei por quê. Como. Quando. Onde.

Pouca coisa faz sentido.

Aliás, alguma coisa fez sentido hoje, eu lírico idiota?

(escrito em 18/11/2009, mas postado dois dias antes, por questões óbvias)

sábado, 14 de novembro de 2009

Histórias do Billi J. - Tudo sumiu, tudo se foi. Coração que volta a bater.



"Caro amigo Vini Manfio:

Era apenas mais um dia. Acordei naquele dia com a ideia de que seria mais um. 'Just another day', apenas. Rotina de sempre: acordar, ler o jornal, comer, ir par o banheiro, tirar as meias e colocar o chinelo, andar um pouco pela casa, ouvir Kinks nos lp's originais que ele comprei em um leilão na internet, enfim, o de sempre até trocar a camisa, colocar uma calça, os tênis brancos e ir para o trabalho.

Tudo estava tão... normal naquele dia. Normal de habitual, não de comum. O Sol e seu calor intenso e insuperável, as árvores sendo louvadas como maravilhas de Deus pelas sombras necessárias, as crianças indo para a escola e quase sendo atropeladas por motoristas céticos, arrogantes e estressados que acham que se chegarem 10 segundos atrasados aos 5 minutos de babação ao chefe antes do trabalho serão demitidos. As coisas estavam acontecendo como acontecem todas as manhãs.

E eu caminhando. Pensando na vida. Em como estaria o meu coração, que a Renata levou com ela para a Inglaterra. Renata. Namorei outras gurias(puts, agora acho que posso falar em mulheres, mas na época eram gurias) mas nenhuma despertou em mim algo além de um carinho. Bons momentos, mas nada que me traga imensos e sinceros sorrisos quando lembro. Pessoas legais, mas nenhuma como a Renata. E como eu sentia falta dela.

Mas então. O dia seguiu normal. O trabalho, normal. Nenhuma grande incomodação. Fiz o que tinha que fazer, almocei, voltei ao trabalho. Nada de mais. Conversei pouco com aqueles porcos hipócritas que me cercam, bando de puxa saco. Malditos. Quando podem, me ferram. Inventam coisas que não tem cabimento contra mim. Quase fui demitido várias vezes. Por isso não converso com quase ninguém.

Enfim. Era só mais um dia. Quando cheguei em casa vi um email. Da Renata. Fiquei feliz que ela tinha me mandado algo. Quando vi que era apenas uma frase quase fechei o navegador. Bom, li, óbvio. Ela pedia que eu ligasse o celular e ligasse para ela. Caramba. Eu ia gastar um bom dinheiro. Ligação internacional. Caro pra dedéu. Mas ela pediu. Talvez precisasse. Adivinha? Liguei, claro. Não aguentei. A sensação de que ela precisava falar comigo falou mais alto.

Liguei. Chamou, chamou, chamou. Estava quase desligando quando ela atendeu. O coração deu aquela bombada, foi sangue para todo o corpo em instantes. Os olhos brilharam, o sorriso veio. Alegria que contagiou meu corpo. Quase não conseguia segurar o celular. Antes que eu pudesse perguntar se ela estava bem, ela me disse que queria me ver. Eu disse que também queria ver ela, mas que não era possível no momento. Ela disse para eu ir na antiga casa dela, pois havia preparado uma surpresa para mim. Eu perguntei o que era e ela disse que, se confiava em nela, iria lá agora mesmo. Então disse que me amava e desligou.

Fiquei sem reação. Estranhei. Pensei e repensei. Por que eu iria lá? Ela não está lá. Ela mora longe daqui. Por que ainda fico alimentando esperanças? Eu continuo amando-a do mesmo jeito que passei a amá-la quando ela me disse oi pela primeira vez, há longos... sei lá. 10 anos. Ninguém no meu lugar iria. Ninguém. Fazer o que lá? Sabe-se lá quem estaria morando lá agora. Quem sabe a Gabriela, minha primeira namorada e prima da Renata. Seria bom revê-la mas, não sei. Pesei tudo que tinha na cabeça. Tudo me dizia para não ir. Mas o "se você confia em mim, vai lá" falou mais alto.

'Coração idiota, por que ainda faço o que me pede?' pensei naquele momento. Mas fui. Antes, tomei um banho, coloquei uma roupa bem normal, bem simples, e saí. No caminho tudo veio à mente. Que surpresa ela teria para mim? Se quisesse me mandar algo pelo correio, saberia meu endereço. Não fazia sentido. Mas eu estava indo. Meu coração e ela me disseram para ir. Fui. Sem pressa. Meu coração batia acelerado. Diminuí mais ainda o passo. Mas ele continuou querendo saltar pela boca. Parecia desesperado, ansioso, mas pelo que? Por uma surpresa que, no fim, não seria nada do que eu realmente gostaria?

Segui. E cheguei lá. Toquei a campainha. Ninguém atendeu. Comecei a ficar irritado. O que ela queria que eu fizesse naquela casa que parecia não ter ninguém dentro? Pensei em ligar para ela. Toquei mais duas ou três vezes a campainha. Vi a cortina se mexendo. Estão chamando a polícia, só pode. Então tentei ligar para ela. Quando começou a chamar, comecei a escutar algo tocando. A nossa música. Beautiful, do Marillion. Era essa a surpresa. Ela me trouxera aqui para escutar a nossa música. Mas ainda não fazia sentido.

Quando a maçaneta da porta começou a girar, pensei que iria ser xingado. Estava cabisbaixo, como quem diz "tá bom, não vou mais incomodar, aliás, não sei por que toquei a campainha". E aquela música foi se aproximando. E eu cantando apenas com os lábios. Quando ouvi uma voz cantando. Não, não podia ser. Eu não conseguia olhar para cima. Meu corpo estava prestes a... sei lá, me abandonar. Comecei a cantar alto aquela música, porque aquela voz parecia ser da Renata. Eu estava sonhando. Só podia. Louco, insano, sonhando com alguém que mora há milhares de quilômetros daqui.

Continuei cantando a música alto, mas aquela voz não saía. Não desaparecia. No último refrão, cantei o mais alto que pude, mas aquela voz continuou. Ela se fez presente comigo naquele momento e eu, por algum motivo, não conseguia parar de olhar para o chão. Que me levassem preso, mas eu não sairia dali enquanto a música não parasse de tocar.

Foi quando a música parou. E eu percebi que a minha ligação estava indo para a caixa de mensagem. Sem perceber, meu celular continuou chamando. Durante toda a música. Não consegui entender como, isso é praticamente impossível. Mas naquele momento fora possível. Não sei. Aquilo me trouxe de volta à vida. Meu coração batia como se fosse um pandeiro numa roda de pagode. Batia mais do que alguma coisa bate no liquidificador. Batia, pulsava, queria sair do peito. Só pela música. Por estar tocando onde estava tocando, na casa onde ela morava.

Era hora de ir embora. Quase tive um infarto, tamanha aceleração cardíaca. Eu devia estar pensando nela, apenas nela, mas conseguia pensar no porquê do meu coração quase ter explodido. E eu nem sequer vi de onde vinha a música. Meus olhos lacrimejavam. Todas as lembranças dela, aquela angústia por não vê-la há anos. Todo amor guardado. Tudo. Todo aquele desejo sincero de estar com ela. Uma lágrima caiu do meu rosto e, antes que eu levantasse a cabeça, ouvi um "Oi".

Eu estava delirando. Definitivamente. Ia ligar para o manicômio. Estava ouvindo a voz da Renata. Mas como não tinha mais nada a perder e, tendo a certeza de estar alucinado em virtude de uma simples música numa casa 'qualquer', resolvi levantar a cabeça e... quase morri Vini. Sério. Ou tinha morrido e não sabia. Ela estava na minha frente. Eu ouvia a voz dela. Mas não conseguia acreditar.

Antes que eu pudesse pensar que era um sonho, ela abriu o portão, se aproximou de mim, segurou a minha mão e, indo no fundo dos meus olhos disse "Eu voltei". Sinceramente, se algum dia o tempo parou, foi naquele instante. Eu não sabia se acreditava naquilo ou o que teria que fazer para acreditar naquele sonho. Eu não sabia de mais nada, nem qual a porcentagem de ácido acético no vinagre(lembra que eu sou engenheiro químico né?). Nada. Mente vazia.

Fazia sentido o coração quase sair do corpo, aquela ansiedade toda. Pressentimento. Dizem que existem essas coisas com pessoas que se amam. Amor sincero e mútuo. Dizem. Talvez não exista. Mas naquele momento qualquer coisa que me dissessem que o amor poderia fazer, eu acreditaria. Se dissessem para me jogar do alto do Big Ban por amor, eu me jogaria. Tudo. Faria tudo. Porque eu não sabia o que estava sentindo mais. Meus pés não tocavam mais o chão, meus olhos já não viam, minha boca não falava, meus ouvidos não ouviam. Eu parei de funcionar. Quase por completo.

Só o meu coração quase explodia. Quase explodiu. Demorei a entender que era ela mesmo. Toda aquela saudade, aquele amor, toda... todo... eu não sei. Jamais vou conseguir explicar o que senti. O que vivi naquele momento. Indescritível, literalmente. Sem palavras. Ela voltara. Para casa. Para mim. Se houvesse um ranking, eu seria o homem mais feliz do mundo. Muito mais do que alguém que ganhara na loteria, que conseguira qualquer que fosse a coisa. Eu era mais feliz que a própria felicidade. Louco, insano, feliz.

Ela tentou me explicar. Eu não pedi explicações. Nem pedi quanto tempo ela iria ficar. Mesmo assim, ela disse que havia voltado para sempre. Por mim. E pela mãe dela, claro. Não importava. Ela que voltasse por saudade daquela casa, do vira-latas, do sistema de transporte público precário. Pelo que fosse, ela voltara. E... mais linda do que nunca. E como ela é linda. E como seus cabelos balançam quando ela caminha...

O amor da minha vida Vini. Depois de tanto tempo, estava com ela novamente. E nem tínhamos sequer dado um abraço, um beijo. Apenas nos olhávamos, de mãos dadas, como namoradinhos à moda antiga. O mundo não existia mais. Meus problemas não existiam mais. A minha vida talvez não existisse mais. O mundo talvez não existisse mais. O abraço, o beijo. Os abraços e os beijos. Ficamos horas na frente da ex e agora atual casa dela. O meu amor estava comigo. Depois de tanto tempo longe, percebi que não vivi nesses anos. Apenas sobrevivi. Muito bem, mas faltava algo, faltava o amor, faltava ela.

Decidi que daquele sonho não queria acordar. E passei a vivê-lo todos os dias. Pedi demissão do meu emprego e arrumei outro, melhor e sem pessoas tão sujas quanto no antigo. Fossem quem fossem. Não importava mais quem estava ao meu lado, pois sabia que eu a veria. E só por vê-la eu perdia tudo que de ruim possuía, na cabeça e no coração.

Eu não sei como terminar essa carta. Não sei como está a sua vida, a sua cabeça, o seu coração Vini. Não sei. Não sei como está a sua faculdade, os seus amigos, sua família. Não sei Vini. Me desculpa, mas com ela aqui, momentos como esse são raros. Serão raros.

Desejo a você que consiga viver como eu agora vivo. E obrigado pela ajuda em todos os momentos ruins que passei.

Grande abraço,
Bilionárico Johansson
"

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Histórias de uma vida não vivida(12)

*Difícil falar sobre o passado, porque são boas e más lembranças misturadas. Difícil falar do presente, dos bons e maus momentos. Difícil falar do futuro, porque ninguém sabe nada sobre ele. O que dizer sobre um passado que é provável que não tenha existido mas que parece ter sido vivido com a mesma intensidade com que teria sido vivido se tivesse sido vivido mesmo? Quando a intensidade dessa vivência não vivida(ou mesmo vivida de um jeito diferente) é grande demais, a diferença entre o irreal e o real, entre o sonho e o fato concreto diminui. Chega-se à insanidade. E depois de chegar aqui, é muito difícil sair.

Quando me dei conta, já estava no meio de tudo isso. Um lugar arruinado, acabado, completamente destruído. Quando percebi, estava no centro desse lugar. Lugar assombroso, pavoroso, mais tenebroso do que qualquer filme de terror que já fizeram. Mais destruído do que qualquer lugar destruído pela guerra. Um quase nada completo. Uma paisagem terrível, triste, sofrida. Tudo foi por terra.

Não sabia o que fazer. Para onde ir. Tudo tão igual. Destruído. Prédios que caíram, casas que foram derrubadas, pontes e túneis igualmente foram ao chão. O rio secou, as árvores foram queimadas, nada restou. Só um monte de terra, e de restos que não consigo distinguir ao certo do que são ou o que algum dia foram. Está tudo em ruínas. Queimado, destruído, derrubado. Eu não sei o que aconteceu aqui e nem quem poderia fazer, ou ter a capacidade de fazer isso.

O vento é frio e leva consigo apenas a poeira do resto. Do resto de vida que agora é sinal de morte. Do que um dia fora o lugar mais propício para qualquer coisa, mas que hoje não passa de um nada. Destruído. Arruinado. Ao chão. Triste, deprimente, tenebroso.

Não vejo ninguém. E como alguém sobreviveria a isso? Também não vejo restos mortais de alguém. Nem um pedaço de roupa, de calçado, um fio de cabelo. Nada. Não há uma forma de vida aqui. Nem bactérias ou vírus. Nada. Uma bomba atômica poderia ter feito isso, mas essa possibilidade é descartada. Ninguém gastaria dinheiro destruindo algo que poucas pessoas vêem, vivem, conhecem. Não há razão alguma.

Quem destruiu isso aqui? Como destruíram? Olho para os lados e nenhuma ideia consegue ter a mínima porcentagem para começar a fazer algum sentido. Nada. Nem um indício. Tudo veio ao chão e ninguém sabe, ninguém viu. E eu, que chego agora, não tenho condições de saber, de entender, de descobrir. Nada. Destruído, isolado, arruinado. Tudo veio ao chão.

Ninguém por perto, como poderei reconstruir tudo isso sozinho? Se sou incapaz de entender ou ao menos descobri o que ou quem fez isso, como poderei ser capaz de recomeçar essa história aqui? Olho para os lados, para a frente, para trás. Ando em círculos e não saio do lugar. Vazio. Minha mente e meu coração estão vazios. Meus olhos não vêem mais nada. Olho para o nada e nada vejo. Nem um barulho, nem um ruido. Nada.

Preto. Com riscos cinzas. Marcas profundas que foram feitas com algum objeto gigantesco que não consigo decifrar. Eu tinha esquecido o que era o nada. Hoje lembro. E vivo no nada. Em um nada. Para um nada.

Tudo está destruído. E acho que o culpado sou eu, por ter deixado de lado tudo isso que hoje está destruído. A culpa só pode ser minha, porque somente eu estou aqui agora. Com nada nas mãos, na mente, no coração. No nada. Por nada.

É, a culpa só pode ser minha. Deixei esse lugar e agora ele está destruído. A culpa é minha, porque abandonei a minha vida aqui. E agora tudo está destruído.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Reflexões de um maluco(7) - Lágrimas sem chuva em um mundo sem viver


Dizem que a vida é feita de escolhas. Que cada escolha traz uma consequência, ou uma série de consequências únicas, que nenhuma outra escolha traria. As pessoas dizem muitas coisas. Tantas coisas que elas não param para pensar nelas. Nas coisas e em si próprias. Elas falam. E falam. Podem até ter sentido, mas ele estará apenas na frase, e não na pessoa que diz, na intenção da pessoa que diz ou mesmo na razão da pessoa dizer.

Dizem, falam, comentam. Bobagem. O mundo precisa é de pessoas mudas. De pessoas cegas. De pessoas surdas. O mundo precisa de dias no escuro, noites de sol. As pessoas merecem chuvas que não molham, raios de Sol que não aquecem, árvores que não fazem sombra e abraços que não acalmam. Precisam parar de falar, de ver, de ouvir. E até de sentir. Precisam parar com tudo o que possa lhes ser razão aparente para reclamação, para palavras intencionais mas sem sentidos, para vidas sem fundamento.

Vidas que não seriam vidas se não existissem padrões. Tendências. Passado a ser seguido e reescrito, parâmetros e metas a serem cumpridas. Vidas e mais vidas desperdiçadas pelo simples pensamento de continuidade. De manutenção, de conservadorismo. Vidas e mais vidas não vividas por uma insistência teimosa no que não faz sentido nem em raciocínios insanos. Tempo mal usado, desperdiçado de fato, com memórias e planos egoístas que atrapalham "apenas" algumas poucas vidas que precisariam muito menos do que a mera ausência desse egoísmo e desse orgulho traria e daria.

As pessoas reclamam da vida. Reclamam do time que perdeu, do calor, da chuva, do vento que estraga o cabelo, do céu que não está azul o suficiente ou mesmo do lindo azul(qualquer que seja o tom) do céu. Acham que a vida deveria ser perfeita. Com momentos perfeitos todos os dias, ou ainda, todas as horas. Com histórias e livros impecáveis. Apenas com bons momentos. Reclamam que não aprendem, que não tem oportunidades. Reclamam e xingam os momentos de tristeza, a dor, as lágrimas.

As pessoas esquecem os sonhos, esquecem a sinceridade em gestos, palavras e sentimentos. Esquecem dos sorrisos, dos olhares, dos abraços e dos beijos. Esquecem daquilo que lhes fez bem. Esquecem. Como um devedor esquece de pagar. Porém lembram cada detalhe do dia triste, cada nuvem no céu nublado, cada grão de areia na grama, cada vírgula colocada no lugar errado. Esquecem e lembram. Ou pensam fazer isso. Lembram de reclamar da vida, mas esquecem que a vida não é perfeita, que ela não pode ser perfeita. Que ela não precisa ser perfeita. Que os sonhos não precisam ser realizados de maneira perfeita. Esquecem que a sinceridade naquilo que recebem e doam é mais importante do que qualquer frase perfeita escrita no livro de suas vidas.

Por isso acho que o mundo precisa de cegos, para que o céu, o sol e todas as maravilhas da natureza sejam mais valorizadas. Precisa de mais surdos, para que a palavra sincera, a declaração de amor, o desabafo amigo e todas os gritos da alma sejam mais valorizados. Precisa de mais mudos, para que a conversa seja valorizada, para que as oportunidades não sejam desperdiçadas e para que a música, a poesia e quaisquer frases não sejam mais banalizadas.

As pessoas dizem muitas coisas. Dizem que valorizam algo só quando perdem-no. Dizem que valorizam uma pessoa só quando estão longe dela, ou a perdem para sempre. Dizem que só há verdadeira valorização num sentimento, ou mesmo num gesto que o prove, quando não o tem mais a qualquer momento. As pessoas dizem muitas coisas. Ridículas.

As pessoas dizem sem saber. Ouvem sem querer. Vêem por obrigação. Pensam sem razão. E vivem, ou fingem que vivem, sem sentimento, sem coração.


*como a maioria dos meus últimos textos, esse vem de um lugar escuro 
e escondido, que ainda não consegui dizer se está na cabeça ou no coração. 
A solidão, a tristeza, a decepção 
e a simples lembrança de tudo aquilo que me faz bem 
se misturam nessas palavras.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Histórias de bergamota(11)

Eu estava ali. Disposta a tudo. Daria a minha vida por ti. Tudo que estava ao meu alcance eu fiz. Cresci, evoluí, amadureci. Por mim, sim, mas também por ti. E estiveste ao meu lado por tanto tempo. Tempos maravilhosos. Dias fantásticos. Momentos inesquecíveis. E algo muito maior foi surgindo dentro de mim. Um sentimento tão puro, tão bonito. Evolução, crescimento. Amadurecimento. Por isso eu disse que daria a minha vida por ti. E o faria de fato. Mas você não quis. Preferiu outra. Preferiu uma mais popular, mais conhecida, mais famosa. Uma maior. E ela acabou contigo.

Eu não mandei você comer aquela melancia inteira. Eu não mandei você gostar mais de melancia do que de bergamota. Você morreu engasgada por tantas sementes.

E eu aqui, chorando todo o meu suco por alguém que nunca quis dar a vida por alguém que daria a vida por si.