domingo, 31 de outubro de 2010

Frase do dia


Quem aqui nunca pegou uma bolacha recheada e comeu primeiro o recheio? 


*eu dissertaria, sim, sobre essa frase.
Mas escrevi tanto, de uma maneira tão subjetiva
que decidi apagar e deixar apenas a frase.
Eu teria tanto para dizer porém não quero pensar,
hoje,
em tudo que preciso dizer.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Histórias do Billi J. - Quando se conhece uma dor


Eram passados alguns anos da vida do Billi J. . Poucos anos, uma vez que o Billi tinha apenas 7, 8 anos quem sabe. Já era, injustamente, motivo de chacota pelos colegas, que não perdoavam seus óculos, seu jeito simples de falar e sua sede por conhecimento. Mas eles, os colegas, tiveram uma importância ainda menor naquele sábado de maio, ou junho.

O Billi estava na cozinha, vendo sua mãe fazendo bolachas, e colocando em cima delas açúcar com canela. Como era divertido colocar açúcar com canela naquelas bolachas que ficavam tão gostosas. A mãe do Billi realmente sabia como fazer bolachas. Porém aquela alegria, aquele momento mãe e filho que deveria ser apenas de sorrisos foi interrompido pela campainha. Billi atendeu e não gostou nada da cara de tristeza daquela mulher morena, alta, vestida toda de preto, como se estivesse de luto.

Chamou sua mãe e a mulher pediu que ele as deixasse a sós. Billi J. foi então continuar seu divertido trabalho de colocar açúcar com canela em cima das bolachas enquanto sua mãe  e aquela mulher de preto conversavam na sala, em tom tão baixo que nem desligando o rádio o Billi conseguia ouvir.

Então ouviu a porta fechar, sua mãe, antes alegre, agora estava com o semblante sério, como se algo ruim tivesse acontecido. Não, algo muito ruim havia acontecido sim. Billi perguntou o que aquela mulher havia dito. Sua mãe, como quem não sabe como dizer alguma coisa, pediu que o filho viesse para perto. Ela sentou e colocou ele sentado em seu colo, afinal, o Billi era pequeno e parecia ter uns 4 anos. Começou a falar com calma para o Billi sobre o que acontece com as pessoas que morrem.

O Billi não entendia o que ela falava. Céu e Deus eram coisas boas, mas a morte era uma coisa boa para os velhinhos, que haviam vivido bastante. Percebendo a inocência de Billi, sua mãe então deu aquela que, até dias atrás, foi a pior notícia que o Billi J. recebera.

Seu padrinho, de tantos caminhões de madeira, tantas brincadeiras, tantas risadas e tantos sorrisos, havia falecido. O Billi J. percebeu que não era uma brincadeira quando viu uma lágrima escorrendo pelo rosto de sua mãe. Ela o abraçou, disse que ele havia ido para o céu e que de lá protegeria-o.

Billi J. não sabia o que dizer. Sequer pensou em perguntar como aquilo havia acontecido. Em verdade, não tinha consciência do que era a morte. Não raciocinava que não poderia mais ver seu padrinho, que nunca mais receberia um carrinho de madeira dele, que nunca mais iria em sua casa visitá-lo. Billi J. não sabia mesmo o que dizer, o que pensar. Estava triste mas não conseguia entender ao certo o que estava acontecendo, aquela dor grande, aquele vazio, aquelas...

...lágrimas. Billi J. começou a chorar. O abraço de sua mãe não bastava mais. Desceu de sua perna e correu para o banheiro, trancou a porta e se escorou atrás dela. E chorou. Porque aquilo doía, machucava, era tão ruim que não havia remédio ou chá que fizesse aquela dor passar. Nada. Nem o abraço de sua mãe.
Ficou um longo tempo sentado atrás da porta do banheiro, chorando. Tentando entender por que, como, seu padrinho, ah não, aquela mulher morena, com cara de defunto, aquela mulher estava mentindo, não era verdade que seu padrinho havia... morrido. Não, ela era uma mentirosa que veio estragar o sábado com sua mãe. Era mentira, ela estava mentindo.

Passada a... aquele sentimento de inconformidade, de não querer acreditar no que havia acontecido e, passada a raiva daquela mulher de preto, Billi, à pedido de sua mãe, tomou banho. E chorou durante todo o tempo em que o chuveiro ficou ligado. Hoje ele ri ao contar que não lembra se tomou banho com água do chuveiro ou dos próprios olhos. Entretanto naquele momento parecia tudo tão... triste.

Billi estava triste. E não... não, seu padrinho não devia...
Era verdade. A mulher não estava mentindo. E doeu muito mais ter a certeza disso quando seu pai, um homem que nunca mente, ao contrário daquela mulher de preto, lhe disse que sim, seu padrinho estava agora chegando no céu, pois a viagem era longa. Até seu pai disse...

Não. Meu padrinho não, balbuciava Billi. Não tinha vontade de comer. Não foi ao velório, ao enterro, à missa de sétimo dia. Estava triste, muito triste. Nem o abraço de sua madrinha que, pensando de maneira quase sobrenatural, estava mais triste do que ele aliviou sua tristeza.

Estava triste e com muita dor. Dor que incomodava, cutucava, batia forte. Tão forte quanto a lembrança do padrinho que havia perdido.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Histórias de uma vida não vivida (28)


*Passos que mudam de direção sem motivo certo. Dobrar à esquerda na rua seguinte apenas por achar que lá estará alguém, aquele alguém lá, é tão tolo quanto... dobrar à direita na rua seguinte, por achar mais uma vez que alguém, que aquele alguém, estará passando por lá naquele momento. Em um mundo gigante, cheio de ruas, esquerdas e direitas, só o que é forte demais para não ser controlado deve tirar do caminho, certo, rotineiro ou mesmo melhor. Mesmo que o melhor esteja na outra rua, do outro lado da calçada. Ainda que o melhor esteja apenas em um sonho.

Certas coisas acontecem porque precisam acontecer, pensou. Afinal, não queria sair de casa. Seus pais insistiram tanto para que ela fosse junto com eles... no supermercado(!) que ela largou seu msn por alguns minutos e decidiu dar aos seus pais a oportunidade da sua companhia. Supermercado era lugar de gente apressada, mesquinha ou esbanjadora. Gente que faz de conta que não tem tempo e reclama da fila grande, formada por ela e outras pessoas igualmente apressadas, mesquinhas ou esbanjadoras. Gente que critica os preços, a qualidade e até a atendente. Ah, aquela gente estressava-a. Ainda assim, foi. No caminho, ao parar do carro frente uma sinaleira, semáforo ou qualquer que seja o termo para aquela caixa de metal que acende uma luz verde, amarela ou vermelha, ela olhou para o lado e viu alguém. Ele! Ela pulou do banco, não sem antes sorrir e arrumar o cabelo no espelho da frente. Era ele! Depois de tanto tempo sem vê-lo, sem poder ouvi-lo, sem... ter coragem de responder às mensagens, os recados, os toques no celular... era uma boba, idiota, pensou. Mas como aquilo, a ida ao supermercado, a parada e a passada dele pela calçada não eram mero acaso, faria algo.

O sinal ficou verde, seu pai acelerou o que pode e seguiu em frente rumo ao supermercado. Ela gritou, estridentemente. Queria que o pai parasse o carro, fizesse a volta e fosse ao encontro dele. Ele! O pai parou, de susto, mas disse que não iria fazer retorno algum. Ela não se importou, abriu a porta, desceu do carro e foi correndo atrás dele. 40, 50 metros e ele estava a centímetros. Caminhou lentamente, alcançou-o e cutucou suas costas. Antes mesmo que ele virasse por completo para trás, ela o abraçou com todo o carinho que guardava, escondia, dele, do mundo, de si própria. Que tola fora todo aquele tempo. O apertou forte. Quando o soltou, olhou para o seu rosto e... ah não, não era ele. Não era ele!

Sentiu-se a maior idiota do mundo. Passou a odiá-lo. Sim, passou a odiar ele! Tudo porque ela errou o ele, o abraço, e o sair de casa para ir ao supermercado com os pais. Tudo por culpa dele. Dele!

Grosso, monstro, idiota!

*um tantão de suposição, um tanto de exagero, um tantinho de verdade.

domingo, 24 de outubro de 2010

Reflexões de um maluco (12)


Em meio ao turbilhão de calmaria duvidosa que assombra o meu pensar nos últimos dias, a certeza de que não há risco de cometer novamente um erro que já não faz parte de mim. Não há dúvida que me leve a pensar que talvez venha a ser diferente dessa vez. Por mais que, agora, o pensamento é muito melhor, a perspectiva existe e o que não havia antes, nesse caso a consciência sobre o que é necessário ou não, marca presença consistentemente. Sim, é consistente o pensar que, da maneira que ando está bom, mesmo que pudesse sim, ser melhor. Porém, fico tranquilo por não estar de alguma forma arrebentando um caminho que não é o meu, uma história que não é a minha, onde eu teria grandes chances de ser vilão por um erro que eu poderia cometer novamente. Insistir no erro é burrice, ainda mais quando se atravessa um abismo gigantesco por causa disso. A solidão daquele tempo é desnecessária já que, como devo ter dito, aprendi a não errar nessa situação, nesse pensamento, nessa possibilidade, hoje inexistente.Por mais que pareça com o estudioso que olha para o atlético saindo da academia e pensa "eu estudo e tenho futuro, ele malha e tem músculos, mas não um futuro garantido", e recebe em troca um pensamento do atleta, algo como "eu aproveito a minha vida enquanto esse nerd vive estudando e só vai se arrepender quando for velho". Os dois erram. Toda vez que o estudioso vê um rapaz com porte atlético pensa que esse não tem futuro. E erra todas as vezes por não aprender que cada vida é diferente. Da mesma forma o atlético erra ao pensar que o estudioso não aproveita a vida.

E essa insistência, há tempos, deixou de ser minha. Prefiro ajudar a construir uma história, com frases aleatórias e participações nem tão especiais do que decidir um capítulo e acabar como vilão. Por mais de um capítulo provavelmente.

*De qualquer forma, algo insiste em me desanimar, 
em espantar qualquer inspiração que eu pudesse ter.
Talvez seja essa espera que me sufoca e que me faz perder qualquer raciocínio.
Sério, não tenho conseguido entender, escrever, ver.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Crônica de uma política do cão


O debate na televisão mostra que os políticos não querem mais mostrar alguma qualidade. Pelo contrário, querem mostrar o máximo de defeitos possível. Do rival na disputa, óbvio. A hipocrisia é tanta que trocam acusações de coisas que, sabem eles e todos que param para pensar, nenhum têm relação direta. Passados que não são seus, histórias, erros e fracassos que não são seus. É como se eles fossem uma senhora de idade, com cabelos cor de neve, que passeia com seu cachorro pela praça. Se ela recolher as porcarias que o seu cão fez no pátio público, terá feito o suficiente. Muito mais do que muitos fazem. Coisa que muitos não fazem. Recolher a sujeira do seu cachorro na praça é o mínimo que se pode fazer. Porém, pode até custar, mas não seria ruim se essa senhora recolhesse a sujeira do cachorro feio do gordo que se arrasta bebendo cerveja. Faria por si? Não, faria por todos que ali passam. Por que fazer? Ela já está recolhendo sujeira, uma a mais, uma a menos, tanto faz, certo? Então por que balde ou caixa d’água os políticos não fazem o mesmo? Ao invés de recolher a sujeira do outro, fazendo então um bem para toda, eu disse TODA a nação, resolvem acusar o oponente que apenas conhece o gordo dono do cachorro feio. Quem caminha na praça sabe quão difícil é que alguém recolha a sujeira que não é sua, assuma o erro que não é seu ou pelo menos tente compensar ou corrigir os erros dos outros. O pior é que só é tão difícil porque é muito mais fácil apontar para o outro e dizer que ele não fez nada. Que ele olhou e não criticou o gordo. Que ele não ajuntou a sujeira do outro. Ninguém quer ser a senhora boazinha de cabelos cor de neve. Ninguém. E tudo por que? Porque é mais fácil ser o idiota que aponta o dedo para outro idiota que não corrigiu o erro do gordo beberrão, pelo bem de todos.

Então imaginem quando o filho de um dos dois idiotas pisar na sujeira que nem o gordo, nem a velhinha(que a essa altura já deve estar sentada, lamentando a discussão boba dos dois idiotas) nem os dois idiotas recolheram. Imaginem!

Eu não quero estar por perto. Porque, do jeito que vai, eu é que vou ter que limpar o sapato da criança, já que seus pais, iludidos com uma discussão inútil, não terão tempo para fazê-lo.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Do silêncio veio, para o silêncio vai


Dúvidas que, de tão grandes, fazem cessar os risos, calar as palavras e emudecer qualquer boca passível de fala. Dúvidas que afogam em qualquer oceano, mar ou mesmo riacho de lágrimas. Tristes, desnecessárias e um tanto incompreensíveis lágrimas. Como dizem, escolher o mais fácil faz sentido. Como se nada existisse, como um pássaro que apenas passa sem deixar nada além de um pequeno surto de ar em movimento.

Vento.

Seu sentido contraria o sentido da lógica, do próprio sentido. Direção e sentido exaustivos. Longínquos demais para se pensar, quanto mais entender, compreender. Ver.

Visão que impede negação de existência, presença, acontecimento obscuro mas não menos presente, existente. Chuva que molha. Enxurrada que apenas mais barro forma. Sem cobrir nada. O que se pensa ser não é. O que se pensa querer ser, também não é. Será para algum? Será para nenhum? Dúvidas sucessivas, que tonteiam, impedindo qualquer passo, qualquer lado que pudesse vir a ser.

Confusão incoerente. Sabe-se para onde quer ir, tenta-se saber para onde deve-se ir, não compreende algo além do que se sabe e do que talvez se saiba.

Calafrios, com outro frio, ruim, contínuo, duvidoso e suspeito. Críticas reflexivas que bombardeiam ainda mais todos os caminhos em torno. Independente do ponto central.

Menos de muito e muito de menos, de nada, de tudo.

Que insanidade intensa essa!

*sem comentários aqui

domingo, 10 de outubro de 2010

O vazio de viver e só (20)


As pessoas dizem que água insistente fura pedra dura. Que a vida é feita de frases, de momentos, de fases e de pessoas. Que felicidade é o caminho e não um destino. Que um gesto vale por milhares de palavras. Que isso e aquilo. Do começo ao fim. Da alegria à tristeza. Dizem tanto que nem pensam mais no que estão dizendo. Apenas falam, por acharem certo, mas não vivem de acordo. Não sentem de acordo. Não idealizam ou sonham de acordo com o que falam, ou pensam estar falando. Nem sempre com má intenção, mas quase sempre com falta de um complemento para a intuição. Grande bobagem nem tão boba, nem tão prejudicial, nem um pouco significativa para quem fala, mas quem sabe muito para quem ouve. É preciso coragem para deixar de ser esse faz de conta e passar a ser uma realidade, uma promessa. Para deixar de ser muito mais do que palavras, do que verbos e intuições. Por costume, solidariedade ou... sei lá. Palavras explicativas cansam, às vezes. De poços profundos à redenção ligeira e efetiva, como uma boia, sem acento agudo, que é aberta no fundo do mar, emergindo rapidamente à superfície, deixando a escuridão e a pressão fortes que jogam cada vez mais para baixo. Uma emersão muito significativa, por si e, no fim do pensamento, para todos em torno. Prender a respiração por alguns abraços, algumas palavras, lidas ou ouvidas, alguns sorrisos e muita, mas muita vida. Não como explicação para tal feito, mas como justificativa. Há forças que ninguém explica estando longe dos olhos do Ser. Depois disso, tudo o que vem é alegria, é sorriso, é recompensa. Calçados fortes para aguentar caminhos difíceis, óculos novos e uns bons tapas para acordar e ver que o viver é muito mais intenso do que se vive quando se pensa em explicar tudo que acontece. Talvez nem eu entenda ao certo todas as explicações, mas sei que a justificativa é muito mais do que justa, é sincera e espontânea. É real e feliz. É amor, amizade. É felicidade. Porque não há sonho que não possa ser realizado quando se tem uma justificativa como a minha. Ontem, sexta, hoje e em todos os dias, passados e, sim, futuros. Uma justificativa muito extensa. Muito espontânea. Muito sincera.

Muito feliz.

*não há mais razão para continuar, ao menos enquanto, pois ao vigésimo texto, 
a certeza estrondosa do fim de um vazio que não existe mais há tempos, 
mas que custou a ser visto como simples inspiração para escrever 
e era confundida constantemente como realidade, 
vista hoje e há algumas semanas, como irreal. Literalmente.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Histórias de uma vida não vivida (27)



*Dentre tantos anos, muitas mudanças. Evolução natural que foge à regra da involução que ocorre com muitos. Evolução demorada, sofrível, sentida na pele e na mente. Pulsações que evoluíram do compulsório para o essencial, do complemento para a razão. Da simplicidade pura à transição passageira pelo mundo imundo para então chegar ao presente. Hoje que seria tão mais hoje se fosse acompanhado por um brilho azul que iluminasse um tanto mais esse plano de fundo estranho, porém original.

A vontade da razão, do sonho puro e sincero, era fazer o que pudesse para que alguém, no fim, sorrisse à salvo. Fosse um bombeiro, policial ou qualquer outra profissão que, no fim, é doação. O piloto de avião, motorista de caminhão e o famoso jogador de futebol também foram imaginados, vividos em um mundo tão próprio quando a ideia de um dia poder ter uma bicicleta.
Viver seria tão melhor se fosse assim, simples, sincero. Cheio de esses e cores vibrantes, uniformes novos e sensações de dever cumprido no fim do filme. Que loucura seria ser um ator louco, dirigindo um carro que explode e sair pela janela antes que isso acontecesse. E saltar loucamente de uma ponte após uma luta fantástica contra alguém que... superpoderes, poder voar ou carregar pedras enormes, derrubar portas e, mais uma vez, salvar pessoas. Era tudo tão incrível, tudo tão simples.

Como a vida deveria ser, pelo bem próprio, pelo bem social. Pelo bem do ser humano. Simples como não desperdiçar, comer tudo o que está no prato e agradecer aos céus por ter o que comer. Quem sabe até ser dono de uma fazenda e doar parte da produção para um orfanato. Simples assim, sem qualquer ambição de enriquecer. Para que dinheiro se existe o talão de cheques, economizarei aos montes e poderei comprar aquele banco imobiliário novinho.

Tudo passa, tão simples e rapidamente. Como correr uma maratona. Ou dirigir um carro de fórmula 1. Carro que poderia muito bem ser um daqueles redondos, com um reboque para poder levar tanta coisa junto para a praia. Água que vem e vai, que cobre e desenterra. Água salgada, eca. Areia quente, que nem esse sol que queimou as minhas costas. Mãe, tá doendo. Agora só falta dizer que eu não... tá bom, eu vou dormir.

Passando. Passou. Tanta coisa que não é mais lembrada. Tudo tão fundamental hoje, mesmo sem a recordação. Lembranças de tempos difíceis, de afastamento, distância monstruosa para algo que nunca passou de um nada. E como esse nada foi um tudo pesado, complexo e até hoje não muito entendido. Pedra que nem com muita raiva pode ser quebrada, ficando ali, parada no meio do caminho. E que coisa foi esse caminho. Essa pedra. Isso. Ou melhor, aquilo.

Sem essa história de museu. Lágrimas correram, inundaram um poço muito maior do que aquela pedra idiota poderia tapar. Nem aquela nem as outras, maiores, mais pesadas e mais idiotas. Pedras, em forma de serpentes venenosas. Até pareciam ter uma língua para fora. Pedras, cobras, o que fosse, não preenchiam o vazio do buraco próprio, cavado com as próprias mãos para fugir da chuva que só aumentava o buraco. Credo, alguém consegue entender o que eu quero dizer?

Impossibilidade de falar, de demonstrar. Pois é, de sentir também. Nada. Muito menos o que eu deveria saber. Sei que agora é aqui.Não há para onde ir. Até que um dia alguém apareça e traga, ou crie, ou transforme uma estrada, com pedras também, mas não tão pesadas. Que diferença faz?

Até que Alguém fez. Um caminho, uma casa, um rio de lágrimas. Agora também por sorrisos. Correnteza louca que desgasta qualquer pedra pesada no cansaço, na insistência. Uma enchente de loucura que faz sorrir o cético, mudar a feição franzina e irritadiça, esquecer aquela pedra, serpente, o que fosse. Do provérbio da água e da pedra, pelo caminho da pedra do caminho, na loucura da água salgada do sorriso de um sol poente.

Que nasce novo, forte e imponente a cada dia.

Que grande loucura pensar que Alguém capacita os incapazes, fortalece os fracos e faz renascer os mortos. Inconforma os conformados e conforta os sofridos. Para então fazer com que todas aquelas muralhas sujas, sem pontos brancos no fundo preto, desçam e virem um pó que vira barro, que vira solo para ser pisado. Com o tempo que não é imediato. Tanto quanto o vento, que vai, volta e nunca define direção, sentido, vetor ou campo magnético. Prova de loucura, digna de construtor de foguetes. Ou astronauta. Ver tudo de cima, comer a lua que era feita de queijo. Como o Jerry.

Lua, maré, oceano, olhos. Que enxergam e retransmitem a visão como se fosse a última. Última como o suspiro final de alguém que dá adeus ao que perseguia, incomodava, maltratava e derrubava. Da morte do passado para o renascimento da fênix. Fogo que se levanta e seca ainda mais aquele solo que outro dia fora pedra gigante. Em nada virou, um nada maior ainda será. Para alguém que não terá noção de tudo que já fora aquele lugar.

Como ninguém imagina, nada será além do nada. Para o qual estar ou não é semelhante falta de ser, de significar.

Hoje, oceano, bombeiro e a transformação em nada daquilo que foi um dia um tudo indesejado e triste, são parte de história que, torta e mal contada, por incapacidade, reflete e transfere parte de realidade que se fosse sonho seria bom, muito bom de ser sonhado.

Longe de ter realizado muitos dos meus sonhos, continuo sonhando. Com um oceano em dois pingos d'água, com um rio que transforme e rompa barreiras, com uma árvore que dê muitos frutos em torno e com pulsações cada vez mais intensas de um coração alimentado por um amor que não pode ser explicado, apenas vivido por quem quer ser muito mais do que um simples ser social, do que uma simples roleta da fortuna, mais do que uma simples pedra que desce a montanha ou é corroída pela água, salgada ou doce.

Amor que só pode ser vivido por quem sente pulsar um coração a cada novo nascer do sol. Ou cair da chuva, tanto faz. Com calor ou frio, não importa. Sempre pulsando. Um amor que vêm de todos os lados, em todos os gestos sinceros. Em todos os sonhos espontâneos.

Obrigado, por tantos dias, tantos sonhos, tantas mudanças. Obrigado por toda vida.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O vazio de viver e só (19)


Queria entender tudo que vem à minha mente. Ao menos a parte que acaba sendo mais importante nesse momento. Momento estranho, dispersivo e de pouca ou nenhuma atenção clara, razão pontual ou qualquer fim de frase. Não há fim, de frase, de pensamento, de entendimento qualquer em pensamento, sonho, ilusão própria de quem perde a razão, com muita paciência ou com total falta da mesma. Tanto faz, é apenas descrição do que não se consegue entender, imaginar. Mentira, imaginar é fácil. Sonhar é fácil. Querer é fácil. Fazer algo para trazer o que é fácil para a realidade, a parte difícil desse sonho, é procurar um ponto preto em uma parede branca. É preciso criatividade espontânea que leve os olhos a verem o que pode sim existir mas é difícil de perceber. Olhos que enchem de branco qualquer sorriso, apenas por serem olhos humanos, com algum ponto de muito especial, e um algo mais que para outros... olhos humanos, talvez não seja tudo o que é para esses, os meus, olhos humanos. Meus olhos que enxergam e mudam todo o entorno de um papel de parede não muito claro. Pintura infantil, pintada com lápis de cor de várias cores, tentando disfarçar os defeitos do desenho, da pintura, dos contornos todos.

Não esperava, mas queria mais. Hoje não só se tivesse plena certeza de que algum dia viesse a ter. No papel de parede, frente aos olhos humanos ou ao lado de uma mão trêmula, inconstante.

Ainda assim o abraço preencheu alguma coisa há tempos vazia. Obrigado.

*não entendo o que acontece, 
queria ter apenas uma palavra de certeza que me desse tranquilidade e razão para esperar, 
tempo curto, médio ou longo. Tempo qualquer. Tempo todo. Ainda assim, espero. Com motivo mas sem razão, talvez sequer tempo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O vazio de viver e só (18)


Cansado da espera, do ontem, extasiado do tédio que essa espera traz. Mais todas aquelas palavras comentadas que não levam a lugar nenhum, tampouco algum. Variação imediata de opinião que definição, com mais dois ou três ãos, não trará. Confus...ão de verbos e palavras e adjetivos, qualificativos ou desqualificativos que induz ao erro de achar que não há nada a ser dito. Nada a ser escrito. Nada há de sentir quem escreve, tampouco quem lê pelo que lê. Diferença que não faz sentir ou não, aqui, por aqui ou por lá. Quem entenderia essa miséria? Tampouco um cego, tendo tudo isso lido para si entenderia que não há muito o que dizer, além de que a culpa não é do cansaço, não é do tédio, não é da falta de vontade, do desgaste ou da longínqua lembrança que fora muito refrescada apenas pela visão. Até um cego veria que a culpa é da espera. Complexa, irritante, pavorosa e necessária?! Sem tempo definido, de começo ou fim. Sem tempo no meio de tudo, de nada, lá ou aqui. Tempo de espera. Olhos que esperam. Barriga que faz tremer de frio feito futuro morto à beira do precipício ou caroneiro em descida acentuada. Pensamento que voa. Feito pássaro bobo, sem saber para onde ou porquê vai. Feito comparação idiota. Feito essa. Ou esta. Talvez já aquela. Vida de esperas covardes, que nem sempre trazem o que intuem. Antes disso fazem o comodismo aparecer. A vontade desaparecer. Ilusões ou desilusões surgirem como barro em dia de chuva. Não quisto, mas esperado, perceptivelmente esperado. Mais uma vez, espera. Que vence pelo cansaço, pela tristeza, pelo comodismo e, algumas vezes, a subsequente vontade de mudar tudo de uma vez. Só. Toda a vida. Todo o olhar. Toda a espera. De um lado para outro. Impaciente. Irracional. Covarde e cômodo.

Como o pássaro bobo que voa para onde o vento leva.


*não há tristeza aqui, hoje, pelo contrário.
Esse texto não passa de uma constatação da situação presente e da clara, 
porém muito bem contida impaciência. 
De qualquer forma, 
não há mais como errar nesse mesmo ponto impaciente 
que já lateja em uma mente que já não se importa tanto assim em esperar. 
Sete que passou a ser três, ou dois.
Dias, meses ou anos.

domingo, 3 de outubro de 2010

O vazio de viver e só (17)


Trabalho, determinação e capacidade natural ou adquirida, como preferirem ou possuírem. Isso define a vitória, o vencedor, o campeão. Sendo competição ou não, vencedor é quem alcança o objetivo, concretiza o projeto ou mais vezes coloca a bola no fundo do gol. Que diferença faz todo o trabalho, a determinação, o empenho e a capacidade quando o resultado não vem? Quando o sonho fracassa? Quando a bola não entra? Nenhuma. O mundo não gosta de perdedores, de quem fica em segundo lugar, de quem luta até o fim e morre na praia, à beira de um oceano de lágrimas mais amargas ainda pelo sal grosso da derrota. Sal que, de tão ruim, nem os males consegue espantar, considerando a mentira de que superstições existem baseadas na realidade. Você não alcança, não realiza, não concretiza. Você é um fracasso. Cai no esquecimento. Suas palavras, seu exemplo de dedicação, sua boa vontade, seus bons valores. Nada disso importa quando você não vence. Quando você não é o primeiro. Não é o único. Não é um campeão. Nada importa quando você não confirma a verdade da sua vida, do seu sonho, do seu trabalho. Fraqueza é sinônimo de derrota. Confiança é sinônimo de vitória. Isso também não faz diferença se você, confiante, erra e o outrora fraco acerta. A vida é injusta ainda mais quando se pensa assim. Que erro único faz perdedor. Se fosse verdade mesmo, todos seríamos perdedores, pois todos erramos todos os dias, sem exagero. Falhamos, por sermos limitados. Embora sejam assim, um fracasso diário por erros, pecados e derrotas, buscam e exaltam as vitórias daqueles que fingem que não erram, que não pecam, que não perdem. Exaltam quem finge ser vencedor, por inveja. Inveja que impede de ver que não há vencedores para serem exaltados.

Ou melhor, não há perdedores para serem humilhados. Se a grama do vizinho fosse mais verde mesmo, por que ele ficaria o tempo todo olhando por cima da cerca, para a sua? Para rir de você ele não precisaria ficar olhando para você, se fosse mesmo um perdedor. Porque vencedores não olham para baixo, não olham para trás, não olham para perdedores.

Vencedores, nessa banal visão popular, não existem. Pelo menos são poucos os perdedores que conseguem vencer essa limitação e concluir isso.

*sono