terça-feira, 31 de agosto de 2010

O vazio de viver e só(12)


Hoje não é dia para pensar a fundo nisso. Não sou capaz de superar tanta coisa, física, mental e espiritual e escrever um texto contando tudo o que aconteceu hoje. Não foi um dia sensacional, extraordinário. Longe disso. Foi um dia de muitos acontecimentos. Muitas coisas diferentes que talvez nem aconteceram de fato, mas é com se tivessem ocorrido, sim. Queria colocar uma frase, mas seria muito pouco e talvez fosse mal interpretada. Sem indireta ou cruzado de direita, coloco um tanto quanto bobo uma frase que talvez seja do mesmo nível. Ou alguém pode gostar e me achar... inteligente? Nem tanto. Após ler uma ou duas frases fiquei pensando um pouco mais. A frase que escreveria aqui seria algo como isso:

Um sonho pode ser, ou não, eterno. Mas não existe nada que faça um sonho não realizado desaparecer por completo. Voltar a sonhar um sonho antigo, enfraquecido e escondido pelo tempo e pela razão é algo possível. 

Talvez não hoje, mas não descarto qualquer sonho que deixei guardado por motivo variável que não vem ao caso. Mais de uma frase foi, não há como reduzir muito sem tirar alguma parte contextualmente importante. Não há muito mais o que dizer, até porque já escrevi muitas negações existenciais em poucas linhas. Linhas tortas, um tanto quanto insensatas. Um tanto quanto cansadas.

Um tanto quanto verdadeiras.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O vazio de viver e só(11)


Me peguei pensando longinquamente. Parado, pensando no nada. Uma, duas, doze vezes hoje. Nenhuma novidade. Tanto por terem sido poucas vezes. Varia muito de dia para dia. Muitas, poucas, muitas, muitas, poucas, poucas e, quando parece estar diminuindo, pensamentos distantes a quase todo momento. Não atordoa, não irrita, sequer cansa. Bom, nem um então posso colocar aqui, uma vez que não concluo nada. Da mesma forma é com os pensamentos. O pensamento. Distante e afastado da realidade. Triste sim, muito triste. Falta de sorriso, de alegria, de espontaneidade. Chato, muito chato isso. Porque não acaba nunca. Porque demorará um tanto quanto muito para acabar. Se é que irá acabar mesmo. Nem penso se quero que acabe ou não, porque... bom, os meus motivos são apenas motivos, sequer razões são porque, racionalmente, eu já teria mandado tudo para o quinto dos infernos. Bem próximo do maldito nada. Só que para tal eu precisaria parar de pensar, de sonhar, de imaginar. É a mesma coisa que dizer para um alcoólatra largar o álcool, um ladrão parar de roubar ou uma mulher não comer chocolate quando está na TPM. Por mais cômico que possa parecer, é a realidade. Seria apenas mais um racional se conseguisse parar de sonhar, e aqui os ditos pensamentos revelam-se sonhos, sim. Tão irreais quanto a razão, essa sim racional, para minhas orelhas quase borbulharem de tão quentes, enquanto escrevo. Até terminaria dizendo que não faz sentido, que não é para fazer sentido ou frase semelhante. Entretanto já escrevi e disse isso. Não é por ser sonhador, por ser utópico, per ou insistente, teimoso que seja. Não é por não ser racional em um todo.

Eu não consigo não sonhar porque sou sincero e por meus sonhos também serem sinceros.

Só por isso.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Histórias de uma vida não vivida (24)

*Olhando para trás vejo muito mais momentos de tristeza do que de alegria. Mais reflexões do que ações. Mais erros do que acertos. Mais sonhos idealizados do que concretizados. Mais lamentações do que motivos para orgulho. Mais lágrimas do que sorrisos. Mais palavras do que imagens. Muito mais recordações de momentos ruins do que de bons. Lembranças vagas de um olhar que, provável e infelizmente, nunca mais verei. Nunca, não, nada, ninguém. Negações que generalizam tanta coisa que merece sim, ser generalizada. A dor, as tristezas, o arrependimento e quem sabe o aprendizado que cansam, até mesmo nas recordações. A intensidade da felicidade vivida em momentos, lugares e com pessoas diferentes que não apaga nada. Pelo bom e pelo ruim, eu continuo aqui.

Acordou e levantou da cama. Não, não era isso. Sentou. Fechou os olhos e concentrou-se na sua mente, ignorando os ruídos dos carros, o sol que nascia, a vizinha que caminhava de salto alto às 6 e meia da manhã. Seu pensamento volta e meia tomava uma direção que fazia-o arrepiar-se. Ele, sentado na cama ainda quente, pensando, lembrando. Acordado. Um sonho que parecia vir de um sono profundo. Um desejo inconsciente que vinha à mente racional de números, letras e de um tempo real. Sonhando acordado. Sonho esse que era rotineiro. Por isso a ideia de pensamento. Pensamento, ideia. Fazia mais sentido relacioná-los do que fazê-lo com um sonho.

Sonho, pensamento, ideia, que diferença fazia para ele naquele momento? Na linha sobre a qual caminhava, olhava para os lados sem saber qual escolher. Permanecer em cima da linha impedia a continuação da caminhada, daquilo que estava sendo ali, naquele instante finito e infinito. Nem bem acordara e já estava de frente com uma escolha peculiar. Termo novo naquele momento, estupidez. Inútil ainda por cima, com parte considerável das estupidezes(?) que... enfim, atrapalham pensamentos, raciocínios, textos e frases oralizadas.

Sem saber para onde ir, o que fazer. Desconhecia também o que pensar, ou melhor, o que continuar pensando. Entretanto, fosse um sonho, não deveria interferir. Sem distinguir, rir, com rima ou pela falta de qualidade da mesma. Rima? Era hora para pensar em rima? Sonoro não de negação, completa e imparcial do que não sabia distinguir. Desnecessário seria ponderar sobre a ou b, direita ou esquerda, pensamento ou sonho. Pudera, ele não sabia sequer se ainda estava acordado. Estado de alerta. Pensamento ou sonho tanto fazia, ele queria mais era entender o que aquela sensação de arrepio, aquele frio no corpo que não era febre, falta dela ou ansiedade, queria dizer.

Abriu os olhos. A parede precisava de um pano limpo para clarear um pouco. Chega, não era hora de pensar na parede. Que ela caísse sobre ele se assim conseguisse entender. Entendimento de um passado e de um presente tão irreais e confusos quanto a briga pelo domínio, entre sonho e pensamento. Quem sabe mais uma rima. Então veio agradecimento. Cansou daquilo também. Aquelas pessoas que queriam compensar suas faltas com agradecimentos por gestos tão rotineiros quanto sinceros. Disponibilidade, vontade e doação que não precisavam de palavras. Um abraço, um aperto de mão, tapinha nas costas ou... um olhar. Não queria muito mas cansou do pouco.

E tudo isso em pensamento. Ou seria sonho?

Se fosse estudioso diria que a adrenalina começava a ser produzida pelo... pela... não era estudioso. Que bebesse a adrenalina misturada com água se fosse o caso. Aquela intensidade que não existia começava a surgir, contradizendo-se em um corpo parado cujos olhos miravam o pouco branco da parede. Sentia-se vivo à partir do pensamento, da lembrança, da... que droga, raiva. Ele ali, ainda parado, pensando ou sonhando. Passado ou presente. Olhos azuis ou verdes. Mãos que tocam ou fazem sonhar. Pensamento em sonho. Sonho em pensamento. Nada disso importava. Estava vivo, mesmo que parado, ali, sentado na cama que agora não estava mais quente. Era demais para um dia inteiro. Horas haviam passado. Muitas horas foram.

Talvez viessem a ser mais horas quando voltasse a acordar. De um sonho ou pensamento, não tinha certeza do que viria.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Reflexões de um maluco(11)


Se o nada existisse ele estaria permanentemente ao lado do ninguém. Porém, ninguém é alguém que também não existe, logo o nada, se existisse, estaria sozinho, no meio do nada. Não, ele não estaria no meio de si mesmo. Impossível que algo esteja no meio de si. Impossível?

As teorias loucas e nem um pouco fanáticas mostram que é possível sim que algo esteja no meio de si mesmo, sem falarmos entretanto de alguma teoria da física quântica, a famosa loucura mais idiota e inútil da qual se tem notícia.

Se alguém estiver insatisfeito com o simples saber de que existe sim algo que é, sendo, no meio de si, lembro que os vikings tinham um lema de vida semelhante a este: 'O homem deve ser sábio, mas não muito, para que não saiba o que acontecerá consigo no dia de amanhã'. E isso é sério, não estou inventando. Pelo menos não colocando na conta dos vikings, eles se revirariam do túmulo e voltariam para me matar.

Está claro que não deve haver bom senso, razão objetiva ou raciocínio lógico qualquer para, somente, saber o que existe no meio de si. Também não vão pensar que é charada ou aquelas pegadinhas maliciosas das quais a sociedade banal está saturada. Eu só digo sem dizer objetivamente porque, repito, razão objetiva não se encaixa aqui.

Talvez a ansiedade, o amor, a decepção, a tristeza, um lamento triste e um desacreditado sorriso de felicidade, quando juntos, produzam algo que existe dentro de si. Literal e subjetivamente. Entretanto, vejam bem, talvez. É possibilidade que não é regra, não é tendência ou mesmo um indício do que eu escondi aqui. Talvez não se toque, mas quando alguém se tocar, talvez, perceberá o que pode sim, existir dentro de si.

Pode ser que seja mais um atestado de insanidade comprovado, um conjunto de parágrafos desconexos e sem fundamentação racional. Pode ser não, é. São. Estão sendo. Cada vez mais estúpidas palavras de alguém cada vez mais... distante. Da realidade, do sonho, do pensamento, de tantas outras coisas, pessoas, pessoa. Tão longe.

Talvez até longe do viver. Ou pelo menos de parte dele.

domingo, 22 de agosto de 2010

Histórias do Bandiolo - Eu não estava lá


Caminhou pouco, algumas quadras de sua casa até um lugar popular da cidade. Foi até lá sem qualquer motivo, apenas por caminhar. Um cigarro e uma bebida com os amigos? Que amigos? Eram todos desconhecidos e, mesmo que fossem conhecidos, fingiria não os ver para não ser mais um. Mais um a fazer besteira, perder tempo e não acrescentar nada para si, além de histórias pornográficas, críticas banais, fumaça nos pulmões e álcool no fígado. Nunca quis isso. Foi para ir, para passar, para movimentar as pernas.

Até aí tudo bem, apenas mais um ser que caminha, passa por algum lugar sem razão alguma. Apenas mais um. Para os outros, tanto fez. Para ele, não.

Em cada grupo de amigos ele imaginou. Em cada lanchonete, restaurante, bar ou mesa onde pessoas estavam entorno, ele imaginou, literalmente sonhou acordado. Acreditou, sem fé ou confiança, que poderia de um desses grupos de pessoas sair quem ele sabia que não encontraria, com a desculpa pela rima. Ainda assim, olhava atentamente no rosto de cada um, volta e meia vendo-a lá. Sem distração, sem aprofundamento, caía em si e ria, vendo-se um tolo que imagina situações com os olhos abertos, contradizendo toda e qualquer palavra julgadora vinda de quaisquer dois ou três que olhavam e, talvez percebendo sua falta de sintonia com aquilo tudo, riam.

Em cada passo, um novo pensamento, uma nova imagem, uma nova ilusão. Sabia que nada veria, que ninguém surgiria do nada, que ninguém sentiria nada ali, naqueles breves momentos passageiros. Mesmo em um futuro próximo não lembraria daquele dia, daquele momento, daquela situação boba, sem profundidade, sem verdade. Ou quase sem verdade.

Porque ele não era um deles. Ele era alguém que estava ali apenas fisicamente. Alienado, lunático, desligado ou... ou.

Não importa, já passou.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O vazio de viver e só(10)


Ansiedade, angústia e termos conhecidos relacionados a esses dois sentimentos, como disse, são conhecidos. Você sabe quando é, ou pelo menos desconfia. O problema agora é concluir que nada do que sinto, penso vagamente e deixo de transformar por falta de quase tudo, ou por falta de um detalhe. Talvez os dois pontos, se esses estivessem próximos relacionados aos números, também esses do texto passado. Balançar do caminho, com a mão protegendo os olhos do sol forte e incessante, sentimento que, se não inexplicável, se aproxima um tanto disso. Muito mais próximo do que qualquer outra coisa do tipo frio na barriga, bater de pé no chão sem motivo ou as famosas orelhas vermelhas e quentes. Houve um entender, certa feita de dia passado. Certa não é um bom termo aqui, mas a expressão ajuda a desviar ainda mais um foco que é tão ruim quanto o de um míope contando estrelas às 3 horas da tarde. Entendimento citado, tentativa de assimilação e... nada. Nada certo, nada feito. Apenas tentativa. Uma daquelas suposições imaginárias, tão profunda quanto inalcançável. O tempo, como é de seu caráter, trata de me deixar longe demais das capitais, e do teste concreto desse muro gigante suposto então, dia passado. A minha capacidade de não ser entendido é tão boa que eu não consigo entender a qual gênero, raça ou espécie pertence essa sensação, que de fato acaba sendo um sentimento, tido hoje, ontem, há dias. Olhar ao longe não me faz sair daqui. Pensar, tampouco. Sentir pode até aproximar porém sem verdade e afirmação não faz nada além de manter tudo no lugar, colocando ainda alguns blocos na frente, impedindo uma passagem que talvez nunca fosse feita para o outro lado da risca, do horizonte, ou daquela ansiedade, inexplicável ansiedade, primeira palavra escrita hoje.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Um fim. E um começo.


Um novo passo, uma nova visão, uma nova escolha. Nem sempre também, mas enfim, hoje é como se fosse mesmo assim. Novidades que não param de surgir, saltando aos olhos de quem nem sempre vê. Detalhes e criações pequenas, minúsculas, invisíveis. Mudanças semelhantes. O tempo mostrará. Maldito tempo, que se acabe logo se só depois dele conseguirei alcançar o que quero. Não importa, o tempo não me importa. As mudanças não vistas pouca diferença fazem, embora valorize todas as pequenas mudanças, para melhor e pior, que sofreu a minha vida, o meu próprio ser pensante, a minha existência emocional e espiritual, e um algo mais. Vão-se os dedos, ficam-se os aneis. Que frase mais idiota, mas talvez venha ao caso. Porque tudo o que vai deixa alguma coisa. E o que foi, não sendo, como fica? Fica? Acho melhor não entrar no mérito bobo de mais um subjetivo complexo. Sabe, você que está lendo ou sequer vê o que escrevi, você talvez não entenda nada do que eu escreva, não me conheça ao ponto de poder responder a uma pergunta do tipo 'o que eu gosto de ouvir?' ou... onde eu estava mesmo? Ah sim, mudanças, crescimentos e afins. De bobagem em bobagem, de detalhe em detalhe, tempo que não acaba mas que passa, impiedosamente. Queria poder ter muitos motivos para sorrir. Queria ter muitas razões para me considerar quase pleno, em espírito e coração. Queria ter muitas razões, muitos sonhos realizados, ao menos a oportunidade de lutar por eles. Inconformado que sou, não me presto à essa limitação que me é imposta, e rezo para que algum dia consiga reverter a correnteza desse rio, transformando em verdade as palavras de um amigo, tempos atrás.

Postagem, não texto, de número 1000 da história do agora extinto Blog do maluco e primeiro. do novo Histórias do maluco. Mudanças rasas, sem muita importância aparente. Muito mais uma oportunidade de expansão de horizontes não vistos. Porque mudanças mesmo, em mim, são progressivas, lentas e despercebidas. Não? Leia algum texto meu de 2 anos atrás e a diferença será espantosa. De qualquer forma, obrigado por estarem aqui. Obrigado por Estar aqui.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A vida do Jaimão(parte 4)


(continuando - sério?)

Aquilo subiu a sua cabeça e pesou tanto quanto seu par imaginário, quase real, de chifres. Sua masculinidade estava posta em prova. Seu instinto assassino e sua capacidade humana também. A cada passo superava o limite da burrice humana, uma vez que não pisava só com o pé são. Pisava, salteando, apenas com o pé machucado, afinal de contas, não poderia machucar o outro. Pobre Jaimão, arma não, faca não. Ah sim, a serra elétrica do vovô.

Antes de continuar, faz-se necessário dizer que a serra do avô do Jaimão, um ex-combatente de guerra que certamente estava naquele momento se revirando no túmulo pela incapacidade do neto, estava na família há quase um século. Sim, século. É provável que aquela tenha sido a quarta ou quinta serra elétrica, ou motosserra, como preferirem, fabricada no planeta Terra. Deveria ser de se esperar que não funcionasse. Diz isso para o Jaimão, tomado pela raiva, pelo ódio, pelo ômega da obcessão alfa da raiva de gregos, de Athenas ou Sparta.

Indo buscar a motosserra, pisou em um prego e não sentiu dor, já que tinha um buraco no pé. O pior é que o prego enganchou no pé e ele caiu. De boca no chão. Também é de se esperar que ele, Jaimão, não fosse cair na grama. Sim, tinha uma pedra no meio do caminho. E do meio do caminho ela foi parar no meio da boca do Jaimão. Ou o contrário. Agora sem alguns dentes frontais, ele, ainda pulando no pé machucado, pegou a motosserra e voltou para casa. Não sem antes beber um gole gole ou uma garrafa de cachaça barata que os filhos mais novos do vizinho, esses sim 'filhos de verdade', lhe ofereceram.

Entrou em casa e tentou ligar a motosserra. Pois é. Tentou. E puxou a cordinha, apertou o botão, girou a manivela, colocou gasolina e até no microondas. Porém, ela não funcionou. Seu filho mais novo, um desses eminhos estúpidos, colocou uma mão em seu ombro e disse 'eu te ajudo, paizão'. O fim da história dele como pai. Furioso com aquele afeminado que dizem ser seu filho, tentou acertar a motosserra que não havia funcionado nele. E acertou... a televisão de plasma nova. O que, uma televisão a mais ou a menos não iria mudar.

O que mais deixava o Jaimão irritado era que sua mulher ainda estava viva, rindo dele mesmo enquanto dormia, podre de bêbada. E ria alto aquela... aquela mulher, ou coisa derivada. O telefone tocou.

(continua)

**sempre tem um telefone nessas histórias.

sábado, 14 de agosto de 2010

O vazio de viver e só(9)


Sete, catorze, vinte e um e múltiplos de sete. De sete, de cinco, de dois, ímpares e primos, números quaisquer. Uma contagem insistente que, por pares ou ímpares, acaba em um mesmo lugar. Lugar onde dois pontos que não precedem frase destacada, fala pessoal ou gramática qualquer. Dois pontos próximos do horizonte que se nunca tivessem feito parte da história, nunca seriam percebidos, em história importante da qual fizessem parte. Dois pontos e números sequenciais, cumulativos por si e nada mais. Dois pontos que dão sentido e razão aos números sem sequer antecederem-os. Os matemáticos não explicam os dois pontos, talvez nem um sinal de igualdade, nesse caso, explicariam. Literários não explicam os números escritos por extenso, provavelmente nem os seus sabem explicar. Ninguém explica, eu entendo. Entendo também porque talvez eu não possa explicar, embora entenda também tudo isso. Mesmo que não deva fazer sentido, atordoante é uma certeza vestindo a máscara da dúvida. Pois quanto mais as dúvidas nos números crescem e dissipam-se, mais eu dou importância aos dois pontos.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A vida do Jaimão(parte 3)


(continuando)

E a câmera filmando todos os movimentos em primeira pessoa. Chegando no quarto, fechou a porta, filmou o ambiente, inclusive o abacaxi pendurado no teto por algum fetiche daquela que seria sua vítima, quem sabe a primeira de muitas. Poderia vir a ser um serial killer que mata famílias inteiras para satisfazer o desejo de homens tristes com as mesmas. Poderia começar uma carreira justa e honesta, esquecendo das leis morais e sociais. Seria um fora da lei, um bandido procurado e temido por mulheres com a sua, por filhos como os seus, ou piores. Enquanto pensava isso, se aproximava lentamente, filmando cada passo de seus pés, um inteiro e outro furado ao meio por um tiro.

Até que o inesperado aconteceu. Novamente.

Ele tropeçou e cravou a faca na parede de madeira. Inferno. Tentou puxá-la mas nada. Ele não sairia dali nem se seu amigo Rodrigão, na descrição do Jaimão, “um negão com dois bração, um barrigão e um pezão maior do que o meu... sapato”, tentasse. Mas que falta de... não sabia dizer. Ele chutou aquela porcaria e machucou ainda mais seu pé. Faltando inteligência e também paciência, uma vez que sua mulher novamente acordou e disse:

- Nem me matar você consegue, corno.

(sim, ainda continua)

domingo, 8 de agosto de 2010

A volta de quem ainda não foi


Existe, ou parece existir, uma sensível diferença entre o que se idealiza e o que é possibilidade real. Não há como querer que tudo que se almeja, deseja ou propõe venha a ser. Ser, estar, acontecer. Até há, mas é burrice, pois todo sempre, todo tudo, todo todo é mentiroso. A generalização total é mentirosa pois as exceções estão aí. Nada como um dia que não terá subsequente, ainda que apenas não tão cedo, para que essas bolhas, que não são de sabão, surjam no fundo do copo subjetivo que pode ser a situação atual. Pode ser que aqui alguém coloque a história do meio cheio/meio vazio dos otimistas e pessimistas mas não é a intenção, pois longe de ambos estou. Tão longe quanto do meio termo.

Equilíbrio é a base para tudo. E essa é mais uma bobagem, pois mais uma vez o tudo é mentiroso, já escrevi há algumas linhas. Equilíbrio é base para equilibrados, quem pensa muito, mede muito, inspeciona e coloca tudo na balança. Isso diz muito sobre mim. Meu signo do zodíaco é libra, a balança, o equilíbrio porém, como não sou nada disso, ou pelo menos não nas situações mais importantes, desacredito ainda mais em estrelas, constelações e imaginações afins que estejam, ou não mais, no céu.

Alguma frase pronta a mais para torrar a paciência que parece inesgotável agora? Não, mesmo. O que acontece é que eu sei que vou voltar. Eu sei que o que aconteceu hoje, com os olhos fechados ou com a garganta doendo por tantas palavras, voltará a acontecer. Condicionalmente e sem generalização. Nem todo, nem tudo. Por isso que o nunca mais inexiste também. Porque não é tudo ou todo, nunca ou sempre. Eu quero voltar para terminar uma história que só não é terminada agora por impossibilidade realista. Continuar idealizando o que não pode ser realidade, ao menos não agora, é perder o meu e o tempo em um todo.

Deus sabe o que faz. Deus sabe o que. Deus sabe.

Quem seria eu para discordar desse tempo para preparação, para que uma idealização não seja apenas idealizada, mas sim concretizada?

Não sou nada. Não sou ninguém. Até um grão de areia na praia é mais do que eu. Porque ele é e cumpriu e cumpre tudo o que deveria cumprir.

E eu, por motivos que não passam de vontade Divina, não cumpri nada. Analogia simples, idealizada à partir da realidade de uma vida que jamais encontrará um equilíbrio enquanto estiver apenas achando o que não serve para o momento. 

Também, quem precisa de equilíbrio?

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A vida do Jaimão(parte 2)


Quando voltou para casa, fedendo a suor e fumaça de caminhoneiro fumante, ela deitou na cama e aquele era o momento. Inteligente que só, decidiu filmar aquele momento. Em primeira pessoa, amarrando a câmera do filho emo mais velho no braço esquerdo, uma vez que ele era destro. Certo? Não, ele era burro e amarrou no direito, segurando então a arma com o braço esquerdo. Três apertadas no gatinho e nada. Estava sem balas. Desconsolado, saiu do quarto apertando o gatinho ainda, até que um estouro acordou os filhos emo. A única bala da arma acertou seu pé. E ele estava filmando tudo ainda.

Sua esposa levantou da cama e disse:

- Idiota, nem me matar você sabe.

E nem pensou ou falou coisa alguma a mais, fazendo sua cabeça cair e voltando a dormir imediatamente. "Ela não leva fé no meu instinto assassino", supôs o agora ferido Jaimão. Eram 11 horas da noite, não havia curativo, água oxigenada ou mesmo uma fita durex para que ele prendesse no pé um pano. Hospitais caros e postos de saúde que só abrem de manhã ajudavam-no nesse momento. Ele, Jaimão, do alto dos seus 60 centímetros acima de metro, ou algo próximo, estaria mal na fita se fosse um mano paulista ou estaria se afogando nas ondas se fosse... um surfista fracassado. Piorando sua situação, seus filhos emos choravam pela sua morte futura(o que acabaria por ocorrer uns 30 anos depois dessa história devido ao revide de um grupo de gays lutadores de jiu-jitsu que não gostou de uma brincadeira dele), pela pausa na carreira do Justin Biba e pela nova música do 50 cent.

Depois das bordoadas na raiz do ouvido daquelas bixinhas que ele não queria mais chamar de filhos, pegou a faca mais afiada da cozinha e foi até o quarto, meio que mancando pelo tiro inesperado.

(continua)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A vida do Jaimão(parte 1)


(não me julguem pelo conteúdo dessa bobagem, não é para ser imoral, apensar irônico e bobo, eu preciso da irrealidade aqui para poder aliviar a realidade que em pontos específicos não é boa para mim. Não existe inspiração para isso, é apenas uma sátira irônica e sem graça de uma bobagem que não existe em realidade. Em nada foi baseado e para nada servirá. Eu ri escrevendo apesar de toda falta de humor. E só.)

Ele era Jaime, vulgo Jaimão. Não por algo físico. Ele era Jaimão porque falava no aumentativo todas as palavras. Saíam da boca dele frases do tipo:

- Amorzão, me vê um croquetão com maionesão.

Ou:

- Ricardão, não me vem com o bastião porque eu to com o espadão.

Ou então uma das piores:

- Chefão, que tal um aumentão para esse teu empregadão que te acha um homenzão.

Com essas frases, passivas de tiração, com ão, ele vivia, julgando-se um bonzão. Também com ão, não, ele não era plaiboizinho, ou plaiboizão. Nem um daqueles agrobois*. Ele era até um sujeito simples, mas com visível e irritante mania de grandeza. Fisicamente era um nanico, mas sempre abaixava a cabeça quando passava por uma porta ou qualquer lugar onde pessoas altas poderiam baixar a cabeça. Ele era auto-suficiente, com hífen mesmo, porque seu dicionário era um conjunto de neurônios que julgava saber tudo sobre qualquer coisa, inclusive português estruturado.

Casado, pai de dois filhos emo. Triste por sua mulher ser uma prostituta que não cobrava um centavo para esse serviço feito nas horas vagas dela, e dele. Mais triste pelos filhos serem o que eu já contei que eram. Seu emprego era uma porcaria. Seu chefe era um viado. E o pior, esse viado nada queria com ele. Pior porque a razão disso era ele, o Jaimão, ser feio feito um cactus cortado ao meio. O que implicava em uma falta de aumento. Sem ão algum.

Não queria suicídio, mas alguma coisa deveria morrer. Começaria por sua esposa. Aquela manicure que entregava-se para caminhoneiros gordos e mais feios do que ele. Ele, Jaimão. Naquela noite viu ela na frente de sua casa, dentro de um caminhão, fazendo seu trabalho gratuito. Demoraria bastante uma vez que a fila de caminhoneiros era grande. Soltou o alerta de que a oferecida em questão era menor de idade e, ao ouvirem uma sirene de polícia, a fila acabou sem ter sido notada pela dita cuja já citada.

*seria agroboys, mas como colocar o y afemina muito, deixa com i. Agrobois seriam aqueles colonos, rapazes que saíram do nada e julgam-se os plaiboys, ou bois.
(continua)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O vazio de viver e só(8)


Preciso sentir raiva sem razão para consegui cuspir um pouco acima do chão, irritando alguma coisa aclamada, não rimada e, certamente, impensada. Rimas que retratam toda essa raiva de sentir raiva por algo que nada é além de pensamento, imaginação, com ou sem rima. Palavras que seguem, chegando ao perseguem, sem ter uma intuição, uma intenção ou qualquer outro ão, ou não, que termine uma rima que não existe, uma raiva que não existe, um texto que não existe. Em analogias passadas, fracassos. Resta ainda a insistência em pouca definição clara do que é ou não é. Do que foi ou não. Das histórias de uma vida, ou várias, não vivida. Pensamentos e então raiva. Lembranças e então raiva. Leitura e então raiva. Raiva. E mais raiva. Até que não haja mais força para motivá-la, olhos para inspirarem-na e dedos para transcreverem aquela que, complexamente, não existe, embora pareça ser muito maior daquela que um dia já foi sentida. Aquela que consigo trouxe um grande lugar escuro no qual era difícil ver. Uma mágoa escura, uma mancha limpada quase por completo. Um esquecimento que ainda insiste em levantar-se contra a vontade dominante, dona de si. Raiva que não existe nada se compara com raiva existente, ou melhor, que algum dia existiu. Complexo é sim sentir uma raiva que não é raiva. Tão complexo quanto seria sentir, quem sabe até viver, um amor que não é amor. Ou derramar uma lágrima seca. No fim, do nada surgiram mais analogias fracassadas. Só.

Sem comentários.