terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Ecos da sinceridade - O querer, o imaginar e a realidade


É estranho como qualquer indício que traz para perto da realidade o que parecia ser impossível - ou até mais do que isso - pode derrubar, de maneira tão certeira, a alegria espontânea. O simples contato - independentemente de qual o nível ou como ele acontece - que traz consigo aquele surto de sorrisos bobos, vontade incessante de falar e aquela inexplicável sensação de... sei lá o que, é a prova de que - vindo a ser, de fato, ou não - momentaneamente aquilo que se imagina e que, portanto, não é real possa vir a sê-lo um dia. Aos gritos - dentro da própria mente - há algo que diz palavras bem próximas de 'nem vem, você sabe que tudo isso não passa de imaginação' porém, como em toda e qualquer mente insana - como a minha tem se mostrado desde que me reconheço como humano - essas palavras não representam nada além de 'plano de fundo', ou seja, nada significativo o suficiente para ser levado em conta em algum pensamento, pouco ou muito, racional.

A razão, por si só, é falha porque, no final das contas, tudo aquilo que você sente, quando é verdadeiro, tem muito mais significado do que qualquer absolutez raciocinada.

Distante do egoísmo há tempos, sinto-me um tanto melhor por desconsiderar a minha vontade e o meu bem estar como primários em absoluto dentro das vidas conjuntas à minha. O que senti quando... percebi que a ilusão com gosto de realidade era apenas ilusão, não pode ser classificado como egoísmo. Por simplesmente não achar aquilo, a situação em realidade, a melhor coisa do mundo no final das contas, estaria sendo um tanto demagogo se propusesse ser isso prova de egoísmo. Em momento algum quis um fim e pensei que aquela seria uma porta que viria a favorecer-me, cedo ou tarde.

A prova de que não há egoísmo está no fato que eu não pensei em onde, e principalmente como, estaria após aquilo. Afinal, a falsa possibilidade da imaginação vir a ser realidade não passou disso: possibilidade. Não conseguir mais colocar um sorriso no rosto depois desse ponto em específico apenas demonstra que, de um jeito único, aquilo seria importante e, também, que não era uma imaginação por si só, havia e, com ou sem razão, há alguma coisa indescritível por trás disso.

Não consigo fazer um discurso direto e discreto para isso. Algumas palavras que viraram muitas linhas. E no final ninguém entende que, apesar da tranquilidade por não ter feito nada errado, não estou de todo... não sei, talvez satisfeito, com o que continuou a ser. É um direito meu, ninguém pode tirá-lo e, o que me diferencia de outras pessoas agora é que, antes da minha imaginação, respeito a realidade alheia. Nada do que faça será no sentido de forçar a realidade a ser parecida com a imaginação. Se o fizesse, não seria justo, não seria verdadeiro e, principalmente, não seria coerente com a verdade que tento viver.

Embora a vontade continue a gritar para que o fizesse porque... não sei como explicar esse... sentimento? 

Que permaneça no silêncio.

*The Cure sempre soa bem nos ouvidos

domingo, 29 de janeiro de 2012

Ecos da sinceridade - O sim e a coerência

O sim, além de uma palavra de três letras, é o marco de uma decisão. Aceita-se, sempre, alguma coisa, ao dizer sim e, hoje disse sim para outro sim, dito tempos atrás. A confirmação do sim é diária e precisa ser feita em momentos não regulares, e nada semelhantes. O contexto tenta levar à dispersão, à fuga da confirmação do propósito feito - de um sim antigo, geralmente dado no impulso da novidade - e isso acontece sempre que a opção feita inicie uma mudança positiva na sua vida. É óbvio, porém não muito visível, que a opção pela verdade, o sim significativo, leva a uma série de barreiras, tentações e provações que, quando superadas por persistência, convicção e fé, levam a um estágio jamais alcançado para aqueles que optam pelo não. A conformidade com aquilo que se tem é uma forma de não dizer nada, nem sim nem não, mas optar pelo não. Fugi disso quando escolhi, inteiramente, ser coerente com aquilo a que me propus. Deixar de lado grande parte de baboseira, de desculpas cômodas e covardes foi difícil, como sempre é para aqueles que possuem hábitos negativos porém, e essa é a grande vitória, fugir do lugar comum, dentro da rotina, dentro do contexto de quase sempre. Ir contra o que normalmente faria, esquecendo que ali haveria um grande erro provou-me, hoje, que há capacidade em mim para passos ainda maiores em direção ao crescimento. Quanto mais as próprias limitações são superadas, maior é a coerência - no meu caso - para com aquilo em que acredita-se e, portanto, melhor e mais significativo é o crescimento.

E o resto que fique para trás.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Pedaços de um pensamento (35)


Hoje, se anotado a data específica, será lembrado como o dia do princípio de um vazio em minha vida. Acaba sendo estranho constatar que, em verdade, não foi uma escolha minha, não é consequência de uma opção, de um erro propriamente meu. É provável que, levado pela - com o perdão da redundância fonética - leveza, tenha preocupado-me muito pouco com toda e qualquer palavra dita. Enquanto uns recebem palavras sem preocupação, e as recebem bem, sorrindo e compreendendo que não foge muito disso o que posso oferecer a elas, outras não conseguem compreender que, ao contrário da maioria, não coloco intenção nas minhas palavras. Quem dera conseguisse me concentrar o suficiente naquilo que digo para colocar alguma intenção oculta, ainda mais sendo ela pessoal, específica e, pelo que me disseram, cheia de algum tipo de rancor. Nem em meus tempos radicais desejei o mal às pessoas, embora esperasse, sim, vê-las perdendo suas máscaras patéticas e, sem dúvida, deixei de colocar intenções verdadeiramente irônicas, sarcásticas e maliciosas ou afim, há, pelo menos, dois anos. A ironia boba, assim como o sarcasmo débil e a malícia cômica não podem ser julgadas como verdadeiras e profundas ironia, sarcasmo e malícia.

Entender que, além da literalidade das palavras, há uma vontade negativa naquilo que se escreve acaba sendo, no mínimo, falta de discernimento. Nem mesmo em tempos normais era compreendido em plenitude, não só pelas palavras - muitas vezes, sim, subjetivas - como também pelas maneiras com que tais palavras eram colocadas. Julgar que, por escrita seca, distante - e não da maneira correta, pelo som da voz e pelo olho - há uma impossibilidade em prosseguir com um relacionamento interpessoal acaba sendo, também sem dúvida qualquer, uma prova de que tudo aquilo para o qual é apontado a negatividade através de um dedo - indicador - faz parte também do próprio meio onde surge tal apontamento. A tomada, por si só, de uma decisão que não cabe, no fundo, a nenhuma mente pensante, prolonga a lista dos poréns em tudo aquilo que é, e foi, dito, pensado e também imaginado.

O vazio que se abre, hoje, é a prova de que ainda haveria muito a ser compartilhado, e isso fará com que a ausência seja ainda mais sentida. Buscando reduzir cada vez mais os meus erros, tentarei compreender, em totalidade, qual a minha parte nesse processo. Não há intenção de, por simples vontade, tentar compensar algo que foi tido como errado. Essa atitude só pode ser tomada quando não há decisão, de pelo menos uma das partes - como é o caso - no sentido de colocar um ponto final. A liberdade de escolha é uma constante na vida de todos. Sempre ficarei triste quando, como hoje, compreender que ainda haveria uma parte de ciclo a ser percorrida porém, o tempo já ensinou, a mim, que não há razão para argumentar quando os ouvidos se fecham para específicos tons de voz.

Independentemente da, à partir de hoje, não reciprocidade de amizade, continuarei pedindo à Verdade que conduza cada passo que será dado longe de mim.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Histórias de uma vida não vivida (41)

*O antigo cântico que traz amor e ódio quase como um só sentimento, tamanha a proximidade entre eles, pode servir como base para tantas outras relações próximas entre sensações e sentimentos. Descobrindo em si os limites aonde chegam os efeitos de cada um deles, descobre-se a si mesmo como quase um todo. Há poucas partes de você que não podem ser descobertas por ações, pensamentos, sensações ou sentimentos. Há apenas uma parte que foge de tudo isso, de todas essas possibilidades. Você só descobre ela quando consegue dizer quem é. Não o que faz, o que pensa, quais são suas convicções ou quais são seus sonhos. Quem é você. Descobrindo isso, a parte alheia a pensamentos, sentimentos e ações é descoberta. Portanto, assim como o cântico várias vezes centenário aproxima ódio e amor, o seu autoconhecimento está quase grudado no conhecimento daquilo que é mais espontâneo em você.

Minha mente não parava de pensar. Na verdade, ela não pensava mais, apenas continuava funcionando em modo automático, embalada por ruídos - por vezes músicas - e outras formas sonoras. Meus ouvidos nada ouviam, tudo movimentava-se entre meus neurônios - fracos e fortes - tornando-me incapaz de continuar qualquer pensamento. Meus olhos liam, minha boca falava mas nada disso desviava o ruído, o barulho, que eu mesmo carregava. Quanto mais tentava fugir disso, menos conseguia entender o que estava acontecendo.

Sentei-me então em um banco. Sentou-se, também então, ao meu lado, um senhor de idade já avançada. Sua bengala era balançada por mãos trêmulas, conduzidas por uma melodia saída de sua boca. Parecia não querer incomodar-me, pois olhava para mim toda vez que fazia algum movimento com pernas ou braços.

- Estou incomodando-lhe, rapaz?

- Com o que?

- Com o meu assobio. Parece-me que quanto mais assobio, mais você se remexe aí, demonstrando insatisfação.

- Não, sem problemas, sua música não me incomoda.

- Música?

- Se a sua mente, assim como a minha, produzisse incessantemente ruídos quaisquer, qualquer coisa que passasse pelos seus ouvidos seria considerada música, da mesma forma que eu estou considerando seu assobio, baixo e inconstante, como música para meus ouvidos.

- Barulhos, ruídos, dentro da sua cabeça?

- Sim.

Pensei que, depois disso, continuaria balançando aquela bengala, assobiando, e pensando sob efeito de qual droga eu estaria. Porém, feliz ou infelizmente, me enganei com aquele senhor.

- Posso lhe ajudar?

- Não quero lhe ofender mas...

- Acha que porque sou velho não posso lhe ajudar?

- Não é isso.

- Então?

- Queria dizer que, a menos que o senhor seja psicólogo ou psiquiatra, não poderá me ajudar.

- Não sou um nem outro, entretanto posso tentar.

- Está bem, então, mostre-me como acha que pode me ajudar.

- Está vendo aquele pássaro.

- Qual deles?

- O que está no galho mais baixo da árvore.

- Sim, estou vendo.

- Fique olhando para ele.

- Por que?

- Apenas olhe para ele, fixamente.

- Está bem.

Conclui, naquele momento, que era o senhor, e não eu, quem precisava de ajuda. Por mais que olhar para um pássaro pudesse me trazer reflexões sobre a natureza, Deus e a vida num todo, os ruídos na minha mente não permitiam que qualquer pensamento fluísse com naturalidade. Permaneci alguns minutos olhando para o pássaro que, incrivelmente, não saiu do lugar. Meus olhos ficaram fixos nele mas meus pensamentos tendiam a ir para lugar algum, cativados pelo inferno de ruídos do qual não conseguia fugir.

- E agora?

- Continue olhando.

Pensei: Definitivamente é esse senhor que usa drogas. Quanto tempo estava perdendo naquela cena ridícula? Meia hora, quarenta e cinco minutos? Daqui a pouco alguém iria ligar pedindo o que eu estava fazendo e, o que eu poderia dizer? Oi, tudo bem, estou olhando há quase uma hora para um pássaro porque um senhor de idade, provavelmente chapado, pediu que o fizesse para libertar minha mente desses barulhos... É claro que não diria isso. Então?

- Desculpe mas, tenho que ir, já estou há meia hora aqui e...

- Meia hora?

Ele riu como se tivesse contado a piada dos quatro tomates.

- Estamos aqui há somente cinco minutos. Espere mais um pouco.

Estranhamente, enquanto tentava falar com ele, não tirava os olhos do pássaro... CINCO MINUTOS? Duvido, além de velho, chapado e com problemas, ele não tinha noção de tempo. Como ainda não tinha motivos para sair correndo dali a fim de evitar um fiasco maior, continuei olhando, 'parado feito bocó na rua' para aquele pássaro.

- Está bem, pode parar de olhar.

Ufa.

- E agora?

- Agora me diga de que cor é o pássaro.

Para o meu espanto, não sabia dizer. Fiquei minutos e minutos olhando para aquele... pássaro e não consigo lembrar de que cor era.

- Esqueceu?

- Estranho. Esqueci sim.

- Não, você não esqueceu. Você sequer memorizou qual era a cor do pássaro.

- É que quando eu vou começar um pensamento, esses barulhos vem à tona e...

- Explica, mas não justifica. Se tivesse olhado apenas por alguns segundos, até seria aceitável mas, olhar por tanto tempo para um pássaro apenas e não lembrar sua cor é a prova de que você não acredita, mesmo, que possa ser ajudado por alguma pessoa. Nem eu, nem psicólogo ou psiquiatra, ninguém pode ajudar quando o problema não são os ruídos, e sim você mesmo.

Perplexo, não sabia o que dizer para ele.

- Olhe mais uma vez, e descreva as cores do pássaro.

Então olhei mais uma vez para o pássaro e... bom, o pássaro não estava mais lá.

- Ele não está mais no galho. De que cor ele era?

- Quando eu era jovem, há uns cinquenta anos, costumava sonhar acordado. Ficava fantasiando, criando e vendo imagens que não estavam diante dos meus olhos.

- Deveria, então, ter me feito escutar alguma coisa, e não ver.

- Ouviu-me assobiar e pouco importou-se.

Fiquei em silêncio. Continuava sem saber o que dizer.

- O que eu queria lhe mostrar, hoje, é que quando você não se dedica a alguma coisa que faça a sua mente trabalhar, não consegue se dedicar a nada que possa fazê-la trabalhar. Ou você usa sua mente, com pensamentos, leitura, imagens ou sons, reais, todos os dias, cansando-a até um ponto em que não consegue fazê-la assimilar nada mais, e assim a treina para, cada vez mais, trabalhar com você, ou deixa que sua mente se acostume a trabalhar por conta própria, sonhando, criando, imaginando, restringindo, e muito, aquilo que chega a ela à partir dos olhos, dos ouvidos, da pele.

- Uma pessoa que não cria imagens, sons, que não imagina e não sonha de olhos acordados não tem criatividade, não desenvolve muito aptidões artísticas, gostos e afins.

- Treine sua mente para o que é real. Ela nunca vai estar totalmente treinada apenas para lidar somente com o que é externo. É aí que entra a criatividade. Até porque, pessoas criativas viram, ouviram, sentiram muitas coisas antes de criarem uma só arte à partir de seus dons, virtudes ou treinamentos.

- Prestar atenção no que ouço, então, vai me permitir controlar aqueles ruídos produzidos pela minha mente?

- É bem provável.

- Você é um psiquiatra.

- Não.

- Não?

- Não. Inventei tudo agora.

E voltou a balançar a bengala, de um lado para outro, como se nada tivesse dito a mim.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Pedaços de um pensamento (34)

Passa o tempo em que você sente necessidade de, a todo custo, entender o que está passando na cabeça de outras pessoas. Passa o tempo em que você sente vontade de esclarecer determinados mal-entendidos. É evidente, portanto, que também passa o tempo em que você fica se culpando por uma coisa ou outra, mesmo sem saber o motivo para essa preocupação... instintiva. Não estou querendo dizer que, depois de algum tempo, você liga o botão do 'dane-se' e o faz toda vez que alguém age de maneira diferente para consigo. No caso, esse tempo passa, aquela necessidade, aquela vontade e aquela preocupação passam porque você deixou de limitar-se a alguém. Desdenho o pensamento que, agora, diz que isso é sempre um erro. Há uma fase na vida onde faz todo o sentido essa busca por tentar ser ideal para alguém. O bom é que isso passa e que ninguém morre por tentar ser alguém melhor por outro alguém em específico.

Quem pede, e não recebe, geralmente sofre, pouco ou muito, com sentimentos próximos da decepção. A negação de uma explicação buscada por alguém interessado em resolver um possível... desentendimento, é a prova de que falta crescimento na origem da negação. Quem não quer, por qualquer motivo que seja, acertar pequenas desavenças, acaba cometendo um erro social grande, mas que não tem muitas consequências visíveis. Além de provar que não tem maturidade suficiente para conversar francamente sem levar em conta pré-conceitos já incrustados na mente, a pessoa que nega uma simples explicação está alimentando o orgulho em sua existência, prejudicando outras pessoas e, de maneiras bem inesperadas, comprometendo muitos futuros fatos a ocorrerem em suas vidas.

Passou o tempo em que, para mim, a culpa de tudo era minha.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Histórias do Billi J. - E se...


- E então? - sempre tomando a iniciativa, Billi J. sabia que alguém iria dizer 'e então o que?'.

- E então o que? - Rafael sempre respondia dessa maneira, também por saber que Billi já esperava que alguém dissesse isso.

- Estou podre de cansado. - Douglas.

- Muito trabalho? - Luiz.

- Imagina, onde ele trabalha tem fila para ser atendido e ele está cansado porque agora não tem mais a namorada junto. - André.

- O que eu queria dizer com o 'então' é: o que vamos fazer hoje?

- Estou com fome.

- Rafa, você sempre está com fome. 

- Mas eu também estou com fome hoje.

- Você não estava podre de cansado?

- E uma coisa impede a outra?

Riram.

- Peraí, calem a boca imundícias.

Olharam espantados para Douglas.

- Por que?

- Olhem lá, passando do outro lado da rua.

Olharam.

- Que perfeição!

- Eu casava!

- Você já está quase casado... com outra pessoa.

Riram.

- É bonita sim, mas deve ser chata.

- Por que?

- Porque - André coçava os dedos, como quem se prepara para falar algo que vai mudar a vida das pessoas - geralmente mulheres muito bonitas são chatas...

- Ou mesquinhas...

- Ou arrogantes...

- Ou se acham boas demais para o cara...

- Ou são burras que nem porta...

Riram.

- Ou só querem saber de caras que tem um carro...

- Eu tenho um carro e... vejam como estou. Nem um cachorro em caminhão de mudança fica tão sozinho assim.

Riram.

- Bom, ou só querem saber de caras que tem muito dinheiro.

- Ou que façam parte do padrão de beleza da sociedade.

- Billi, não precisava ser tão específico assim.

- Ah, mas acho a Renata linda, inteligente, nem um pouco mesquinha, arrogante e... bom, eu não tenho carro e sou feio como um pato morto à tiro.

- É verdade, mas voltemos para o que as mulheres podem ser quando são muito bonitas. - André estava mesmo afim de continuar.

- Claro!

- Mas não...

- Sim, Billi, tirando as exceções, as mulheres hoje em dia só querem diversão, festa...

- Não querem compromisso sério.

- E quando são bonitas e tem um espetáculo de corpo como o que aquela tem, não devem conseguir manter uma conversa por cinco minutos.

- Antes que alguém, Billi, seja racional e mencione, eu falo: a maioria dos homens de hoje em dia também não presta.

- Aí, quando as mulheres encontram caras como nós...

Riram.

- É sério.

Riram mais ainda.

- Tá, não somos grande coisa, mas os que estão aqui que tem namorada, levam a sério, respeitam e não estão atrás só de um rosto bonito ou uma noite de diversão.

- E quando essas, que só convivem com os que só querem saber de prazer e diversão, encontram caras bons como nós, acham que são falsos e que só estão querendo agradá-las.

- Concordo.

- Eu também.

- E tem mais...

Todos ficaram de pé, menos Rafael, que estava falando.

- O que eu vou dizer é uma coisa que tenho certeza que em algum momento o Billi ia falar, mas quero mostrar que o Douglas está certo quando diz que, podemos ser qualquer coisa, mas pelo menos respeitamos compromissos.

Billi sorriu e concordou com a cabeça.

- Bem, a minha namorada pode não ser a mais bonita, a mais inteligente ou a mais rica, pode não ser a melhor em coisa alguma, mas eu não troco ela por nenhuma outra porque a amo e a respeito... e porque no tempo em que ficamos longe, não consegui me sentir feliz mesmo.

Aplaudiram Rafael e o cumprimentaram. Depois, claro, riram.

- E vai que uma mulher dessas, com um rosto perfeito desses, com um corpo perfeito desses, tem uma vozinha de buzina...

- Ou mau hálito...

- Ou pior, fuma...

- Ou tem seis dedos no pé...

Riram.

- Ou não toma banho todo dia...

- Ou só quer saber de dançar funk...

- Ou não gosta de gordinhos...

Riram.

- Ou não sabe que dois vezes dois é quatro...

Olharam entre si, olharam para o Billi. Depois, riram.

- Ou gosta de assistir o Big Brother...

- Ou...

André fez uma pausa. Todos olharam para ele, que parecia relutar contra suas palavras.

- Fala, André, depois da multiplicação do Billi e dos seis dedos do Luiz, nada pode ser pior.

- Tá... Eu ia dizer que... vai que ela ronca!

Riram, mais e mais, pelo resto da noite.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Histórias de bergamota (18)

"Somente hoje fiquei sabendo que alguns animais perdem parte de sua pele para que então nasça uma pele nova, ou alguma coisa próxima disso. Achei incrível! A natureza, acreditando vocês no Dedo que a criou ou não, é fantástica, são detalhes demais para pouca compreensão do porquê tudo isso poder, embora o homem faça o possível para impedir, conviver em harmonia e coletivamente. 

O esquecimento do individual, na natureza, deveria servir de exemplo para homens como vocês, que só pensam no próprio umbigo. E nem venham me dizer que vocês se importam com o umbigo dos outros porque é mentira, eu sei que é mentira! Nem com o umbigo de algumas laranjas, vistas por mim várias vezes na vida, desviam seus olhos e seu senso de preocupação para fora do eixo de rotação dos pensamentos individuais. Garanto que se vocês, humanos, assim como alguns animais, trocassem de pele, não andariam desfilando por aí cortando tudo e todos, vegetação e sonhos. 

Tenho a certeza que teriam mais respeito pelo conjunto, num todo, se precisassem que alguém os aceitasse durante a dita 'fase de transição' de uma pele para outra. Seriam a mesma pessoa, com uma pele semelhante, mas nunca a mesma. Por que não mudar os pensamentos, ser a mesma pessoa, mas de um jeito diferente. Ser, eu disse: ser, e não estar, fazer ou comer.

Ah sim, sei que vocês, admitindo ou não, não conseguem viver sozinhos mas... por que continuam então pensando, e agindo, como se fossem autossuficientes e não precisassem uns dos outros, para qualquer coisa que seja? Um 'derrr' para vocês, bobões, que parecem ser tão superiores mas que, deparados com algumas verdades, fogem das mesmas com argumentos falhos como 'não vou discutir sobre isso' ou 'não quero brigar com você' ou ainda o tão popular 'eu penso de maneira diferente'. Há coisas que deveriam ser senso comum.

O que? Não quer ler o que eu estou escrevendo? Claro, acho que o seu umbigo saiu do lugar, sim, vai lá ver e depois volta aqui para terminar de ler.

(...)

Voltou, que bom. Só quero dizer mais uma coisa: Vivam como parte da natureza, pegando de nós, seres irracionais, coisas boas como simplicidade, mudança sem perder a essência e reconhecimento das próprias limitações. O que, você acha que não pensamos, alguma vez em nossas curtas vidas, em ser uma coisa que não somos?

Confesso, sempre quis ser uma jaca. Cara, elas são enormes, monstruosas mesmo. Nunca chegarei àquele tamanho, por isso aceito-me como pequena, e ínfima, parte do todo da vida de uma árvore. Não, nem pense em cortá-la pois eu ou alguma semelhante a mim irá te dar uma dor de barriga daquelas.

Não nos provoque.

Ass. Uma bergamota"

Pedaços de um pensamento (33)


Disse alguém, certa feita um tanto primitiva, que os melhores frutos humanos são as palavras que surgem em momentos inexplicáveis, por sentimentos ou sensações. À princípio discordava veementemente - sim, com duas mentes na mesma palavra - por achar um tanto hipócrita o ato de listar, em ordem indireta, tudo aquilo produzido pelo ser humano. Há tantos ínfimos detalhes que, inexplicáveis por si só, não ganham tanto destaque quanto gestos impulsivos, espontâneos e, sem dúvida, cheios de sentimento, gestos que, em parte considerável, não passam de carregadores de intenções obscuras e, com isso, não possuindo nada de espontâneo. Talvez seja contraditório afirmar e desdizer na mesma frase porém, não tenho dúvidas que, essa é a maneira certa de colocar o desejo subconsciente como uma desculpa, aceitável mas não justificável, de tantas porcarias que, por seus tons dramáticos ou superficialmente sentimentais, ganham uma aparência de louváveis, admiráveis e passivos de seguimento, de cópia.

Tudo porque poucos são aqueles que se preocupam com a sua maneira própria de viver e, então, tornam-se escravos de gestos alheios, aguçam suas atenções para todos os pequenos detalhes em outros gestos - esses geralmente sinceros e espontâneos de verdade - ao seu redor, em vidas que jamais serão as suas. A preocupação com o que se mostra, seja para amigos, família, namorada(o) ou qualquer par de olhos 'sociais' é tão grande que é difícil que alguém responda sobre si, sobre quem se é, sem associar nessa descrição, nessa demonstração da sua unicidade, uma frase alheia, um trecho de música ou algo que veio de alguém que não si mesmo. Se a pessoa precisa, como tantas outras, colocar uma tatuagem para gritar ao mundo que é uma pessoa livre, convicta e diferente, bem, ela não prova nada. A necessidade em buscar muletas, no aspecto físico, mental, emocional ou espiritual, para sustentar uma imagem própria é a prova de que o eu único e especial é um projeto fracassado, mal executado e que perdeu completamente a essência, não necessariamente de viver, mas de ser.

Quando alguém me diz que todos sofremos influência e que isso conta muito na formação do caráter, bom, eu concordo com várias ressalvas. Transcrever todas seria perda de tempo, meu e seu, então colocarei aqui apenas uma. Se, na minha família, todas as pessoas gostam de comer melancia assistindo futebol, e eu presenciar e viver isso desde criança, provavelmente terei esse costume também, tornarei parte de mim. Aí alguém que está lendo continua argumentando: viu só, é uma ressalva falha essa sua.

Calma, leia até o fim.

Posso sim, por mim mesmo, apreciar o ato de comer uma melancia ( melhor dizendo, um pedaço dela) assistindo futebol porém, chegará um momento em que poderei me perguntar: "estou fazendo isso porque gosto, porque faz parte de mim ou tão somente porque faço isso desde criança?". Essa é a falha. A resposta, para a maioria dos casos, é não. A rebeldia adolescente está um tanto associada a isso, pois é, quase sempre, uma busca por fugir daquilo que sempre se teve como exemplo em casa. O erro não está em não gostar disso e preferir comer uma manga assistindo uma partida de xadrez. O erro é considerar que aquilo não é válido em nenhuma hipótese e, então, formar a própria personalidade baseado em uma negação de parte da sua história, e da história daqueles que desde que nasci estão comigo.

Essa radicalidade cega encontrada na maioria dos jovens, é uma das causas para tanta intolerância para com gostos alheios. Poucos percebem, e aceitam, que o problema não é que eu goste de manga e você de melancia, mas sim que você tente impor isso no meu eu. Só que, ao contrário do que esse bando de rebeldes sem causa pensa, não há forçação de barra para que você goste de melancia. Às vezes as pessoas só querem que você coma melancia vendo futebol para terem a sua companhia. Isso não é compreendido pela maioria que, influenciada por tantos outros idiotas sem personalidade, acham que o mundo conspira contra si e que todos aqueles que o cercam tem em si o centro de suas vidas, por supostamente tentarem mudá-lo a todo custo.

O nome disso? Egocentrismo.

Uma pergunta que deve surgir agora é essa: o que palavras, momentos inexplicáveis, sentimentos e sensações tem a ver com isso? Fácil de responder.

Considerando-se centro do mundo e, ao mesmo tempo, buscando em outros egocêntricos, ideias para a formação de si, fica muito óbvio concluir que a falta de sentido verdadeiro, de felicidade plena e de demonstrações espontâneas e, portanto, sinceras de amor, de carinho e, consequentemente, do seu próprio eu. Perdem-se unidades para formar blocos. Com a diferença que cada pedaço do bloco nem sempre consegue aceitar o pedaço que está ao seu lado. Todos se unem por fazerem parte do mesmo grupo, com as mesmas carências e, sem se dar conta, exigem, ironicamente, ser tratados como indivíduos de personalidade própria e de autenticidade indiscutível.

*Nem preciso transcorrer sobre tantas coisas que circulam, repetidas à exaustão, para embasar o que acabei de escrever.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Ecos da sinceridade - Definitivo

Provavelmente a maioria não vai entender o que vou dizer, nem o porquê, nem o que, nem nada de nada. A questão toda envolve minha vida e, de uma maneira muito específica, eu, como ser único e insubstituível - não entrarei nos lugares onde posso ser insubstituível. Depois de muito tempo disfarçando alguns pedaços da minha personalidade, senti que não havia mais como embasar toda aquela, com ironia ou não, baboseira. Nem eu aguentava mais ficar com aquela ladainha infantil de complexo de inferioridade, insensibilidade absoluta, patinho feio, timidez disfarçada e tantas outras que coloquei como desculpa para um comportamento muitas vezes repulsivo e incabível nesse projeto de vida, meu, com a sinceridade.

Foram vários anos até que, em um determinado lugar, em uma determinada noite, após a leitura de algumas frases em um livro e de um tempo - incontável - conversando com uma pessoa específica, bem, depois de tantos determinantes só resta dizer que cansei disso, de tentar esconder - por motivos explicados porém não justificados - parte da minha personalidade, parte de mim. Faz sentido, agora, a ausência de uma grande satisfação com essa tentativa de vivência de sinceridade em todos os âmbitos, de maneira clara, simples e, dependendo do ponto de vista, radical. Queria viver sinceramente tudo, mas esquecia que eu mesmo fazia parte desse tudo. É uma grande bobagem, vendo agora. Demorei muito tempo para admitir que, antes de mudar minhas ações, precisava parar de querer mudar quem, em essência, sou.

Estou livre, de fato, para ser quem, mesmo que somente no fundo, sempre fui.

Ah, obrigado, Deus, por ser mais teimoso do que eu, Lewis, pelas frases do livro e, bom, você, determinada pessoa, por me fazer repensar parte da minha vida sem ter a intenção de fazê-lo.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Ecos da sinceridade - Para com uma escolha


Duvido que use mais do que quatro parágrafos para escrever, hoje. Porque é tão simples o que está acontecendo em pequenas partes dos últimos dias que não há muitas maneiras de enrolar, não há sentido lógico em divagar demais sobre algo tão pequeno. No final das contas, a explicação está mais no passado do que no presente, embora a vida seja no presente e nesse também exista muito do que já foi, mas de outras maneiras ou com outras pessoas.

Parecer estar arrependido, nesses pequenos pedaços de dia, durante vários e vários dias, por uma escolha racional e - só o futuro dirá porém não há nada racional que possa mudar o caminho para o qual está se encaminhando - altruísta, sem contar toda a honestidade da mesma, é a prova básica, primária e irrefutável de que há um grande espaço a ser preenchido, de que há uma vontade enorme de abandonar o resto de solidão que ainda existe. Todos os pensamentos que conspiram contra a tranquilidade, a confiança e que levam para um lado não menos que arrogante e pretensioso, são fruto de passos dados no caminho certo. Só está sujeito a errar quem tenta acertar. Quem erra de propósito não faz parte desse grupo por buscar isso desde o princípio e, com uma obviedade infantil, não estar correndo o risco - em tese - de não concretizar o objetivo.

É básico que pense na possibilidade de atitude diferente, tempos atrás, e no que isso teria acarretado. Uma imagem, algumas palavras e toda uma vida nova surgem. Entretanto não há verdade nisso. Viver condicionado a uma possibilidade do passado é não viver, é privar-se da liberdade da escolha real, no presente. Só penso na possibilidade de estar arrependido por não ter preenchido o lugar que uma escolha diferente poderia ter feito. As outras consequências possíveis, à partir daquela escolha - e que foram definitivas para a decisão coerentemente tomada - e que são, de alguma forma, negativas, não preenchem lugar algum quando há uma necessidade a ser preenchida. A razão, então, vem e diz que estou certo e, hoje, veio explicar que sim, esse arrependimento não é motivado por uma verdade, e sim por uma necessidade afetiva, emocional.

Não concordo com aqueles que buscam suprir todas as suas necessidades afetivas, carências ou prazeres, e que justificam seus erros por essa busca incessante e - não tenho receio algum de dizer - fútil. Privar-se daquilo que parece ser essencial mas que não o é, em busca de uma verdade, é agir com serenidade e consciência, evitando que erros para com outras pessoas sejam cometidos. Ir além desse ponto hoje é, como dizem por aí, gastar uma bala de canhão para matar uma formiga.