terça-feira, 17 de março de 2015

Pedaços de um pensamento (96)

Não estou procurando, estou esperando. É preciso dizer que, apesar disso, nada me impede de tentar conhecer, aprender, descobrir algo que possa indicar o caminho a seguir em breve. Gostaria, de verdade, de poder dizer que encontrei o que procurava e que todo o resto vem agora em consequência de escolhas corretas e sacrifícios que hoje demonstram que valeram à pena.

Não é esse o caso.

Vejo fotos e as lembranças vêm. Vejo fotos e os sonhos surgem. Vejo fotos e imagino, penso, vou longe com uma mente inquieta, um coração ansioso e um desejo sincero de começar, desde já, a escrever a maior das histórias terrestres que um ser humano pode escrever.

O que meus olhos miram não é apenas a beleza que o Criador colocou no mundo e que tenho o privilégio de ter como imagem diante de mim. Meus olhos miram longe, com um coração que anseia sinceramente ter consigo um outro, que com igual sinceridade busque o mesmo caminho, da mesma forma, pelo mesmo motivo mas, evidentemente, do seu jeito - que a mente espera que seja único, especial.

Não paro e penso à partir de imagens que remetem a vidas que não quero ter. Mais do que o rosto, muito mais do que o sorriso, infinitamente mais do que o corpo, quero um coração, uma mente e uma alma, não para chamar de meus mas para ter ao meu lado, para ajudar e ser ajudado em crescimento, experiência, busca pela Alegria, pelo Amor, pela Verdade e pelo sublime em cada uma delas.

As indefinições do presente me fizeram querer deixar para depois da minha formatura a possibilidade real de iniciar, enfim, aquilo que desejo - insisto, de coração - há tanto tempo. Também pesa contra o presente a busca por controlar a ansiedade e o término recente de uma relação com uma pessoa incrível e, de alguma forma, perfeita - mas não para mim.

Só o amor não basta. Só a paixão não serve. Só o prazer não satisfaz. O corpo é um detalhe importante entretanto não deixa de ser apenas um detalhe. Não quero alguém que seja igual, quero alguém que deseje a Verdade, o Amor, a Alegria e a plenitude da mesma forma que eu. Que esteja disposta a fazer sacrifícios, quaisquer, para conseguir chegar a um nível de onde não se pode mais voltar, de onde não se pode mais regredir.

É preciso coragem para aceitar-me. Minhas limitações, defeitos, pecados, peculiaridades e excentricidades. É preciso coragem para aceitar os sacrifícios que desejo que ela, seja quem for, possa ter de fazer, juntamente comigo. É difícil, mas não impossível.

Porque eu prometo: valerá à pena.

Não quero o passageiro. Não busco o momentâneo. Desprezo o superficial.

Quero o Eterno. A plenitude. O sublime. Uma companheira para a vida, que queira oferecer-me o que ofereço em troca. Um relacionamento mútuo, um amor de verdade, sincero, não utópico ou fantasioso.

Verdade. Para o resto da vida.

sábado, 14 de março de 2015

Nada

Muito pior do que não estar bem é estar perdido.

Talvez essa fosse a conclusão se estivesse falando sobre nada com ninguém. Ou, em outra possibilidade remotíssima, se fosse um escritor de coluna, como qualquer asno hoje em dia consegue ser.

Frases soltas escreverei, sem muita preocupação com o que virá pela frente aqui porque estou perdido. Sim, a frase inicial é para mim. De mim. Por mim.

Ao contrário das minhas muitas reflexões, várias delas fracassadas, a de hoje é rápida, despretensiosa e, até certo ponto, inocente.

Quero de volta algo que não sei o que era mas que, isso sei, se perdeu. E fez com que me perdesse também.

Não estou procurando respostas. Não estou em busca de uma mudança revolucionária. Tampouco coloco algum por quê vadio no início das frases como se tentasse encontrar uma sensata explicação. Não. Nada disso quero hoje. Agora. Por enquanto.

Estou perdido, só quero reencontrar o lugar tranquilo onde habitava minha mente até alguns dias atrás.

Não é só ansiedade, não é só angústia, não é só o isso que escrevi no texto abaixo. Tampouco é carência ou depressão. Não. Nada. Disso. Nada. Disso. Repito. Nada. Disso.

É crime querer que determinadas situações se resolvam rapidamente? Não. É crime querer entender alguém para conseguir se aproximar? Não. É um erro estar fazendo o que não sei fazer para tentar fugir da inércia deprimente que me cerca? Não.

Palavras. Vazias. Palavras. Inúteis. Palavras. Palavras. Palavras.

E isso continua aqui.

sexta-feira, 13 de março de 2015

O vazio de viver e só (57)



Algum dia sairá, tenho certeza. Isso, seja o que for, algum dia sairá. Seja por não haver mais espaço para onde expandir sua existência inconstante, ocasional e incompreensível ou seja por não conseguir mais sustento para suas voltas, esteja ele nas recaídas no mal ou na própria lei da ondulação.

Já tentei entender, abafar, desconstruir, amenizar e tudo o que mais possa ter vindo à mente para que isso, seja o que for, não se faça mais presente um momento duradouro sequer. Momento duradouro que pode ser, com probabilidade considerável, fruto de uma omissão com os momentos iniciais do mesmo, instantâneos e até imperceptíveis.

Não sei quando foi a primeira vez que isso fez-se em mim. Não sei quando havia sido a última. Não há memória clara para isso e, se houvesse, acredito que seria mais fácil de explicar possíveis razões porém o problema do entendimento continuaria o mesmo.

Difícil dizer por onde começar a explicar porque é possível, e muito, que não haja explicação sensata. Pegue um pouco de angústia - quantos textos já escrevi dizendo estar angustiado? -, misture com alguma parcela de atordoamento pelo condicional - quantas vezes já demonstrei imensa raiva, ou sentimento semelhante, pelos efeitos do condicional em meu dia? - e acrescente ansiedade abondamment.

Acho que, mesmo misturando isso em doses cavalares e irresponsáveis, não é possível chegar a compreender meu estado. A menos que você esteja sentindo o mesmo e, portanto, saiba exatamente do que estou falando.

O nome disso é incerto. As causas idem. Ainda assim consigo misturar algumas palavras na tentativa falha - com sobras - de definir o que há anos fracasso apenas em explicar, que dirá definir. Que dirá qualquer coisa. Fracasso no mesmo lugar e, então, é hora de parar de tentar explicar ou resolver. Apenas sentir, aguentar, suportar e tentar não cair em uma, ao menos momentânea, insanidade. Passa, isso passa. Um dia entenderei de onde e por quê vinha. 

Um dia.

Por fim, eu queria um oi pela manhã e um abraço antes de dormir. Talvez a falta disso seja a explicação - ou parte dela.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Histórias de uma vida não vivida (65)

*Estava andando sozinho quando encontrei alguém que poderia me acompanhar. Parado ali, ao seu lado, comecei a conversar mas, por algum motivo, o que era para ser uma conversa virou um interrogatório. As poucas coisas sobre mim que consegui falar, sem que ela fizesse alguma pergunta - tentando manter algo parecido, ao menos, com uma conversa - não recebiam seguimento, expressões ou comentários. Nada. Enquanto eu falava ela ouvia, parecia desinteressada. Enquanto perguntava, e ouvia respostas secas e curtas, ela insistia em olhar para os lados como se não quisesse estar ali. Ela estava ali quando cheguei então deveria ter alguma razão para tal. Não havia. Ela apenas estava ali, em um trecho do caminho em que eu jamais imaginei encontrar alguém. Ela era linda, como todas as solitárias que cruzaram meu caminho até hoje - na verdade foi apenas ela mas cem por cento de um é, ainda assim, a totalidade - porém não parecia estar feliz por estar ali. Não pedi que Alguém colocasse-a no meu caminho. Estava sozinho e assim poderia continuar. Estava caminhando sozinho, em silêncio, e poderia fazê-lo pelo resto da vida, embora não quisesse que assim fosse. Não havia desânimo na solidão mas a conversa, que virou interrogatório, deixou-me desanimado em algum momento. Não pela falta de interesse, pela indiferença ou pelo desdém e sim porque, e somente porque, ela estava ali, cruzando (ou melhor, parada no) meu caminho e isso não significava nada pois ela não queria ali estar. Senti uma pequena decepção, breve entretanto intensa, e entendi que era melhor seguir em frente, sozinho, em silêncio, como estava antes de encontrá-la. Ela ficou ali e duvido que, ao ver-me partir, sentiu algo. Talvez sequer tenha olhado para mim enquanto dela ganhava distância. Eu quis conhecer, quis deixar a solidão mas ela não. Talvez não estivesse só porém, se estava no meu caminho, o mais provável é que estivesse ali o tempo todo, desde o início dos tempos, esperando enfim que eu cruzasse por ali e a levasse para algum lugar. Qualquer lugar. No meu caminho. Qual seria a história dela, você me pergunta e respondo que não sei. De forma alguma e não há como saber. Ela nada quis falar. Quanto a mim, segui meu tortuoso e silencioso caminho, solitário como sempre estive. O entusiasmo que gerou decepção em algum momento desapareceu. Ainda penso nela, se está parada, ainda, naquele lugar. Se estava esperando alguém que não eu. Se ainda consegue lembrar que algum dia por seus olhos cruzei. Porém, é necessário dizer, já não significa nada. Andando ou parada ela perdeu a chance de seguir comigo, de escrever comigo uma história. Ou preferiu escolher a estagnação, se é que ainda está lá. Para onde quer que tenha ido, adeus, lembrança, não a quero mais comigo. Embora, sinceramente, gostaria de saber que está bem.