sábado, 28 de dezembro de 2013

Pedaços de um pensamento(79)

É difícil caminhar sem perspectiva de onde chegar ou, ao menos, ter uma noção de como fazer para pular as caixas de lixo que são jogadas no caminho para lugar qualquer. Tanto faz como, ultimamente, tudo tem sido levado com indiferença. Ultimamente longo, de semanas, meses, até mesmo anos. Um algo inexplicável mas compreensível, salvo sua origem. Um nada enrolado, embromado, descuidado e rimado que, por fim, não leva a nada além de voltas sem sair do lugar. Os olhos não conseguem ver o nascer do Sol e, tampouco, seu poer - se é que essa palavra faz parte de algum dicionário.

Mais um ano vem e a falta de perspectivas em grande parte de uma vida, que não é vivida no todo, transforma o que se quer em utopia, sonho distante e longínquo que afasta de tudo o que pode parecer uma ponte que afasta do solo lamacento e fétido. Nenhum dos últimos anos que estavam por vir parecia estar cheio de novo, do novo.

De alguém que inspira, onde está a Alegria em meio a tudo isso?

De outra inspiração, a noite vem como resposta que justifica o injustificável, tornando o incompreensivo algo palpável e, com muito esforço, tolerável em meio ao deserto, lixo ou lama no caminho. Seja lá qual venha a ser esse caminho.

Olho para o céu, espero a Alegria. Quero a Alegria. Tenho sede Dela. Preciso Dela e sem Ela não posso viver mais.

A Alegria. Que é Ele. Que são Eles. Que É, por si só.

Como um título de filme fruto de tradução comercial, frases banais completariam com alguma categoria - e nenhum sentido profundo - o que quero dizer há anos e não consigo dizer para mim.

É um fato, pato.

Preciso de coragem para deixar que a Alegria, como disse alguma inspiração, genial, em décadas passadas, seja o que É em mim.

Será, então, o fim da lama, do lixo, do fedor e, claro, do deserto e dessa indiferença noturna que insiste em castigar, enfraquecer e, de alguma forma, forçar a transformação, a regeneração, a escolha por quem pode, e irá, executar tudo isso que é fonte dessa coisa estranha e, singelamente, pura.

Estou cansado de esperar porém, sem medo, não acho que desespero seja necessário porque, talvez, não seja dentro dos próximos 365 dias que tudo mudará e a Alegria reinará.

Entretanto, sem medo de errar, digo que Ela virá.

Alegria que abre o coração, e os olhos. Mas que precisa da coragem.

Vem, Alegria. 

Amém.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Histórias de uma vida não vivida (56)



*As palavras tem o poder de mudar a história. Alguma história, ao menos. Nada mais profundo e clichê do que começar dizendo o que todo mundo pensa, fala e, apesar disso, não dá grande importância. Porque é banal. Virou banal. Transformaram em banais as palavras. Tão banais quanto sentimentos e sonhos. Banais como bananais, extensos e iguais a quaisquer outros - exceto pela nacionalidade dos trabalhadores e o governo que arrecada os impostos. Tiraram o valor das palavras para colocar... alguém sabe onde enfiaram aquilo que diferenciava as palavras das demais coisas que representam algo? De Sansão cortaram os cabelos, das palavras tiraram a importância. Malditos! Quero as palavras que mudem a história, a minha história, a sua história, a história do mundo. As palavras que mudem os sonhos, que mostrem a Verdade e encaminhem todo esse quarto escuro para uma saída luminosa e cheia de vida. Quero as palavras que meu coração treme ao tentar, em vão, dizer e murmurar - daqui a pouco banalizarão os murmuros transformando-os em gemidos, grunhidos, barulhos irritantes ou qualquer outra coisa (malditos!). Quero as palavras que extravasam sentimentos e tornam claros pensamentos, ideais, objetivos e tudo o que mais possa ser descrito e externado para qualquer um - que pode ser nenhum - ouvir, ler, descobrir. Quero o sentido das palavras de volta, sem banalização, sem desprezo, sem fazer o que tem feito de melhor: tirar o significado e transformar todo oásis em deserto absoluto, assim como fizeram com o amor, com a Verdade, com a Justiça e com todas as leis morais implícitas num humano qualquer.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Pedaços de um pensamento(78)

Ultimamente tenho pensado que boa parte disso, ou daquilo, tem sido de uma banalidade desnecessária e, sob algum aspecto, nojenta e infantil. Ao meu ver, naturalmente é meu se eu escrevo, as nuvens no céu, vagando empurradas por ventos oriundos de diferenças entre massas térmicas - ou algo próximo disso - tem muito mais razão em ser do que boa parte do que tem sido à partir de mim, das minhas palavras, ações, enfim, mais sentido do que boa parte do que está inserido no meu pessoal e intransferível tempo.

Outrora a raiva tomava conta. Banal e fútil raiva. Doente raiva. Desnecessária e inevitável raiva. Se o processo fosse mais rápido é certo, e quando digo que é certo aposto que beija uns 90 porcento facilmente, que haveria em algum lugar de mim - que não sei precisar por estar longe dessa área do conhecimento, e com preguiça de digitar no sabichão Google, que, covarde, provavelmente me levaria para a Wikipédia - algo como uma úlcera, ou sinônimo a esta, em fase de desenvolvimento à vapor.

Nota-se que jogar palavras e criar relações análogas - mesmo que superficialmente - não é tarefa para poucos. Os bons são desenvolvedores mas os gênios são objetivos. Qual era o assunto mesmo? Ah sim, a úlcera.

Dizem que stress causa um bolo de três andares de problemas no corpo humano. Ou pode causar. Ou os cientistas, ou "cientistas", dizem isso só para manter seu status de senhores do saber enquanto nós, mortais - como eles, otários! - tentamos evitar tudo o que nos dizem ser maléfico exceto, é claro, frituras, doces, horas seguidas sem descanso de (insira atividade) e por aí vai.

A úlcera, sim!

Desse mal, ao menos enquanto, não fui premiado à partir de toda raiva que eventualmente habita em mim e tira (de mim, lógico) a paciência e o controle sobre meus pensamentos, sendo esses cada vez mais raros - não tente entender. O ponto é que escapei disso. Uma, duas, dez vezes. Talvez tenha escapado hoje quando habitou em meu ser um desejo imenso de bater na cara daquela v(reticências) que insistiu em ser medíocre e perturbar alguém que merece respeito e afeto.

Escapei. Ou a tal úlcera pode ter começado hoje. Ou retomado o processo abandonado desde o dia em que Deus deu um fim na minha aparente(na época) fase de desejo súbito pelo mal especificamente alheio. Nada que condiga com quem quero ser mas coerente com todas as injustiças vistas. Uma coisa não justifica a outra.

Foi só falar e a tentação de dar um soco na cara de um doente comunista lambedor de Marx voltou. Parei por aqui antes que a vontade de fazê-lo volte.

sábado, 23 de novembro de 2013

Pedaços de um pensamento(77)


Todas as negativas, últimas, trazem alguma intenção com sigo. O claro sinal de 'ok, podem ir embora porque a festa acabou' não parece ser a causa de alguns problemas que tem surgido. De um jeito ou de outro sempre haverá de aparecer alguma porcariazinha.

Não entendo de onde veio essa sede, ao meu ver insaciável, de indiferença e indisposição para comigo. Mais uma negação para dizer que não sei, de verdade, por posso estar sendo deixado de lado pelos poucos que ainda restavam em um ambiente nada menos do que hostil e desagradável. 'Tudo vem abaixo' seria uma frase significativa se aquilo, onde a indiferença e a mediocridade estão inseridos, tivesse algum valor.

Nem prático ou futurístico. A cada dia o pensamento, de que essa escolha não passou de um erro que insisto em viver há mais de quatro anos, foi errado e grande parte da lama vem da insistência em pisá-la na esperança - será que essa esperança, específica, existe realmente? - de que ela vire um consistente e resistente solo capaz de resistir aos esforços gerados pelas pisadas inconsequentes e algum outro adjetivo que não recordo ao certo. Outra negação no início, nenhuma negação no final. Opa.

Desisti de querer entender por que essas coisas acontecem. Não é a primeira vez entretanto é possível que seja a última. Aguentar até o fim apenas para que ele, o fim, chegue, não parece a pior das escolhas. Negação, de novo, para dizer que tornou-se quase impossível querer que algo de significativo e verdadeiro surja. Parece que tudo é interesse e, agora que não há mais possibilidade alguma de retorno, o que antes parecia tudo logo virou um nada patético e sem sentido.

Como quase tudo naquele lugar. Ah, os passos errados que trouxeram um caminho correto. Que trouxe as grandes chances e que, quem sabe, possa fazer voltar ao lugar onde tudo começou sem medo de estar, mais uma vez, errando.

Erros só são capazes de justificar acertos quando não há prejuízo para ninguém. Embora acabe a minha vida sendo prejudicada, aguento firme por saber que, se consegui começar a caminhar sobre esse barro molenga e, de vários ângulos, nojento é porque sou capaz de continuar até que toda água evapore e a terra fique dura como a cabeça de um jornalista comunista.

Continuarei sem entender aquela indiferença porém, de verdade, não faz mais diferença.

Obrigado pelo que foi. Se dizer tchau, dessa forma, é o que se quer... tudo bem.

Deus abençoe.

domingo, 17 de novembro de 2013

Pedaços de um pensamento (76)

Sinto que parte disso está chegando ao fim também por acreditar, ao menos hoje, que essa fase está acabando, que esse capítulo está se encerrando. Que essa história está quase no fim. talvez não seja mas, hoje, é isso o que desejo.

Primeiramente porque estou cansado de ver os mesmos erros sendo cometidos sempre.

Depois porque não posso continuar elevando meus problemas relacionados com a raiva e alimentando mágoas por qualquer indiferença para comigo ou com o que deveria ser feito.

Não quero escrever muito. Não consigo. Estou tomado por decepção e um bocado de tristeza. A falta de humildade é gritante. Ela berra. No mundo e onde não deveria existir.

Onde foram parar a caridade e a união?

O discurso tem sido bonito, admito. Porém é vago porque, cada vez mais, torna-se heresia por conta dos atos seguintes.

Está chegando ao fim. Não estou feliz por isso mas, também, não estou feliz como as coisas estão.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Retratos de uma sociedade patética (13)

Tenho pensado bastante e acho que já não consigo mais ver e ouvir tudo isso calado. É bem provável que nos próximos meses, os últimos, eu vá falar, de fato, o que penso sobre essa gente. A veia inconformada da minha personalidade tem sido moldada com cuidado para, quando chegar a hora, estar pronta o suficiente para ser clara, objetiva e correta na exposição pós julgamento. Esse, por sinal, tem sido feito ao longo dos últimos quatro anos e, bom, não é pouca coisa.

O problema, pensam alguns, é que sou invejoso. Invejo as notas melhores, a popularidade que não tenho, as tiradas 'cool' nas aulas, o jeito de sair como 'o tocha' das provas após ter sacaneado e vencido pela ilegalidade, pela falta de caráter, pelo que não é justo, não é correto. Pela corrupção que tanto se critica hoje em dia.

As pessoas são corruptíveis quando não cedem à Verdade e à Justiça, ambas presentes incríveis Daquele que tudo criou, e deixam que o mundo, o mal e tudo aquilo que é oposto ao Bem e às Leis Morais, vença em suas vidas. Os maus exemplos são seguidos e admirados pelas atitudes 'corajosas' que os pequenos imprevistos exigem. Coragem gera aquilo que é bom. O que leva à prática do mal é qualquer outra coisa, pode ser perversão ou falta de vergonha na cara. Tanto faz.

Vejo que, hoje, poucos se preocupam em aprender, em crescer, em buscar algo que não seja por interesse financeiro ou que influencie em seu status social. Dentro e fora da universidade. As pessoas com quem convivo, salvo raras e poucas exceções, não tem caráter. Infelizmente isso reflete um tanto a sociedade em que vivemos. As caóticas entidades de casa, que não podem ser chamadas de família para não denegrir a imagem das verdadeiras famílias - o que acaba sendo mais uma injustiça quando acontece - não cumprem seus papeis de educar porque, no fundo, pouca gente busca o que é correto.

Vivemos em uma sociedade corrupta, a universidade, local de preparação para o futuro de profissionais e CIDADÃOS sociais, não forma caráter, não ensina o que é certo, não forma, de fato, cidadãos. Se a família não o faz, a universidade não o faz então, é evidente, que nada é feito. E os corruptos estão aí, sentados ao seu e ao meu lado nas aulas. Aqueles que, num futuro não distante, reclamarão - e reclamam quando desligam o smartphone e param de conversar durante as aulas - que os políticos não prestam.

Os imundos falando dos porcos. Vergonha.

Não tenho inveja das notas melhores, não tenho a mínima vontade de estar cercado por pessoas 'descoladas' e populares, de ser conhecidos por alunos de todos os semestres do meu curso. Não tenho o intuito de ser mais do que ninguém, de tirar a vaga de alguém no puro puxa-saquismo, como já vi muitas vezes acontecer. Não quero essa vida, não quero boas notas que não representem meu estudo, meu esforço e minha vontade de ser um bom profissional.

Até parece um discurso politicamente correto. Vou acabar com essa aparência.

Detesto e acho ridículos todos vocês que não estudam e, nos grupos do Facebook, ao invés de discutir o conteúdo e tirar dúvidas, ficam falando que 'a cola está incompleta', 'na prova do semestre passado caiu essa questão, e isso está na cola' ou 'por que ninguém resolve essa questão e passa para todo mundo colocar na HP e poder ver durante a prova?'. Fora as colas passadas durante as provas via What's App, email, mensagem, etc. É ridículo. Vocês são idiotas (acabou de vez a politicagem aqui). Talvez sejam profissionais competentes, talvez mudem de atitude e passem a lutar, a buscar, a querer algo que seja bom de um jeito correto. Talvez. Mas isso não muda a falta de moral para abrir a boca e reclamar de alguém. Não tira de vocês o rótulo de hipócritas quando dizem 'estudar muito, ralar pra caramba'. É hipocrisia pura.

É injusto tudo isso. É injusto comparar notas de quem cola com as de quem não cola. Injusto. Não estamos falando de crianças no ensino médio. São adultos - com mentalidade de 12 anos, é verdade - que em pouco tempo estarão trabalhando e colocando sua formação acadêmica a serviço de outras pessoas, de uma sociedade carente de justiça e de bons exemplos. Vocês não dão sequer um bom exemplo. É injusto. É ridículo.

Mediocridade.

Retrato bem tirado de uma sociedade bem patética.

A minha geração não é o futuro do país porque, se for, não é o céu que vai cair na sua cabeça e sim a casa, o prédio, a ponte, enfim, tudo aquilo que passe pelas mãos de um engenheiro.

Que, se for medíocre como durante a graduação, será um criminoso em potencial. Crime por incompetência.

Que Deus cuide daqueles que ainda zelam pelo que é correto, pelo que é honesto, pelo que é justo. Creio na justiça Divina.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Histórias de uma vida não vivida (55)


*Milhares de páginas são escritas por copiadores do que já foi feito, proclamadores de ideias que não são suas querendo falar sobre assuntos que não possuem propriedade para chamar de seus. Dias de ostracismo para as glórias do passado que, no presente, são pervertidas por palavras posteriores que, sobre o argumento do modernismo, levam para o lado errado aquilo que estava, e sempre foi, certo. Não adianta querer dizer que as mesmas fórmulas com finais diferentes somente na cor da blusa sejam inovadoras. Não o são. Das histórias que vem, aquelas que são inventadas, podem gerar a pergunta: "De onde isso saiu?" ou mesmo um "Qual a inspiração?". A ausência de respostas deixa claro que os muitos insignificantes que fundamentam e constroem histórias, reais ou não, baseadas na criatividade do próprio ser, são melhores, no sentido original da palavra, do que aqueles que ganham louros de glória sem sequer dar um sentido satisfatório à originalidade. Sonhos que vem e vão ainda são, com o perdão da rima, um clarão em um mundo de... escuridão? Não. Trevas. Trevas racionais, espirituais, psicológicas e, claro, de inovação. O novo geme de dor dentro de mentes perturbadas com o nada que os faz esquecer quem são e, também, por que o são.

Naquela manhã de garoa incessante, ele estava no aeroporto à espera do avião que levá-lo-ia para um congresso, daqueles bem tediosos, que nem os palestrantes mais inteligentes - e que geralmente não sabem passar seus conhecimentos - conseguem salvar contando histórias de guerra onde o conhecimento venceu os maus hábitos e tal e coisa. Lia uma revista sobre curiosidades matemáticas na história da humanidade, bem coisa de alguém que gosta de saber algo que ninguém mais sabe.

Em algum momento entre as dez e as onze horas da manhã, chegou ela, aquela que mudaria seus conceitos sobre o feminismo. Ela não era aquele espetáculo geralmente narrado nas histórias, linda, corpo cheio de curvas e sorriso encantador. Não. Ela parecia mais um homem, com braços musculosos, sobrancelhas grossas e feição de alguém que estava de mal com o mundo, com a vida e até mesmo com os canários. Parecia um monstro carregando algo gigantesco. Ela, aquela que não era um espetáculo, carregava, pelo menos, 8 malas. Das grandes. Duas em cada mão, duas nas costas, uma embaixo de cada braço. Um verdadeiro monstro.

Ele achou que ela não sabia que carrinhos existiam. Até um senhor tentou dizer a ela que aqueles carrinhos serviam exatamente para carregar malas mas ela... era uma mala. De longe, ele a viu dizendo que não precisava de ajuda de homem algum porque ela era mulher - ele era bom de leitura labial, certamente. Ele, após ver aquele senhor ser enxotado dali por aquela mulher, decidiu ser homem, herói, e fazer alguma coisa. Guardou seu livro de curiosidades matemáticas, colocou a mochila nas costas, levantou - e a descrição detalhada não tem outra intenção senão enrolar o nobre e escasso leitor - e foi até aquela mulher.

Sabe-se lá por que.

- Você precisa de ajuda?

- Não preciso da ajuda de homem algum.

- Então pegue um daqueles carrinhos e coloque as suas malas em cima, ao menos.

- Não quero conselho de homem algum, já disse isso para o velho asqueroso que veio com aquele papinho de 'posso ajudá-la trazendo um carrinho para colocar suas malas em cima?'. Homens são todos iguais.

- Aquele senhor, assim como eu, só queria ajudar.

- Sei que tipo de ajuda vocês querem dar. E o que querem em troca.

- O que você acha que eu iria querer de você?

- Você sabe.

- Não, não sei. - ele quis pagar para ver se ela tinha coragem de seguir com aquele papinho feminista.

- Enfim, saia daqui seu machista arrogante, não preciso de homem nenhum para viver.

- Mas precisaria de um carrinho para evitar que suas costas doam daqui a algumas horas.

- Você é médico?

- Não.

- Então não venha com essa falsa preocupação.

- Não estou preocupado com você, foi só um conselho.

- Eu não...

- Já sei, você não precisa de conselho de homem.

- Exato, você não é dos mais burros.

- Já você...

- O que? Se acha mais inteligente que eu?

- Eu, se estivesse carregando oito malas, pegaria um carrinho e facilitaria a minha vida.

- Está querendo dizer que os homens são mais inteligentes que as mulheres?

- Mais do que você acho que são. Deixe de ser boba e pegue um carrinho, não precisa dizer para suas amigas feministas que aceitou o conselho de um homem, aceito passar inexistente na sua passagem pelo aeroporto.

- Chega, não aguento mais esse seu papinho arrogante.

Saiu dali, não sem antes esbarrar, propositalmente nele. Andou alguns passos, esbarrou em uma coluna e caiu. Estava tão nozada que não conseguia se mexer. Ele, então, foi até ela.

- Não vou pedir sua ajuda.

- Quem disse que eu a ajudaria? Só quero tirar uma foto para colocar no 'As pessoas mais burras do mundo' do Facebook.

- Vou te processar se fizer isso.

- Aaaaacho que você tem problemas maiores para se preocupar, agora.

- Cale a boca.

- Para onde você vai?

- Por que quer saber?

- Tem um vôo para Salvador saindo agora, você está com uma bolsa que diz 'Orgulho de ser baiana'. Acho que você iria para lá e, bom, vai perder o vôo por se achar a última goiaba...

- Chega. Se não fosse por você eu já estaria no avião.

- Se você diz...

- Sai, sai, que preciso dar um jeito de levantar.

- Não quer ajuda?

- Você disse que não ajudaria.

- Se você pedir.

- Jamais. Saia daqui seu machista arrogante.

Ele saiu. 

Ela continuou lá. 

Ele riu. Voltou a ler suas curiosidades matemáticas, e até seu vôo sair, ela ainda estava se jogando de um lado para o outro tentando soltar os braços daquelas malas.

Uma mala presa a outras malas. É a vida.


domingo, 3 de novembro de 2013

O vazio de viver e só (45) - A ausência


Tenho estado ausente.

Impossível dizer, com certeza, o porquê disso mas sim, tenho estado ausente. Das alegrias e das tristezas, dos sorrisos e das lágrimas, dos abraços e da solidão. Tenho estado ausente. Das palavras e do silêncio, das dores e das redenções, de todos os opostos e antíteses que surgem e desaparecem diariamente. Tenho estado ausente. De forma artística, até mesmo poética, das palavras que não são completas, dos pensamentos que não iniciam e dos projetos que, ou começam e não seguem adiante, ou nem começam. Tenho estado ausente. Com as vírgulas nos lugares errados, muitas vezes faltando a vontade de riscá-las nas frases tortamente escritas. Tenho estado ausente. Repetidamente dizendo isso, incansavelmente falando e jogando para fora tudo o que, segundos depois, pareço engolir, trazer para dentro novamente. Tenho estado ausente. Ritmo não falta e a conversa frouxa, e alta, não leva a lugar algum. Não traz de quaisquer ponto. Não tem forças, não tem sentido, não tem intensidade ou direção. Tenho estado ausente, até mesmo da coerência, da complexidade sensata e, ah, tenho estado ausente da sensatez irreverente que por vezes cansa sem cansar. Tenho estado ausente, da existência, do sobre humano, do eu lírico esquecido - ah, como era engraçado! - e das histórias malucas, desconexas, invenções. Tenho saudade das escritas espontâneas, do acaso e da liberdade para o Vento guiar.

Tenho estado ausente.

Lamentavelmente, da minha própria vida.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O vazio de viver e só (44)

O que havia sido difícil hoje parece impossível. A negação, outrora tranquila e convicta, deu lugar a uma permissividade que não condiz com o que se quer e, primariamente, sabe-se ser o correto. Embora a série de fatores condicionantes de tempos atrás possa ser uma tentativa de significativa amenização, não há nada que justifique o fato de tudo estar próximo de um descontrole sobre-humano. Tudo mesmo.

Aquilo que era difícil hoje parece impossível, e tem sido assim há algum tempo. Nenhuma pequena mudança tem sido capaz de reverter sequer o mínimo de um pedaço, que dirá parte substancial e significativa de um todo. Palavras que pouco revelam estão escondidas, amedrontadas, atrás de um muro de nada momentâneo que parece não querer sair mais.

Ou é o fundo do poço ou próximo disso, seja lá qual for o poço e o que isso signifique. Não acho que exista lado bom nisso porque a famosa 'derrota que gera autoconhecimento' não vem ao caso e, por sinal, passa bem longe disso. Não há porém, contraponto ou argumento que tente e consiga, minimalisticamente, dar razão ao que tem sido a grande jaca dessa geleia de morango.

Bom seria se houvesse um corretor ortográfico automático para aquilo que está errado na vida. Fez bobagem e ele corrige sem esperar você reler após entregar e perceber que estava não só faltando um acento como sobrando letras, vírgulas e palavras que tiram o foco do conteúdo do texto e da maneira como foi trabalhado e o põe na ortografia que, pensa o corretor, ser pior do que a de um analfabeto funcional.

Tem sido assim. Tenho escrito assim. Reclamado assim. Por dias, meses e anos. Nem sempre escrevendo, sempre pensando, constatando, concluindo.

Sem saber o que fazer.

Não sei quanto tempo aguento, ainda, essa insatisfação para comigo.

domingo, 20 de outubro de 2013

O vazio de viver e só (43)

Nunca mais tive vontade de ouvir uma música em particular. Sabe, aquela vontade de ouvir qualquer música que tenha algum significado, que cause algum efeito particular, que traga à tona um sentimento em especial, AQUELA música. Ou uma DAQUELAS que ouvia quando tinha tantos anos, quando estava com alguém, quando estava na plenitude do pensamento ou quando queria apenas lembrar de alguma coisa, de alguém, quando queria sonhar ou simplesmente cantar sem compromisso com a letra, o tempo ou a afinação.

Não sei onde estão AQUELAS minhas músicas, as nostálgicas, as utópicas, as realistas, as sonhadoras e as reflexivas. As melodias, as letras, a combinação das duas coisas ou a falta das mesmas. Perderam-se, provavelmente, no mesmo lugar onde grande parte de tudo acabou perdendo-se. Em si, em mim, não sei. É um tanto vazio e sem sentido não saber onde foram parar tantas coisas que não fazem mais sentido por estarem fazendo falta. Ou por não estarem fazendo falta, também.

Fazem falta pois tantas horas passam e a vontade de ouvir algo é grande. Mas o que?

De alguma forma, faz sentido por já ter ouvido muito muitas vezes. Também por já ter querido ouvir tanto muitas vezes. Diversidade, dentre as coisas boas, nunca faltou mas... AQUELAS músicas sempre faziam a diferença, colocavam um sorriso no rosto, um pensamento na cabeça ou uma sensação no entorno. Sei lá - se algum poeta, famosinho, contemporâneo coloca um 'sei lá' na poesia é tido como gênio, os comuns são ignorantes preguiçosos e descompromissados - é difícil até mesmo retomar essa frase porque, para terminar, é difícil entender por que nem mesmo as músicas de outrora, AQUELAS músicas, foram parar.

Sem posição física, coordenadas esféricas ou casa do tabuleiro de xadrez. Quero saber onde estão aqui dentro, na minha cabeça.

Ou fora dela, nos pensamentos flutuantes. Futuristas ou nostálgicos.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Pedaços de um pensamento (75)

Às vezes fico olhando, muito provavelmente com cara de bobo e sorriso de criança que recém comeu sorvete, e tentando pensar no que posso ter feito para merecer tanto. Naturalmente, não é a quantidade, o tamanho ou mesmo uma novidade absurda dentro da simples existência humana e sim, obviamente, pelo que representa, e é, para mim e para o mundo.

Difícil é, de verdade, escrever algo que seja óbvio e ao mesmo tempo diferente. Lembro de algumas vezes em que consegui fazer isso, por motivos diferentes e, no entanto, não há como comparar o que já foi com o que é e, se depender de mim sempre será, presente. É um presente no presente e muito disso era esperado, não por grandes atitudes ou por uma monstruosa benignidade em tudo o que fazia mas, mesmo assim, a sensação de que algo bom estava por vir era constante - as também constantes decepções e quase permanentes vislumbres de uma tragédia diária não entram na história, hoje.

É claro, muito óbvio, que além do que vejo existe uma enormidade que posso apenas perceber e/ou sentir. E isso torna o excepcional ainda maior. O crescimento do que está por trás disso e que, no final do pensamento, é o que nos une, passa a ser inevitável e foge um pouco dos padrões lógicos porque não há consecutividade, tampouco repetição do que fora em algum momento.

Cada pedaço é único. Cada instante é feito para ser único porque geralmente não há um amanhã para que ele se repita.

Eu só queria dizer, do meu jeito complicado e pouco compreensível que não consigo contar quantas vezes já precisei parar de sonhar acordado.

Você é um sonho. O sonho que ganhei de presente.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Pedaços de um pensamento (79) - O ego e o eu

Já fui mais cético quanto ao mundo que gira embaixo dos meus pés, quanto à sociedade que circula diariamente ao meu redor - exceto aos sábados, quando gosto de cansar a cama, a cadeira do quarto, o sofá e, claro, a porta da geladeira e dos potes de bolacha - e também já fui mais, muito mais, cético em relação à coisas que todo mundo faz e que, por algum motivo, acreditava ser moralmente obrigado - pela minha própria conduta moral - a fazer de um jeito diferente, significativo.

Não que minhas ações tenham mudado muito nesses anos de transição do 'certinho inconformado com o mundo' - paradoxal, obviamente - para algo como... enfim, não sei descrever ao certo o que estou hoje, só sei que ainda gosto de fazer e viver minhas regras morais e não tenho tido lá grande vontade de demonstrar inconformação para com coisa qualquer.

Só que, de uma forma ou de outra, estou deixando de ser alguém radical para com bobagens sociais para ser um... compreensivo para com as coisas alheias. Também é bom evidenciar que sempre fui compreensivo com desabafos e quaisquer atitudes e, portanto, quero deixar claro que estou sendo pacífico também para com atitudes sociais de massa, aquelas que muita gente faz sem nem saber ao certo os porquês, com circunflexos ou, num português popular e semi analfabeto, acentos agudos.

Continuo sentindo-me bem ao fazer o que todo mundo faz, falando o que todo mundo fala mas de um jeito diferente, bem pessoal. É a tal da personalidade excêntrica e um tanto indefinida, um tanto de orgulho - maldito, morra! - e uma colher de mel com hortelã... não, espera, isso é para outra história. Não há muita explicação em mim. Tampouco faz falta. Menos ainda é necessário para qualquer coisa.

O ponto, e finalmente cheguei ao ponto central - ou não - dessa meia dúzia de bobagens, é que acabei por responder todos os recados de aniversário que recebi, mesmo os de pessoas que não tenho QUALQUER envolvimento - exceto o de rede social. É a primeira vez que fiz isso na vida. Talvez o asco para comigo mesmo, aquela sensação de 'o que, afinal, me tornei?', obrigue essa a ser a única vez na vida em que faço isso e tal e coisa. Talvez, não sei. O asco já morreu, quem manda... não, não era assim que eu ouvia na segunda série do fundamental, há longínquos... depois de terça-feira, perdi as contas de quantos anos já passaram.

Achei que seria legal - PARA QUEM, BERINJELA DE PESCOÇO? - responder, ser educado, retribuir a gentileza com outra. É possível que isso seja uma grande bobagem, que esteja de fato beijando toupeiras e caramujos no fundo do poço, que há um chip implantado no meu cérebro... as hipóteses são muitas.

Agora que escrevo essa gentileza, esse tempo gasto... parece ser tão... estou sem palavras.

O que foi que aconteceu comigo?

Se alguém vier falando em 'politicamente correto' ou 'maturidade', bom, vai levar uma solada na cara. - agora sim, um miserável grosso!

Então, algo mais? Não.

sábado, 28 de setembro de 2013

Pedaços de um pensamento (78)

Pensamentos diversos, e em quantidade suficiente para gerar frases conexas entre si - ou algo bem próximo disso, depois e não é difícil perceber que aquilo que se espera, e se quer, de alguém não passa longe daquilo que se quer em si, para si. Não querendo que o outro vire-se inteiramente para si em um gesto egocêntrico e mesquinho.

Isso é infantilidade.

O ponto em questão está acima, não por ser superior e, sim, mais profundo, relevante, algo que foge da compreensão de quem acha que o seu umbigo é como o Sol e as outras pessoas devem, obrigatoriamente, girar em torno dele. Relevância essa que pode ser constatada quando tem-se então a desistência de algo exclusivamente seu para querer um bem que englobe, pelo menos, um eu além do meu. Do seu ou de qualquer outro eu que vague por aí nessas ruas de clima intenso e nada constante.

Isso não leva, é bom ressaltar, ao ponto da hipocrisia pois, não resta dúvida, ainda existe inocência nisso. A pessoa que olha para outra e sugere - porque mesmo palavras mais intensas não deixam de ser uma sugestão - algo a ser feito ou uma mudança a ser iniciada está, no fundo, querendo um exemplo prático e familiar de como é possível que isso, ou aquilo, aconteça na vida de alguém relevante para si.

Exemplificar é sempre melhor. Ver esses exemplos, na prática, é melhor do que somente tomar conhecimento de suas existências. O significado dos mesmos para alguém que precisa deles é, então, maior quando alguém próximo a si os dá. No fundo todos queremos alterar algo em alguém para que tenhamos a coragem, a motivação ou apenas um baita motivo para fazer o mesmo em nós. Em se tratando de coisas que envolvem mais do que um umbigo, é bom deixar claro.

Quando há a fuga desse desejo de ver e ter como quase parte de si um exemplo, necessário para a própria mudança ou atitude, abandona-se qualquer suavidade inocente nas palavras, qualquer desejo singelo e até mesmo puro, para entregar-se desgraçadamente a um egoísmo sem igual.

A tolerância, a compreensão e o respeito pela individualidade alheia - mesmo que essa pareça a mim um tanto estúpida ou ridícula - são esquecidos quando há a tentativa inescrupulosa de mudar algo apenas por ser vontade própria.

Vejamos, então, algo mais próximo do entendimento distante dos meus neurônios - às vezes penso que essa tentativa inconsciente de escrever um auto-ajuda gratuito e sem baboseiras (ao menos explícitas) não tem qualquer relevância, de fato. Ah sim, dois pontos:

Suponhamos que João e Joana sejam amigos. João e Joana são parecidos, tem qualidades e defeitos próximos. Também por isso a amizade é boa para os dois. João, entretanto, percebe que há em si um defeito... digamos, a inveja, que ele quer mudar por perceber que... inveja é algo ruim. Ele olha para Joana e vê um pouco de si, um tanto dessa inveja, nas palavras dela. Que são parecidas com as dele, portanto. Ele, João, quer mudar, fazer diferente, não deixar que a inveja aja em seu dia a dia. Então conversa com Joana sobre isso, dizendo-lhe para não ser mais invejosa após ela expressar sua indignação com a vitória alheia só porque... a vitória não foi sua. João não pensou três vezes ao dizer que ela estava sendo invejosa e blá. Ele, portanto, sugeriu que ela mudasse para que ele também fosse capaz de mudar. Pediu uma ajuda indiretamente. Inocente, de alguma forma. Não pensou que Joana fosse invejosa por inteiro, como não pensava isso de si.

Exemplo claro? Talvez não. Não importa. Assim como a reação de Joana não vem ao caso.

Não quero abrir esse pensamento mais. As formas de conduzi-lo são, por fim, diversas demais. Mas acho que todos nós precisamos de um apoio, de um exemplo próximo para mudar em nós aquilo que queremos e, para isso, procuramos em alguém esse mesmo algo a ser mudado. Talvez não seja muito justo isso, talvez não seja a melhor escolha, talvez e, possivelmente, não dá certo e é plausível pensar que muitos relacionamentos, de qualquer tipo, foram destruídos por esse desejo pessoal, e aparentemente egoísta, de querer ver mudanças em alguém - quaisquer que sejam elas - para conseguir mudar a si. Conta muito o jeito de falar e tantos outros pontos.

Conta muito a intenção real, o sentimento interior. E tal e coisa.

Não há conclusão clara. Tampouco escura. Palavras limitadas de uma pessoa limitada.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Histórias do Billi J. - Eu, que amo você


"Sabe, Vini, muitas coisas mudaram na minha vida desde que terminei meu namoro com a Renata. Você já imagina o blá blá blá tosco e nostálgico que vem sempre que falo nela mas hoje só toquei nesse ponto para mostrar que estou ciente de toda melação que meus emails carregavam e, então, até mesmo peço desculpas por tantas e tantas vezes falar as mesmas frases e, enfim, você sabe, você leu, você entendeu. Rima tosca, então é hora de seguir.

Estou, sinceramente, sentindo falta de muitas coisas em mim que desapareceram nos últimos tempos. Essa série de características, gostos e etc começaram a desaparecer sem que eu notasse e, vendo hoje, ainda havia a Renata ao meu lado e, portanto, não é ela a causadora desse mal. Se é que se pode chamar de mal. Embora saiba que algumas coisas devem morrer para que outras, novas, nasçam e frutifiquem, sinto falta mesmo de uma série de coisas.

Lembra que eu gostava de jogar basquete sozinho atrás de casa? Pois é, não lembro quando foi a última vez que fiz isso. Tampouco lembro a última paródia nerd que compus, se é que paródias são compostas. Sinto falta de quando ficava sentado em silêncio, olhando para um céu nublado prestes a derramar-se sobre a minha cabeça. E que falta faz rir bobamente assistindo um filme idiota e sem graça! Nunca pensei que diria isso mas sinto falta até mesmo de pedalar alucinadamente em volta do campo de futebol. Você sabe que sou um tanto sedentário porém é verdade, sinto falta até das pedaladas. Da coleção de latinhas, da organização, das revistas que eu editava para serem lidas apenas por mim. Era legal, trazia um pouco da infância para o presente.

Não, antes que você possa pensar, não estou querendo fugir da realidade com isso. Só acho que é necessário manter algumas coisas do passado que satisfazem para que haja sempre chances de relembrar, diariamente, quem se é e não perder parte daquilo que há de melhor e que foi desenvolvido na infância. Você entendeu, sim.

Além dessas práticas, vejo-me muito mais introspectivo do que era. A Gabi, anos atrás, abriu-me para a espontaneidade e a Renata manteve isso durante todo o tempo que estivemos juntos. O problema é que o meu espontâneo, atualmente, é seco, frio e sem graça. Não anima, não distrai, não traz lembranças. Ele é vazio, opaco, obscuro e debochado. Incrível, nunca conheci alguém que debochasse de si mesmo enquanto fala sozinho. Eu, hoje, tenho feito isso. Não satisfaz, não alegra, deixa apenas a sensação de que algo está errado e a impressão de que isso é pouco perto do que existe, de fato.

Estou tentando rever cada palavra, cada pensamento para encontrar os bloqueios que tem impedido-me de ser espontâneo como descobri poder ser. E assim sou, de fato, embora não consiga encontrar meios de externar isso novamente. Não, não é pelo término com a Renata, antes mesmo disso acontecer ela relatava que eu estava diferente, distante, inerte. Maldita inércia, era essa palavra que eu queria ter citado antes. Sinto-me inerte ao que está a minha volta. Tento me mexer, sair do lugar, fazer algo novo mas, no final das contas, acabo voltando para as ações rotineiras que não levam a lugar nenhum senão ao ponto comum do qual não tenho saído.

Depois da Renata, conversei com várias pessoas sobre relacionamentos e a falta deles. Conheci pessoas novas entretanto o antissocial falou mais alto e recolhi-me ainda mais numa insignificância que só cresce à medida que o tempo passa. A exceção, e talvez apenas isso você não saiba, foi uma jovem, peculiar, diferente do que estava acostumado a conhecer e/ou conviver. Sério, Vini, ela é única, nunca conheci alguém tão diferente de mim e, ao mesmo, tempo, com tantas semelhanças.

Difícil descrevê-la e, portanto, não o farei agora. O importante é que quero falar sobre o que aconteceu comigo durante o tempo em que estava começando a conhecê-la. Não tinha opinião formada sobre aquela história que o Anjos do Hanngar cantava, algo como 'só se ama uma vez e o resto são paixões lá lá lá'. Nunca havia parado para pensar isso, nem mesmo depois de separar-me da Renata. Foram anos, difícil não pensar que ela seria a única, o grande amor mas, se fosse assim mesmo, viveria o resto da minha vida infeliz? Raciocínios derivados disso vieram à tona sem qualquer bloqueio - foram as poucas vezes, nos últimos tempos, em que consegui raciocinar - e acabei por perceber que não estava pronto para responder à minha própria pergunta.

Essa pessoa, que foi aproximando-se cada vez mais sem fazer qualquer estardalhaço, me fez pensar muito. Não só no ponto citado como também na minha própria vida. Vendo-a e conhecendo-a comecei, também, a reconhecer muitas coisas das quais sentia falta e que, por algum motivo, não tinha mais em mim. A espontaneidade foi a principal. Queria, mesmo, mostrar a ela o quanto posso ser imprevisível e arrancar um sorriso bobo mas, que droga Vini, não conseguia. E ainda não consigo. Difícil dizer o que acontece se não sei sequer o que é.

A sensação de estar em débito com ela, com seu carinho e dedicação, me fez perceber que estava em débito comigo. Pensei várias vezes no que havia se tornado a minha vida: uma rotina deprimente. As mesmas comidas, mesmas atitudes, mesmos comentários, mesmas piadas. Muito disso ainda permanece. Pouco disso tem algum significado. É como se fosse um mau hábito do qual não consegui livrar-me, ainda. E isso não é bom. Sinto que muitas vezes a decepciono justamente por não sair do lugar, por não falar, por não fazer.

Não é porque eu não quero, Vini, é porque eu não consigo sair do lugar!

Ridículo dizer que é cômodo. Ora bolas, como pode ser cômodo estar em algum lugar com algo incomodando? Por dentro meu inconformismo (pasme, ele ainda existe, embora não saia da toca onde está escondido) grita exigindo mudanças, muito mais do que qualquer pseudossocialista em passeata. Sinto-me ridículo agindo assim, parado, inerte, indiferente porque percebo que a entristeço e, também, porque fico deprimido ao ver que não consigo avançar em nada. Muita coisa já morreu mas parece que nada nasceu no lugar. Ou todos as pequenas sementes até foram plantadas mas não germinaram por falta de... cuidado. Mas o que seria esse cuidado na minha vida?

Eu não sei, jaca!

Sinto-me a pior pessoa do mundo, mesmo, com o que está acontecendo (sem acontecer) comigo. Principalmente porque isso impede que ela seja tudo o que pode, e vejo que quer, ser para mim. Falo no presente mas refleti sobre isso várias vezes nos últimos dias e, então, percebi que não estava preocupado com ela apenas por estar gerando tristeza em seu coração.

Estava preocupado por sentir medo, e muito, de perdê-la. Quando senti isso percebi que uma resposta, ao menos, eu tinha. Embora continuasse - e continue - fechado e indiferente (maldita indiferença!), tinha a mais singela resposta para uma dúvida boba e, ao mesmo tempo, significativa.

Quando percebi que sentia-me mal por magoá-la e por ter medo de perdê-la, pude responder para mim que aquilo não era tão pessoal, que aquilo não era só medo. Percebi que aquilo, que isso, é sentimento. Que é verdadeiro.

Que é amor.

Que Deus me ajude, Vini, a sair desse estado, dessa vivência retraída e indiferente. Para que eu possa ser quem Ele quer que eu seja, viver Seus sonhos em minha vida e, então, ser para ela, para aquela pessoa, quem ela merece que eu seja.

Grato pela amizade de sempre.

Saudações tricolores,
B. Johansson"

O vazio de viver e só (42)

Depois de passar dias e dias, interpolados em alguns meses inseridos em alguns anos, com essa sensação de que tudo o que há virá abaixo feito ruína de antiguidade, achei que não voltaria a ter essa sensação de que mantenho-me alheio enquanto o mundo inteiro desaba à minha volta sem que eu possa fazer coisa qualquer.

Julgava ser um dia como esse nada além de fruto de receios e ansiedades que, com o tempo e a quebra de amarras passadas, sumiriam sem deixar vestígios e, portanto, à partir de algum momento, não seriam repetidos em outros espaços, tempos e contextos, embora com intensidade e efeito semelhante.

Não que esteja sendo pior do que qualquer outro dia passado. Felizmente, está longe demais daqueles dias em que nem mesmo a melhor coisa do mundo, fosse qual fosse, seria capaz de trazer tranquilidade em meio às inquietações e nenhuma atividade era realizada sendo, portanto, dias de completa inércia e descaso com a vida em si. O porém vem, justamente, do tempo em que voltam a ocorrer esses dias.

A falta de algo, tão escrita nos últimos meses, e até mesmo anos, não é, necessariamente, o ponto de agora. É estranho pensar que não há nada concreto que possa destruir qualquer elemento contextual no entanto, e talvez esteja aqui o princípio do terrorismo psicológico que vem à tona justamente no momento em que mais precisava descansar e manter distância de toda e qualquer preocupação.

Impossível definir (mais uma vez), então, precisamente o que virou tormento psicológico e, portanto, improvável conseguir solução para algo que, em si, não é um problema mas, no exato momento em que afeta alguém que não eu mesmo, torna-se o ponto de partida para muito do que se sabe ser errado e, mesmo assim, não se consegue mudar.

A insistência pela mudança vem dessa necessidade de mudar. Não consigo ver grande evolução e isso é um agravante em se tratando de alguém que nem bem consegue reconhecer em si algum valor real e significativo.

Esse último, certamente, é parte do problema justamente por não ajudar em nada na solução.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Histórias do Bandiolo - A simplicidade não está nos olhos de quem vê

Ele sentiu-se vingado. Sorria debochadamente como se não houvesse amanhã apenas por estar sentindo-se vingado.

Não entendeu? Explico.

Eeeeestava eu, dias atrás, andando de bicicleta - sim, agora tenho uma bicicleta - no parque desta movimentada cidade. Não que goste de fazer essa coisa de esportes, de fazer parte da tal geração saúde e, tampouco, gosto de sair para, como dizem, ver gente. Aliás, é bom deixar claro que detesto isso, acho uma grande bobagem mas o fato é que, agora, minhas preferências não importam.

Voltando.

Enquanto entrava, pedalando lentamente - com medo de levar um tombo daqueles ao passar por um tapete de pedras lisas - na pista do parque, olhei para uma menina e, como é de praxe nesse ambiente utópico em que a realidade dá lugar a uma imaginação (atualmente) superficial, achei que conhecia a pessoa. Que ela fazia parte da minha vida e, enfim, que eu já havia parado tudo o que estava fazendo, em algum momento, só para vê-la.

Então, óbvio, olhei. E olhei. Sem dar-me conta que a bicicleta continuava andando - até porque eu não seria TAPADO o suficiente para parar de pedalar (embora não lembre de ter dado algum impulso naquela coisa de duas rodas enquanto olhava admiradamente para ela) enquanto olhava, curioso ou admirado, não sei, para aquela menina. Moça. Jovem. Visão do paraíso... digo, digo. Pois é. O fato é que, após alguns segundos, o sujeito que creio ser seu namorado, chegou e... olhou para mim como se eu tivesse feito a pior coisa do mundo ao olhar para aquela beleza toda que estava ao seu lado. Me olhava como se fosse crime olhar, e apenas olhar, para alguém do sexo oposto - ainda mais, adendando minha desculpa esfarrapada, quando se pensa conhecer a pessoa.

A irritação, dele, parecia não ter fim. Pareceu começar a reclamar com ela. Ela, no entanto, sequer havia notado minha presença e, provavelmente, não estava preocupada com mais uma das crises de ciúmes bobo dele. Porque, convenhamos, nenhum cônjuge que conviva com crises de ciúmes acaba dando muita bola, depois de algum tempo, para isso e, como ela parecia ignorá-lo (sim, eu ainda olhava para el... eles), suponho que fosse uma das centenas de crises de ciúmes daquele relacionamento. O carinha lá pareceu indignado demais. Irritado, olhou para mim e movimentou os braços como quem diz 'para de olhar, bicho triste, essa maçã tem dono'. Então decidi ir contra meu instinto e seguir adiante como se ela, aquela pessoa muito atraente - a mulher, não o carinha ciumento - não estivesse lá.

Olhei para frente e, bom, alguma coisa bateu na minha cabeça logo que virei-a. Tudo bem, minha cabeça bateu em alguma coisa que, possivelmente, estava parada lá há anos. Décadas. Quem sabe séculos. Uma árvore, estátua, não sei. O fato é que bati a cabeça naquilo e fui ao chão. A bicicleta seguiu alguns metros - também aqui nada passa de suposição - até cair. Não pensei no fato em si, a batida, queda, enfim. A primeira coisa que pensei, confesso, foi nas pessoas a minha volta rindo. Olhei para os lados e, felizmente, não havia ninguém por perto. Então pensei que ela, a bonita, e ele, o ciumento, poderiam ter visto.

Procurei-os discretamente - sim, discreto foi tudo o que não fui nesse caso - e os encontrei. Ela ria, alegremente, da minha queda infantil e ele, bom, a primeira frase do texto diz tudo. Não que eu tenha blá blá blá, já disse isso. Não havia nada errado embora compreenda sua irritação. Talvez - provavelmente - eu ficaria um tanto incomodado com alguém olhando para a minha... se eu tivesse uma.

Vocês sabem que... bom, não sabem.

Eu caí, levantei, continuei pedalando e... decidi aposentar minhas voltas de bicicleta pelo parque. Tudo muito dramático, impulsivo e impensado. Tudo por conta do medo de sentir uma vergonha imensa ao reencontrar aquele casal novamente. Porque é certo que eu voltaria a olhar para a namorada dele como se não houvesse amanhã.

Então é melhor que não haja amanhã porque, eu já disse, ela tem namorado. E ele tem ciúmes de mim.

E de todo homem vivo cujo campo de visão venha a ter sua namorada em si.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Pedaços de um pensamento (77) - Um eu-lírico

Algumas coisas não parecem ter mudado e, pela primeira vez em meses, acho que essa é a primeira vez que posso dizer que isso acaba sendo bom. Tranquiliza saber que o estágio alcançado, com alguma participação minha - positiva e negativa que gerou algo positivo - não foi abandonado e, sim, continuado. É como se quisesse que algo que está distante voltasse só para ver de perto as vitórias que tem sido alcançadas. Não sei se são muitas porém, a manutenção de um nível de atuação, e a visível evolução em alguns âmbitos, trazem à tona uma vontade de estar presente nisso, comemorando e tentando auxiliar para que melhore ainda mais.

O que havia de grande, e profundo, não existe mais. O passado é direto nesse ponto. O que existiu de uma forma hoje insiste em fazer-se presente de outra. Um tanto, muito significativo, diferente. Com menor intensidade no que existia e, portanto, uma descrição completamente diferente da coisa em si, seria bem diferente e, provavelmente, muito mais produtivo e relevante que algo hoje pudesse fazer a voz que ecoa direcionar-se para algo ainda maior, ainda mais abrangente. Ainda mais impessoal.

Não há segredo algum. Queria que existisse amizade. Queria que existisse companheirismo. Nem que fosse do zero, do nada, por nada. Apenas por um querer bobo, frágil e pessoal. Nada do que era, mais do que existe - qualquer coisa é mais do que o nada, isso é um fato, pato. Sem detalhes, sem lembranças, talvez até sem sentimento.

Apenas amizade. Bem, então não seria sem sentimento, certo? Acho que amizade é um amor estranho demais para ser um sentimento. É algo bom, legal, diferente, que ajuda e deixa ajudar, que doa e deixa-se doar. Que, enfim, é amizade. Apenas isso.

Bobamente. Como risadas durante passos incertos para um lugar de sempre. Como pensamentos que não existem, apenas fazem escrever.

Espontaneamente.

*escrito 8 meses atrás, desenterrado sem qualquer significado

sábado, 10 de agosto de 2013

O vazio de viver e só (41)

Não sei se consigo dizer que tentei até o fim. Talvez seja uma mentira afirmar isso e a possibilidade de sê-lo é grande pois não existe convicção de que tudo foi tentado. A melhor maneira de evitar um erro é evitar a possibilidade de erro e, bom, a mesma não foi evitada. Infelizmente, não houve preparação, cuidado, atenção ou simples bom senso para com isso. Pode não ser o fim do mundo mas, sem dúvida, é o fim de uma fase. Mudanças são sempre bem vindas quando surgem com o intuito de fazer crescer, de trazer evolução, melhorias significativas e outras coisas para o que se propõe.

Tenho dúvidas quanto ao que aconteceu. É como se fosse a pior coisa do mundo sem sê-lo. Como se não fosse tão grave assim mas, então, por que o peso na consciência? Não é exagero pois não é a primeira vez. Antes de mudar o que permite fazer surgir o peso na consciência - o que é difícil demais, além de não ser o melhor a fazer - buscarei mudar o que descarrega-o sobre minha mente. Não é o conceito e sim a ação. Os limites foram, há tempos, ultrapassados e, por fraqueza e covardia, nada foi feito. Era óbvio que isso aconteceria, o que traz à tona, com veracidade, a sensação de que muita coisa poderia ter sido feita para que isso não acontecesse.

Entendo que é tempo de recomeçar, de transformar, de acabar de uma vez por todas com todo relativismo superficialista, que não traz nada além de dúvidas e receios - além de, após os erros, acabar com a paz. Falta muito e outro muito será preciso para que pequenas mudanças aconteçam porém somente assim, com as pequenas sendo feitas, será possível chegar às grandes e significativas. Dói saber que um quase sonho veio abaixo por algo que não trouxe qualquer paz ou tranquilidade.

Difícil. Mas é possível, e preciso, recomeçar.

sábado, 3 de agosto de 2013

O vazio de viver e só (40)

Parece que todo encanto que parecia ter começado a transformar, mais uma vez, o que há, se foi sem pestanejar. Hesitação alguma houve ao voltar do grande mar de sorrisos e alegria inacabável e retomar ao frio escuro e repetitivo que antes havia. Não vejo como falta de vontade. Tampouco sei definir com palavras o que é. Preciso de ajuda, de alguém que consiga tornar obrigação o que hoje parece impossível. E da obrigação ver nascer uma mudança drástica, profunda, longe das repetições e demoras cansativas, pesadas e inúteis.

Dentre tantas coisas, as listas começaram a tornar-se um algo no plural com frequência, antes, inimaginável. A retomada, escrita e descrita, de partes do todo de um passado que, bem ou mal, resultava em algo visível e prático, é mais uma tentativa que, em alguns dias, mostrar-se-á uma tacada genial no décimo sétimo buraco ou uma bicada ridícula em uma árvore petrificada.

Estar aqui escrevendo, acreditem ou não, é um alternativo ao modo listado de tentar reagir. Porque, mesmo que nada dê certo e tudo continue no mesmo marasmo depressivo, ao menos ter-se-á tentado algo. Para o bem ou mal, a tentativa é a grande prova de que, apesar de todas as amarras que vem tirando a vontade, as forças e possibilidades de mudança, ainda consegue-se ver que há muito a ser feito, gerado ou retomado, para que haja plenitude não só nos que diz respeito ao que foge de minhas mãos mas também, e talvez principalmente, no que está diante de mim e a meu lado, sem ter a devida representatividade no que, atualmente de qualquer forma, é vida, factualmente.

Entre tantos pontos, as ideias surgiram e não foram levadas adiante. O caderno pequeno, outra tentativa de anotar para minutos posteriores o que a cabeça certamente não conseguiria lembrar, sumiu e com ele a câmera que não tirou as fotos e um monte de palavras, duras e verdadeiras, que poderiam mudar uma vida longe da minha. Seja lá qual pudesse sê-la.

Em si, nada saiu do lugar. O que saiu, aliás, voltou. O não correto foi retomado e o que é correto, de fato, continua desaparecido, deixando um vazio triste e irônico.

Como uma pedra jogada para cima que, pela ação da gravidade, volta a descer, continuo aqui após ir longe, estar envolto por um pedaço de céu e, lamentavelmente, retornar ao lugar do qual quero sair há tempo, nunca deveria ter entrado e toda aquela choradeira infantil de fracasso pessoal blá blá blá.

Terminar um texto com blá blá blá é ridículo, por isso escrevi mais essa frase.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Reflexões de um maluco (22)

Há tantos por aí que falam em mudar 'o sistema político', 'o sistema econômico', 'a Igreja' mas não tem bom senso, e principalmente humildade, para reconhecerem que eles mesmos precisam mudar, precisam crescer, precisam ver além das sua opiniões egoístas ou influenciadas por mídia, ideologias de séculos passados, movimentos radicais pró-nada ou filósofos de banheiro. O problema não está em falar, está no que se fala. Divulgar informações erradas por interesse de uma causa - cujas lideranças nunca aparecem - não é exprimir uma opinião, é ser apenas massa de modelar nas mãos de 'alguns'. O uso errado da 'liberdade' só reafirma a impressão de que poucos sabem o seu real sentido, que poucos a conhecem de fato. Que poucos entendem a sua importância.

Enquanto não aprenderem a pensar com a própria cabeça, partindo de estudo, reflexão e pensamentos com fundamento, lógica e senso moral, todos os gritos por mudança nisso ou naquilo perderão o valor. E, vejam bem, não estou citando movimento algum. Escrevi num dos primeiros dias das 'marchas' que era preciso ser justiça, ser verdade, ser amor, ser respeito e ser honestidade para exigir de alguém - inclusive de políticos e afins - o mesmo. Para poder ensinar, no futuro, as próximas gerações e provocar uma mudança social sem a necessidade de quebrar vidraças e queimar containeres.

Quantos reconhecem os próprios erros e toleram os erros alheios? Pensando a nível pessoal, sem extrapolar a fronteira do eu. Quantos tem humildade para reconhecer que falaram sem saber, julgaram sem conhecer, exigiram algo que não estava de acordo com suas atitudes, quantos? Você, reconhece?

Seria bom refletir um pouco sobre a própria vida, sobre quem se é e quem se quer ser, antes de engajar-se em um ideal que exige mudanças sem querer mudar. As transformações do 'eu' são muito importantes e podem levar a profundas mudanças em muitos "eu's". Mas mudar por nada é permanecer a mesma coisa, o mesmo eu, sempre. E mudança que não leva à Verdade, à justiça, ao Amor e à própria essência não é, de fato, importante. Não adianta mudar as palavras, propagando paz e igualdade se o coração insiste em alimentar ódio e intolerância. Gritar e exigir ser ouvido mas sem querer ouvir. Hipocrisia social que não tolera pensamentos diferentes. Gritos de 'estado laico' vindos de pessoas que não respeitam religiões. Não faz sentido.

Para terminar, você investiria 1 real se soubesse que, após 10 dias, ganharia 5 mil reais? Investiria, certo? Além disso, você investiria esse mesmo 1 real se, além de ganhar 5 mil reais de volta, proporcionasse o bem estar de pessoas de todo o mundo, melhorando a sua imagem lá fora? Claro que sim, não é? Então, se você consegue entender esse raciocínio e tem bom senso para fazer uma analogia, pare de reclamar da Jornada Mundial da Juventude sob o pretexto que 'o estado é laico e não deve dar um dinheiro para religião alguma'. Uma parte do dinheiro arrecadado pelos comerciantes com alimentação, transporte, serviços, lembrancinhas e afins, vai, através dos impostos, para o governo que está proporcionando condições adequadas para receber turistas de todos os cantos do Brasil e do mundo. Reclamar disso é ser hipócrita e dizer não para o 'investimento de 1 real que dá retorno de 5 mil reais'. E nesse caso, além de hipocrisia é ignorância.

Quer criticar, ok, você é livre para isso mas antes de criticar apenas porque as 'ideologias do século 17' mandam você fazer, pense bem. Tenha humildade para reconhecer todos os benefícios que o evento trará. Mesmo que você não esteja inserido no mesmo. O governo ganha, comerciantes ganham, a cidade ganha em reputação(porque turista bem tratado volta para casa e faz propaganda para os outros), a juventude que vai participar (e não a que vai fazer protestos desrespeitosos) vai ganhar de diversas formas.

E, acreditando ou não em Deus, se alguém próximo a você estiver lá, certamente rezará por você. Achando isso importante ou não, considere e agradeça. Nem que seja como forma de respeito pelo que esse alguém acredita, e vive.

Não quero comentários. Mas é um direito seu fazê-lo porém, por favor, se for para falar bobagem, não fale.

Obrigado pela atenção.

Desejo a todos coragem para viver a Verdade. Coragem para ser verdade.

Coragem para permitir que a Cruz seja nossa Luz.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

O vazio de viver e só (39)

Entendo que a vontade de estar em movimento, progressivo, existe. Logo, há vontade de mudar. De fazer. De deixar-se tocar. Há um querer. Há o querer algo. Melhor. Mais intenso. Sensato. Significativo.

Quero muito mais. Sei que preciso de muito mais. Consciência não falta. Sei que o orgulho cega, que os vícios derrubam e dificultam. Sei como controlá-los. Sei o que é falso nessa busca por autoconhecimento. Por autocontrole. Sei também o que faço, inconscientemente buscando um alívio e sei que isso não traz alívio nenhum. Só pesa. Muito. Complica, atrasa. E não satisfaz.

Aliás, atrapalha tantas outras satisfações.

Lembro do que fazia. Batida de banana antes do futebol das quintas, ida ao mercado só para buscar um pacote de presunto. Uma panelada de feijão com calabresa para comer durante toda a semana. Caminhadas de horas por toda a cidade. Gostava de conhecer, de rezar enquanto caminhava. De correr esporadicamente e convidar alguém para ir junto. Às vezes ouvir música enquanto isso. Gostava de escutar coisas novas, músicas novas mas sem deixar de ouvir pela milésima vez Creedence, Beatles, Foo Fighters, Oasis ou Modern love, do Bowie.

Sei que, também, faz falta a média de 2 a 3 livros lidos por mês. De rapidez e agilidade no pensamento. Faz falta devorar um livro de palavras cruzadas, estudar inglês ou editar vídeos. Criar montagens, piadas, podcasts, rir de todas essas bobagens. Faz falta escrever.

Pensar. Raciocinar. Refletir. Faz falta ouvir. Falar. Faz falta sentir. Faz falta viver.

Sei de tudo o que havia e não há mais. Sei do que dificulta, do que impede, o que é preciso fazer. Tenho vontade, coragem, estou disposto a abrir mão de muitas coisas, sim.

Se a minha vida fosse um time de futebol, entretanto, nesse time estaria faltando o camisa 10. Aquele que recebe a bola e deixa o atacante na cara do goleiro adversário, livre para marcar o gol e dar a vitória ao time.

Faltam vitórias no meu time, na minha vida, porque falta o camisa 10, o craque, decisivo mas não tão participativo assim.

Não sei o que é esse camisa 10.

E é só isso que eu não sei.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Cartas do Billi J. - A tristeza do ser

"Sabe, Vini, às vezes sinto-me um projeto que não deu certo.

          Hoje pela manhã li uma frase e foi isso que motivou-me a escrever - fora todo o resto que ambienta e dá sentido ao que escrevi.


          “A cada dia que passa fica mais difícil ser o protagonista da minha própria vida. Acho que estou perdendo o jeito. Já não sei mais interpretar o papel “sou forte”.”

         Sinto ser um fracasso. Olho para as pessoas e vejo sorrisos, vontade, interesse, aprendizado e capacidade de fazer escolhas. Olho para o espelho e nada disso consigo ver em mim. Parece que falta algo que ainda não foi inventado, algo... como uma engrenagem que fizesse toda uma máquina funcionar. Uma roda dentada, miserável, que pudesse fazer com que todo o equipamento funcionasse à pleno vapor. Ou, mo meu contexto, um componente que fizesse a reação química entre outros componentes transformar-se em um produto final que modificasse parte da história.

        Sinto que sou um avião que nunca decolou por estar sempre com algum defeito. Uma ideia que não foi colocada em prática porque... pode ajudar-me a completar essa frase? Não sei o que dizer, a tristeza que toma conta de mim, ou algo vestido de tristeza, não é novidade. É cíclico. Vai e volta. Volta. E sempre volta. tentei de tudo para fazê-la desaparecer de vez. Falhei. Tentei dar-me conta, e reconhecer, tudo o que há de bom em minha vida para sufocá-la até deixar de existir. Falhei novamente. Fiz novas escolhas, libertei-me do meu passado - inclusive das melhores partes dele - para, recomeçando de um quase zero, conseguir viver uma nova história, longe e livre desse algo que volta e meia insiste em derrubar-me. Não adiantou, falhei outra vez.

          Não sinto dor. Talvez até não sinta tristeza alguma. É possível, aliás, que não sinta coisa alguma. Talvez seja apenas momentâneo mas, se o for, é um momentâneo repetitivo. Dizem que quando muitas frases são iniciadas por um 'não' é porque há algo errado, porque algo não está bem no emissor. Acredito mesmo na felicidade, Vini. E acredito que ela seja sincera, espontânea e modificadora de todas as coisas - para melhor. Acredito em uma felicidade que faz sorrir mesmo nos piores dias, que conforta nas derrotas e decepções. Portanto, é fácil ver que acredito no amor, terreno e Divino, que Criou e abastece, que dá a cada dia novas oportunidades de sorrir, de viver a felicidade e que, não tenho dúvidas, tira da solidão, escura e fria, vazia. Acredito no Calor que envolve e faz viver. A teoria não é o problema, portanto. Ou, por envolver tantas coisas, talvez seja ela, em si, o problema.

          Infelizmente - e essa é mais uma forma de começar uma frase com um negativo - não há nada que você possa fazer por mim. De antemão, obrigado por prestar atenção em cada pedaço desse desabafo opaco, sem vida. Fez-me bem escrever. às vezes penso que estou doente por não conseguir sentir vida. Ou por não sentir coisa alguma.

          Só posso, hoje, entregar à Deus aquilo que, envolvido em mim, tira a vontade de sorrir, o desejo de viver felicidade. Mesmo que eu tenha todos, ou quase, os motivos para sorrir. Eu quero, de todo o coração, se feliz.

          Mas hoje, Vini, não consigo.

Saudação.
B. Johansson"

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Pedaços de um pensamento (76)


Lá se vão três dias.

De alguma espécie peculiar de agonia, ansiedade, angústia ou algo semelhante. Parece com coisas que sentia quando tinha os meus dezesseis ou dezessete anos.

E lá se vão uns cinco ou seis anos.

Naquele tempo isso parecia - vendo agora, logicamente - muito difícil porque era um período de transição de alguém com maturidade, ainda adolescente, em alguém com maturidade, porém adulto. Toda insegurança era fruto de falta de confiança - em Deus, nas pessoas, em mim. Toda falta de confiança tinha, e teve, como origem coisas ainda mais antigas - que, a essa altura, estariam quase chegando na precoce adolescência dos dias de hoje, caso fossem humanas, claro.

Já são três dias assim.

É fato, entretanto, que além do nome - seja ele angústia, agonia ou ansiedade - e da sua causa - seja ela insegurança, falta de confiança, medo de perder ou algo semelhante - não há paralelo já vivido. Está sendo bastante diferente porque, francamente, está tudo diferente. Quando imaginava dias felizes, diferentes dos que vivia, jamais pensava que poderia ser tão bom quanto tem sido. A motivação para vivê-los é cada vez maior porque a origem dela está em algo que cresce diariamente.

E lá se vão quase três meses.

Meses de novidade, de descobertas poucas mas pontuais. De pensamentos catastróficos cada vez menos frequentes e do surgimento de uma sensação de bem estar não vista antes. Difícil deixar passar. É muito óbvio que há uma relação direta entre essa 'sujeira' de fundo de rio que foi revirada por pés sacanas com a tranquilidade que habitava até então.

Foram-se os dias de sonos forçados para tentar esquecer o que eu não conseguia lembrar. Foram-se os dias de escuridão por medo de ser tocado por luz. Pela Luz. Foram-se, graças à Deus, os dias de medo de coisas inexistentes, de ansiedade por impossibilidades e angústias oriundas de rancores que não tinham origem, necessariamente, em minha vida.

Não sei o que trouxe essas sensações de, sei lá, seis anos atrás para o presente. Talvez nem queira saber.

Estou feliz porque a cada dia quero ser mais por, e para, alguém que merece que eu seja muito mais. Por alguém que espantou fantasmas - embora eles insistam em voltar eventualmente - apenas por existir, por estar, por ser.

Sobre o que está acontecendo, sobre essa ansiedade toda, esse medo todo?  Não importa, isso há de passar.

Porque sou feliz ao beirar o sublime toda vez que você está comigo.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Histórias do Bandiolo - Os dias em que alguma coisa parou

O início foi demais. Diferente, praticamente único. Enquanto entravam, sorrisos jorravam, olhos brilhavam, bocas babavam, uma loucura quase banal e, com o perdão da rima idiota, sem igual. Passavam pela entrada e quase não deixavam rastros. Pareciam ser carregados por nuvens tamanha falta de rastro. Barulhos estranhos faziam e isso tornava aquele momento ainda mais insano, cada vez menos parecido com qualquer outra coisa.

Vieram, entraram, fizeram sucesso. Demais. Não haviam pálidos ali. Era tudo intenso, colorido, bonito. Todos cheios de cor, branca, preta, marrom, laranja, amarelo e verde. E sei lá mais quais cores foram pintadas em quem presenciava, com a própria existência física, aquele jorrar de tons.

Chegaram, passaram, foram. Ou melhor, deveriam ter ido.

Após entrarem, não queriam mais sair. Insistiam em ficar. Os pedidos, após magnífica entrada e passagem, os teriam levado diretamente para as latas de lixo. Não quiseram sair, não pareciam querer deixar o lugar que agora era deles. Delas. Sei lá mais de quem.

Só sei que não era mais o meu lugar.

Meus dentes rangiam. Meu estômago tentava, em vão, colocar tudo para fora mas...

... tudo o que eu havia comido nos últimos sete dias insistia em permanecer dentro de mim. E eu achando que haviam sido as melhores refeições da minha vida.

Engano.

O gosto ruim que voltava após cada percepção da absoluta inércia interior dizia que era hora de tomar uma providência.

CHÁ DE BOLDO NELES!

E assim, tudo voltou ao normal.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

História de uma vida não vivida (54)

*É possível criar partindo de algo irreal? A própria criação, em si, tem alguns embasamentos básicos, seja na forma, composição ou algo semelhante mas que parte de um existente visível, tocável ou sentido. Milagres são formas diferenciadas de criação porém seguem a mesma lógica. Não é o irreal, e inexistente atuando naquilo que os olhos enxergam. É Quem está acima da existência agindo sobre a mesma. De difícil mas não impossível compreensão, alguma criação partiu do inexistente. Hoje, entretanto, o que é visto, e sonhado, não passa de uma adaptação - geralmente egoísta- de uma realidade boa ou que possui da possibilidade de sê-la. Não há limites para o impossível e, então, fica fácil perceber que o impossível não existe depois que Alguém deu um fim ao nada e um início ao tudo.

- O que temos para hoje?

- As crianças estão desenhando e daqui a pouco irão dormir.

- E nós?

- Não sei, o que você quer fazer?

- Quero ver um filme com você!

- Hum... parece bom. Então as crianças PRECISAM ir dormir agora, entendeu?

- Está bem, vamos colocá-las na cama, assegurar que estão dormindo e então poderemos ver nosso filme com tranquilidade.

-Isso.

...

- Espera, falta alguma coisa.

- Sim, apertar o play.

- Não, é só isso? Filme, sentados no sofá... só isso?

- Então vamos para a outra sala, sentamos naquelas almofadas gigantes e assistimos ao filme bem juntinhos, que tal?

- Tá!

...

- Amor, ainda falta alguma coisa.

- Ãhn... um cobertor? Está frio, não?

- Isso!

- Vou pegar um cobertor lá em cima então e você poderia...

- ... pegar algo para comer?

- Mas não de bacon, por favor, estou enjoado daquelas tiras brancas no meio da minha comida.

- Tá bom, tá bom.

...

- Ei...

- ...

- Ei...

- ...

- Acorda!

- O que foi?

- O filme nem bem começou e você está dormindo.

- Não estou dormindo.

- Sim, então por que você não terminou de mastigar esse salgado ainda?

- Porque...

- Hum?

- Porque eu dormi.

- Vamos, termine de mastigar isso para que possamos ver esse filme juntos. Há tempos não fazemos isso.

- Por culpa das crianças.

- Culpa entre aspas, certo?

- Claro que sim.

- E o que a nossa pequena estava desenhando?

- Ela não me deixou ver, acredita?

- Sim, o seu filho também não me deixou ver.

- Nosso filho.

- Quando ele age como uma verdadeira criança birrenta ele é seu filho.

- E quando marca gols  no futebol é seu, então?

- Isso!

- E quando é que ele é nosso filho?

- Quando... quando compramos um presente de aniversário para ele.

- M...

- Não, espera.

- O que?

- Quem paga o presente sou eu, então até nisso é meu filho.

- Então?

- Olha, acho que é nosso filho quando ele está doente.

- Mas eu sou a mãe, eu dou os remédios e cuido quando está com febre.

- Quem paga os remédios?

- Ah, verdade, quando ele está doente é nosso filho.

...

- Lembra daquela vez em que...

- Amor, espera.

- O que?

- O que viemos fazer aqui?

- Ver um filme.

- Esse que está terminando?

- Bah, que coisa. Mas é que essas almofadas gigantes são tão confortáveis.

- Eu escolhi.

- Eu...

- Não, essas quem pagou fui eu.

- Eu sei.

- Então o que você estava dizendo?

- Ãhn, não lembro.

- E agora, o que vamos fazer?

- Vem cá, vamos dormir aqui hoje.

- Você só pode estar brincando.

- Não, verdade, vamos dormir, está bem confortável aqui.

- E quentinho.

- E bom!

- Mas...

- O que?

- Onde foram parar nossos salgados?

terça-feira, 16 de abril de 2013

Pedaços de um pensamento (75)

Isso vai incomodar. Sim, muito. Sim, por bastante tempo. Também, porque acaba maltratando um orgulho que, por estar enraizado, acaba maltratando a mim. Incontáveis serão os dias e as vezes em que a minha alegria ficará retida para evitar que um pouco de raiva, um tanto de decepção e um bocado de sentimento de injustiça - aqui vale deixar claro que não estou dizendo ser essa uma injustiça verdadeira, apenas sentimental - venham à tona e estraguem sorrisos, abraços e o brilho de uma luz.

É sim inegável o quanto isso perturba e mais ainda o porquê.

Orgulho, no sentido mais podre, egoísta e íntimo que possa existir, sempre que ferido ataca, tenta derrubar, destruir, luta para tirar a paz, a felicidade, para destruir as fontes externas disso. A saída é reconhecer-se fraco, incapaz de lutar sozinho e pedir Ajuda.

Tantos diálogos que jamais chegarão perto de sequer começarem. Tantas frases diretas, sinceras e, na solidão, espontâneas. Palavras que, caso viessem a ser ditas, derrubariam do céu o par de asas que tanto mostra ser possível a liberdade no sentir, no viver, no sonhar. Essa seria uma injustiça. O erro de quem não se dá conta do quanto o orgulho é ruim para si é pensar que essas palavras - que em vidas que não a minha existiriam por outros motivos, também - apenas ferem o exterior.

O próprio coração daquele que é levado pelo orgulho é golpeado violentamente pois onde impera o orgulho ausenta-se a humildade. Onde não há humildade também não há caridade.

E onde não há caridade, não há liberdade de amor. Não há Deus.

É irônico, no mínimo, pensar nisso tudo como uma punição. Chega a ser engraçado dar-se conta de que tanto quanto foi errado hoje tem-se diante dos olhos, atrás do presente, algo que assombra mais do que qualquer lembrança pessoal, íntima e dolorosa.

Faz sentido entender, como consequência e, então, porque estamos aqui, no presente, que a grande cartada - que provavelmente será a final - deve ser jogada nisso tudo como a grande estratégia para vencer ao menos a pior das partes dele, o chato, teimoso e miserável orgulho.

Que luta há em meu coração, cansado de tanto tentar sem conseguir.

O que motivará esse confronto definitivo está por trás daquilo que é fonte de forças para querer que tudo isso acabe. E lá, no passado, haverá de ficar. Sepultado com tantas outras misérias que foram vencidas com esforço e sacrifício.

Assim com essas, aquela grande miséria, alimento de orgulho, será vencida com o tempo. Com Ajuda. Com a Verdade. Com a Humildade. 

Com o Amor.