sábado, 30 de abril de 2011

Pedaços de um pensamento (15)


Busco a preservação do seu bem estar, da sua tranquilidade e da distância procurada contendo as minhas palavras, evitando escrever o que acabou somente balbuciando aqui, sozinho, para ninguém ouvir qualquer distúrbio sonoro que possa existir. Como nada muda e nada faz diferença, está bem assim. Contradigo-me na busca pelo bem estar quando, engolindo palavras, amasso minha garganta e, consequentemente, o resto de mim. Não somente por ficar em silêncio contendo o que há tempos é, como também por chegar à conclusão não muito favorável; pouco ou nada alegre. Pode ser pelo cansaço ou por qualquer outro motivo secundário mas isso desanima. Não se sinta culpada, não escrevo para que isso aconteça assim, somente para que tente entender porque pouco me empolga. Chegar ao ponto em que nem mínimo detalhe consegue fugir do nada é difícil, é muito difícil. Não quero culpar, não quero criticar e nem reclamar. Não, isso não é uma reclamação. Todo o resto que parte de fora para dentro de mim é tão insignificante quando penso, lembro e percebo que sinto. Qualquer raiva afim desaparece como por encanto. É deprimente, estou ficando muito bonzinho, sem raiva, sem ódio, sem mágoa, rancor e cada vez mais próximo do completo esquecimento de todo o passado que me tira a paz, incluindo aqui arrependimentos. Voltando a você, não se sinta mal, eu já disse, você não tem culpa. Tudo o que  em há em mim que poderia criar asas e voar parece querer permanecer entocado, escondido, longe do calor do sol e da ação do vento e da chuva.

O meu desânimo, também pelo cansaço físico e mental, é inevitável. Ah, nunca deixe de sorrir.

quarta-feira, 27 de abril de 2011


"I sit alone in my bedroom
Staring at the walls
I've been up all damn night long..."

Talvez seja necessário cortar as algemas, começar do zero sem saber como, partindo de um nada um tanto diferente do atual. Talvez demore muito mais tempo, talvez não demore mais do que algumas semanas. Quem dera conseguir entender que isso terá um fim, seja ele qual for. Palavras repetiras hoje, ontem e tantos dias atrás. Tempo atemporal que incomoda sendo cômodo estar parado, no meio do nada. Liberdade que não vejo ter, caminhar por onde não sei para onde não consigo ver. Uma série inacabável de sequências que a clareza alguma leva. Tão pouco pode ser muito e menos ainda do que parece, dependendo em que ponta do fio se está. E se tiver algum dia de olhar para trás e perceber que perdeu-se o que seria tudo por razões tão míseras que nem lembradas serão. E se?

Sono.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

O vazio de viver e só (21)


O mesmo vento que, em princípio longínquo, tirava-me o calor e a alegria para não levar a lugar algum senão para fora de mim, vem a sensação, dolorosa, de estar cada vez mais obscuro em um mundo onde as luzes exaltam detalhes desnecessários, porém muito belos. Tudo tão próximo de mim e eu aqui, distante, sendo empurrado para longe por um vento do qual não conheço a origem, sequer para onde quer que possa estar indo. Não querer hoje ter o resto absoluto de uma história que não acredito ser a minha é questão de escolha motivada por muito mais do que o simples pensar em tudo o que me faz estar distante, ainda mais, das sensações que me faziam o mais utópico, e por consequência perseverante, dentre todos que algum dia já estiveram em um lugar assim, sem descrição. Com gotas de chuva que molham e esfriam, o vento vem e torna o que parecia impossível em uma realidade que faz da emoção uma utopia sem precedentes. Frio e vazio combinam-se tão bem porque na ausência de coisa qualquer em lugar algum, em tempo indefinido, fica evidente a falta de fonte de calor. Tudo tão só que nem vento ou chuva, provavelmente nem o tempo, faz-se presente para tirar o que de lá não há. Como estranho é não entender o que são palavras, é perceber que nada daquilo que o vento algum dia invejou, e buscou tirar, tem algum significado que leva a um final que fosse, em tempo presente ou futuro, minimamente indescritível.

Como em cada novo horizonte há uma luz, em cada ausência há nostalgia e, por essa e tudo aquilo que a chuva não esfriou e o vento não levou para longe, também uma tristeza. Longe dos olhos por simples consequência da falta de algo que deveria, em uma visão que parte unicamente meus próprios olhos, ser não pela nostalgia e sequer pela utopia porém, invariavalmente, por aquilo que foi e é, o que não se descreve em muito, não tem significado ou razão. Nada além da espera pelo que foi e poderia ser, com intensidade ainda maior, descrito em um adjetivo que praticamente resume quase tudo o que foi e é sensação: sublime.

Nada além da espera pelo sublime.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Pedaços de um pensamento (14)


Tantas frases sem um fim quantas foram as frases que de lugar algum vieram. É muito por tão pouco ou tão pouco por muito? Quanta insensatez, quanta falta de magnitude em um estado que nunca parece dar um passo a frente. Para os lados sem seguir caminho algum, para frente fica sendo uma utopia para um futuro tão incerto cuja distância que se vai percorrer. Confesso estar receoso com tudo o que vem acontecendo. Com tantas palavras vãs, insignificantes, imperceptíveis. Com tantas palavras que sequer começam sua existência, quaisquer motivos possam levar a esse nada. Exaltação da ausência por ser uma completa e gigantesca barreira para que tudo possa voltar a fluir como algum dia fluiu. Sem saber como pode ter, por tanto tempo, fluido e crescido, descoberto novos lugares assim, cercado de nada, passando por nada, estando no nada e com o nada estando em si. Quanta negação estúpida para expressar o que alguém entende sem ter consciência plena disso. Não tenho porção de razão sobre qualquer coisa que fuja da negação, da inexistência, do vazio, seja um pouco ou tudo o que está além do nada. Bobagem, fecharei os olhos e nada lembrarei amanhã, do agora ou do que possa ter existido em mim enquanto a razão adormeceu com o corpo. Incerteza, com os passos para o lado, não podendo ser em outro sentido. Sem sentido e isso termina aqui, antes que chegue o sentimento e esse tudo sem sentido passa a não ser mais do que um nada sem sentido.

"...on the other side, nobody's waiting for me..."

domingo, 17 de abril de 2011

As nuvens vão abrindo espaço e a lua vai aparecendo


Sinto que Deus tem tentado com grande intensidade facilitar a melhora de defeitos meus. A paciência e o consequente dom da espera, a atenção às palavras ouvidas e aos sentimentos demonstrados e o amor ao próximo. Não uma ou duas, mas em mais de uma dezena de situação, todas bem específicas e de fácil lembrança, esses e outros defeitos e limitações foram colocados à prova frente à pessoas que não tinham, e continuam não tendo, a mínima ideia de quem sou.

Um artista incompreendido, estrangeiro, vivendo em um albergue e pedindo pouco ou nada. Conversei por meia hora com alguém que não conhecia, que não cheirava bem, que não era bem vestido e tudo isso na frente de um mercado muito movimentado, onde pessoas dispendiam grandes quantias com ovos de chocolate. O assunto variou da arte, da falta de interesse do povo brasileiro nela, da má educação de um povo que sequer olha para uma pessoa que pede atenção, da fé em um Deus que lhe deu, e continua dando, apenas o necessário para que consiga viver. Ou sobreviver, se visto de longe.

Então a questão das palavras é essa. Conversando com alguém que carregava uma cruz no peito, e muitas cruzes na vida, é que pude entender a frase que tanto me fortaleceu nos dias de fraqueza e me fez voltar ao devido lugar nos dias de soberba. Além disso, por ter deixado meu tempo correr olhando um jornal sujo e um papel amassado com aquele homem, consegui superar um pouco mais minhas limitações individualistas e, ao olhar diretamente nos seus olhos enquanto falava, ver que havia muito mais sentimento do que aquele sotaque espanhol poderia expressar. Nas suas palavras, muito mais simples e sinceras do que a de um homem de sucesso(?), recebi um grande exemplo também de conhecimento de vida, de humanidade, de amor. Me senti pequeno perto dele. Perto de toda sua fé, de todo aquele amor pela arte e por Cristo. Perto de toda aquela simplicidade.

Hoje, representando o Mestre em uma apresentação, tudo o que ouvi daquele homem, ontem, veio à mente. Me fortaleci e me senti ainda mais capacitado para estar onde estava. E agora estou duplamente grato por esses dois momentos, por essas duas bênçãos. Por mais que ainda me sinta muito incapaz, e limitado, sei que esperando e aceitando oportunidades assim, conseguirei chegar onde preciso e serei capaz de lutar com todas as forças pelos meus sonhos.

Sendo esses possíveis ou não.

*não gosto de títulos.

sábado, 16 de abril de 2011

E alguém se importa com o que eu escrevo?


Tire a espada de um cavaleiro medieval e o que teremos? Um idiota com uma proteção de metal, inofensivo e impossibilitado de fazer seu trabalho, combatendo outros cavaleiros de outros reinos ou, sei lá, alguma coisa do gênero há mais de 650 anos. Ele não deixa de ser um humano, não deixa de pensar, de falar, de caminhar, só não pode fazer todo o trabalho que faz. Pegar uma pedra e, à la Davi, atirar na cabeça dos outros não é prático e, em uma guerra, seria patético. Estranho como querem que as pessoas, trazendo-as para os dias de hoje, esperam fazer alguma coisa sem que tenham consigo o essencial para que tal coisa possa ser feita. É muito mais preparação e treinamento do que instrumento, coisas que se pegam na mão. Um grande feito não surge primeiramente por uma espada, uma caneta ou um tijolo. Grandes construções começam com pequenos projetos nas estruturas. 

Há compreensão nisso?

Jogar-se de cabeça em algum projeto sem estar preparado, ciente da responsabilidade e da finalidade, sendo isso o essencial básico nesse caso, é querer arriscar o que se tem por algo que dificilmente se conseguirá alcançar. Não que falte vontade, não que sonhos sejam impossíveis mas, será que é tão difícil buscar uma maneira mais próxima da realidade para fazer isso sem, por consequência, jogar fora muito do que se fez e no fim não ter tudo o que se esperava?

Se não havia compreensão antes, muito menos agora.
A pessoa não escolhe o que vai aprender mas pode tentar escolher quem vai ensinar. Não escolhe o que vai acontecer mas pode escolher quem vai fazer parte disso. Também é impotente para escolher o momento porém pode, e como pode, atentar aos detalhes e ver que o problema não era tão grande, o obstáculo não era tão difícil e o sonho não era tão impossível.

*como um grande jogador se firma no hall de um clube, 
luto por um lugar no hall dos escritores de tigela alguma.
Quero, não devo. Quero, não posso. Quero, não consigo. Pois é.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Sem música, sem as mãos, sem o céu

Eu preciso ir dormir e encerrar de vez esse dia que começou e terminou com a mesma trilha sonora. Um silêncio traumatizante. Do início ao fim. Estranho demais para ser tão real quanto começou sendo. Foi. Instantes em que a cor o céu fora de um azul claro mais vivo do que o habitual. Alegria boba que desapareceu com o passar das horas. Não havia um motivo muito claro. Parecia instinto, previsão, antecipação irracional. Fica bem claro agora que não era isso. Terminar olhando para uma mão que segura a outra, em um gesto minimalista de falta de compreensão de estado e pensamento, é a prova de que não havia instinto irracional no princípio. O céu não estava mais azul. O sorriso era bobo, insano, não alegre. Cada vez desconheço mais o corpo onde minha mente habita e o coração que permite haver vida nele. Não há explicação, não há entendimento, não há, definitivamente, nada em que eu possa apoiar essas sempre inconstantes palavras. Continuo sem forças, sem vontade, sem motivação, sem sorrisos.

Contraditoriamente, estou bem. Até o ponto em que não estou mais. Não sei onde está o ponto. Poderia ser uma vírgula? Não tenho resposta. É como se uma pequena lista pudesse repercutir muito mais do que um grande livro. O desconhecido fosse mais significativo para pensar do que o pocuo que se imagina saber. Como se ao alcance das mãos não estivessem nem as próprias mãos.

Como se o céu não estivesse mais ao alcance dos olhos.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Não para de tocar


O dia amanhece, os raios do Sol impedem que meu sono prossiga. A madrugada é passado, como o descanso, como a tranquilidade do tempo que passa sem que meus olhos vejam e minha mente perceba. Meu corpo é um mero detalhe na imensidão de vida que há no mundo. E tudo o que, partindo dos raios do Sol, passa a ser visto é benção, é maravilha. 

A música então começa a tocar.

Em cada passo, pequena decisiva escolha, o tempo que caminha volta e meia corre, volta e meia parece parar para tomar um chá com as senhoras inglesas. Os raios de Sol são cada vez mais presentes, as cores das flores e o sabores dos frutos ganham vida, intensidade, variedade muitas vezes indescritível. O passar desse ou daquele momento torna-se detalhe na imensidão do detalhe invisível de uma luz que vem de longe, que vai para todos os lugares de maneira tão complexa que seria deixar o tempo passar em vão tentar encontrar uma explicação definitiva. Enquanto passa, ela continua compenetrada no ambiente, voando suavemente às cegas de olhos que nem bem conseguem ver o que o Sol produz, quanto mais o que de um instrumento pode sair.

O tempo andou e a música continua a tocar.

Em cada movimento uma imensidão de movimentos mais. Pouco se percebe além do todo, mas é de pequenos todos que se forma um grande todo, como um passo. Bobagem? Os músculos, nervos e até ossos de meu corpo dizem o contrário enquanto caminho, ou mesmo escrevo. A empolgação pela beleza visual do ambiente chamado natureza, iluminado pelo imponente Sol, vai terminando. São tantas manchas escuras, paredes erguidas em segundos, buracos cavados em décimos ou milésimos, seja lá qual miséria temporal dita rapidez exista na maldade do mundo incrustada até mesmo no mais belo dos corações, e tudo isso para impedir que o Sol ilumine tudo que é dádiva, tudo que afasta do terrível e aproxima do paraíso. A tristeza, o cansaço, a decepção e a mágoa surgem ou voltam porém... 

A música não para de tocar.

O céu escurece, as nuvens escuras tomam conta do céu azul claro. As horas passaram, o dia também, é quase noite. A água que desce de um céu agora obscurecedor dos raios do Sol pode lavar toda essa sujeira jogada por cima de um corpo que fisicamente continua limpo. A mente não encontra razões, o coração nem sente mais. A chuva cai, derruba tudo isso, aduba a terra para que a vida nasça no novo dia, novamente com o Sol brilhando, iluminando, aquecendo. Claro ou escuro, esperando pelo que não se vê, não se ouve, não se tem e não se pode ter, tanto faz.

A música não para de tocar.

O tempo que não é contado, as horas que se repetem em números, jamais em existência, tudo isso traz o bom e o ruim. O Sol que ilumina e faz nascer mas que também pode cegar. Há muitas batidas arrítmicas inexplicáveis. Experiência de quem já voou alto e instantes depois veio ao chão. Da demonstração em um sorriso para o semblante fechado e as palavras cessadas. O tempo passa, leva muitas vezes, traz algumas outras. Não é questão de vontade, talvez não seja nem de merecimento. É muito mais de escolha, de cada pequena escolha. Sempre pelo Sol que dá a vida e não pelo que impede de vê-la. Pela chuva que alivia e não pelas gotas d'águas que trazem palavras insensatas e injustas. Pela espera que ameniza a dor e não pela que traz a lágrima.

E no final do dia, o silêncio deixa de existir quando percebe-se o pequeno detalhe:

A música não para de tocar.



*a melhor versão da música é essa: The Cure - High (acoustic).

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Pedaços de um pensamento (13)

À mente o que faz arder, não os olhos mas o que sente. Pequenos vestígios de um vago espaço, longínquo e supostamente impossível, ao menos improvável, de ser alcançado. Como uma frase que não dita leva à morte, morre um pouco a cada pensamento por possibilidade, raramente concreta, da existência do dizer. Pelos cotovelos fala-se o normal que vira banal, o aceitável agora desnecessário. Insensatez de dizer aquilo que é, sendo ou não de verdade, por senso comum, por consciência ou hábito. Sandices da modernidade futuramente antiquada. Que virá depois? Próximo do exagero não estaria se previsse ser o exagero o ponto futuro que no presente é o banal. Não seria de todo o certo, vez que hoje o exagero toma forma em palavras agressivas, sujas e desnecessárias, exaltando o menor dos males como a pior das dores. Puro senso comum. Ou próprio de cada um? Rimas, idiotas como sempre foram e assim o serão enquanto existirem obcecados pela transformação do indescritível em palavras, do sincero em versos, do amor em rimas. Quanta bobagem, quanta pseudometáfora, aqui sem hífen, em verdade uma incógnita inútil, como a bobagem de escrever por querer dizer que enquanto assim for, maldita rima, será como dor. Ou com? Dúvida ainda mais inútil, ainda menos significativa. Cada vez mais longe de tudo que se quer e não se recebe. Cada vez mais longe da certeza de que parte de dentro o querer e que, esse, é inútil quando não vem de pensamento, mas sim de outro lugar, um pouco mais pulsante.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

(Apenas?) Sono


As noites mal dormidas não são novidade. São motivos, são explicações. Não consigo mais pensar nisso. Cansaço, sono e uma grande vontade de parar de pensar por um momento. Gigante momento. Como se isso fizesse desaparecer as cicatrizes, evitar os cortes e consequentes perdas, tornar inexistente a impaciência e aquela ideia de que tudo não passa de uma pequena bola de neve que, ao contrário dos desenhos e dos pensamentos psiquiátricos, não cresce à medida que desce.

A bola de neve fica lá, estatelada no meio da... neve. Queria que tudo pudesse estar assim, estatelado no meio da neve, ou do nada.

Se bem que, eu já não sei mais se quero ou espero alguma coisa.

Talvez seja só o cansaço, o sono ou a má qualidade do mesmo, quando existente. 

Tão somente talvez.

E tudo não passa de... uma bola de neve.

* preferencialmente a versão acústica

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Pedaços de um pensamento (12)


Pensando bem, não me sinto mal. É definitivo não ser essa a questão. Nem mesmo detalhes, que outrora me deixariam irritado o suficiente para responder 'não estou bem', são significativos. É diferente de não estar bem o que se passa, hoje e há alguns dias. Seria ansiedade mas, tão longe para trás e para frente, não faz muito sentido ansiar o que não é certeza. Sonhar um pouquinho longe e pensar que o céu virá sobre a terra é muito mais uma simples espera do que pura ansiedade ou angústia. Também não é nervosismo, raiva, ódio, sabe, nada. Pensamento enquanto degustava um pacote de bolachas indicou possível falta de... liberdade. Caramba, não faz muito sentido teórico, afinal, não há prisão, tortura ou mesmo um grande drama em questão. Meus pensamentos saltam longe de qualquer local onde estou, são pássaros que voam centenas de quilômetros até encontrar um bom recanto para pousarem. Quase sempre em um parque verde claro, de folhas novas. Como novidade é a tranquilidade para o pensar. Preso por ações, verbos e dependências. Possível. Pouco sono por haver pouco tempo e por opção, ficar acordado um pouco mais tem valido cada olheira e pensamento mau humorado de início de manhã. Pequenas palavras que mudam para melhor a noite e o dia seguinte, após os primeiros pensamentos queixantes. Um vai e volta longo, cansativo, rotineiro, enjoativo. Os fones quebraram, a música se foi, onde está a minha distração no trecho? Olhos direcionados não fazem nada que olhos fechados não possam fazer, com uma beleza incomparável. Faltam palavras, distante desse vai e vem. Faltam sim, fazem falta. O que não vem faz falta. O que poderia vir faz falta. Repetição que não faz voltar. Questão. Qualquer uma. E eu aqui, preso em pontos. Falta-me liberdade sim, isso me incomoda. A vontade é de ir junto com os pássaros para longe daqui. Poder ver, ouvir, sentir. Tudo aquilo que esse tanto imenso descreve.

Ah, claro, obrigado por lembrar. Eu não posso fazer isso. Não tenho liberdade.

domingo, 3 de abril de 2011

Histórias do Bandiolo - Ah sim, você( Último Ato )


*se começa, um dia acaba. Com algumas poucas, e excepcionais, exceções. A grandeza de um pequeno gesto, de um pouco de paciência e muita atenção superam qualquer pequena cãibra ou redução de jornada de trabalho. Estranho, pequeno, bom, muito bom. Sem sabedoria e aprendizado no ouvir, porém muito disso no entender e compreender. Entendimento é dom, e ponto final.



Ato VIII


Cena I

(o velho senhor está sentado no banco do parque, tristemente pensativo, quando aparecem para conversar consigo o jovem rapaz e o jovem das ruas)

- Viemos a ti para tirar-te algumas das grandes verdades da vida ó velho tristonho. Que mal está a tirar-te o sorriso?

- A vida e a espera temporal tiraram-me o sorriso tão lentamente quanto o caminhar de uma tartaruga tão vivida quanto eu. Os anos passam e tanto eu quanto a tartaruga vamos perdendo a alegria, a vivacidade e, que Deus nos tenha piedade, o amor por tudo, inclusive pela vida.

- Tua tristeza por espera é mais amena que a minha por tão recente despedida inimaginável porém sei que deves saber disso, tamanha sabedoria de teus anos e experiência de teus verbos.

- És jovem entretanto muito perspicaz, jovem rapaz cujos olhos entram em conflito e tentam evitar as lágrimas que o tempo jamais cansará de derramar.

- E o que poderia fazer para lutar contra o tempo? Há salvação para meu coração?

- Mesmo que não saibas o que fazer, faça. Mesmo que não saibas para onde ir, vá. Tão simples e tão somente faça dos teus verbos presente e jamais condicional imaginável e planejável. A vida não te entregou o plano da despedida, certo? Então é isso, viva e lute, com coragem, mesmo que...

( coloca a mão no coração, sentindo uma grande dor )

- Que aconteces? Continue antes que meus rins entrem em conflito por minha sede incessante de descoberta dos caminhos da vida.

- Não há muito tempo para mim. Meu coração dói e não apenas como dono de sentimentos puros e verdadeiros. Minha vida terrestre chega ao fim mas antes disso quero dizer-te, jovem que o mundo maquiou com sujeira e tratou de amedrontar com rejeições e decepções, que não deves cometer o mesmo erro que eu. Dê uma nova vida a teu coração e não fique esperando por aquela que está em teu passado, tudo porque tua infância hoje não existe mais e és homem. Seja um e, se novamente teu coração bater e for tomado de ti, faça o que disse ao jovem que ao teu lado está. E o condicional entra apenas na terceira tentativa. Se ainda assim tua tristeza for maior e tua dor tomar conta de todo teu coração transformando pensamentos em mágoas, terás então o direito absoluto e indelével de sentar-te na praça e, como eu, perder o resto da vida à espera de uma volta que, assim como eu, saberás nunca acontecer.

- Por que tão duras palavras, acaso tua vida inteira não valeu as pulsações de teu coração?

- Tanto valeu que hoje estou aqui fingindo ser sábio e aconselhando dois jovens que estão sendo espelhos de meu passado em um tempo que nunca mais será presente. Antes de deixar este mundo, quero apenas lhes contar o que tenho observado nesses tantos anos de reflexão em torno da vida, do amor, do mundo.

- O que descobriste?

- O grande segredo que nem homens, nem mulheres descobriram até o presente dessas palavras mas que eu, por amor, dor e tudo no nível de extremidade radical que vivi, consegui tornar conhecido. Talvez seja uma bênção divina poder dizer-lhes que...

- O que? Conte-nos logo qual é o grande segredo desse mistério chamado vida, ao qual...

( o velho aperta ainda mais a mão no peito )

- Adeus.

( morre )

- O Dono de nossas vidas não quer que saibamos o maior segredo de sua presença indescritível, o amor. Está louco por me fazer acreditar que poderia viver e ser amor por uma frase. Rapaz imundo, deixo-te em busca de minha amada.

- Pelo que nossos ouvidos receberam deste nobre senhor, creio que não sabes o que fazer ou para onde ir, apenas será levado pelo amor e por tudo que o envolve.

- Como podes tão simples palavras serem tão diretas? Não entendo como sendo tudo que és ainda és pequeno perante o mundo e te escondes nessa sujeira e em todas essas capas que escolheu colocar para disfarçar a grandeza de teu coração e a genialidade de tua mente espontânea. Não me digas mais nada, não quero que tuas palavras me tragam à realidade de minha existência nula. Te deixo aqui para ser guiado pelo amor e para o amor. Obrigado por tua companhia que, em minúsculo contável tempo, fez de mim um jovem honrado por tê-lo como companheiro e ouso chamar-te à partir de hoje tão somente de amigo.

- Que o amor te guie.

( saem )


Cena II

( o jovem rapaz entra correndo na estação de trem )

- Senhor de aparência triste, mãos trêmulas e coração monstruoso de bondade. Velho que escondia o jogo de verdade do amor que o mundo teima em chamar de coincidência. Trapaceiro, tivesse ele dito-me antes que uma carta me esperava em minha casa e antes minha ansiedade viria e meus olhos poderiam voltar a esperar pelo amor que há em mim e que Anabelle levou consigo sem mais explicações. Aí vem o trem, com ponto temporal que traz um ponto pequeno de felicidade sonhada que será um mundo de vida quando puder vê-la.

( o trem para, Anabelle desce correndo e abraça o jovem )

- Meu coração quase parou durante todo este tempo que longe de ti estive. Meu sorriso é pequeno e meus olhos são detalhes ínfimos perto da magnitude da felicidade que sinto por poder abraçar-te, amor de meu coração e vida.

- Preciso de ti e todos esses dias lutei contra meu pai e todos seus vigias para conseguir enviar-te a carta e encontrar-te aqui.

( aparecem dois homens armados )

- Deixe a moça em paz, jovem imbecil. Teus olhos serão arrancados por minhas mãos se não a largares.

- Meu amor está comigo e não há homem nesse mundo capaz de separar-me dele. Ela me ama e eu lhe dei meu coração. Voltem para suas casas e vão em busca de um amor para si.

- Afaste-se, Anabelle. Teu pai nos deu ordem expressa de atirar nesse jovem sem vergonha se o encontrasse em tua presença.

- Digam a meu pai que irei com ele se ele se for.

- Vamos Anabelle, volte conosco e poupe o piso dessa estação do sangue sujo deste jovem.

- Nunca.

(um dos homens agarra Anabelle enquanto o outro aponta a arma na direção do jovem )

- Me prometas que nunca mais buscará estar na presença de Anabelle e pouparei tua existência de tamanha vergonha por morte em uma mísera estação de trem.

- Jamais desistirei daquela que é a dona de meu coração.

- Então adeus.

( atira no jovem que ainda consegue balbuciar algumas palavras )

- Pelo céu e pela terra, meu coração é teu, Anabelle.

( morre )

- Existe justiça em uma vida onde tenho o teu coração mas não podes ter o meu? Que justiça há em uma metade de amor que deixa de existir passando a ser brilho de estrela no céu azul de tristeza, agora e para o resto da vida, não só perceptível como radical. Meu coração dói, meu corpo dói. Sem tua presença, não serei nada.

( morre )

- Idiota ele por morrer por ela e ela por morrer por ele. Vivo só e jamais morreria por um amor que não fosse o que tenho por minha vida. Egoísta eu? Que um trovão desça dos céus sobre minha cabeça se estiver errado.

(um trovão desce dos céus e o homem é atingido,morrendo)

( todos os figurantes e o outro homem saem )


Cena III
( Michelle está trabalhando e o rapaz imundo chega correndo em sua direção )

- Não procures entender o que faço e só posso dizer-te que todo esse tempo em que tentas te aproximar foste afastada por meus pensamentos e presa distante de mim por minhas palavras pois minhas mágoas afogavam meu nariz e minha respiração terminava sem que pudesse dar a ti e a meu coração uma chance de amor. Perdoa minhas falhas e faça do amor que sei que tens por mim uma nova chance a meu despeçado coração que por ti haverá de bater.

- Nunca tive coragem de te dizer por não saber como ou porquê mas teu coração sempre bateu por mim e tua mágoa hoje deixará de existir.

- Não entendo o que queres me dizer com tão estranhas e incoerentes palavras.

- Esperas por alguém que somente vias em sua casa e que viste pela última vez na única vez em que o Sol pode tocar seu rosto e fazer de teus olhos porta de uma lembrança que nunca teve fim até hoje. Podes fazer de tuas lembranças um presente ainda melhor do que o sentimento de conforto que elas lhe traziam.

- Pela minha vida, não compreendo o que me dizes.

- Era eu que amavas. Sou eu quem tu amas. Tenho teu amor comigo e ainda deixei meu amor contigo, mesmo que com pequenas e curtas lembranças que o tempo tentou mas não conseguiu apagar.

( ele se ajoelha )

- Por que sumiste? Por que nunca me trouxe de volta à vida com a esperança de um dia rever-te? Tanto tempo te esperando e agora que pela primeira vez direciono meus olhos aos teus, vejo que és não só quem amei mas sim quem amo. A estranheza da explicação disso tudo deve ter chegado ao conhecimento daquele velho senhor que tinha todas a resposta absoluta sobre o amor e a vida. Não importa, não preciso de conhecimento quando meu coração volta a bater após anos e toda a sujeira de meu rosto e a indecência dos cortes de minha veste passa a não existir por sentir estar no céu, deitado em uma nuvem olhando para a obra mais perfeita que o Senhor dos Anjos criou.

- Minhas lágrimas podem correr agora que tenho certeza que viveste paralelamente ao tempo que desgasta e faz sumir. Eu só quero que saibas que estive longe tanto tempo e voltei irreconhecível pois...

( o jovem se levanta )

- Tua lembrança fez com que o tempo não existisse. Minha espera só foi possível porque o meu amor por ti é verdade, é dádiva, é absurdo para minha mente humana. Não quero que me expliques, não preciso de palavras quando tenho teu rosto frente meus olhos.

- Prometi aos céus e a meu coração que meus sonhos me fariam voar. Meu sonho é tua presença próxima a mim, teu amor em meu coração. Sonho e posso sim, voar.

( o rapaz segura a mão de Michelle, a beija e depois volta-se ao público )

- Há dramas incríveis e amores impossíveis. Há fé e descrença. Há vida e morte. As escolhas nos são dadas dia-pós-dia e a cada hora aceitamos e renunciamos coisas, caminhos, futuros. A cada um é dada a oportunidade de construir o futuro. A cada um é dado um amor e a busca por ele, sendo verdadeira e sincera, faz de uma vida aparentemente sem sentido uma vida cheia de vivacidade. Do banal de cada dia que vossos olhos enxergam, só o amor que é de verdade prevalece e supera tempo, distância, mágoas e, sabem os anjos se o que digo é verdade ou não, existência física. Obrigado por vossa atenção.

( olha nos olhos de Michelle, beija-a novamente.)

( as cortinas se fecham)

Fim.


*dentre mortes, dois sorrisos. Dentre eles, amor. Dentre o amor, a realidade. Dentre ela e o sonho, a verdade. Que grande loucura!

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Pedaços de um pensamento (11)


Um frio que corre do alto ao chão e traz sempre à tona uma necessidade, algo como uma certeza. No meio de tantas dúvidas secundárias, o que é primário torna-se detalhe oculto. O que sustenta mundanamente tudo isso vive em uma exaustão quase plena. Eu quero e eu posso estão cada vez mais distantes, um do outro e ambos de mim. Não sei. É só uma fase, só um momento, só uma dúvida. Que talvez nunca deixe de ser apenas uma dúvida, gigante como uma fortaleza de pedra. Fortaleza imponente distante de mim tanto quanto verbos de frases passadas. Algum dia deixei o coração em um lugar único. Tornaram-me cego e não pude mais vê-lo, pensei não tê-lo mais. Não sei onde e como está agora, se foi e está sendo bem cuidado. Eu não sei, mais uma coisa. Como tantas outras. Como tantos dias. Como tantos cansaços, fases, pensamentos e frases.

Como tantas pequenas mudanças que remetem a uma forma diferente de paciência, de confiança, de sinceridade. Sempre ao mesmo fim. Sempre às mesmas palmas das mesmas mãos.

Sem entender o momento, sorri.