segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Ano

Depois de tanto 'fim de ciclo', 'fim do mundo' e 'fim de ano', com os mais diversos - e alienados - discursos, só me resta escrever também sobre essa coisa, dita ano, que insistem em colocar como algo que existe, de fato, fisicamente, e não como o que é, apenas uma delimitação temporal.

Falando sério, qual a diferença, prática, entre o dia 31 de Dezembro e o 1 de Janeiro? Tirando que o segundo é feriado, mundial, não há diferença. O clima de marasmo, de folga, de nada, é o mesmo. E continua até... a volta ao trabalho sério, à rotina.

É preciso muita vontade para fazer uma análise de doze meses como um todo. Há períodos bons, ruins, ótimos e péssimos. Boas e más histórias para contar. Sorrisos e lágrimas, para lembrar e esquecer. E, se tudo isso for equilibrado em uma mesma análise, o bom e o ruim deixam de existir para haver um meio termo que, convenhamos, é irreal e não condiz com o que aconteceu. Nem para o bem, tampouco para o mal.

Então por que insistir em reflexões de final de ano, encerramento de ciclos e previsões para mais um ano. Ninguém percebeu, ainda, que isso não passa de uma grande ilusão? E nem ao menos consigo compreender a que essa ilusão leva.

Todo ano é ano de despedidas. De encerramentos. De começos e recomeços. De alegrias. De novas pessoas, ideias, sonhos. Todo ano tem tudo isso. Não há exceção pois o tempo é inconstante e, se num mesmo dia pode-se ir da depressão ao êxtase, como poderia haver uma constância em uma lista de trezentos e sessenta e cinco dias?

Não faz sentido continuar com isso. Com esse pensamento que exclui grande parte - aquela parte diária que ignoramos por dar pouco valor ao que é pequeno, simples e camuflado - deixamos grande parte de nós, selecionando o que nos convém. Pelo amor e pelo ódio.

Sem promessas de ano novo, retrospectiva de ano velho, fim de ciclo e começo de outro.

Isso precisa, e deve, ser diário. Ou pelo menos acontecer quando necessário. Seja no dia 10, 20 ou 30.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Sem

Estaria mentindo se colocasse como sinceras as palavras que trazem à tona um sentimento de alegria pela decisão, ao menos aparentemente, convicta de cortar o quase nada que ainda existia, tão somente por formalidade. Nem mesmo por ver que o tempo de indecisão passou e a convicção tornou-se uma virtude.

Se há alegria por isso, é insignificante diante da tristeza oriunda de todas as lembranças. Não há nada que possa ser pensado por outras pessoas. Nada aconteceu para que hoje alguém possa imaginar e fazer jorrar de si um sentimento que não passa de paranoia.

É só isso.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Pedaços de um pensamento (67)



Frente ao impalpável, toda ansiedade é natural. Aquilo que parece ser diferente de tudo o que já foi e, portanto, exagera em sensatez e tranquilidade, provavelmente é a melhor possibilidade – ao menos até hoje. Tudo o que possa vir a ser contratempo – temporal e espacial – não passa de mero formalismo do acaso, uma vez que nada pode ser, de fato, simples, fácil e, portanto, perfeito – como muitos imaginam em um mundo onde é buscado o ideal mas contenta-se com apenas o casual.

Quem dera fosse tão simples, sair daqui e ir para aí, simplesmente porque parece ser a melhor de todas as decisões. Aceito isso, todo e qualquer sacrifício feito para concretizar, dia após dia, essa decisão não é, de fato, um sacrifício que venha a exigir mais do que se pode – e há muito tempo se quer – dar. Porque não há nada que consiga convencer que, por razões e sensações – e por também, muito provavelmente um dia, sentimentos – definir agora pode revelar-se um erro, num futuro incontável.

Por falta de explicação clara, e breve, fica evidente a ausência completa de noção quanto a todo o contexto que envolve o, dito anteriormente, impalpável, ainda mais em se tratando de algo que vem contrapor, por possível consequência, o que até há pouco era a única forma visível – e muito visível – de encontrar uma resolução para toda essa problemática procura.

Tem-se então que, por hora, a sinceridade leva a não dizer nada além do que as sensações promovem. Não por não haver nada além e sim por questão de respeito – o que, portanto, demonstra zelo por algo que nem ainda concreto é – e, então, vê-se facilmente uma frente de caráter que torna, ainda mais interessante e tranquila, a vontade e escolha, nessa ordem – obviamente em potencial – que não tem como origem a mesma escolha, decisão e vontade – que por ora, insisto, ainda não passam de sensações por não deverem fazê-lo – que partem de mim.

Fica claro, também, que todas as possibilidades, hoje, são conduzidas por mãos que visam a segurança e tudo aquilo que, no fim, sempre foi o alvo – embora nunca – salvo uma exceção duradoura e, logicamente, não concreta – tenha sido levado em conta por ter deixado sensação transformar-se em sentimento antes mesmo da razão ter compreendido que era, de fato, a decisão certa.

É preciso ter consciência, e levar em conta não só o que se pode receber como também o que se pode oferecer, mesmo para pular de um precipício. A sensação da queda não pode ser sentida sem que o corpo esteja em movimento livre pela ação da gravidade e a consequência disso, inevitável, não deve ser relevada antes do passo ao nada ter sido dado. Onde entram os outros, aqui?

Simples, eles não entram. A sensação como primária antes da razão – e sua imutável condição que o impedem de transformar-se em algo maior, como um sentimento – subjuga tudo o que vem em torno por ação do egoísmo. É como se nada fosse oferecido a alguém não por não ter o que oferecer, porém por preferir ter algo para si antes mesmo de dar algo a alguém.

E esse sempre foi o erro.

Talvez para chegar até aqui, pois se antes fosse descoberto, toda história aqui não existiria. Certamente por não ter ainda consciência de tudo o que está em volta. Mesmo porque, pulando do precipício ainda posso esmagar algum animal que lá no fundo esteja passando. E o que está a minha volta, então, terá sido prejudicado.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

É só um som

Tão somente um som ao fundo.

E nada mais parecia existir.

Nem o que os olhos viam.

A pele sentia.

E o nariz aspirava.

Nem mesmo o que a mente poderia criar, transformar.

Nada disso existia, de fato.

Além daquele som, é claro.

A poesia que outrora surgia, não vinha.

Teria morrido ou estava só escondida?

Tanto fazia, ia, nada dizia tampouco esquecia.

Daquele som.

Acordes simples, sem rimas musicais ou verbais.

Só uma melodia.

Som.

E tudo o que mais havia, não havia.

Tristes lembranças, sonhos alegres, desejos sinceros.

Nada disso.

Apenas um soneto.

Um singelo momento em que curtos e longos acordes misturavam-se.

Como poesia.

Sem letra.

Nem forma.

Apenas som.

Era tudo o que tinha, ali.

Naquele instante.

Apenas o som.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Pedaços de um pensamento (66)

As pessoas, em sua maioria absoluta - exclui-se aqui, apenas, os deprimidos e autoflagelados por gosto - detestam e, sempre que possível, tornam suas decepções, sejam quais forem, a pior coisa do mundo. Também porque é mania entre seres dessa sociedade rotular tudo - e aqui é difícil achar uma exceção - como 'o melhor' ou 'o pior'. Deixando, então, fora de cogitação o meio termo, o equilíbrio e coisas antiquadas como sensatez, ponderação e... já pode ser entendido.

Chamem a mim de maluco - e o nome do blog dá o devido embasamento para tal - mas, sem receio ou autodepreciação, tenho de dizer que gosto dessa coisa de decepção. Talvez grande parte disso venha por já ter passado por tantas, de magnitudes tão amplas, que acaba sendo até divertido lembrar de algumas e passar por outras que lembram as de outrora. Sejam quais forem, por quais motivos ou etc.

Acho engraçado esse processo de decepção, lamentação, perdão - porque sem ele o processo não é completo e, portanto, não há grande valor em si - , pensamentos longínquos e mais lamentação, aceitação e tristeza, lembrança nostálgica até o recomeço como se nada tivesse acontecido. É longo, demorado e, muitas vezes, não acrescenta nada porque, além do perdão, falta um desejo sincero de seguir em frente. Porém é necessário para crescimento, inevitável por sermos humanos sentimentalistas - excluam desse grupo, por favor, os banais - e engraçado, sim, porque algum tempo depois sempre há o 'como posso ter ficado tão mal com tamanha bobagem ( ou por determinada pessoa)'.

É fato, pato. Eu acho graça nisso.

Não gosto do sofrimento, gosto do processo num todo, isso é bem diferente. Gostar do sofrimento é repetir escolhas erradas, a cada dia, julgando ser, ainda assim, o melhor para si. É menosprezar o próprio valor, deixando de lado uma vida toda para manter algo que não possui. 

Exatamente assim. Isso sempre tem um fim, triste, doloroso, ainda mais quando repetido várias vezes por escolha própria. Cada vez pior mais porém sempre acaba havendo uma nova chance pelo desejo insano de que 'dessa vez' seja diferente. 'E vai ser'. Hahaha.

Chega.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Pedaços de um pensamento (65)

Todas as minhas palavras tem sido pesadas, tristes, grandes e, em certo ponto, profundas lamentações. No final, não passam de consequências das inúmeras tempestades que vem caindo sobre a minha cabeça - e, consequentemente, sobre todo o resto de mim. Difícil tem sido suportar tudo isso de cabeça erguida, e Deus sabe que tenho tentado deixar de lado, na maior - em absoluto - parte das vezes, a minha vontade para fazer o que está de acordo com Sua sabedoria.

E então? Tem dado certo.

Toda tempestade é consequência de extremismos climáticos. A física, através da meteorologia ou algo assim, explica bem isso e, portanto, não cabe a mim palavras mais profundas do que essas. Esse poço raso usado para falar de clima - uma vez que tempo é o estado em momento específico e blá blá de nerd - cai bem como oposto para aquilo que tem vindo após as tempestades. Essas, vem e voltam. Aqueles poços aparecem, cada vez em menor número e, portanto, pode-se concluir que o calor fez evaporar toda essa água - que não é muita, mas permite a existência de barro, e nós sabemos o que o barro faz com roupas e corpo - ou, na pior das hipóteses, eles tem rareado por conta do uso do terreno.

Não é a mesma coisa jogar em um campo de terra e em um campo de grama. Tanto em dias chuvosos como em dias secos, se é que você, que provavelmente não gosta de futebol, conseguiu entender a analogia.

A dificuldade que a tempestade traz é momentânea porém não é esse estado passageiro - que nem sempre é rápido aos olhos - que tira a necessidade de uma melhor preparação do campo de jogo. Plantar grama, nesse caso, é um cuidado requerido para quem quer ter condições de jogar um melhor futebol e poder jogá-lo mesmo com chuva - pois a formação de poças d'água é dificultada pela drenagem e mais blá blá técnico/teórico.

Os últimos dias tem sido de intensas, mesmo que breves, tempestades.

Entretanto hoje está calmo. Não vejo poças d'água que remetem às tempestades. O céu é azul, os pássaros voam (e cantam) e os meus pensamentos conseguiram trazer de volta algo que é dado como perdido, por mim, há tempos.

Confiança.

Não de que tudo está certo, não há mais chances de tempestades e blá blá blá's atrapalharem tudo - e tem atrapalhado tudo mesmo. A certeza quanto à preparação é motivo de tranquilidade para pensar, refletir e, quem sabe, decidir.

Quanto ao que foge das minhas mãos, às escolhas que dependem de palavras não-minhas, estou tranquilo. Quanto às ações que dependem exclusivamente de mim, também.

Ninguém confia em quem não inspira confiança. Poucos confiam em pessoas, ou situações, que não passam tranquilidade. Somente os ingênuos confiam em quem já lhes decepcionou profundamente - e por motivos estúpidos e egoístas.

A cada dia aprendo, mais, a confiar na Verdade. Na Justiça. No Amor.

Estou tranquilo porque confio Naquele que jamais decepcionou.

No Deus que jamais decepciona.

"...No dia em que o Senhor enfaixar 
as feridas do seu povo e lhe curar as chagas, 
a Lua vai brilhar como o Sol, 
e o brilho do Sol será sete vezes maior, 
como o brilho de sete dias reunidos"

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Pedaços de um pensamento (64)


Disse-me alguém, em um dia que tentarei esquecer depois disso, que "você pode colocar um jaleco em um jumento que ele nunca será um médico, ou enfermeiro, ou dentista. Será sempre um jumento". À princípio, levado pelo impulso de sensos nobres, inocentes, puros, coloquei-me contra isso, para situações reais que originaram essa analogia. É claro que não acho que um jumento vestindo jaleco algum dia será um médico, que isso fique bem explícito, também. A frase veio para figurar algo que... ah, se veio figurar é óbvio que era algo real.

No entanto, a frase não foi bem essa. Embora o dia eu comece a querer esquecer, sim.

A frase, entretanto, torna-se verdadeira para uma enormidade de coisas. De situações. E, claro, de pessoas. Jamais será regra - e Deus é muito bom por impedir que isso torne-se regra - apesar de já ser quase maioria.

Enquanto alguns poucos, como eu, tentam encontrar a novidade à partir do reencontro com a essência, outros insistem em mudar o bar, mas não a bebida. Mudar o desenho da roupa e não o que ela representa. Mudar as escolhas, sempre escolhendo a mesma coisa.

Só que em tempo diferente. Por razões diferentes. Acreditando que a diferença no ponteiro do relógio vai fazer alguma diferença na escolha em si, que é sempre a mesma.

Agora você entende por que o jaleco no burro, certo?

É sempre a mesma escolha, sempre uma nova esperança de que tudo mude por novos - supostos - motivos que, no final das contas, são sempre a mesma maçã, podre de tanto ser apalpada pela mesma pessoa na feira. Ou... chega de exemplos.

Você pode tentar mil vezes atirar uma pedra para cima e esperar que ela não desça. Ela sempre descerá. É lei da existência física dos corpos. Nada vai mudar isso.

Ou você pode fazer uma nova escolha, sem levar em conta as gotas doce do café amargo que, volta e meia - quase sempre - fazem-lhe beber sempre a mesma porcaria de café amargo, frio e que só te dá dor de barriga.

Por gotas de adoçante você beberia um café amargo, horrível? Vale tanto a pena assim essa sensação, curta e momentânea, de que é o melhor café do mundo, quando bem sabemos - sim, todos sabemos - que essa sensação não é nada se comparada com todo o resto, que por si só é uma porcaria?

Vale mesmo?

Eu acho que não. E não sou burro ao ponto de tomar sempre a mesma porcaria só por achar bom o gosto das três ou quatro gotas de adoçante daquele troço amargo e frio que você insiste em chamar de bom café.

Adoçante no café amargo, jaleco no burro, enfim, não dá para ser mais claro do que isso.

Certas coisas não mudam mas, quando são escolhas, são livres. Porque há liberdade para todos aqueles que querem deixar de lado o vício e recomeçar.

Apesar de não acreditar muito, ao menos não com tanto quanto antes, em abandono de vícios e mesmos erros, ainda insisto em pensar que é possível, sim, voltar-se à Verdade, buscar a essência e encontrar a si, pura e simplesmente.

É preciso querer. Ter coragem. E lutar.

Sem recair nas gotas de adoçante.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Histórias do Bandiolo - A visão do saber

- Eu sei que ele sabe.

- Ele sabe?

- Sim!

- O que?

- Que eu sei?

- E o que você sabe?

- Que ele sabe.

- Não, o que você sabe que ele sabe que você sabe?

- Ãhn, repete.

- Você disse que ele sabe que você sabe alguma coisa, o que você sabe?

- Além de que eu sei que ele sabe?

- Sim.

- Eu sei.

- Como?

- Porque ele me olhou, e isso confirmou. Tentou disfarçar mas sabe que eu sei.

- O que?

- Que ele sabe que eu sei.

- Por que você sabe?

- Porque eu sei.

- Como?

- Eu vi.

- Viu?

- Sim, eu vi.

- Então você sabe mesmo.

- Sim, eu sei.

- O que?

- Que ele sabe que eu sei.

- O que?

- Eu vi. Ele viu. Só você não viu. Você e o tiozinho do espetinho.

- Então eu não sei mesmo?

- Se você não viu, você não sabe.

- Então não sei o que você sabe.

- Não sabe mesmo o que eu sei.

- Então conta, o que você sabe?

- Que aquele carinha tentou disfarçar o chute que deu no meio-fio quando tentou subir a calçada.

- SÓ isso?

- E precisava mais? Ele sabia que eu sabia. Tentou disfarçar, fingir que nada tinha acontecido mas... ele me viu. Ele sabia que eu sabia.

- E que você tinha visto.

- Exato.

- Pois é.

- Simples assim.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O vazio de viver e só (34)


Até quando será assim? Pode me dizer? Dia sim e outro também, essa coisa que vem e vai. Mais vem do que vai. Diariamente. Sabe quando isso termina? Ou pelo menos quando se transforma em algo que permite-me fazer coisa qualquer sem qualquer hesitação por falta de tudo?

Não sabe quando vou conseguir ser capaz o suficiente para sequer pensar no que isso, de fato, é?

Todas as respostas são negativas quando, por qualquer motivo, não existem respostas. O consentimento, nesse caso, deixa tudo comodamente inerte, sem qualquer perspectiva de tornar-se algo diferente do que é. E, pelo fato de não ser, declaradamente, coisa qualquer, o nada não pode transformar-se. Porque, em si, ele não existe, é ausência completa de, enfim, você não está no jardim de infância.

Sinto como se estivesse a ponto de, sei lá, mudar tudo isso que está acontecendo. Aí lembro daquela história do nada, da inércia e, comodamente, volto para o meu transtorno diário.

Opa, uma palavra que ajuda a definir: transtorno.

O dicionário diga o que quiser sobre, porque isso é, sem dúvida, um transtorno que tira a paciência, impede que a tranquilidade exista naquele negócio chamado mente, que o sorriso se manifeste e que o coração - coitado desse - pulse em paz.

É pesado, é cansativo, é desgastante, é irritante, perturbador. E muito mais.

Qualquer tristeza, aqui, não é coincidência, redundância ou novidade. A diferença é que nunca, nunca mesmo, fez tanta diferença estar parado, cansado, triste e sei lá mais o que.

Todo o resto desaba junto. A reconstrução que estava sendo feita voltou à estaca zero.

E ninguém sabe como, quando, onde, por que.

Ninguém sabe qualquer resposta.

*e isso tudo é deprimente

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Pedaços de um pensamento (63)


Há um limite, sempre há um limite. Para o que quer que você faça, queira, sonhe, para tudo o que possa vir de encontro. Há limite para uma amizade, para uma dor, para a paciência - sendo que esse limite poucos consideram, uma vez que vivem como se o superassem a cada instante -, tolerância, entendimento. O infinito é muito bonito - e inútil - na matemática, talvez na física. Infinitas vezes você mistura água com um tang e infinitas vezes terá um suco, doce, artificial. A falta de limites, aqui, existe por ser impossível contrariar a lógica, sensata ou não, da existência como um todo. O tempo, por si só, pode fazer com que limites que fogem desse contexto meramente palpável e visível sejam superados, aumentados ou, na pior das hipóteses, reduzidos. Quanto mais se tem, menos se tem, já diria um filósofo sobre queijo suíço. A questão é que, para algumas coisas, o limite inexiste quando há, por trás de pontos específicos, algo que, quando limitado, perde o valor. O amor, por si só, é limitado e traz consigo complicações inúmeras. Porém, somente quando é limitado. O amor, e o ato de amar, devem sempre superar qualquer limite. Porque, afinal de contas, em algum lugar da história, o Filho superou todos - em absoluto - os limites. E só o fez para que não houvesse mais limitação alguma entre nós e o Amor. Se não há limite para o amor que desce sobre mim, por que haveria limite para o amor que eu sinto?

domingo, 2 de dezembro de 2012

São só palavras estúpidas.

Tanto faz se algum dos envolvidos na história chegar - por algum acaso do inacreditável e inconstante "ser", criado por homens, chamado destino - a ler isso aqui. Estou tão preocupado com isso quanto uma criança está preocupada com a saúde financeira dos pais nos dias que antecedem o seu aniversário.

O engraçado acaba sendo que as noites mal dormidas pouco poder tem de influenciar quaisquer palavras. Não é por estar bêbado, drogado ou com MUITO sono que estou aqui, escrevendo. Não preciso de nada disso e daquilo para ser sincero. E também não faz diferença citar nomes. Afinal de contas, ninguém está mesmo preocupado em ter feito parte disso ou não. A curiosidade, aqui, fica como brinde pela perda de tempo que... deixa pra lá.

Lembro-me de, anos atrás, ter ouvido quatro pessoas dizerem a seguinte frase, dois pontos, espaço, abre aspas

Ah, eu não tenho dúvidas de que quero fazer faculdade de medicina (ponto, espaço, etc)

Naquele tempo a revolta era grande e a raiva maior ainda. É provável que qualquer ambição futura fosse levar minha mente a pensar "malditos fracassados, vão apodrecer...". O final da frase é um tanto quanto preconceituoso, então deixa pra lá, haverá sempre um politicamente correto moralista e hipócrita para tecer alguma crítica, ponto.

O que acontece é que essas quatro pessoas, além de medíocres e miseráveis rascunhos ilegíveis, eram pseudo estudantes, sem hífen por vontade própria. Sabe aquele tipo de gente que passa anos com você no mesmo lugar e, quando você percebe que nunca mais verá, pensa algo como "hum, e?".

Indiferença, era isso que existia - por motivos diversos - e não existe mais por falta de necessidade e crescimento pessoal, propriamente dito. Tanto faz, ainda, porém agora sem indiferença.

Duvido que alguém tenha levado esse projeto em frente. Eram fracassados e serão sempre fracassados - exceto por uma mudança drástica de... TUDO. Veja bem, não estou, sobre hipótese alguma, querendo dizer que sou um vencedor e tal. Pode ser até que venham a receber salários maiores e obtenham, com alguma surpresa ABSURDA desse troço chamado 'vida', um grande sucesso profissional mas... nunca, quer saber, deixa pra lá.

Eles queriam o que não tinham capacidade de ter. Tenho certeza de que você conhece pessoas iguais, que não sabem fazer multiplicação de dois dígitos mentalmente mas querem acertar 85% de uma prova de vestibular em alguma grande universidade bem conceituada.

É obra do acaso que algum consiga. Geralmente não conseguem, voltam para o conforto de seus lares, casas luxuosas sustentadas por pais trabalhadores que não tem consciência dos pequenos, na verdade gigantes, pesos inúteis para a sociedade que carregam.

Há rancor em todas essas palavras. Há raiva. Mas não há mais mágoa. E a história do crescimento pessoal, do perdão e da caridade existe sim, de fato. O que não impede, de modo algum, que tenha uma recaída e use de uma sinceridade escrota para dizer que, onde quer que estejam, não são nada do que um dia sonharam ser.

Por falta de capacidade, de vontade, não sei.

O que não faltou - e por isso agradeço - foi justiça.

Essa não falha.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Retratos de uma sociedade patética (11)

Em primeiro lugar, que não apareça algum falso moralista por aqui porque não há motivos para moralismo. A ironia é uma forma de expressar algum tipo de indignação e não de preconceito. Logo, se quer encontrar algo para incomodar-se, vá até um gramado e coce as costas com um pedaço de urtiga. Dito isso, segue.

Depois de muito ouvir, ler e, claro, vomitar sobre a tal da 'não orientação' infantil, resolvi manifestar minha opinião do meu jeito. Sincero e irônico, uma vez que não devo satisfações a nenhum ser meramente mundano. Não sou, de forma alguma, um preconceituoso de qualquer tipo, racista, homofóbico ou social. Minto, sou um preconceituoso contra a modinha estúpida do politicamente correto, que é uma afronta ao respeito e ao bom senso. De qualquer forma, os elementos desse grupo são desprezíveis por todas as infantilidades egocêntricas e sensacionalistas. Quem já foi alvo de seus tiros infundados certamente detesta, como eu, esse tipo. Entretanto, não é um grupo consolidado, que faz passeatas, tem cotas em universidades, etc. Logo, é um grupo desprezível nesse caso. E você que está lendo, provavelmente, não faz parte dele. Você é mais inteligente do que isso.

Voltando ao assunto da não orientação, fui além da minha capacidade imaginativa e pensei anos a frente. Com meus filhos em idades diferentes.

Atestam alguns, membros desse grupo sensacionalista autoritário que parece - e exclusivamente parece - defensor dos direitos de alguma coisa, e diz que 'é preciso deixar a criança livre para ser o que quiser.

Esquecendo detalhes que, aqui, não fazem qualquer diferença, vou chegar para meus filhos e dizer algo como:

"Vocês não precisam ser menino ou menina." - Poderia ter, claro, um "Não precisam ser descendentes de descendentes de italianos(como eu) e, se quiserem, não precisam ser nem meus filhos ou pensar, ou comer ou, sei lá, abrir os olhos", mas isso é o de menos.

A linha de raciocínio que a tal liberdade desse povinho prega é por aí, embora pareça - e mais uma vez apenas pareça - estar concentrada apenas na orientação sexual.

Essa gente não pensou - e se pensou não admite que o fez - na possibilidade dos seus filhos ouvirem isso. E, se pensaram, não se deram conta que não há liberdade alguma em dizer 'NÃO precisa ser tá tá tá'. Indução maior do que essa só se encontra naquele terrorismo psicológico do 'então coloca a mão na água fervendo para ver o que acontece'. Se a criança não sabe que algo fervendo queima, independentemente da forma que possa ter aprendido, ela enfia a mão ali por curiosidade e porque - isso aquele povinho não quer admitir ou não é capaz de concluir - foi induzida, diretamente, a isso. Criança alguma conhece ironia, sarcasmo ou hipérbole.

Você diz que é o Homem Aranha e ela vai vigiar-lhe o dia inteiro para vê-lo em ação.

Por que, então, coloca a negação antes da sua natureza não seria uma indução? A psicologia não quer admitir, mas é um atentado indireto dizer 'NÃO precisa ser isso'. Nesse caso, é a mesma coisa que dizer 'não SEJA isso'. E você sabe bem que crianças entendem o mundo literalmente - e por isso são criaturas adoráveis e irritantes simultaneamente.

Grite para uma porta 'seja uma janela' e nada acontecerá. Diga para uma criança 'você não deve comer com as mãos sujas' e ela nada fará enquanto não passar muito mal e lhe explicarem que foi por aquilo que isso aconteceu. Embora ela vá repetir o processo algumas vezes até assimilar bem, mas isso não vem ao caso.

"Filho, você não precisa ser menino como todos os meninos que parecem com você são(mais uma contradição). Você pode ser o que quiser, eu lhe dou liberdade para isso".

Pense bem, você acha mesmo que a criança não é capaz de dizer: "Então quero ser um peixinho colorido!"

Será que não?

O que essa gente fará quando ouvir essa frase de um filho? Irá jogar ele no aquário e alimentar ele com pedacinhos de pão?

Ah, façam-me um favor e acertem suas cabeças em uma porta, porém com força. Quem sabe assim as ideias voltem para o lugar. 

Ou tenhamos uma cabeça oca a menos no mundo.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Histórias de uma vida não vivida (52)


*Fez promessas que sabia bem ser incapaz de cumprir. Ninguém no mundo - ao menos não humano - seria capaz de ir até o fim para com tudo. Disse, algum dia, que todo amor morre se viver apenas por si. A amizade é uma forma de amor e, portanto, quando por si, morre também. Suas palavras não eram pensadas, eram impulsivas. Falava o que estava sentindo, jamais pensaria que aquilo algum dia pudesse deixar de ser. O quase tocava seu rosto e acariciava-o como uma mãe demonstrando amor pelos filhos. Então o acaso vem e derruba. O quase, o amor... e a promessa. Não estava mentindo, de forma alguma. Apenas não compreendeu que por si, assim como o amor, o ato de amar não sobrevive. Em algum momento, cedo ou tarde, é necessário muito mais do que existir amor ou mesmo amar. É preciso cuidar. E é preciso deixar que Alguém cuide.

Eram duas da tarde e as nuvens tornavam o céu um quadro pintado pelo maior dos artistas terrenos. Aliás, nenhum deles conseguiria retratar aquilo. Divina criação, o azul claro e o branco intenso das nuvens destacavam-se de todo o resto. A montanha, aquela em que ninguém mais prestava atenção, dava à paisagem um toque terreno porém não menos incrível, mesmo que não houvesse uma árvore visível lá. Aquele, dito, troço marrom, trazia para perto um pouco do inalcançável do céu.

Dentre toda essa natureza, o contraste entre o impossível azul claro e o palpável marrom era, literalmente, uma grande analogia para o dono das mãos estaladoras de dedos. Parecia haver algo errado naquelas articulações, ele não parava um instante sequer com aquele 'tec tec' de dedos a estalar. Quando conheciam-no, antes mesmo do nome, perguntavam:

- Por que você não para de fazer isso? - sobre aquilo.

Não tinha resposta para a pergunta. Gostava daquilo. Tec tec tec. Esperando o ônibus. Tec tec. Lendo jornal. Tec tec. Esperando a fila do supermercado. Tec tec tec. Ouvindo um amigo falando sobre o futebol do final de semana. Tec tec. Ajudando sua mãe a lavar a louça. Tec tec. Tomando banho. Tec. E mais nada somente quando ela chegava perto dele, na sala de aula.

Ah, sim, não era sempre que estalava os dedos. Quando ela, sim, ELA entrava na sala, seus dedos paravam, como por encanto. O barulho de suas mãos era substituído pelo do coração. Felizmente ninguém mais tinha a capacidade de ouvi-lo batendo ensandecidamente. Ou será que alguém era capaz de sair do seu mundinho para escutá-lo, mentalmente? Claro que não. E, que diferença fazia, não conseguia abrir a boca para nada. Só sabia resmungar algum 'sim' ou 'claro' ou ainda, a palavra símbolo dos tímidos: 'aham'. Olhando para o chão e resmungando, claro.

Não que fosse novidade para alguém. Seus dedos inquietos eram a prova disso mas por que, então, ela... o que ela deveria fazer? Dizer algo como:

- Já reparei que você para de estalar os dedos quando estou chegando. Amo você, podemos conversar sobre o nosso futuro juntos?

Ou o clássico.

- Sim, eu também amo você. - mesmo que ele nada tivesse dito e, após isso, certamente enterraria a cabeça no chão.

Seus colegas insistiam que deveria falar com ela. Ele queria entretanto, né, pois é, não sabia como explicar. Era uma coisa de costume, entende? De criação, sabe? No fundo, sabia que suas desculpas eram mera covardia. Não julgava-se a pior pessoa do mundo, embora soubesse que seu hábito de comemorar, muito, no episódio em que o Tom finalmente captura o Jerry o impedisse de ser uma boa pessoa, em si. Ele era um covarde miserável, tinha medo de dizer para a atendente do supermercado que ela havia dado-lhe o troco errado. De tomar a frente na fila do ônibus mesmo quando estava carregando seis livros na mochila.

Enfim, agora vocês entendem o porquê do tique nervoso com os dedos, certo? Claro que faz sentido, não existiria outra razão para tal. E esse tec tec só parava porque ela era... ela. Daquele jeito que nenhuma outra pessoa conseguia ser. Mesmo que pouco conversassem, as palavras dela não saiam da cabeça dele. Ele lembrava como ela mexia os lábios para pronunciar 'legal'. Daquele jeito que só ela conseguia. E a simpatia, a alegria, o jeito espontâneo de atirar uma bolinha de papel no lixo e vibrar como se fosse a cesta do campeonato, o sorriso, o olhar carinhoso.

Estava cansado de tudo aquilo mas não sabia como reagir. Pensava, ensaiava e, até mesmo, treinava com suas amigas o que poderia falar quando estivesse perto dela e, na hora, claro, amarelava. Era um bobão. Um cagalhão, com o perdão do termo e da rima. Miserável sentia-se quando nem sequer olhar em nos olhos dela conseguia. Tinha medo. De que ela soubesse - o que provavelmente já sabia - pelo seu olhar de... apaixonado.

Desgraçada paixão. Desgraçado medroso.

Era mais fácil puxar uma bigorna atada nas orelhas do que dizer para uma colega que estava apaixonado por ela e que, por isso, conseguia superar seu tique nervoso.Aquilo precisaria acabar. Ah não, suas orelhas ainda não eram fortes o suficiente para puxar uma bigorna. Seu medo do nada teria de ser superado. Nem que fosse para que parasse de perder tempo inventando desculpas para quando perguntado sobre a razão de ainda não ter demonstrado aquilo que sentia.

Que ela o ignorasse, o chamasse de idiota, de bobalhão, de lunático, de maníaco pervertido, de qualquer coisa, que batesse nele com um estojo, com uma mochila, com um apagador ou mesmo com uma cadeira. Ela tinha de saber, por ele mesmo, o que já sabia pelos outros - e pelos seus dedos quietos em sua presença.

Iria declarar-se. Mesmo que, se por algum milagre absurdo e inimaginável, ela dissesse que sentia o mesmo, eles namorassem por uma semana e depois nunca mais olhassem um no rosto do outro. Mesmo que, depois de acertarem os detalhes - de alguma coisa - ele voltasse a estalar os dedos na presença dela e, portanto, o fogo da paixão fosse apagado pela água do descaso, da rotina ou da indiferença.

Ele iria declarar-se. Abriria seu coração e lhe diria o que ela (provavelmente) já sabia, só que por sua própria voz. Prometera até mesmo parar de estalar os dedos de uma vez por todas se conseguisse ao menos dizer a ela o quando estava apaixonado e todas aquelas coisas que somente uma pessoa nesse estado (deplorável) é capaz de expressar.

Na manhã seguinte, ela entrou na sala. Ele parou de estalar os dedos. Ele levantou-se e foi até ela.

Abriu a boca para falar mas ela o interrompeu:

- Bom dia! Você parou de estalar os dedos?! Que bom, já não aguentava mais esse tec tec chato. Você é bem querido mas esse barulho era irritante mesmo.

Desolado, machucado, derrotado, humilhado, decepcionado, inconsolável e destruído num todo, ele respondeu, ou melhor, resmungou apenas:

- Aham.

E estalou o mindinho esquerdo.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O vazio de viver e só (33) - Não sentir


Um amigo disse a mim, hoje:

"Me fala do que faz você feliz, não da sua rotina."

Não sei como pode ser tão difícil falar do que me faz feliz. De quem me faz feliz. Acho que, depois de tantas coisas, de tantas vezes em que a felicidade disse-me: "Entre!" e logo após fechou a porta, com alguma violência, na minha cara, fica difícil definir alguma coisa.

Jamais considerei-me infeliz. E jamais pensarei assim. Minha família é incrível, meus amigos são leais, meu grupo de oração é bom, Deus me ama e a cada dia permite-me viver. Senti-me, várias vezes, injustiçado por ter 'apenas' isso. A maturidade, e o crescimento também na fé, trouxeram isso abaixo, como grande bobagem.

Porém, é certo também - e Deus, em sua infinita sabedoria sabe, sem dúvidas - que faltam duas coisas, grandes, e duas pequenas para que eu consiga manter naturalmente um sorriso espontâneo no rosto. Discordo de quem disse que 'infelicidade é hereditário' - acredite ou não, alguém disse isso. Acho que isso é uma desculpa de um cientista cômodo e com complexo de inferioridade. 

E quem lê este troço dito blog sabe que posso falar com propriedade do complexo de inferioridade, ou síndrome de patinho feio. haha.

É paradoxal, porém muito poético, dizer que foi perdido aquilo que não se tinha. Por vezes tenho pensado assim - o que, felizmente, não faz de mim um poeta - só que isso nada quer dizer. Muito parece fugir mesmo, em algum momento, tendo estado tão perto. Não acho que tenha forças para, hoje, passar por cima de toda ansiedade e de todos os pequenos - e superáveis em momentos de tranquilidade - medos que tiram a concentração e a chamada 'paz de espírito'.

Estou cansado de ter de conformar-me com as coisas, ausências e portas na cara. Talvez ninguém entenda isso, mas é uma verdade.

Ainda não consegui voltar a escrever como algum dia escrevi. Não sinto vontade de fazer qualquer tipo de criação. Não tenho concentração para coisa alguma - ainda mais agora. O futuro, profissionalmente falando, é um ponto de interrogação, apenas - e isso é muita coisa.

Sem contar a incerteza. Aquela lá.

Pequenas e insignificantes coisas são aquelas. Essa última, é gigante, vem de um sentimento sincero, de uma vontade enorme de ser e deixar ser, de proporcionar, auxiliar, de amar. Pode parecer pouco para quem vê de fora, mas para quem não consegue mais achar meios de lidar com isso tudo, ao mesmo tempo, não é.

Jamais definir-me-ei como infeliz. Dei bons motivos para rechaçar isso.

Isso, entretanto, não tira de mim a possibilidade de escrever que não consigo sentir felicidade.

Infelizmente, com exceção de momentos, curtos ou longos, já faz algum tempo.

Talvez seja só um modo de ouvir, do Criador, que é preciso ir além e ter mais paciência do que qualquer outro ser. E isso está sendo difícil.

Porém, amém, Senhor.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Histórias do Billi J. - Uma lembrança, nenhuma saudade. Vida nova.

"Caro amigo!

A quantas andam suas insanidades? Se da mesma forma que as minhas, só tenho a lamentar, embora duvide que possa estar acontecendo tamanha confusão ao amigo quanto acontece comigo. Pois bem.

Lembra-se que relatei algumas das minhas consultas à psiquiatra? Então, foram várias consultas e ela não conseguiu fazer nada por mim. Pudera, somente Deus, em dia de excepcional e pontual genialidade, poderia interferir no meu livre-arbítrio e tomar uma decisão que somente eu tenho o poder de decidir.

Agora sim.

Dias atrás, fui a um estádio de futebol aqui da cidade e... bah, saí com uma sensação estranha de lá. Ter ido lá e visto um menino tirando uma foto do jogo em questão - eram uns amadores locais, fui porque gosto de jogos excêntricos e você sabe disso - trouxe à tona uma lembrança longínqua...

... em que a Renata estava presente. Acho que não te contei da vez que fui para Londres com ela, né? Não que tenha ficado triste ou com aquele clima de depressão mas... foi estranho lembrar porque... faz tanto tempo. Porque foram tão bons aqueles anos. Passado. Que voltou à lembrança. Só isso.

Tínhamos ido para Londres viajar. Ela conhecia tudo afinal morou anos lá. Então fomos aos pontos turísticos, que ela já conhecia e contou-me várias histórias - e você sabe Vini que eu sou apaixonado por histórias culturais - sobre os mesmos, e tal, sobre o costume do povo, do país em si, etc.

Até que ela, em algum momento, perguntou se havia algum estádio em especial que eu gostaria de conhecer.

Aí o coração balançou, você sabe bem por que.

Meu sonho sempre foi visitar aquele estádio clássico, pequeno porém acolhedor. Sim, o Craven Cottage do Fulham! Háaaaaa, nunca te contei isso? É fantástico aquele lugar, ainda mais estando embaixo daquela cobertura super clássica. O time é fraco, dificilmente fica entre os 10 do campeonato mas, não importava, meu sonho de estar lá tinha se realizado.

Claro que eu quis uma foto. Claro, também, que quis a Renata comigo na foto. Olhei, olhei e não achei um lugar bom para tirar uma foto com ela usando o timer. Porque, né, foto de muito perto não pegaria muita coisa do estádio. Então resolvi pedir, educadamente, que alguém tirasse a tal foto. Olhei para os lados e só vi um menino.

Então, né. Se não tinha outro, que fosse um pirralho.

Perguntei se sabia mexer na câmera, disse para ter cuidado e até como deveria tirar a foto. Ele disse 'ok' para todas as minhas frases. Deixei a câmera com ele e fui até a Renata para posarmos para a foto. Parece bisonho isso e, bom, foi mesmo bisonho essa de 'posar para foto' mas... era o Craven Cottage. Clássico!

Quando disse para o pirralho 'ok!', ele saiu correndo com a minha câmera. Sem tirar a foto, óbvio.

Eu estava cheio de roupas, porque né, faz frio demais em Londres, ainda mais no inverno. Então comecei a subir os degraus como podia. Nem conseguia gritar de tão... surpreso que estava. Persegui aquele pirralho por.... sei lá, uns 10 minutos. Ele entrava em um corredor, descia pelas escadas, entrava em outro corredor, subia uma rampa e... eu atrás, tentando não perdê-lo de vista. Aquela câmera tinha fotos de toda a viagem e... Londres é muito legal, você deveria ir para lá um dia... bom, enfim. Sem contar no preço dela. Novinha! Câmera novinha! Caramba.

Corri. Acho que ganharia do Bolt se ele estivesse treinando num daqueles corredores do estádio. Acho que o pirralho humilharia o Bolt se ele estivesse correndo a final dos 100m rasos na Olimpíada. Sério, ele corria demais. E não cansava.

Eu já não aguentava mais mas, felizmente, aquilo acabou.

A mãe daquele piá conseguiu encontrá-lo. Ah, bendito seja Deus pelas mães. Ela segurou ele, fê-lo devolver a câmera e ainda se dispôs a tirar a tal foto. Tudo terminou bem, blá blá blá.

Deve ser um saco ter de chegar aqui sem grandes emoções. Apesar de saber que a minha vida é assim mesmo, um tédio. Ao menos acredito que você pense isso. Embora seja um bom amigo e saiba lê-las com atenção.

Então. Essa história voltou aos meus pensamentos quando vi um menino com uma câmera na mão naquele estádio... varzeano, por assim dizer.

É engraçado, hoje, mais de um ano depois de terminarmos, a lembrança dessa história me fez sentir mais saudade da viagem e da companhia alegre da Renata do que da Renata propriamente dita.

Acho que foi bom que tenha terminado daquele jeito. Ainda conversamos. Ela está bem, conheceu um irlandês ruivo, parece que o cara torce para o Southampton e odeia cerveja. Literalmente, um cara excêntrico. Ela diz que eles estão apenas se conhecendo. Torço para que seja feliz. E acho que, se der certo com esse cara, a filha deles será uma linda ruivinha. Hahahaha.

Você está se perguntando 'e quanto a você?', certo?

Estou bem. Nada de muito diferente tem acontecido. É estranho, tudo tão parado, calmo.

Daqui a pouco isso muda.

Porque comecei a entrar, bem ou mal, naquela fase de "ãhn... será?".

Estou sentindo-me um adolescente, novamente.

Você deve estar rindo mas eu não acho graça.

Tá bom, só um pouco.

Saudações.

B. Johansson
"

domingo, 18 de novembro de 2012

Pedaços de um pensamento (62)

Desconhecer, hoje, as palavras que devem ser escritas acaba sendo, depois de muito tempo, algo bom.

Então eu sou, de fato, dono de paranoia análoga à vontade que um caçador tem de atirar. Não que isso seja ruim, embora não seja bom em si. O fato é que é aceitável, dados detalhes passados e, quase sempre, esquecidos.

De alguma forma é apenas uma ferida aberta em um coração que sente intensamente todas as coisas.

Não é difícil explicar por que ainda há ansiedade. Toda incerteza, principalmente em tempo futuro, gera um sentimento incômodo no presente.

Nada que destrua, de fato.

Estou, apesar da ansiedade, feliz por ter entendido errado e, com alguma espontaneidade, escrito as palavras abaixo.

Feliz por ter passado momentos muito bons. Momentos incríveis.

Estou feliz por estar sentindo-me vivo novamente.

Estou espontaneamente feliz. Sinceramente alegre. Convictamente tranquilo.

Mesmo que, ainda, inconscientemente ansioso.

sábado, 17 de novembro de 2012

O vazio de viver e só (32) - O nunca eu


Gloriosos, apesar de medíocres em grande parte, foram aqueles ditos poetas que de qualquer respingo salgado faziam jorrar palavras e subsequentes cheios de ardor. Bons foram, por tirar de si algo que jamais lhes pertencera e torná-lo, então, parte de um todo que renova-se ano após ano. Não posso dizer que gostaria de ser um deles - isso seria uma mentira infantil - porém, não posso mentir também ao dizer que pouco importa essa passagem do que faz parte de si para algo que passa a ser parte de outros. Distantes, desconhecidos e diferentes.

São tantos fatores para pouca coisa, muita bobagem para pouca vontade e um tanto de necessidade para um nada de capacidade. O que foge de mim, hoje, é justamente o que precisaria escrever. Quem sabe aos berros, como o vento lá fora insiste em fazer. Às vezes penso que não são gritos, e sim risos e que, óbvio, a risada vem de e para mim.

Isso, logicamente, não passa de paranoia minha. Embora toda paranoia parta de algo sensato e racional.

O que, entretanto, incomoda, não é a comparação com a antiguidade poética - antiguidade sim, pois rimas poéticas contemporâneas só servem para animar bailes funk - e sim a eterna, ao menos até hoje, negação sobre aquilo que, assim como poeta, não sou. Ser, como parte do verbo estar, é transitório, sim, mas ainda assim existente. O negativo atemporal, nunca, vem toda vez - embora pareçam inúmeras e incontáveis, são finitas, débeis e quase caem no esquecimento pela falta de alimento - que há algo contrapondo a sensatez.

E tudo o que foge da sensatez foge da sabedoria, já diria algum provérbio mundano, não muito inteligente, caso seja analisado o significado de ambas.

A fuga leva ao nunca, que faz parte de um sempre irônico - e possivelmente parte de uma maldição incompreensível - que, por sua vez, volta a jogar na lata do lixo páginas e mais páginas de poesias que não escrevi.

E mantém a falta de outras tantas páginas com poesias que também não escreverei, dessa vez não por falta de inspiração ou motivação e sim por falta de...

... capacidade. Ainda sou incapaz de transformar gritos em rimas.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Pedaços de um pensamento (61)

Da mesma forma que céu é infinito e parece abrir-se após cada pequeno deslocamento de nuvem, o chão, duro e teoricamente contável, também se abre a cada passo dado. A possibilidade de infinito está tão próxima daquilo que acaba logo ali que o melhor é esquecer que há condicionais e possibilidades, em si, e, então, apenas seguir como se nada fosse acontecer. Tentar antever é pior porque, além de ser inútil, acarreta em paranoia sem igual, hesitação infantil e ansiedade pré-mirim.

O que não tira tom humorístico de tudo isso é semelhante ao que dá a um 'frio na barriga' um gosto que pode se tornar doce ao ponto do elogio, ou do asco.

Em si, o limite entre dois opostos é largo, cheio de subidas, descidas e obstáculos até deixar de ser, de fato, um para tornar-se outro. Dizem que o amor e o ódio são coisas tão próximas que o tempo, a vida e o acaso - desconsiderando aqui qualquer crédito que a sociedade tenta dar a ele, uma vez que não passa de boa invenção dos covardes para separar o joio do trigo, a areia do pedrisco, enfim - encarregam-se de transformar o segundo no primeiro geralmente levando a um relacionamento hollywoodiano... tão inexistente quanto o acaso ou a sorte.

Essa história de proximidade se dá porque o meio termo, esconderijo da falta de personalidade crítica, é largo demais e engloba, em diferentes proporções, ambos os lados. É como sair para comer pastel e não saber decidir entre assado e frito, pedindo então uma pizza, assada, com baco, frito. Entre um e outro, há um pouco dos dois e, portanto, não há distinção.

Como, em questões condicionadas a vários fatores, definir o que é, ou não, torna-se complicado e, portanto, acaba sendo desnecessário a medida em que o tempo passa e a definição não leva a uma significativa melhora do estado de ser. 

E do ser.

Aquilo que é grande por ser visível está de um lado. O que é grande por ser invisível está de outro. Não é possível haver pequenez no meio termo desse e daquele porque a grandeza, vista ou não, exige do objeto que, de alguma forma, seja grande. Para os olhos, ouvidos ou coração.

Fugir do meio termo é, como disse antes, desnecessário. O importante é saber que há algo grande, em si, naquele espaço.

E que esse texto foi escrito às duas da madrugada de uma sexta-feira.

domingo, 11 de novembro de 2012

Reflexões de um maluco (20) - O cansaço das críticas


Talvez já tenha escrito isso porém, como não sou capaz de lembrar sequer do que estava vestindo hoje, tenho o direito, meramente, moral de reescrever. Com outras palavras.

Ou talvez sejam as mesmas.

Às vezes fico um tanto incomodado com algumas coisas que ouço. Sobre eu mesmo.

Parece, quase sempre, e é, geralmente, uma crítica indireta, disfarçada de 'construtiva' e que, por alguns momentos, parece mera hipocrisia. Vejamos.

Eu ouço sobre meus erros, meus defeitos, minhas limitações e blá blá blá. É visível grande parte desses erros, defeitos, limitações e blá blá. É muito visível porque, afinal de contas, a sinceridade também mostra aquilo que é ruim - em alguns casos, é apenas isso que se tem, logo, apenas isso é visto. Então, passa a ficar claro que grande parte das críticas não construtivas é, em si, mera banalidade pois o que é dito provavelmente já foi dito antes. E muitas vezes antes, aliás.

Logo, tornasse desnecessário uma vez que, antes mesmo de ouvir, aponto o que há de errado e problemático em mim. Não é desvalorizar opiniões ou desmerecer pessoas próximas que querem ajudar - algumas querem mesmo. É apenas questão de repetição desnecessária. Ou você gostava de ouvir sua mãe dizendo 'desliga esse computador' a cada cinco minutos? Uma hora aquilo ficava tão banal que nem irritação trazia mais.

Então, entenderam o que eu quis dizer? Né, fácil.

Fico, ultimamente tem sido constante, irritado por perceber que somente aquilo que é meu e, portanto, de mais ninguém, entra na mesa de debate. Eu tenho de reconhecer o que há de errado e ruim comigo e ainda ouvir dos outros o que pensam a respeito. Sobre meus erros e ruindades. Legal isso, não é? Então. Parece que sou a única pessoa com defeitos. Com limitações.

Não tento revidar, por assim dizer, apontando o que vejo naqueles que vem falar sobre mim. Não vejo muito sentido nisso, a não ser que isso seja um pedido. Jamais critiquei alguém ou pisei em um machucado propositalmente. E não o faria por qualquer motivo. Isso é covardia.

E fede à hipocrisia.

Porque é como se eu nada tivesse a melhorar e, portanto, pudesse 'tentar melhorar' outras pessoas. Infantil é pouco, essa atitude é pré-mirim. E cansa. E irrita. E tudo isso tem de ser contornado por uma tolerância que em dias de insônia não existe. Lá se vai o esforço para compreender as pessoas e tentar entender o porquê de dizerem isso ou aquilo.

Alguns são mesmo pessoas boas que querem ajudar. Outros, a maioria, não.

Continuo com meus defeitos entretanto, ao contrário do que querem fazer parecer, luto contra eles diariamente e não me conformo com qualquer um dos mesmos. É difícil entender por que sempre apontar para o que eu posso melhorar e nunca comentar sobre si. É difícil ter paciência para ouvir sempre o 'você é isso e aquilo' sem ouvir um 'mas entendo que faz isso por tal motivo uma vez que tenho tal problema que acarreta em tal blá blá blá'.

Entenderam, também, não é?

Talvez sejam pessoas ruins. Talvez sejam apenas hipócritas. Talvez sejam invejosos - haha, a possibilidade é quase nula, mas existe :P . Talvez queiram me ajudar. Talvez não conseguem falar algo sem criticar. Talvez eu seja uma grande porcaria, também.

Ou talvez seja, apenas, muito mais visível em mim esses defeitos, uma vez que vivo a sinceridade de maneira intensa.

Incerteza inútil.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Histórias do Bandiolo - Ela e o feminismo

- Não, não tenho nada em mente, por que?

Ela hesitou. Aquela história de 'liberação feminina', de que 'cavalheirismo é coisa do passado' soava tão idiota naquele momento. Tanto que não conseguia dizer o que queria. Era tão feio assim convidá-lo para irem ao cinema? Não havia problemas nisso, impedimentos, para eles, só no futebol. Ah, era tão divertido vê-lo jogando.

- Por nada, nada não.

- E você, o que vai fazer?

Será que o jogo havia mudado? Que ele iria convidá-la, então?

- Eu, nada. Estou disponível para qualquer coisa.

Mais claro que isso só se ela berrasse para todos que estavam passando pela calçada algo como 'me convida para sair seu idiota'.

- É bom ter um tempo para descansar, eu gosto.

Balde de água fria.

- Quando foi a última vez que você foi no cinema?

E lá estava ela indo, indiretamente, ao ponto.

- Bah, faz tanto tempo que... eu nem lembro qual foi o filme.

Silêncio mortificante porque ele não continuou o assunto. Não teria interesse nisso? Estaria ela sendo chata? Deveria engolir velhos preconceitos que voltavam e convidá-lo? Nem ou mal, de balde passou a tanque de água fria.

- Pois é, eu também. Queria muito ir.

A deixa final. Não havia como ele não entender a indireta.

- E por que não vai?

Agora sim, vai ser a última.

- Porque não tenho companhia.

Ela olhou para ele. Ele olhou para longe. Parecia cansado. Triste. Ou era só um disfarce para um oceano de água fria.

- Mesmo que sozinha, deveria ir assistir já que você gosta tanto de filmes e tem tempo livre.

Oceano gelado, buummmmm.

Decidiu não insistir mais. Talvez ele tivesse um bom motivo. Talvez não quisesse comprometer-se e depois, sei lá, dormir no cinema. Talvez não estivesse conseguindo sorrir. Talvez não tenha percebido que ela estava beirando a insanidade para ir no cinema com ele. Talvez...

De qualquer maneira, tomou uma decisão importante: nunca mais sairia de sua boca uma frase feminista. Queria ser convidada para sair, queria receber elogios, agrados, carinho. Queria sim, ser tratada como alguém única e, enfim, dependente de amor.

Queria ser amada à moda antiga, com romantismo puro, simples. Chega dessa história de feministas histéricas. Chega de dizer que não se importa, que a hora em que quisesse iria convidar. Tentou enrolar e não conseguiu. Chega de modernidade, de novidades banais e desnecessárias. De independência inútil. Chega de descompromisso. De enganar-se por nada. De culpar os homens por tudo, mesmo quando sequer sabiam ter feito algo.

Chega dessa bobagem sem fundamento.

Sequer era uma raquítica feia e pseudossocialista para tal.

sábado, 27 de outubro de 2012

Pedaços de um pensamento (60)

Meu coração parece estar cansado de bater da mesma forma que minha cabeça está cansa de pensar. Apesar do leve drama implícito, não há nada de errado ou espantoso nisso. Ainda mais sabendo de todo o contexto. Parece brincadeira porém quase idas e supostas - sem jamais passar de suposições - voltas cansam mais do que quando há concretude em uma delas, ou mesmo em ambas.

Tento acreditar - não só porque resta apenas isso, acreditar - que algo muito grande virá depois. Da mesma forma que onde um dia abundou o pecado, abundará a graça, a montanha é proporcional ao campo de visão, etc. Analogias diversas poderiam vir à tona sem desmerecer ou desviar o assunto e o verbo acreditar, em si.

Não sei se existe um problema e se, de fato, ele existe, entendo - e tento compreender - que não passa de desvios impedindo grandiosidade em algum aspecto.

Enquanto muitos dobram seus joelhos para derramar lágrimas e, quando de pé, esquecem que o Amor recebido é o mesmo, coloco-me em situação oposta, entregando-me ao máximo quando capaz de olhar para o céu e retraindo-me - e o verbo retrair é bem diferente do verbo esquecer embora há um erro ainda maior por trás dele - nos momentos em que não há forças para sequer levantar o olhar.

Nada parece fluir. Tudo parece trancar, travar, parar. É um ritmo estúpido e facilmente criticável, passivo de entendimento somente tempos depois. Ou quem sabe nunca.

Ainda assim, consigo sair disso por alguns instantes na tentativa de prestar auxílio - não importando o grau de sucesso obtido na mesma.

Mesmo em meio às minhas imensas limitações, tentei por alguém que não eu. Felizmente não estou bem e, portanto, não corro o risco de alegrar-me com esse fato por si só.

Embora, estou certo, o Amor alegra-se quando vê manifestar-se essa doação daquilo que não se tem para alguém que não a si. Alegra-se quando nota provas singelas de caridade.

domingo, 21 de outubro de 2012

Pedaços de um pensamento (59)

Muitas coisas sobrevoam, sem pousar, aquilo que acaba sendo ponto de partida para toda essa desordem. Nada desce desse estágio flutuante porque, apesar de vontade, não há condições para tal. É como comprar um ralador de alhos sendo que você não tempera nada com alho pois esse lhe faz mal. Não adiantaria nada e seria, no final das contas, um desperdício de dinheiro, de tempo para ir comprar e, até mesmo, de espaço no armário onde será guardado.

Encontrar um local para fazer estacionar algo que atualmente não serve para nada, literalmente, é uma dessas perdas de tempo interna que certamente levam neurônios e etc a pensar coisas como 'por que ele insiste em comprar gasolina se esse veículo funciona à base de gás natural?' e por aí vai.

A vontade, e mesmo a necessidade, de organizar e tentar dar início a um novo momento, mais centrado, constante e definido, não justifica pegar e forçar algo a ser o que, por todo o contexto, não pode ser. Enquanto uns jogam fichas na mesa sabendo que estão dando dinheiro ao adversário, estou tentando manter longe da minha razão qualquer atitude que possa vir a ser desperdício de pensamentos, ideias, palavras e até mesmo sentimentos.

A indiferença às alterações rotineiras não é capaz de acabar com a sensatez.

Tem sido difícil olhar para qualquer lugar, situação ou pessoa, e pensar que há um grande propósito por trás de sua existência em si. Veja bem, nem mesmo a relação daquelas comigo vem ao caso porque não há como chegar a esse ponto sem ver e valorizar suas presenças como provas vivas de amor e bondade.

Querer antecipar a coerência, a humildade e a inteligência, trazendo para si a relação com coisa, lugar ou pessoa, antes de ver individual e contextualmente para com tudo é prova clara e patética de egocentrismo.

Não é justo que, sob a desculpa da incapacidade, veja com meus olhos antes de ver sem eles. Isso acaba com muito do que poderia ser, em condições normais, entretanto não acaba sendo pela mesma razão que lhe faz comprar chocolate quando está de dieta.

Fugindo do lugar comum, encontro tranquilidade naquilo que não é visto e sequer lembrado.

No que está muito longe de ser embora esteja sobrevoando, proximamente.