sábado, 17 de novembro de 2012

O vazio de viver e só (32) - O nunca eu


Gloriosos, apesar de medíocres em grande parte, foram aqueles ditos poetas que de qualquer respingo salgado faziam jorrar palavras e subsequentes cheios de ardor. Bons foram, por tirar de si algo que jamais lhes pertencera e torná-lo, então, parte de um todo que renova-se ano após ano. Não posso dizer que gostaria de ser um deles - isso seria uma mentira infantil - porém, não posso mentir também ao dizer que pouco importa essa passagem do que faz parte de si para algo que passa a ser parte de outros. Distantes, desconhecidos e diferentes.

São tantos fatores para pouca coisa, muita bobagem para pouca vontade e um tanto de necessidade para um nada de capacidade. O que foge de mim, hoje, é justamente o que precisaria escrever. Quem sabe aos berros, como o vento lá fora insiste em fazer. Às vezes penso que não são gritos, e sim risos e que, óbvio, a risada vem de e para mim.

Isso, logicamente, não passa de paranoia minha. Embora toda paranoia parta de algo sensato e racional.

O que, entretanto, incomoda, não é a comparação com a antiguidade poética - antiguidade sim, pois rimas poéticas contemporâneas só servem para animar bailes funk - e sim a eterna, ao menos até hoje, negação sobre aquilo que, assim como poeta, não sou. Ser, como parte do verbo estar, é transitório, sim, mas ainda assim existente. O negativo atemporal, nunca, vem toda vez - embora pareçam inúmeras e incontáveis, são finitas, débeis e quase caem no esquecimento pela falta de alimento - que há algo contrapondo a sensatez.

E tudo o que foge da sensatez foge da sabedoria, já diria algum provérbio mundano, não muito inteligente, caso seja analisado o significado de ambas.

A fuga leva ao nunca, que faz parte de um sempre irônico - e possivelmente parte de uma maldição incompreensível - que, por sua vez, volta a jogar na lata do lixo páginas e mais páginas de poesias que não escrevi.

E mantém a falta de outras tantas páginas com poesias que também não escreverei, dessa vez não por falta de inspiração ou motivação e sim por falta de...

... capacidade. Ainda sou incapaz de transformar gritos em rimas.

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