quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Nos fundo dos olhos, a prova de que algo ainda bate

*a música é boa mesmo

Não tive muito tempo. Não quis ter muito tempo. A maioria do que eu poderia ter dito eu não disse. Por opção. Não queria perder aquele momento com explicações, por mais sentido que elas façam. Não queria e não perdi aquele momento. As palavras, por mais espontâneas e sinceras que fossem, foram ditas com dificuldade. Sem escolha, termos corretos ou prezando por alguma coerência. Apenas falei o que precisava falar. O que queria falar.

É muito provável que elas não fizeram sentido algum. Menos sentido faria todo o resto que poderia ser dito. Dessa vez não errei, finalmente não errei. Mesmo que o coração para o qual destinei aquelas poucas palavras não quisesse ouvi-las, acho que ele ouviu. Aqueles olhos, que mais de uma vez já haviam tirado-me a concentração e as palavras, aqueles olhos... pareciam atentos ao que os meus olhos queriam destinar.

Acredito sim que a maior sinceridade está no olhar diretamente nos olhos enquanto se fala. Parece que através desse olhar os dois corações entram em sintonia e tudo que é dito faz mais sentido, isso quando o sentimento transmitido, mesmo que apenas por um lado, não ofusca tudo e aqueles olhos se perdem uns nos outros, os olhares são trocados como se nada mais fosse necessário. Difícil um tímido fazer isso, até porque é quase certo que quando falo algo a alguém eu olhe para o chão ou para os lados. Mas decidi fazer diferente, e consegui.

Eu falei. Disse. Demonstrei. Mergulhei naqueles olhos e quase afoguei-me. Queria ter afogado-me mesmo, estaria muito mais vivo do que estou hoje. Não foi possível. Talvez nunca venha a ser. Não há sentimento, por menos humano e mais divino que seja, que consiga compensar tudo o que o lado humano pode empurrar contra.

É incrível que quando deveria sumir, desaparecer ou ao menos ser esquecido, isso, esse sentimento que eu não preciso nomear, só aumentou, tomou dimensões que eu não esperava. Por mais que seja estranho, mesmo que não o viva de fato, fico feliz por tê-lo comigo.

Porque o amor vem de Deus. Amando, mesmo que não vivendo ele num todo, me aproximo de Deus.

Quando todos me dizem para esquecer, eu rio. Porque sei que, fazendo o que eu possa fazer, não conseguirei apagar o que não pode ser apagado por uma mente, por mais forte e preparada que ela seja.

É grande, é sincero. E ao transmitir isso diretamente aos olhos, fiquei mais seguro ainda da grandeza e da sinceridade desse... amor.

Talvez seja impossível qualquer coisa que venha disso. Pois é. Mas eu já escrevi que 'acreditar na possibilidade é racional, acreditar no quase impossível é esperança'.

Já não me sinto mal por isso. Pelo contrário. Quero viver o que puder, mesmo que não seja tudo.


*eis a grande prova de quão grande é a insanidade na qual tenho vivido. 
É loucura tudo isso, não faz sentido. 
Quase todos me criticam, tentam me fazer cair numa real humana, racional e simples. 
Tentei fazer algo humano,
 ignorando e tentando me afastar disso, 
mas NÃO SOU ASSIM. 
Ajo de um jeito diferente, 
cada vez menos humano, 
mais espontâneo... 
e mais sincero.

É só mais um desabafo alternativo


Toda lista feita, por maior que seja a quantidade de boas intenções contida nela, é errada. Porque toda lista limita demais o que é listado. As 10 músicas, os 10 lugares, as 10 pessoas, os 10 fatos do ano, os 10 dias mais importantes da história, os 10 gols mais bonitos e os 10 melhores times, dentre tantas outras. Muita limitação para pouca coisa. Porque listar é tentar resumir em vão. Sempre algo que mereceria estar lá fica de fora.

As minhas 10 músicas agora são 12, quase 13 e deveriam ser 50, no mínimo. Como posso deixar fora tanta música boa, tanta banda boa, tanto bom e velho rock'n roll fora da minha lista? Transpondo isso para cá, não farei como fiz ano passado ao listar os 10 melhores textos meus, na minha opinião. Também porque uma coisa é eu ter gostado e outra é eles terem sido bons.

E estamos no fim de um ano. Listas não faltam. As melhores e piores coisas, as melhores e piores pessoas, os melhores e piores livros, músicas, bandas, momentos, viagens, enfim, qualquer coisa que tenha mais de uma... coisa, diferente.

Sinceramente acho uma grande bobagem todas as listas de fim de ano. Assim como as listas de começo de ano. Não é a primeira vez que critico isso, mas é porque acho uma grande bobagem mesmo. Vou fazer isso, emagrecer aquilo, comer tal coisa, ir para tal lugar. Que saco. Tão saco quanto aquelas bobagens de cor, roupa, lugar e até comida no momento do início do ano novo. Tudo balela, bobagem para quem quer acreditar na sorte, no azar e nas estrelas, constelações e qualquer outra coisa que possa fazer por você o que você deveria mas não tem a mínima capacidade de fazer.

Sou um grande oposicionista de deixar que a 'sorte', coisa que para mim não existe, leve as pessoas a fazerem as mais patéticas e bobas coisas para que o ano que virá seja melhor. Que saco, mais uma vez. É só um dia, com dois números diferentes na datação. Só isso. Por que não se comemora o primeiro dia de cada vez então já que o importante é a mudança?

É bem provável que o problema esteja comigo. Em não acreditar no que todo mundo acredita, só porque para mim não faz sentido algum. Mas tudo bem. Sou burro, idiota, bobo, chato, teimoso por tantos outros motivos, ser chamado de tudo isso só por não gostar de listas(as quais só faço para mostrar meu gosto musical no orkut) e não acreditar em sorte e azar, não vai me afetar negativamente.

Frase do dia






Uma espontânea 
e sincera 
enchente de loucura 
tomou conta de mim.





*há muito mais coisas que eu poderia escrever e é provável que essa frase não esteja completa, pois não foi apenas a loucura que tomou conta de mim. Embora o cansaço, a dor, a tristeza, mágoas e decepções pesem contra, encontrei em algum lugar o que acho que estava procurando. Não sei ao certo o que é, mas sinto como se faltasse muito pouco para que eu pudesse voar, embora tenha a consicência de que estou tão longe de tudo que esse voar também não passa de um sonho. Mais um sonho, sincero, espontâneo e, provavelmente, impossível. Não importa. Uma vez eu escrevi que 'enquanto houver um sonho, ainda haverá esperança' e tenho de dizer, sem qualquer arrogância, que eu estava certo sim.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Histórias do Billi J. - Desisto de tudo, mas não de você





A vida não poderia ter sido melhor, Renata estava de volta(clique no marcador 'histórias do Billi J.' no fim do texto e você entenderá), por ela, e também por si mesmo, havia mudado de emprego, seu irmão já não incomodava-o de maneira insistente e tola, seus pais já não pareciam ser empecilhos na sua tentativa de mostrar ao mundo que era possível viver de um jeito diferente e não havia sequer um pensamento ruim na cabeça do Billi J. .

Tudo ótimo, sim, até que...

Bom, nem mesmo o Billi J. sabe como isso começou, o que originou, porém aconteceu e é isso o que vem ao caso agora. Ele e sua amada Renata desentenderam-se. Normal para namorados, principalmente para quem se conhece tão bem quanto eles. Pequenas diferenças fazem grandes estragos nesse caso. E foi mais ou menos isso o que aconteceu. Entretanto esse desentendimento não era normal para Billi J. e a Renata. Porque afinal de contas, depois de toda a distância e do tempo, o simples fato de estarem juntos já era a prova de que nada poderia separá-los(e entramos no auge do famoso 'acreditar no amor').

Houve o dia, o momento, a visão.

Renata estava chegando em casa quando foi abordada por um sujeito. Segundo o Billi J. era o cara mais parecido com um ator de Hollywood que já havia visto. Ela conversou com ele. O Billi J. olhou tudo de longe. Ciúmes sim, e muito, já que conhecia os amigos de Renata e aquele sujeito não era um deles, definitivamente. Como era sensato, embora impulsivo, Billi J. apenas olhava de longe. E apertava forte as mãos, piscava como se tivesse um grande peso nos olhos, enfim, olhava com raiva.

Eles riam. O Billi J. não entendia por que a Renata estaria rindo com alguém que não conhecia. Antes de pensar coisas ruins, precipitando-se em um julgamento errôneo, decidiu sentar ali perto e esperar a conversa acabar. Depois disso, chegou na casa de Renata e indiretamente lembrou o fato de poucos instantes antes.

Respostas evasivas, como se algo estivesse sido escondido. E aquele medo cresceu, transformou-se em angústia e o Billi J. já não controlava mais. O tom da voz subiu como há muito tempo não subira. A velocidade nas palavras era incrível. Um desabafo que saiu sabe-se lá de onde, sabe-se lá por qual motivo.

Renata não entendia, mas parecia não querer entender, não tentar explicar o que talvez não precisasse de explicação, talvez não devesse ou quisesse ser explicado. Estava decepcionada com Billi, pela desconfiança, mas não deu motivo algum para que ela não existisse no Billi J., falava alto como Billi J. nunca havia ouvido e ele fez o mesmo, como se fosse algo necessário.

Ouvidos atentos sem resposta. Saiu e, sem saber para onde ir, ficou sentado na esquina da praça, triste, atordoado, sem saber o que ou por que aquilo acontecera. Sua amada Renata... não, não podia ser. Mas ela não fez a menor questão de negar. Verdade?

Ficaram dias sem se falar, sem buscar explicações. Até que, ao acaso, encontraram-se em uma esquina.
- Pensei que nunca mais fosse falar com você.
- Por que?
- Eu não sei.

Ambos afirmaram, perguntaram e mostraram-se distantes de uma resposta. Diálogo com começo e fim em ambos os lados, da mesma maneira. Perplexos e sem saber ao certo por que havia acontecido, o que havia acontecido. Não tentaram dizer o que poderiam dizer, coisas do tipo 'eu não conseguiria ficar sem nunca mais falar com você'. Não, nada desse tipo foi dito, nada além de um recíproco 'eu não sei' foi dito.

Então de mãos dadas, seguiram o mesmo caminho, sem destino, juntos. O que aconteceu ao certo ninguém sabe. O porquê desse desentendimento. Motivos, razões, explicações. Nada. Não fingiram que nada aconteceu, apenas continuaram de onde pararam, deixando de lado o que eles não precisavam lembrar. Não tentaram explicar-se, pedir desculpas, nada.

Continuaram de onde pararam. Por que explicar esse desentendimento todo se não conseguiam explicar tudo o que acontecera no tempo em que estavam longe? Algo muito maior havia entre eles e não podia ser explicado. Havia motivos para tentarem explicar algo tão insignificante?

Não. E seguiram o mesmo caminho. Juntos, porque algo verdadeiro os unia.



*Não se pode apagar o passado. 
E mesmo sem um presente ou mesmo uma perspectiva de futuro, 
o passado continuará existindo, pois ele foi vivido. 
E tudo que for indescritível, 
de tamanho imensurável, de sinceridade inegável, 
jamais será apenas passado. 
Mesmo que não seja um presente vivo, 
jamais será apenas passado 
e jamais será apagado.

Fim de ano, começo de ano. Tá, e daí?


No ano passado eu elegi os 10 textos que eu mais tinha gostado de escrever nele. Não vou fazer isso. Os marcadores estão aí ao lado, e também, eu nem escrevi tanto, embora considere os textos deste ano melhores dos que os do ano passado.O que posso relembrar desse ano? Muita coisa.

Muita coisa importante, boa, fantástica, sincera, verdadeira. Mas muita coisa ruim, pensamentos, agonias, tristezas, mágoas e decepções. Ano de contrastes, como qualquer outro. Não para mim.

Acho que num possível balanço nunca vivi um ano tão ruim. Com tantos momentos ruins. Entretanto a intensidade do que foi bom, do que é bom de ser lembrado(mesmo que no fundo acabe não sendo muito bom), acaba encobrindo o que não precisa ser lembrado.

O que aumenta consideravelmente a sensação de que sou um grande perdedor é muito mais em quantidade do que intensidade. Muita coisa, sem muita profundidade. Porém, preciso fechar os olhos toda vez que preciso deixar de lado isso para sentir o que realmente foi bom, para lembrar do que é necessário, importante e, mesmo que pareça contraditório por motivos que não serão escritos, fundamental.

Ano ruim? Não sei. Com muitas coisas ruins, como nenhum outro ano havia trazido. Mas intensamente produtivo, pela mente, pela intensidade de alguns sentimentos, pela comprovada sinceridade de outros, pela evolução e desabrochamento de alguns ideais, pelo aperfeiçoamento de sonhos, de realizações, de reflexões e vivências.

Cada um define o seu ano como quiser. Ou não defina, isso não muda absolutamente nada, porque o ano não vai agradecer por você elogiá-lo, não vai existir mais alguns dias além do que ele têm que durar por ter sido chamado de bom, disso ou daquilo.

Sem nostalgia. Até porque, nem todo mundo sabe o que é isso.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal

Mesmo que as minhas palavras nada valham, mesmo que não faça diferença alguma qualquer coisa que escrevo, como alguém que importa-se com o que é importante de fato, preciso fazer hoje o que não farei amanhã. Não vou criticar ou escrever palavras raivosas e sinceras sobre o capitalismo e o maldito papai noel.

Como a vida não tem sido a melhor, a situação não tem sido a melhor, a sensação e os sentimentos não têm sido os melhores, não quero mais exprimir lamentos, palavras tristes, mesmo que isso seja a única coisa da qual sou capaz nesse momento, principalmente ontem e hoje.

De volta à vida, mas ainda assim longe dela, pois longe de mim estou.

Só desejo Feliz Natal, que o nascimento do menino Jesus Cristo, salvador do mundo, traga esperança, fé e amor aos nosso corações. Que possamos abrir esses corações, que mesmo não estejam bem ou mesmo inteiros ou com os melhores sentimentos, para que esses corações recebam o Espírito Santo, e se deixem guiar por ele, para que encontremos a verdadeira felicidade nos verdadeiros sentimentos, com as verdadeiras e mais sinceras intenções.

Mesmo que o amor não seja aquilo que poderia e, quem sabe até, deveria ser, não há razão, por mais racional que seja, que possa impedir-nos de acreditar que ele nos aproxima do bem, da verdade, de Deus.

E haverei de entender a frase que Ele me disse num dia desses:

"As coisas certas, nos momentos certos, para as escolhas certas."

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Histórias de uma vida não vivida(14)


*Nem a maior preparação, os mais intensos treinamentos, as mais cautelosas preocupações e todos os cuidados possíveis são capazes de evitar que algo dê errado na hora, ou mesmo antes da hora do combate, da disputa, de qualquer duelo, contra o melhor do mundo, o companheiro de bar, o vizinho ou consigo mesmo. Não há como evitar que erros sejam cometidos, que as coisas aconteçam erroneamente ou nem aconteçam. Você não pode confiar totalmente em alguém, porque todos um dia erram, inclusive você.

Saiu de casa apenas com uma mochila nas costas. Mochila? Aquilo mais parecia um pedaço de pano enrolado e com as extremidades presas por algumas coisinhas que pareciam grampos. Saiu de casa sem levar roupa ou comida na mochila. Tinha apenas um livro, um cartaz de publicidade e umas poucas moedas. Era com aquilo que viveria, na melhor das hipóteses, as próximas semanas.

Em busca de um sonho. Sonho que seu pai lhe ensinou a sonhar. Um sonho que veio de seu avô e chegou até si. Inicialmente apenas um sonho, mas ele viveria e faria tudo para realizá-lo, por si, por seu pai e também por seu falecido avô. Lutaria, faria guerras, moveria montanhas e cavaria buracos intermináveis se fosse preciso. Não mediria esforços.

Chegando na cidade grande após dias e mais dias de viagem, nada viu. Não havia uma pessoa na rua. Estaria no lugar errado? Viu as placas, mas não sabia ler. Não sabia o que eram muitas daquelas coisas. Só sabia que queria lutar, que precisava lutar, que seu sonho era lutar e conquistar o mundo com lutas. Lutas justas. Lutas onde provaria seu talento, seu valor, sua força, sua coragem, seu sonho.

Sem saber para onde ir, quase morto por dias sem comer, parado na entrada de uma cidade vazia. Não sabia para onde ir, como ir, o que fazer. Sentiu um cheiro de comida e, com um instinto olfativo que mais parecia de um cachorro, foi até o cheiro. Mas não pode comer, suas moedas não foram aceitas, embora fossem do ouro mais puro extraído no pé da montanha onde vivia. O que faria? Não sabia para onde ir.

Tentou falar com o homem, mas não conseguia. Sua voz o abandonara, parecia não ter mais garganta, tamanha fome e sede. Sem poder dizer nada, saiu do local e olhou para os céus. A chuva era iminente. Chuva? Tempestade. Dito e feito. Malemal chegou ao final da quadra e, mais uma vez sem saber para onde ir, começou a chover. Temporal forte, chuva de granizo, raios ensurdecedores. Os boeiros começaram a entupir, o nível da água na rua começou a subir, e ele, mesmo guerreiro, estava com fome, fraco, sem saber para onde ir.

Perdido. Desiludido. Aquilo então era a cidade grande, onde ele poderia lutar e realizar seus sonhos. Aquilo. Enchentes também aconteciam perto de onde morava, então por que não poderia conquistar o mundo ficando em sua casa, com seus pais, bem alimentado e sem todo aquela terra cinza que fazia quase sangrar seus pés descalços. A aparência era diferente mas as coisas eram iguais.

A enchente tornou-se uma catástrofe natural de dimensões gigantescas e prejuízos incontáveis. E ele lá, afogando-se no meio de um lugar que nenhuma esperança de vitória lhe dava. Seu sonho ficava cada vez mais distante, mas ele não desistiu. Subiu na estátua do presidente do país que estava na praça, também inundada e ficou sentado lá. Esperando que o nível da água baixasse e que então ele pudesse procurar alguém que pudesse lhe ajudar com seu sonho.

Não tinha mais forças. E a situação piorou quando um helicóptero da televisão mais assistida do país o filmou. O povo considerou aquilo um atentado contra o governo, o início de uma revolta. Ele não falava a língua da maioria, saíra do interior falando apenas um dialeto local. Vinha de longe, não sabia nem que onde vivia era um país. O que era um presidente então? Ele sequer entendia essas palavras.

Então a enchente já não importava mais. O que importava para o povo, para o governo, para o mundo era que algum rebelde estava sentado na cabeça da estátua do presidente. Fazer protesto durante uma enchente era algo inconcebível para todos, mas acharam que era isso o que ele fazia lá. Aproximaram-se e tentaram conversar, mas ele nada dizia. Não tinha forças, não tinha mais esperanças.

Então, quando ele colocou a mão na sua 'mochila' de panos completamente encharcados, atiraram e mataram-no. Ele puxaria uma arma daquela sacola de pano, pensaram. Que nada. Queria mostrar a eles o livro, o cartaz, por que estava ali. Sua voz, que já não era ouvida desde que ali chegara, calou-se de vez. Seu sonho de conquistar o mundo lutando, de maneira justa e sem ferir ninguém a ponto de matar, acabara ali. Uma arma foi colocada propositalmente em sua sacola para justificar o tiro. Mataram-no sem razão alguma.

Para onde quer que tenha ido, levou consigo seu sonho. Queria ser um lutador, daqueles que quebram madeiras com as mãos sem dificuldade alguma. Queria apenas conhecer o mundo lutando, justa e honestamente. Não teve tempo de pensar que seu sonho acabara ali, que sua vida acabara ali. Não teve tempo. De lutar, de sonhar.

O mundo conspirou contra si. As pessoas não o conheciam mas já o odiavam. Sem apoio, sem ser entendido, sem ser reconhecido. Mas é provável que, se algum dia alguém encontrar com ele no céu e perguntar 'você teria ficado em casa, bem alimentado, trabalhando com seus pais e vivendo longe do mundo se soubesse que morreria daquela maneira?', ele responda 'jamais, pois assim teria abdicado de viver, mesmo que por pouco tempo e da pior maneira possível, um sonho que não era apenas meu'.

É provável que sejam os sonhos sem sentido de existirem, aqueles cuja possibilidade de não serem realizados beira a totalidade, sejam a única coisa que ainda haja em pró da esperança. O que não depende de nós faz com que essa esperança seja ainda mais importante. Porque acreditar na possibilidade é racional, acreditar no quase impossível é esperança. Com uma grande enchente de loucura.

Reflexões de um maluco(8) - Vôos sem asas de sonhos vivos


Quanto mais se pensa mais se pensa. É como um pacote de goma. Você come uma e depois outra e quando vê, sobraram apenas meia dúzia daquele pacote imenso. Ou como salgadinhos em festas de criança, você vai comendo e comendo até que começa a passar mal por não conseguir mais comer, e ainda assim, mesmo mal, come mais um antes de ir embora, passar a noite inteira mal por ter comido demais. Pensamentos são assim, vem um, e outro, e outro. Principalmente quando você busca por eles.

Busca rápida, pois mesmo sem querer você já está pensando, raciocinando, tentando movimentar seu corpo, seus olhos, ou qualquer coisa em você. Talvez até você consiga mesmo um dia movimentar seus neurônios de um jeito útil. Ou talvez o faça apenas como eu, que movimenta os neurônios buscando respostas para perguntas inúteis, provavelmente sem resposta.

Neurônios que se movimentam desorganizadamente mesmo que você queira organizá-los. A maioria das mentes que pensa, ou tenta pensar com fundamento, é uma grande bagunça. Isso é apenas o reflexo do cérebro, da mente, ou seja lá qual for o lugar onde estejam os neurônios que devem habitar as cabeças dos seres... humanos?

Como um raciocínio lógico, uma retrospectiva histórica, as causas e consequências do efeito estufa. Ligações rápidas, fáceis e nem sempre conclusivas. A lentidão perante o tempo é ignorada por mais uma série de pensamentos que faz análises e mais análises em um tempo que não existe. A possível quarta dimensão e o provável sétimo sentido nos levam a crer que nada é impossível, ainda mais se neles, ou mesmo que muito distante deles mas ainda assim na nossa mente, estejam sonhos.

E enquanto um desejo, um sonho, uma vontade for sincera e assim sentida de coração aberto, não há nada que venha a ser impossível, nem mesmo o vôo sem asas, do tempo ou da própria pessoa. Acreditar que o irreal existe não é mais do que um pequeno ataque de insanidade, embora quem viva o irreal já tenha passado dessa insanidade para um estágio que não possui adjetivo.

O fundo do poço e as nuvens do céu estão muito mais próximas do que neurônios infinitamente próximos, e ao ainda assim com uma dificuldade imensa de trabalharem juntos, podem chegar à conclusão. Porque neurônio algum, mente alguma, conseguirá acabar com o vazio, a solidão ou a sensação de que tudo, seja lá qual for o tudo, está perdido. Mas apenas uma gota de sangue que é impulsionada para fora de um coração vivo é capaz de mudar isso. Mil neurônios contra uma gota de sangue. O que se pensa e o que se sente.

Ambos aumentam exponencialmente sem precedentes ou razões. E não há como controlar. O tempo não controla, não diminui e muito menos apaga. A razão e a emoção são dois adjetivos meramente ilustrativos. Porque os pensamentos fluem na bagunça mental e transformam-se em ações, atitudes e palavras, e as gotas de sangue jorram para todo o corpo levando força, vontade e, se com sinceridade, sonhos que nenhum neurônio sequer conseguirá provar serem impossíveis.

Sonhos que o espírito eleva aos céus, onde, nem que seja apenas lá, há o vôo pleno, a elevação, o surreal, a vivência imaterial. A fé e a esperança mais pura.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Frase do dia e alguma coisa dos últimos meses

(ao som de Magic bus - The Who)

É como ganhar uma bala como prêmio de consolação por não ter conseguido o bombom. (escrita originalmente no meu twitter)

Não tentem entender. Não me peçam por quê, como, onde, para que. Não me peçam de onde veio, com que intenção foi escrito, qual sentimento foi colocado nele. Não me peçam nem como ou onde estou e nem para onde vou. Não me peçam nada. Eu não sei de nada. Nada do mundo, nada de mim. Distante de quase tudo. Sem perspectiva. Sem reclamações também. Eu já nem sei mais, o que, para que, por que, como, onde, ou qualquer outro motivo, razão, ideia, origem ou entendimento.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Histórias do Billi J. - Frase do dia




" Em momentos como esse eu acredito ser verdade a frase 'tudo na vida é uma questão de logística' " 


- Billi J., 
após ter seu pedido, 
de que todos os itens que havia comprado no mercado fossem colocados em uma única sacola, 
atendido.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Histórias de uma vida não vivida(13)

(ao som Yesterday - The Beatles, composição de Paul McCartney)

*Que credibilidade pode ter um louco que parece viver em outro mundo, que sonha acordado e fala alto e que não consegue, de maneira alguma, livrar-se de um sentimento, o mais sincero possível, mas que, por muitos motivos(desconhecidos), apenas sensações e sentimentos estranhos tem trazido para sua vida? Que credibilidade pode ser dada às palavras desse louco, desse insano, desse idiota? E ele ainda fala que acredita em um mundo melhor, mais justo. Ele sonha com isso. Ele acha que pode dar algum bom exemplo, mostrando como as coisas podem ser feitas para que a humanidade seja uma palavra que represente muito mais do que um grupo (quase) incontável de humanos. Ele é louco. Ele é insano. Ele, ou eu?

O supermercado estava lotado. Muito barulho, muitos ruídos, pessoas conversando, outras tantas reclamando do preço, da vida, de outras pessoas. Música de fundo terrível, som que faz doer qualquer ouvido e latejar a mente de qualquer um que aprecia uma boa música. E ele ali no meio dessas pessoas, desse barulho, de todas aquelas mercadorias mas, ao mesmo tempo, distante disso tudo. Não procurou nada, pois já sabia onde estavam os três itens que precisava. Não fez pesquisa de preço nem nada, queria mais era sair dali.

Fila no caixa e ele continava alienado a tudo aquilo. Até porque, Yesterday tocava no seu MP3 a todo volume, mesmo que a guria que estava atrás dele na fila lhe oferecesse tudo, ele não ouviria. Não tinha medo de ignorar alguém sem querer por não ouvir nada do que pudessem lhe falar já que, ninguém o conhecia, ele não era popular, rico, bonito, não era nada. Era apenas alguém que fora no mercado comprar algo que precisava. Só.

As pessoas o olhavam de um jeito estranho. Talvez fosse pelo excessivo suor, talvez fosse pela enorme caixa de sucrilhos que havia comprado ou talvez fosse porque ele cantava em voz alta. Parecia estar falando com alguém, já que, sem medo, olhava para as pessoas nos olhos. Era direto, simples, talvez até aterrorizante e amedrontador. Não que sua intenção fosse essa, mas o que pudesse parecer, não mudava. Ele não se importava com o que alguém pudesse pensar. Seria só mais um no meio de uma multidão de gente normal que acha que todos os que fazem o que lhes faz bem são loucos, idiotas, estúpidos. Sociedade patética...

Duas moedas a mais no pagamento, saiu dali normalmente. Até que alguém lhe olhou no olhos e lhe falou alguma coisa. Sua fortaleza intransponível de música, ouvida e cantada, e de isolamento no meio da multidão havia acabado. Não conhecia o sujeito, mas resolveu tirar os fones e ouvi-lo. Uma moeda. Aquele sujeito mal vestido lhe pediu uma moeda. Olhou-o nos olhos apenas por uma moeda. E ele tinha aquela moeda, de 1 real na mão. Na mesma mão e que segurava a sacola. Mas não queria dar. Aquele dinheiro era para as fotocópias(xerox) do dia seguinte. E aquele homem que fosse trabalhar.

O dia não tinha sido bom. Apesar de toda imensidão da obra de Deus saltando às vistas de todos aqueles que tinham dois olhos em funcionamento, dentre os quais ele, o dia não tinha lhe trazido boas sensações, muito menos boas lembranças. Estava cada vez mais distante do passado. Mais distante do presente. Mais distante do futuro. Quase um morto vivo, literalmente. E aquele sujeito lhe pedia uma moeda ainda! Era o fim. 'Será que Deus está brincando comigo agora?'.

Disse ao homem que não tinha mais moedas. Nem uma moeda. O homem lhe agradeceu, sentou novamente no meio fio e ele seguiu caminhando. Dobrou a esquina e, na metade da quadra parou. Não entendeu por que, mas parou. A cabeça pesou. O coração parou de pulsar. Seria tudo isso, toda essa sensação de se estar carregando uma bigorna apenas fruto de não ter dado aquela moeda àquele mendigo? Não entendeu. Sentiu-se sujo, normal, apenas mais um ser humano. Sentiu como se aquilo fosse o fim do mundo, da sua vida, dos seus sonhos. Tudo sumiu, e ele parado, pensando.

Olhou para cima e voltou. Caminhou um trecho considerável e entregou a moeda ao homem. Virou as costas sem ouvir resposta alguma, os fones estavam novamente nos seus ouvidos e, mais uma vez, o que lhe dissessem não seria ouvido. Não importava. O peso que perdeu quando se livrou daquela moeda era inacreditável. Mais um pouco e poderia voar de tão leve.

Por uma moeda. Para alguém que talvez nem precisasse tanto. Apenas por um olhar no olho, por uma palavra ouvida em um momento de surdez. Pela derrubada de uma barreira mental, criada sem sentido algum por todos aqueles que lhe cercavam. Indiretamente ou não, deixara-se afastar do mundo por ter aceitado o que faziam com ele.

Voltou para casa e continuou pensando naquilo. Não fazia sentido.

E concluiu: "a minha vida perderia todo o resto de sentido que pode ter se eu tivesse deixado de ajudar alguém que me ajudou apenas porque ninguém mais faria o que fiz. Não mudei o mundo, mas pelo menos agora me sinto orgulhoso por poder dizer que não preciso me afastar de tudo para poder provar que é possível sim fazer a diferença. Por mais que ninguém veja."


E, sozinho, sorriu.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Não há nada a ser dito além disto.

No olho do furacão, no centro do universo. 
Um simples grão de areia numa dimensão inimaginável. 
Por mais que esse grão queira, 
e com muita boa vontade tenha a remota possibilidade, 
não será nada além de um miserável grão de areia em uma praia, 
que dirá na dimensão do universo. 
Não há um centro do universo, porque não se sabe até onde ele vai. 
Então como um grão de areia pode querer sê-lo?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Beirando a insanidade(2) (ou mergulhando nela)

Uma raiva incontrolável, uma decepção indescritível e um cansaço físico que quase me fez parar.

Uma palavra quase final, como se fosse um atestado de desistência. Várias e várias palavras que tanta verdade continham mas que, no fundo, eram indesejadas.

A distância do coração e a ausência nova, agora de um cérebro.

De certa forma, uma redenção, um alívio. Uma música, cantada, uma foto vista com os olhos fechados, uma lembrança pensada, um sentimento humano.

Vida.

E nem interessa se há viver nisso. Tantos detalhes, tantos motivos para dizer 'chega, desisto', a tal da maré jogando para baixo. Pedras sendo atiradas e eu sem meus escudos, sem minhas espadas, sem a minha força. Indefeso, sozinho.

E ainda assim, vivo.

A cada dia caminho mais tempo junto com a insanidade. Aquela coisa que no fundo ninguém explica porque ninguém sabe o que é, mas quem sabe o que é só o sabe porque acaba vivendo um pouco dessa insanidade, ou com um pouco dela, ou em parte dela. Difícil explicar o que é, como é. Viva isso, um dia você me entende. Se é que já não está entendendo.

A distância entre o real e o irreal, entre a fraqueza e a força, a solidão e a companhia. Tudo isso é mínimo, se é que existe distância. Os olhos não vêem aquilo que deveriam ver, mas sim aquilo que alguma coisa os manda ver. Alguma coisa maior, também sem explicação. Dizem que isso é fé, que isso é amor, que isso é saudade, que isso é apenas um sentimento, qualquer que seja ele.

Dizem e digo. É alguma coisa. Alguma coisa espontânea, alguma coisa sincera, que transforma uma possibilidade de pior dos dias em um dia de vida, um dia de percepção, de fortalecimento daquilo que nunca enfraqueceu.

O esquecido que foi lembrado sem intenção. A espontaneidade mental que prova que ainda há um cérebro, ainda existem neurônios, mesmo que eles não sejam muitos  não façam grandes coisas. Um sentimento, dois sentimentos, vários sentimentos. Com o adjetivo da sinceridade por perto. Sinceridade que prova serem reais.

Real e imaginário, o que se vê e o que se imagina, sentir plenamente ou apenas da boca para fora. Insanidade.

Cantar, lembrar, pensar, sonhar, sentir. Sem sair da mesma cadeira onde antes tudo parecia tão difícil, onde antes o dia parecia ter sido terrível. Onde antes o cansaço prendia, fixava, como se houvessem colado-a em ti.

Insanidade.

Talvez não haja ainda viver da maneira que havia, e que um dia haverá. Mas há vida. Há um coração, um cérebro, há uma alma.

Há a sinceridade, as lembranças, o amor.

E as palavras.