sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O vazio de viver e só (30)

Por mais que olhasse cada mensagem, a resposta não estava ali. Nem nas mensagens, nem nos recados, nas comentários em fotos ou em qualquer espaço virtual. De celular ou internet. Nenhuma dessas extensões virtuais de vidas cada vez menos reais continha a resposta. Pelo menos não a resposta que ele procurava, incansavelmente.

Era como se quisesse encontrar o sonho diante dos olhos, das mãos ou de qualquer parte do corpo. Talvez fosse essa a vontade mesmo, ver, e ter, concretizado um sonho. Bobo, simples, mas não menos sonho. Queria palavras de certeza, de confirmação, palavras reais.

Porém não as encontrava em lugar algum. Mais uma vez, pelo menos não as palavras que ele queria.

De complexos e paranoias, passando por uma sede imensa de concretização, estava ali, sentado, esperando o tempo passar, a resposta que procurava aparecer e, então, ter motivos para sorrir como nunca havia sorrido. A busca o cansou.

Ele parou, desistiu. A resposta que queria chamar de sua não estava ali.

Talvez sequer existia.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Histórias do Billi J. - O fim em palavras ( I )

- Então, por que está aqui?

- Terminei um relacionamento há uma semana e não quero ficar pensando nesse fim.

- Porque isso machuca? Porque você está arrependido de algo que fez? Porque não quer lembrar do que ela lhe fez?

- Não. Porque não quero pensar no fim.

- Como acha que posso ajudar-lhe?

- Você é que deve saber.

- Conte-me então sobre esse relacionamento. Quem era ela, o que gostava, como se conheceram, quanto tempo de relacionamento, enfim, conte o que quiser contar sobre.

- A Renata era, e é, a mulher mais linda que já vi em minha vida. Até hoje, pelo menos. Ela é inteligente, simpática, sorri de maneira espontânea, está sempre tentando ajudar, ela é original, gosta de boas músicas, de arte, me ama muito. Nos conhecemos na infância, por anos fui apaixonado sem conseguir demonstrar. Começamos a namorar, ela ficou anos longe, quando voltou para cá voltamos a namorar... não sei, o final do relacionamento é estranho, não faz sentido algum.

- Por que?

- Porque amo ela da mesma forma que sempre amei. E ela também.

- Então por que terminaram?

- Escolhas. Ela decidiu voltar para Londres, eu decidi ficar. Foi um acordo, entre aspas, pacífico. Não brigamos, discutimos e nem existe aquela coisa de 'relacionamento desgastado', entende? Terminamos porque... sabe, jogadores de futebol não sabem a hora de parar porque em vez de pararem depois de conquistar um título importante, sempre querem mais e então... acabam se aposentando no ostracismo.

- Então vocês terminaram o namoro agora para evitar que um desgaste pudesse afastá-los para sempre?

- É por aí. Percebemos que, de alguma forma, tudo o que vivemos foi... tudo o que poderíamos ter vivido e, ao invés de repetir as coisas, uma por uma, preferimos uma nova história. Sozinhos.

- Ainda conversa com ela?

- Todos os dias, somos amigos.

- Amizade colorida?

- Ela está em Londres e eu aqui, que tipo de cor pode haver nessa amizade?

- Ouh, essa doeu. Espere um pouco.

- Por que?

- Preciso recolher meus dedos que acabou de cortar. Haha.

- Gostei do seu senso de humor, mas estamos perdendo tempo.

- Como era o relacionamento de vocês?

- Ótimo. Somos pessoas diferentes, bastante diferentes porém, levamos a sério que um devia completar o outro. Nossas diferenças mantinha-nos indivíduos porém sempre fizemos o possível para estar em unidade, como um casal deve estar.

- Pensaram em casamento?

- Claro, sempre. Meu sonho é ser pai. Inclusive nossos filhos chamar-se-iam  Carlos e Ana.

- E isso não seria novidade suficiente para o relacionamento?

- É uma boa pergunta... mas não.

- Por que?

- Porque percebemos que ela não nasceu para ser mãe.

- Perceberam?

- Ela percebeu e conversou comigo sobre. Pensei bem e vi que ela tinha razão.

- Por que acharam isso?

- Não há muitas explicações, ela nunca sentiu-se bem com crianças e... elas acabariam responsáveis pela nossa união. Chegaria um dia em que...

- ... a paternidade não seria forte o suficiente para segurar um casamento.

- É por aí.

- Como se sente com isso?

- Relacionamento, fim do mesmo, Renata ou filhos?

- Fim do relacionamento.

- Estou... não sei.

- Como?

- Não sei dizer o que sinto. Amo-a demais e isso embasa minha alegria por saber que ela está bem, que está correndo atrás de um dos seus sonhos, não consigo ficar triste com isso.

- Sente-se aliviado?

- Desde que tinha, sei lá, seis anos de idade, eu olho para ela e vejo... bom, não é o que eu vejo.

- É o que você sente?

- Não só. Eu poderia descrever como ela é, todas as nossas conversas, os momentos, poderia falar e, acredite, eu falaria sobre ela por semanas ininterruptas entretanto...

- Entretanto...?

- Nada disso vai conseguir dizer o que o amor que sinto por ela fez em mim. Não no que eu fiz, escolhi, enfim, mas no que eu sou.

Silêncio.

- Continue.

- Tudo o que eu poderia alcançar, como indivíduo, foi, de alguma maneira, por causa dela.

- Para agradá-la? Para conquistá-la? Para mantê-la por perto?

- Não.

- Então?

- Ela sempre provocou sentimentos bons em mim. Sede de conhecimento, vontade de amar a todos, enfim, só bons sentimentos, só boas coisas. Ela despertou o que de melhor poderia haver em mim.

- Durante todo esse tempo?

- Sim.

- Estamos falando de quantos anos?

- Eu a conheci quando tínhamos... sei lá, seis anos. Então são uns... 20 anos, por aí.

- Contando uma pausa...

- Que não interferiu no que eu sentia.

- Se o seu sentimento não muda, se não está decepcionado... por que veio até mim?

- Queria que me ajudasse a entender isso.

- Isso?

- Por que estou insosso diante de tudo isso.

- Defina: insosso, nesse caso.

- Faço o que preciso fazer no trabalho, saio com meus amigos, assisto futebol, minha rotina não se alterou à exceção do tempo que passava com ela.

- Onde entra o insosso?

- Em tudo. Nada do que tenho feito gera algum tipo de satisfação.

- Nem mesmo hobbys?

- De certa forma.

- O que você fazia que lhe dava maior satisfação?

- Sempre gostei de esportes. De escrever. De desenhar. A Renata me ensinou a gostar de dobraduras e pintura. Gosto de teatro, cinema, enfim, artes num geral.

- Tem feito isso com frequência?

- Sim, mas nada com muita vontade. Faço porque sei que é bom, que sou bom nisso, que gosto... e não porque isso está me satisfazendo ou completando, de alguma forma.

- Já pensou que pode ser só uma fase?

- Eu sei que é só uma fase.

- Por que não espera ela passar, então?

- Seria uma boa opção...

- Se...?

- ...se eu não tivesse vontade de me redescobrir.

- Por que acha que precisa fazer isso?

- Eu não preciso, mas tenho vontade.

- Agora entendi onde entro nesse seu... "problema".

- Talvez. Há algumas coisas do passado também que ainda incomodam-me.

- Como por exemplo?

- Raiva guardada por anos.

- Isso, de algum modo, ainda o incomoda?

- Eu disse que está guardada, não que está à flor da pele.

- Por que não a deixa guardada, então?

- Não é um bom conselho. Sinto como se estivesse à beira de explodir.

- Por que?

- Porque é muita raiva guardada, reprimida.

- Por que reprimiu tanta raiva assim?

- Eu disse antes, a Renata despertava o que havia de bom em mim e a tolerância, por causa dela, era algo necessário uma vez que ela não merecia, sob qualquer hipótese, ouvir qualquer tipo de reclamação minha.

- Ela reclamava de alguma coisa com você?

- Sim. Várias vezes por semana até.

- E ainda assim você não sentia vontade de fazer o mesmo?

- Estamos falando de períodos de tempo diferentes. A minha raiva fora guardada antes de namorarmos.

- Não entendo.

- Nunca quis que ela me visse com raiva. Até porque, não levaria a nada além de risos...

- Rir é bom para liberar raiva.

- Não no meu caso. Eu era magrelo, seco, fraco. De que adiantava ficar com raiva e, na tentativa de extravasar, acabar apanhando mais ainda?

- Você apanhou quando era criança?

- Mais subjetivamente do que literalmente. Hoje chamam isso de bullyng.

- Por que acha que haverá um momento em que não conseguirá mais controlar toda essa raiva que diz ter?

- Porque não há mais a Renata por perto para que eu tenha motivos para controlar.

- O que irrita você?

- Se soubesse, não estaria tão preocupado pois poderia facilmente preparar-me para determinada situação de raiva em potencial.

- Do que você não gosta?

- Eu disse antes que estou tentando me redescobrir. Coisas ruins não faziam parte da minha vida enquanto a Renata estava comigo. Eu relevava tudo.

- Agora não sabe como lidar com isso.

- Entendeu o que estou fazendo aqui, mesmo, não é?

- É o meu trabalho mas...

-... o que?

- Bom, pelo que você havia me dito, no começo da consulta, parecia ter a ver, diretamente, com o fim do relacionamento com a Renata.

- E tem mesmo. De um jeito diferente.

- Entendi, mas...

- O que?

- Sua hora acabou.

domingo, 26 de agosto de 2012

Histórias do Billi J. - O incompreensível e a inocência

Há alguns anos atrás, quando o Billi J tinha nove anos e estava na terceira série, aconteceu um fato que contribuiu muito para a decisão de reclusão tomada pelo Billi, alguns poucos anos depois. À partir daquilo, a visão dele sobre a amizade foi alterada bruscamente e a confiança nas outras pessoas também, mas de uma maneira ainda mais acentuada. Não era novidade que o Billi J. não tinha muitos amigos, aliás, nenhum dos seus colegas era seu amigo e, como todos sabem, o único motivo para ele não desistir daquela escola era... sim, a menina mais bonita da cidade, a sua primeira e grande paixão, ah, a Renata.

Por estudar, e circular pelos corredores da escola, sem companhia e sequer companheiros de conversas na hora da merenda, o Billi J. acostumou-se a conversar consigo mesmo. Por ser motivo de chacota de quase todos na escola, por apanhar dos colegas durante a educação física, mesmo que a atividade fosse individual - ou que ele não tivesse o domínio da bola durante o futebol, quando o mesmo era praticado - acostumou-se também a fortalecer-se a cada momento difícil que lhe era imposto. Sabia que eram apenas crianças, como ele, mas que ao contrário de si não eram crianças preocupadas com o que as outras, ou melhor, com o que ele achava de tudo aquilo. Ele era uma criança que não entendia porque as outras crianças o detestavam. Achava que era por causa dos óculos, do jeito tímido, porque estudava bastante ou porque, desde cedo, lia revistas de adultos.

Tanto faz.

O fato importante citado, e que acentuou a necessidade de afastamento do Billi J. das outras pessoas, aconteceu em uma semana de junho, antes do inverno começar. O Billi J., seguindo orientações da sua mãe, saiu de casa vestindo um moletom azul e, como de costume, rezando para que ninguém o notasse e que, ao menos naquele dia, não fosse alvo de piadas, gozações, ofensas ou mesmo agressões físicas - que muitas vezes incluíam tiro ao alvo com pedras, onde o alvo era ele.

Quando chegou na escola, viu seus colegas esperando-o na porta da sala de aula. Antevendo uma seção de tapas na cabeça, fingiu estar indo em direção ao bebedouro porém, seus colegas foram mais rápidos, o agarraram e cercaram-no, impedindo-o de fugir. Estranhamente, não o agrediram, sequer o xingaram. Billi J. olhava para eles perplexo, como alguém que diz 'vocês não vão fazer nada hoje?'. Por alguns instantes, eles riam baixo, uns com os outros, aumentando a perplexidade do momento para o Billi J. , até que um deles, Tiago, alemãozinho xarope e convencido, falou:

- Não se preocupe, filhinho da mamãe, hoje não vamos bater em você.

- Então me deixem ir para a sala. - respondeu um apavorado Billi J. .

- Não. Não vamos bater em você, nem vamos xingar você... mas você vai nos fazer um favor.

Era pior do que ser agredido, espancado e, na visão do Billi J. com nove anos, era pior do que ter seus braços cortados pelas espadas dos vilões dos Power Rangers. Fazer um favor para aqueles... bobos, era até pior do que ficar uma semana sem comer a torta de morango da mamãe.

- Prefiro que me batam, não quero ajudar vocês.

- Não seja idiota, não vai custar nada nos fazer esse favor. - respondeu Tiago. ( talvez a melhor frase fosse: "fazemos você de idiota todo o dia, xingamos você dos piores nomes que as crianças conhecem, batemos em você eventualmente e usamos você como alvo humano para treinarmos a nossa mira com pedras mas, apesar disso tudo, precisamos que você seja bom conosco e salve a nossa vida" )

- E depois, se nos ajudar, prometemos que não bateremos em você pelo resto do ano. - complementou Evandro, um baixinho metido a grande.

- Não acredito em vocês. E não imagino como posso ajudá-los.

- Primeiro, não fale como um adulto. Segundo, não vamos deixar de escorraçá-lo por nos ajudar.

- Então, o que eu ganho?

- Na verdade, é melhor você pensar no que não vai perder.

- E o que seria?

- Seus dentes.

Billi J. os olhou. Sabia que, da maneira que vinham treinando tiro ao alvo com pedras, logo seriam capazes de acertá-las nos seus dentes com uma precisão olímpica.

- Está bem, o que vocês querem?

- Não. Você não pode falar 'está bem'. Fale: tá bem! Fale!

Sentiu uma dor por mudar seu jeito de falar entretanto...

- Tá bem.

Dizer 'tá' em vez de 'está' foi triste, muito triste.

- Precisamos que você vá conosco para casa.

- E?

- E nada. É só ir conosco até o lugar onde vamos todos juntos, depois cada um vai para a sua casa, bobão.

- E por que?

- Não te interessa, quatro olhos. No final da aula, vamos esperar cinco minutos, se você não aparecer em cinco minutos, ficará banguela.

- Como você?

O Billi J. não tinha muita noção do perigo. Todos que estavam a sua volta riram, menos Tiago, que virou-se e foi para a sala de aula.

Durante os cinco períodos de aula, tentou concentrar-se no que os professores diziam, nas leituras e nos exercícios, mas o medo que sentia pelo que estava por vir era maior. O que fariam com ele? O matariam, o cortariam em pedaços e depois mandariam para sua mãe em uma caixa com os dizeres: "Ele se fez em mil pedaços, tia". Ou pior, podiam obrigá-lo a andar em uma bicicleta cor-de-rosa.

Ou a pior de todas as coisas: podiam fazê-lo sair correndo pela rua vestindo apenas a camisa do... Corinthians. "Do Corinthians não, jamais, prefiro morrer" - pensou. 

Naquele dia entendeu, pela primeira vez na vida, que nem sempre se pode fazer o melhor e que problemas pessoais podem interferir em todas as partes da vida. A grande vantagem de não se concentrar na aula era ter uma desculpa para ficar admirando, de longe, a Renata. Ah, e como ela era linda, e como seus cabelos balançavam com o vento que entrava pelas enormes janelas da sala de aula, e como ela era inteligente, sempre respondia o que o professor perguntava de maneira correta - ainda mais em matemática, pois corria o boato que ela sabia multiplicar números de dois dígitos, sem usar lápis e papel. Ah, Renata, talvez depois daquele dia não voltasse a vê-la.

Então aproveitou aqueles instantes de admiração da amada como se fossem os últimos.

O tempo passou, o momento chegou. Demorou e, entre uma e outra olhada disfarçada para a Renata, trocou a posição dos livros e cadernos na mochila umas doze vezes. Talvez aqueles bobos o deixassem em paz por não aguentarem esperar...

... não. Mesmo demorando um tantão, Billi J. deparou-se com aqueles... sim, esses mesmo, na saída da escola. Eles... sorriam... mas por quê, pensava o Billi J., desconhecendo toda e qualquer intenção por trás daquilo.

Sem mais delongas, uma vez que mamãe o esperava naquele dia com purê de batata e bife à milanesa para o almoço, foi o trajeto inteiro caminhando com seus colegas, sem entender nada daquilo em momento algum. Eles não falavam alguma palavra e a situação parecia cada vez mais ilógica, uma vez que... estava tão calmo, não apanhava, não era xingado... nada estava acontecendo, nenhuma degradação, agressão, intimidação, nada! Seria o começo de uma amizade?

Claro que não.

Chegando a um determinado ponto, percebeu que eles aceleraram o passo e, sem entender o porquê, foi arrastado junto com eles, para perto das meninas da turma, que estavam indo para casa em um grupo de cinco, também. Para piorar, entre elas estava... não... ela não... sim, a Renata. Temeu pelo que poderiam fazer com ela e até mesmo pela possibilidade de... eles não revelariam seu amor por Renata porque... ninguém sabia desse amor. Ah, Renata...

Foi quando o nada começou a parecer-se com o inferno. Aqueles bobos, um sardento, outro careca, outro com um risco de caneta na nuca, outro vestindo chinelo havaiana com um prego embaixo... aqueles bobos estavam... ãhn? O que eles estão fazendo?

Billi J. estava parado, bem próximo àquele grupo de crianças mas não entendia o que os seus colegas estavam querendo com suas colegas. Eles começaram a falar e... falar e... ãhn?

Eles queriam agarrá-las?!

Billi J. não sabia o que fazer e só pensava consigo: "A RENATA NÃO, A RENATA NÃO!", ainda que não demonstrasse isso. Estava parado com cara de lago em caverna sem reação. Não sabia o que fazer, o que dizer e, em hipótese alguma, no porquê estava ali, com eles. Eles tentavam aproximar-se e elas se afastavam, fugiam... claro, eles eram... eles eram... sei lá, me ajudem, digam alguma coisa! O Billi J. era só uma criança e... ele era uma criança menor que aqueles marginais que já haviam repetido de ano na escola.

O Billi J. não sabia o que dizer, como descrever, não conseguia entender e nem... nada. Digo, nem tudo. Digo, digo... Só conseguia pensar " NÃO CHEGUEM PERTO DA RENATA!" e logo desistia de colocar um 'senão' no final da frase por lembrar que não tinha porte físico nem conhecimento técnico para bater em alguém. Mas o grande motivo de não fazer nada é porque estava sedento por aquele bife da mamãe...

Ai ai.

Eles tentavam, elas se esquivavam. Eles tentavam beijá-las e elas, indiferentes, fugiam. A Renata foi esperta e saiu correndo, como se fosse chamar a Liga da Justiça - ou a Dona Florinda -, tranquilizando um Billi J. que olhou para o céu e rezou, bem baixinho "Obrigado, Deus, porque ninguém fez nada com a Renata".

Passos foram dados, aquela coisa estúpida foi acontecendo por quadras e quadras - com o Billi J. sendo puxado volta e meia por um ou outro bobo quando percebiam sua intenção de sair daquele... daquela confusão - até que... ah sim, agora a visão de inferno estava completa:

Os pais das meninas estavam vindo, conduzidos... pela Renata. Ah, Renata, como ela era linda, como seus cabelos balançavam com graça e simpatia... mesmo quando estava correndo para salvar meninas inocentes de meninos perturbados.

Quando viram os pais, eles todos saíram correndo. Todos, claro, menos o Billi J., que continuava perplexo, sem saber o que fazer, falar e sequer entender o que tinha acontecido naqueles últimos... QUARENTA MINUTOS! OS BIFES DA MAMÃE! Então ele tentou seguir seu caminho e ir embora porém foi seguro por um dos pais. Irritado, furioso, possesso ou, no popular, fulo da vida com... o Billi J.?

- Mas eu não...

Não deixaram-no completar o que ia dizer. Arrastaram-no naquele mal entendido, naquele momento mesmo, até a escola onde... bom, a história é longa e o resumo é esse:

O Billi J. foi acusado de assédio às suas colegas, o diretor o suspendeu por três dias, ele perdeu os bifes da mamãe, ficou uma semana sem poder comer bergamota e...

... dias depois, quando voltou para as aulas, descobriu que suas colegas, horas depois, conseguiram falar para os pais que ele não havia feito nada mas esses não quiseram voltar atrás nem mesmo com um pedido de desculpa.

Seus colegas riam. Riam. E por vários dias ficaram relembrando-o daquele momento.

- Você é um idiota mesmo, criança. Se ao menos tivesse juntado-se a nós... teria sido suspenso por justa causa.

- Você é um otário.

E todo aquele blá blá blá infantojuvenil que todos sabemos que, atualmente, é considerado bullying.

Ainda sem saber o que pensar, continuava andando de cabeça baixa pelos corredores e, mesmo sem ter feito nada errado - a omissão infantil é relativa quando se está com fome e a próxima refeição vem a ser bife à milanesa -, não tinha coragem sequer de olhar, disfarçadamente, para a Renata. Ah, Renata. Mas o pior era que o diretor da escola e aquela idosa chata da biblioteca ficavam encarando-o como se ele fosse um pervertido, como se tivesse matado alguém, ou feito algo pior como... desperdiçado uma bergamota atirando-a em uma parede.

Aquilo tudo era injusto demais! Billi J. ficou triste, muito triste mesmo, por dias...

Até que, em um qualquer ele ouviu uma voz ao seu lado, dizendo:

- Estou feliz por saber que você seria incapaz de agir como aqueles bobos.

Era ela, transformando aquele inferno em... um paraíso. Bem esperto é aquele que diz que não há sorriso sem lágrima. E como o Billi J. estava sorrindo só por ter ouvido a Renata falando-lhe... falando consigo.

Ah... o Billi J. voltou a sorrir!

*vago, muito vago.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Olhando em volta, esperando o tempo passar

Na verdade, é justo. Difícil de entender mas, sim, justo. Muito justo.

Quando aquilo que se busca está distante, pelo motivo - que poderia ser no plural - específico, deve-se aceitar que, querendo ou não, o tempo não se submete à vontade. Ele, o tempo, não é aliado, direto, nessa busca. Não ajuda, não acalma, não tranquiliza. Ao contrário, ele irrita, torna sensível o que outrora parecia rígido e intransponível.

O tempo é previsível num todo, como parte imparável da história porém, não há dúvidas,de que pontualmente - e isso 11 em 10 vezes se refere ao presente - ele esconde-se e mistura-se entre sonhos, desejos, lamentações, arrependimentos e utopias. Imprevisível é pouco perto do que está escondido em uma história a ser escrita. Assim como uma continuação inesperada, a manutenção de uma ideia inicial ou mesmo um final repentino, o transcorrer do tempo sem qualquer definição joga para o posterior momento a concretude, dia após dia.

Compreender que há, debaixo do céu há momento para tudo¹ e nada do que se faça, aqui, pode antecipar esse momento. O que resta é aprender a esperar e, nesse período, dar passos significativos para, quando o tempo certo fizer-se presente, estar pronto para viver o que então estará diante dos olhos, das mãos, enfim, de si.

É muito pouco dizer isso. Até mais, não é coisa alguma escrever tudo aquilo entretanto, e também não tenho dúvidas disto, é o que resta ou, como disse algum personagem do Dustin Hoffman no cinema: 'Não parece ser o melhor, mas é o que temos para o momento'.

Momento de espera, sob o Céu.

¹Ecl 3,1

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Um dia que demorou a passar

Talvez a expectativa de, nos últimos instantes, ter o que se esperava todo o dia, tenha sim, auxiliado e muito na chegada até aqui. Provavelmente essa expectativa ajudou, mesmo não tendo... uma relação direta com a ação, e não com a intenção escondida pela ação.

Sim, concordo, é complicado.

Porém, a tristeza por não ter a expectativa correspondida... não significa muita coisa. Amanhã, no caso hoje, é outro dia e... uma nova expectativa surge. Dificilmente aguentarei outras 20 e tantas horas. Duvido, ter calma e ser paciente também são atitudes limitadas, escolhas cercadas por humanidades... infantis. Talvez sejam mesmo.

Infantilidade quanto à impaciência, à pressa, àquela vontade de... resolver tudo logo e 'vamos sair daqui antes que o mundo acabe'. Ou algo bem próximo disso. Roda de conversa que não leva a lugar nenhum é esse texto, vazio, oco e... pasmem, cheio de coisas por trás.

Achei que seria mais fácil, sim - e agora o assunto mudou parcialmente - conseguir vencer esse dia... esse dia. Não importa o que possa ter sido motivo para a tentativa, que se revelou um sucesso, de vencer um dia esporádico no tempo, o importante é ter o que... bom, não se deve comemorar isso porque... vocês não estão entendendo nada, certo?

Achei que seria mais fácil - e sim, comecei outro parágrafo da mesma maneira que o anterior de propósito - entretanto enganei-me. Foi muito difícil. Em alguns momentos parecia que não conseguiria mas... me propus então... eu cumpri.

Você fez meu dia passar mais rápido. Talvez tenha, sim, jogado alguma expectativa maior hoje ainda mais por saber que ela seria frustrada hoje - e aqui a Sabedoria é humanamente incompreensível - porém, é inegável que muitas coisas me foram colocadas diante dos olhos e, claro, da lembrança, para que nada fosse esquecido.

Eu disse que faria. Que entregaria. Que esforçar-me-ia ao máximo. E fiz. E assim será outras vezes.

Não sozinho, claro. Só por meus esforços nada conseguiria. Você me ajudou.

E deve ter Rido quando minha expectativa foi adiada.

Obrigado.

sábado, 18 de agosto de 2012

Pedaços de um pensamento (54)


A natureza contorceu-se em inacreditável beleza. Quem poderia dizer que, tudo a nossa volta, poderia tornar-se indescritível em questão de segundos? Até mesmo os prédios e toda escuridão do asfalto parecia complementar, positivamente, aquela paisagem. Como se pássaros viajantes parassem por um instante para entrarem na eternidade de uma foto. Aquilo era inimaginável antes de mais nada. A beleza da Criação quadruplicava sem precedentes diante dos meus olhos. Por mais que mil lentes, com a melhor das tecnologias, pudessem registar até os nanométricos pingos de água que caiam de uma sacada em processo de limpeza, não conseguiriam descrever aquilo tudo que meus olhos viam. Cada detalhe, como se pudesse ver muito mais do que a minha humanidade permitia.

Busquei entender, quando aquilo passou. Sim, porque a eternidade ficou guardada em uma fotografia que, até hoje, traz-me um pedaço vivo daquela sensação. É natural que não consegui, num todo, assimilar tudo Aquilo. Estava, e sempre estará, distante da minha razão pois, além de sensações, envolve toda uma história escrita por Mãos não vistas a olho nu. Tudo que está por trás de cada pedaço de beleza, seja sua criação Direta ou capacitada, foge dos olhos, dos ouvidos e até mesmo da pele, daquelas sensações estranhas, e deliciosamente, boas. Ou mais do que isso. A simples possibilidade, real, de beirar o sublime, com 'tão pouco', pode não parecer atraente diante de tantas belezas conceituais.

Porém, a fuga dos padrões levou a uma das maiores experiências que já pude ter. A sensação, o sentimento e as razões débeis não conseguiram preencher todas as lacunas deixadas por Aquilo. Quem me dera ter a capacidade de torná-las possíveis ao menos na imaginação entretanto, não sendo capaz, apenas fracasso nessa tentativa de buscar palavras, as mais diversas possíveis, que possam aproximar isso aqui Daquilo.

Tornou-se vago tudo isso. Jamais deixará a eternidade aquilo.

Estando intimamente ligado ao que meus olhos viram, minha pele sentiu e fez pulsar insanamente meu coração, não posso deixar de dizer que pequenos pedaços verdes conseguiriam, sim, fazer todo o resto ser mero detalhe naquilo que foi, sem dúvida, uma verdadeira Arte. Precisei ter calma para lembrar de todo o resto. Não consegui compreender como pude, naquele momento, deixar passar tantos pedaços daquele sublime. Em verdade, o sublime não estava no todo. Nunca esteve, embora seja um tudo digno de atenção completa.

Sublime eram os pedaços verdes, não menos partes indescritíveis da Criação. Não menos humanos.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Histórias de uma vida não vivida (51)


*Quando, além da finalização de uma transitoriedade reflexiva, há uma novidade, tão semelhante e ao mesmo tempo tão diferente de antigas novidades, chega-se a um ponto onde pouca coisa pode ser dita, quase nada consegue ser expresso e nada tem o poder de tirar essa mistura íntima, de sensações e sentimentos, do lugar onde está. Como se fossem abelhas que saíssem de suas colmeias em busca de alimento para o bem comum e voltassem para outras colmeias, levando, portanto, o que encontraram para outro lugar. Mas jamais trabalham por si. Da mesma forma que abelhas não trocam de lugar e, mesmo se o fizessem, estariam cumprindo seu papel caridoso, o que hoje se manifesta surge no mesmo lugar onde algo semelhante surgiu, algumas outras vezes – não importando terem sido muitas ou poucas -, é bom, naturalmente bom. Puramente bom. Em essência, em verdade. Parecido, sim, porém jamais igual. O que é novo, além de estar no tempo presente, é ainda mais intenso e difícil de ser explicado e traz consigo consequências, ao menos por enquanto, maiores e facilmente visíveis. Pouco se deve dizer do que passou pois, por obra de uma novidade estranha e familiar, simultaneamente, as palavras parecem fugir... por medo de não conseguirem cumprir o seu papel da mesma maneira que abelhas cumprem os seus.

Tarde de inverno, o Sol recém escondera-se atrás da colina e eu estava lá, olhando para aquelas pessoas que caminhavam, reclamando do frio. Ora, por que reclamar de algo que não se pode evitar ou mesmo controlar? Meios artificiais agem em locais específicos e, de uma forma ou outra, não modificam o todo. Pouco importam-me essas reclamações, apesar de estar sentindo o meu calor fugir de mim levado por um vento fraco, porém impiedoso e decidido.

Vem-me à mente tantas coisas, todas sem muito nexo e desconexas entre si. Redundante? Talvez. E tanto faz. As minhas memórias confundem-se com sonhos, uma vez que poucas vezes algo que não pudesse ser realizado existiu em minha mente. Sendo sincero, apenas uma vez o que eu queria do futuro não veio para o presente e, mesmo isso, acabou ficando no passado. Entenderam agora o porquê da confusão?

Então.

Era uma novidade ter 17 anos. Caramba, como tudo era diferente, como qualquer olhar parecia manifestar uma sensação intensa e... como tudo vinha abaixo segundos após, por qualquer motivo tão infantil quanto a sensação que, sem exceção, era seguida de imaginação. Meus pensamentos não eram transitórios em locais, datas, climas ou roupas. Eram transitórios apenas em pessoas. Quem estava comigo e o que estávamos fazendo.

Certa feita sonhei que estava com um amigo jogando... que vergonha dizer mas... sonhei que estávamos jogando  dominó. Está perguntando-se por que é vergonha jogar dominó? Caramba, você não sabe nada da vida mesmo, ein?! Haha.

Bom, voltando aos sonhos num geral.

Todas as vezes em que, nos meus 17 anos, por motivos diversos, sentia falta de pessoas, mesmo estando cercado delas, procurava olhar para uma guria e imaginar como seria, sabe, se ela e eu... bom, você entendeu. Não lembro qual era o lugar, o clima, a roupa, a data ou quanto dinheiro havia na minha conta do banco. Só lembro que estava de frente para a pessoa, ela sussurrava algo, eu respondia da mesma forma e... durante o beijo, a imaginação cessava. Era como se perdesse a graça, a vontade de que aquilo acontecesse e, você chamando-me agora de retardado ou não, sim, minha carência era satisfeita com imaginações... que você pode chamar de sonhos. Bobos, repetitivos e sem graça porém, não negarei, era divertidamente estranho.

Tanto tempo passei nessa transição de criança para adulto, as sensações foram rareando e os sentimentos passaram a ter um valor inestimável, entretanto, as luzes da praça começam a se acender e lembro que, hoje, anos depois daquela infantilidade imaginativa, eu...

Estou aqui, imaginando. Certo, você sabe que estou, de fato, sonhando.

E ela é... Difícil dizer.

É até engraçado dizer que a maturidade modificou os lugares, os climas, as roupas, os contextos e até o dinheiro no banco, e os modifica a cada instante desse sonho que parece ser o mesmo porque... a pessoa é a mesma. São semanas assim, pensando, lembrando, imaginando, verdadeiramente sonhando com a mesma pessoa. Com o mesmo sorriso. O mesmo olhar. A mesma voz em palavras diferentes após frases diferentes minhas. Às vezes tenho a impressão de que posso tocá-la lá nos meus pensamentos.

Há tempos não sonhava. Com qualquer coisa. Há mais tempo ainda não sonhava com alguém porque já faz muito tempo que...

... ninguém tem o poder, a capacidade de liberar em mim doses maciças de espontaneidade.

As luzes estão acesas, o inverno começa a mostrar-se em um vento que, cada vez mais, carrega o meu calor consigo. Já não há ninguém reclamando, caminhando...

... só há alguém aqui, nessa praça, pensando.

Ou melhor, sonhando.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Pedaços de um pensamento (53)


Ah sim, a parte alta da ondulação. Onde não há dificuldade em ver, em perceber, em entender. Como se as coisas fossem durar para sempre assim. Felizmente parei de preocupar-me com a duração e isso tem permitido aproveitar muito mais. Cuidar para manter-se assim é necessário porém não muito efetivo quando... a onda desce. E ela desce, não há como evitar.

A questão, então, passa a ser o que fazer para voltar... não, ainda não.

Certas coisas, e essa - que não está bem explícita por motivos diversos como: falta de vontade, de objetividade, dificuldade na escrita - é uma delas, dispensam explicações, apresentações e, até mesmo, entendimento. O importante é que sejam, que existam, que em determinado período de tempo e que, nesse espaço difícil de determinar, tenham seu pedaço de eternidade presente.

Sim, no popular, que deixem alguma coisa boa nas lembranças, basicamente.

Está sendo confuso, dessa vez, esse período. Vai acabar tão cedo e não será... bom, terá sido bem diferente. Que bom que dessa vez não há atitudes impensadas motivadas somente pelo espontâneo. A sinceridade, e as consequentes atitudes impulsivas e espontâneas nem sempre são o melhor pois, após momentos de empolgação, o que permanece, em questão de tempo, passa a ser insuficiente para manter qualquer sentimento, imagine então sensações.

Depois de tantas vezes, de tantas passagens assim, ter finalmente aprendido a lidar com isso - como foi aprendido a lidar com o período de fim, de baixa ondulação, etc... - é, talvez, o ponto marcante do fim de um período árido e de linha reta, claro, na parte baixa, difícil, onde nada pode ser visto e pouca coisa parece fazer sentido.

Só tem sentido quando há a certeza de fim desse momentâneo.

Como só se pode perceber o que há de errado, durante um momento bom, depois que ele acaba e... as coisas parecem não voltar aos seus lugares.

É diferente. É calmo. Sem qualquer pressão, interior ou exterior. Distante de qualquer água passada por esse trecho do rio.

Mas nem um pouco mais fácil de descrever.

domingo, 12 de agosto de 2012

P a l a v r a s ?

Poderia, sim, hoje, dizer o que há de mais sincero, sem medo de parecer exagerado ou banal. Quem se importaria se o fizesse, também? É certo que não faria alguma diferença, porém, sendo coerente com convicções, não devo fazê-lo, insisto, hoje.

Porque... simplesmente porque é difícil desembaralhar tudo que está se desenvolvendo. Com rapidez impressionante mas com solidez espantosa. Nunca foi assim. Nunca foi tão... e tão.

É difícil dizer. Calma, discernimento, etc, são desnecessárias palavras aos meus ouvidos, uma vez que já sei de tudo isso, da necessidade de tudo isso.

Quero saber, quero acompanhar, ajudar, compartilhar e... sem pensar muito.

Espontaneidade há tanto tempo ausente, por tanto tempo lamentando essa ausência e, do nada ela volta.

E vem.

Querendo mexer-me, balançar-me, revigorar-me...

Até que os poréns, condicionais ou não, cheguem.

Há o tempo, a vontade, a possibilidade e o fato concreto.

Só o segundo desses fatores faz parte do presente. Sim, porque não chegou a hora do terceiro, ainda.

Dizer que não preciso de palavras seria mentir porque... não consigo encontrá-las, de tão... não sei.

Talvez, espontâneo, que esse falso tudo esteja sendo.

Estranho. 

Acho que voltei.

Histórias do Bandiolo - Já não sou mais eu aqui

- Bom, se não quiser dizer mais nada, vou indo porque...

- Já?

- É, acho que terminamos de conversar o que tínhamos de conversar, então...

- Você está bem?

- Sim, estou, por que?

- Você disse que ficaria mais se eu tivesse algo para dizer então... eu tenho.

- Então diga.

- O que você tem feito?

- Em que sentido?

- Em tudo.

- O de sempre, estudo, leitura, escrita, tenho feito palavras cuzadas, tentado aprender em vários sentidos, missa, orações... o de sempre.

- E alguma dessas atividades você faz acompanhado por alguém?

- Às vezes.

- E...

- Eu sei o que você quer perguntar, então pergunte logo.

- Está saindo com alguém?

- Depende de quem vai aos lugares. Às vezes saio com os amigos...

- Você entendeu.

- Não sei se preciso responder. Por que a pergunta?

- Achei que poderíamos, sei lá, sair e conversar.

- Estamos conversando.

- Ai, não se faz.

- Não sei o porquê disso agora mas não, não estou saindo com ninguém, não tenho um relacionamento com ninguém.

- É que eu...

- Você nada.

- Você nem sabe o que eu iria dizer.

- Disse pelo que imagino, logo...

- O que?

- Você sabe.

- Não estou entendendo.

- Nem eu o que você quer de mim.Conversamos sobre algo sério, impessoal, pronto, acabou, é só isso.

- Você não falaria assim se não estivesse gostando de alguém...

- Já saí da segunda série do fundamental para ainda 'gostar' de alguém e, bom, falaria sim.

- Então tem.

- Sim, e?

- É que eu pensei...

- Esquece, há coisas que precisam morrer para que outras, melhores e verdadeiras, possam surgir.

- Então não era verdadeiro?

- Eu fui, o que eu senti foi, do resto não posso falar...

- Se tem mesmo de morrer, como você disse, então morrerá outras vezes.

- Exato porém, o que você ainda não entendeu, quero que da próxima vez algo significativo, duradouro e intenso passe a existir, com a mesma pessoa, ao contrário do que aconteceu conosco.

- Por que não deu certo?

- Você deve saber, eu não penso mais nisso.

- Por que?

- Cansei de entristecer-me por isso. Pensar em porquês me desanimava, tirava a minha alegria, a minha vontade. Parei com isso quando percebi o quão mal me fazia porque, inconscientemente, eu ainda esperava.

- Mas eu...

- Claro que não, nunca disse nada, por isso eu disse 'inconscientemente'.

- Então..

- É, então é isso, não tenho mais o que dizer.

- Estou decepcionada com você.

- Porque não fiz a sua vontade? Porque o que havia entre nós acabou? Porque estou sendo sincero?

- ...

- Em nenhum momento reclamei ou menti, fiz você acreditar que as coisas voltariam ao que eram, etc. Em momento algum.

- É, mas...

- Fim.

Virou as costas e saiu. Com a convicção de que esse fim seria real.

sábado, 11 de agosto de 2012

Pedaços de um pensamento (52)


Mantendo os braços cruzados quando, na verdade, gostaria de gesticular incansavelmente.

Olhando para todo o resto quanto, de fato, queria olhar fixamente para um, digo, dois pontos.

Escondendo um sorriso quando, em suma, poderia estar sorrindo feito idiota.

Tudo isso parece novidade, algo completamente desconhecido, inexplorado, inimaginável. Além de isso não ser verdade, é engraçado. Ao menos é engraçado porque... trechos curtos, pontuação imprecisa, descontinuidade e... o que mais mesmo?

Atrapalhação.

Até parece que vivi isso há algum tempo porém, não posso negar, é diferente. O momento, o contexto, o tempo e, claro, todo o resto. Tirando, talvez, as duas primeiras frases que, por algum motivo, remetem a tempos completamente diferentes e, por hoje, tão parecidos.

Felizmente - e há um grande alívio na escrita dessa palavra - tenho a certeza de que as semelhanças não passam de... semelhanças. O que existiu, pareceu ter existido e o que há, hoje, são somente parecidos pontualmente porque, de fato, são opostos. Parcialmente em alguns quesitos mas, ainda assim, opostos.

Não há como descrever uma ventania por alguns segundos. Não há amostra suficiente, não há percepção tão aguçada que diga isso ou aquilo da mesma. Aqui, então, há o mesmo problema, pela falta de tempo, de palavras, de momentos, de... tudo.

Falta tudo entretanto...

... por alguns instantes pareceu não faltar nada.

E aí começam as preocupações...

... que por alguns instantes eram impossíveis.