terça-feira, 29 de maio de 2012

Ecos da sinceridade - Para com a sensação que traz paranoia

Tento entender que essa sensação de que algo está prestes a escapar das minhas mãos é apenas uma atitude egoísta e possessiva. Se fosse o caso, em outros tempos... mentira, é a primeira vez que a indecisão incomoda dessa maneira. Parece que todos tendem a estar certos quanto a isso e, sem receio de perturbar-me, dizem-me sempre que deveria pensar bem antes de... antes do que mesmo?

Ah sim, deixar tudo como está.

Foi uma atitude relativamente difícil de engolir porém, contrariando a lógica, fiquei feliz com o seu surgimento. Não é porque não gosto que não deva receber palavras distanciadoras por motivos... bem, eram bons motivos. Ainda devem ser pois, passado algum tempo, continua correndo a distância. Difícil concluir alguma coisa porém, como eu dizia...

Estou fazendo o possível para que a possibilidade de estar jogando a melhor das oportunidades fora - por motivos não mais justificados, ao menos por enquanto - não exerça sobre mim o papel que parece querer exercer: o da paranoia desesperadora. Estranho, talvez engraçado porém, para quem leu Shakespeare e viu uma vez ou outra novelas mexicanas, as coisas não parecem tão impossíveis de chegarem ao ponto em que tudo parece - e acredita-se de fato que está sim a - conspirara para aquela... coisa lá, aquele pensamento que diz que depois disso, nada mais será tão bom quanto.

Entendendo que, diante de coisas que parecem não querer parar de surgir e, portanto, jamais encerrar aprendizados - sejam de utilidade imediata ou futura -, tem-se que, acertando ou errando, estarei errando. Por mais que não faça sentido - e a tendência em algum momento será achar que nada disso fez sentido em momento algum - é a verdade porque mesmo acertando, hipoteticamente, e, portanto, revendo uma escolha que terá sido mal feita, o erro estará na falta de acertos anteriores, na quebra de convicções humanas e, para piorar tudo, no desrespeito à Vontade que, do início ao fim, é a única que dá sentido a toda e qualquer escolha.

Quem sabe um dia consiga ver isso como uma série de acertos, ainda que irônicos. E, com isso, possa sorrir bobamente em conjunto, tendo saído de uma escolha que terá mostrado-se acertada ou, como essa sensação inquietante atual insiste em demonstrar, voltando atrás na escolha para ir adiante também com um sorriso idiota no rosto.

O problema da paranoia e dessa sensação inquietante é que o tempo, e a vida, não fazem sentido. Não são circulares nas escolhas e...

Detestam quem não sabe escolher.

Se perceber e reconhecer um grande erro, não sei o quanto me consolará saber que o foi por convicção própria, distante de tudo que é alheio, de tudo que está em volta. 

Distante até mesmo de sensações bobas como essa, que transforma algumas gotas de chuva em... dúvida.

domingo, 27 de maio de 2012

Os vizinhos emitem ruídos estranhos. Talvez por ser um pouco (ou muito) surdo, não consigo decifrar. São barulhos que não sei exatamente de onde vem, se de cima, de baixo ou do lado. Tanto faz, eles fazem barulho e eu aqui, em silêncio.

Bom, para ser sincero, não exatamente.

Os dedos que teclam as letras que formaram essas palavras acabam gerando barulhos rápidos, insignificantes caso estivessem em meio a... barulho qualquer. O computador libera calor e isso também gera um pouco, quase mínimo, barulho. Meus pés batem no chão e, mesmo que descalços, consigo ouvir os pequenos ruídos que saem. A tosse, sim, também faz barulho.

Só que assim como a grama do vizinho é sempre mais verde, o barulho do vizinho também é sempre mais alto.

Não tem explicação. Razão. Não tem vontade. Nem título. Apenas barulho.

E nada.

sábado, 19 de maio de 2012

Histórias de uma vida não vivida (46)


*A natureza, por si só, está intimamente ligada ao tempo. A natureza, de alguma forma, é o próprio tempo. A existência só nos é Permitida porque, além de muito amor, há um grande propósito para cada um. Tirando a parte filosófica da coisa e focando apenas no ato de fazer parte de um conjunto infinito de seres vivos, incluindo o próprio ambiente temporal, percebe-se passagem, vaga porém nada inútil, quando olha-se para um céu cujas nuvens se movimentam despreocupadas, sem a obrigação de deixar cair água aqui ou ali. Ato relativamente espontâneo, não explicado em absoluto que dá uma noção da dimensão absoluta que é o espaço. E o tempo. Atemporal é aquilo que foge dessa segunda palavra, que não deixa de ser uma regra. Fora do tempo está aquilo que, ou não existe, ou não corre com ele - e aqui não consigo imaginar coisa ou situação que se encaixe - ou, com uma ou outra objeção pseudointelectual,é eterno. Fazer com que algo seja atemporal não deve ser uma obrigação porque nada daquilo que é feito assim tem um grande sentido. A livre escolha traz a tona a condição essencial para que algo torne-se atemporal: o espontâneo. Quem busca a eternidade não a tem porém, quem vive a liberdade no Amor o tem, espontaneamente. O atemporal está nas mãos de quem sabe que o tempo é finito. Para nós.

Passei o dia inteiro olhando pela janela, vagando olhares em direção ao horizonte. Tão próximo localmente, tão distante quanto o pote no fim do arco-íris. Quanto mais busca-se ir além, mais longe parece-se estar do mesmo. Utopia pura e simples, sonho impossível de todos que querem fugir de si. Não é o meu caso. Meu olhar não era de quem desejava estar em outra vida, em outro tempo, em outro espaço.

Enquanto as nuvens passavam, a sensação de que tudo estava passando rápido demais surgiu. Assim como nuvens passam, com rapidez proporcional a sua existência, o tempo parecia passar mais rápido do que eu poderia estar vivendo a minha vida. Enquanto uns lá fora corriam, outros cantavam e outros, mais desperdiçadores de tempo do que eu, dormiam, estava olhando para o céu com... alguma vontade de fazer aquilo tudo parar.

Isso tudo parar.

Vontade essa que, levando em conta o momento atual, não faz sentido algum. Não há nada de especial, nada que beire o sublime, acontecendo ultimamente. Semanas, muitas, atrás, sim porém hoje, não. Nada está sendo significativo o suficiente para querer que o tempo em si pare e a vida continue sem... contradição mas enfim... sem passar. A inexistência da possibilidade de fazer parar as nuvens até que derramem-se sobre lugares específicos faz sentido quando trazida para essa relação vida/tempo/linearidade.

A vida é um fator linear porque o tempo é linear. Não há voltas, devaneios, teimosias em repetições ou aleatorizações. A natureza, embora trabalhe com a repetição de ações, o faz em seres e ambientes diferentes. Aceitar que uma nuvem não pode ser parada até que chegue sua hora de esvair é dar crédito à inevitável continuação de sua breve existência, levando em conta que há uma finalidade na mesma. Querer pará-la, por qualquer motivo, é ir contra o que é natural, tentar fazer de uma presença temporal uma existência temporal, manipulando indevidamente o que não se deve - e felizmente não se pode - controlar.

Enquanto olhava para as nuvens passando, pensava no tempo. Distante estava meu pensamento. Distante está minha espontaneidade. Longe, muito longe, está algo que possa, algum dia, me fazer querer parar o tempo.

Espontaneamente significativo.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Pedaços de um pensamento (46)


Preciso de ar! Preciso de água! Preciso de calor!

Não carrego nenhuma sensação ruim, nenhum sentimento vazio ou alguma raiva. Apenas preciso de ar.

De água.

De calor.

Enquanto consegui manter-me longe daquilo que não conseguia controlar, disfarçando com tudo o que era possível para, criando uma ilusão, conseguir manter um foco longe de um eu inexistente, mantive, com tranquilidade, passos e palavras. Nada perturbava, nada parecia ser capaz de. Porém, como uma pedra jogada para cima, sob a ação da gravidade, a queda era inevitável. Ver, e constatar isso, hoje é um golpe oportunista sobre mim. Um oportunismo que, ao contrário dos mundanos, não leva a nada. Não há novidade que hoje seja útil, não há fator diferente que possa ser causa de alguma diferença. O fato é que preciso de ar.

De água.

E de calor.

Querendo ou não, tentar sempre ver e fazer com que tudo tenha uma importância, com que até mesmo aquilo que não precisa seja compreendido e a aceitação em todos os casos de tudo o que vai contra a vontade própria acaba, e não há exceção, sempre trazendo consequências incompreensíveis. Aos alheios e ao próprio. Reconhecer não basta, não leva a lugar algum - nesse caso. Mais do que isso, a tentativa de tornar realidade tudo o que se imagina não é, sob hipótese alguma, um erro entretanto, e aqui entram a natureza e a humanidade, agir como se nada de concreto existisse não torna a vida, e tudo o que vem com ela, mais fácil de ser, não compreendida mas sim, explicada.

Eu só preciso de ar.

De água.

E de calor.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Histórias do Bandiolo - Pedaço de... nada

Ele estava olhando para o prato da pessoa que estava ao seu lado de um jeito... não sei descrever, era como se... não, não parecia querer o que o outro estava comendo, não estava com inveja do tamanho do bife nem... nada disso. Ele só estava olhando e...

...ele estava olhando para o prato da pessoa ao lado por algum motivo!

Sem receio, remorso, ressentimento, medo de que fosse pego e... peraí, começaram a conversar?

Por que ele olhava parecia 'secar' o prato da outra pessoa, com um olhar paranoico, sedento, faminto, sei lá mais o que, se conhecia a pessoa? Inveja? Do que?

Caramba, sério, não sei o que é pior, o cara olhando com olhos arregalados para o prato do outro ou eu, observando os dois que comiam... ou tentavam comer... sem... o que mesmo?

Ah, deixa pra lá.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Ecos da sinceridade - Para com aqueles que (não) dão valor

Tantas vezes foi falado, escrito e, antes disso, pensado. Tantas vezes foi motivo de tristeza, decepção e até mesmo raiva. Todas as vezes vistas de dentro, do ponto final da relação porém, tudo isso só faz sentido quando...

...pela primeira vez você está do outro lado.

Achar que é a primeira vez não é julgar-se superior, é apenas constatar uma verdade própria. Tanto disse e até mesmo esbravejei contra o mundo que, por uma necessária ironia da vida, do tempo e, óbvio, da ação de Deus na minha personalidade, precisei terminar esse... capítulo de aprendizado da maneira mais... estranha possível.

Estar do outro lado, daquele lado onde tanto joguei pedras, dói. Ah, se dói. Parece que todas as pedras jogadas estão me acertando agora. Não estava errado ao reclamar, por constatações bem racionais entretanto - não tenho dúvidas - também não estava certo em fazê-lo.

E tudo porque, hoje, pisei na bolinha de gude e derrubei os pratos novos da mamãe ou, numa versão chula dos fatos, corri o risco de, ao não assumir, reconhecer e aceitar esse erro como uma verdade e torná-lo, de fato, o último, tornar a sinceridade em mim uma coisa banal.

Não é fácil admitir mas é essencial. Errei e, como em todos os meus outros erros, não estou mal por mim e sim por quem, infelizmente, acabei acertando com meus erros.

Muito do que eu precisei, tive e, por razões que não justificam - e talvez sequer expliquem - não dei-lhe. O valor, a importância, o reconhecimento de algo que em momento algum existiu para destruir ou estragar algo em mim.

Você vai entender, sim, eu sei que vai e, bom, o resto eu já disse.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Histórias do Bandiolo - Mesmo dia, mesmo dia

Todo dia, 18 horas.

Mesma seção do mesmo mercado. A padaria.

Todo dia, 18 horas, com dois reais e cinquenta centavos.

Pão cacetinho*. Meia dúzia.

Não estava preocupado para o que as pessoas que sempre o viam lá poderiam falar.

Até porque, elas também iam ao mesmo mercado na mesma hora.

18 horas.

Há tempos não sentia-se mais um paranoico compulsivo.

Mesmo que seguisse os mesmos passos todos os dias, na mesma hora dia pós dia.

Jack Nicholson foi um brilhante e compulsivo paranoico 'As good as it gets'.

Ele também poderia sê-lo, então.

Ela, a atendente da padaria, seria sua Helen Hunt.

Ele seria Jack Nicholson.

Aliás, ele já era, só faltava ela.

Hoje, ah sim, hoje iria perguntar se ela...

Parou em frente à padaria do mercado.

O mesmo mercado de cada dia.

18 horas.

Parado, viu-se olhado.

Para ela.

Sorriu e...

...começou a rir. Esqueceu o que ia dizer.

O que ia pedir.

Ela deu às costas a ele.

Ele continuava a rir.

Tudo aquilo era ridículo.

Ele era ridículo.

Porém engraçado.

Virou as costas e saiu.

Ela não sentiu sua falta.

Ele não sentiu falta dela.

Mas os curiosos que sempre o percebiam sim, eles sentiram sua falta.

Sentiram falta de quem falar.

E rir.

Agora ele ria deles.

Dela.

E de si.

Saiu, sorriu.

Que bobagem!

Aliás, que história é essa de Jack Nicholson, ein?

*para os brasileiros, pão francês