sábado, 29 de outubro de 2011

Histórias de bergamota (16)


Sempre me disseram que uma imagem vale por mil palavras. Que um gesto vale por mil palavras. Esses filósofos de banheiro do passado, que no presente são filósofos de twitter, não conseguem definir quantidades e equivalências de valores, intensidades e afins. Não os culpo, eles não sabem diferenciar o dia e noite, verdades e mentiras e, menos ainda, jacas e cajus. Por isso não dou ouvidos a frases feitas, mitos populares transformados em verdades absolutas para mortais que não conseguem compreender que um acerto depende de uma escolha que, muitas vezes, exige um sacrifício.

Vivendo no bem bom eles não precisam sofrer, não precisam transpor uma exigência que sacrifica algo em si que tanto prezam e, óbvio, não saem do lugar na dita escada do subvalorizado - porém jamais insignificante - crescimento pessoal.

A fuga dos momentos de raiva e a consequente atitude de reprimir impulsos que afetem negativamente a vida de outras pessoas é, sem dúvida, um dos pontos chave do tal crescimento pessoal.  Aceitar que a tolerância é fundamental não só para o convívio social em estado de paz como também - ironicamente com maior importância - para a dita, e hoje em dia tão banalizada, paz interior. Olhar para atitudes passadas em momentos pontuais que exigiam, subjetivamente, um controle maior da própria personalidade traz momentos de riso, decepção e, caso a explosão tenha sido controlada, satisfação pela superação, mesmo que com grande sacrifício, de uma limitação meramente humana.

Nenhum animal sai por aí batendo em outro sem um motivo. Nenhum é morto pelo outro apenas por prazer ou espancado por inveja. Animais seguem instintos - com o perdão da redundância - animais, o que basicamente não passa de um 'comer, reproduzir e fazer com que o fruto da reprodução tenha o que comer'. Seres humanos matam, espancam e fazem coisas piores, quase sempre motivados por algum tipo de distúrbio agressivo, apenas por... bem, os motivos são muitos.

A raiva, antigamente, era disseminada com bergamotadas. Ninguém morria, ninguém ficava gravemente ferido, ninguém era assaltado por causa de bergamotas e ninguém assaltava atirando bergamotas. A raiva era dissolvida a cada bergamota transformada em projétil. O crescimento pessoal não era banal, sendo que aqueles que o alcançavam não mais atiravam bergamotas uns nos outros. Ninguém postava no twitter frases como 'acabei de atirar uma bergamota na fuça* do meu vizinho' ou 'meus vizinhos idiotas vivem trocando bergamotadas'. Ninguém.

O mundo era, sim, um lugar melhor no tempo em que os xebas subiam nas bergamoteiras, quebravam seus ganhos e espalhavam bergamotas por todas as ruas.

A paz imperava.**

*em termos bagualísticos, fuça é rosto, face.
**Exceto se você passasse por um deles usando um boné muito caro.

(Sim, um texto idiota.)

Ecos da sinceridade - Com o Absoluto


Sentado na sacada, imploro que Deus faça ecoar na imensidão desse pôr do Sol algum solo musical de piano, como fundo para esse momento. A solidão absurda nesse metro quadrado de área ao ar livre entre tantos prédios me traz lamentações passadas - porém, de maneira alguma, insignificantes. Na mesma proporção em que busco, às lágrimas, sentir os raios de Sol que parecem atravessar meu corpo sem tocá-lo, tenho a impressão de que tudo foge do meu alcance em um simples piscar de olhos, ou em um pequeno desvio no caminho - ainda que não se tenha sido completado-o. Parece injusto - e a injustiça parece uma certeza quando um bando de pássaros cruza o céu sem destino aparente - porque tenho a impressão que somente eu sou cobrado por cada, pequeno ou grande, erro, desvio, limitação ou fraqueza. Entender o motivo dessa ideia não é fácil, sobretudo quando se leva em conta uma história aparentemente normal. A singularidade torna-se utopia e nada do que vem a ser dito é assimilado. Pior do que tentar entender é não querer compreender tudo o que envolve essas situações. Enquanto o tempo passa, o Sol se esconde e a luz artificial toma conta parcial da minha visão, sigo com incertezas, dúvidas quanto à existência e suas subsequências. Dizer para a própria Verdade que nenhuma verdade saída de mim teve qualquer importância entre um tempo é doloroso e isso torna-se pior quando ganha tons de reclamação. Irrito-me por nada acontecer, por momentos de insatisfação (nem tão lógicas) voltarem justamente quando o caminho convergia à Luz.

Tudo o que tenho vivido ganha tons estranhos, irônicos e até mesmo dramáticos e, por nada disso ter um fim aparente, o tom da cor, do som ou da intensidade desses momentos, sensações e sentimentos, acaba não sendo relativo, definitivo para uma conclusão. A Verdade está aí, é necessário apenas que se busque, com mais forças do que se tem, vivê-la.

Quem sabe assim, com a ajuda da sinceridade diária, a vivência absoluta da Verdade seja menos complexa, melhor percebida, e assim se possa ouvir um barulho vindo do Céu.

Barulho que poderá ser, muito bem, um solo de piano.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Reflexões de um maluco (19)



A sensações, imagens de um passado sem dono e imaginações desviadas são mais do que suficientes para criar uma barreira quase intransponível que separa o ser humano de si próprio. O desvio de um foco - qualquer que seja ele - é o contra objetivo. Não há sequer uma razão emocional que justifique a não aceitação daquilo que é momento, de intensidade absurda e incontrolável - ou quase. Entre todo o pensar, a impressão de que a sensação, o momento e a vontade - quando desejada - acabam tornando-se uma verdade justificável por si só é plausível - e passa a ser aceitada por qualquer mente que não consegue aceitar que há muito mais tempo do que vida.

Assimilar, e nada sequer o mínimo distante disso, que as escolhas levam para um lugar muitas vezes sem volta, é admitir para si mesmo de que cada passo dado influencia muito mais do que no próprio momento de vivência iminente. Os grandes erros da história surgiram, possivelmente, em momentos em que o ego assumiu o controle, deixando à razão tudo aquilo que é habitual e jogando - com um grande teor de hipocrisia moralista - a culpa naquilo que é sentimento, que é emoção.

Justificar escolhas por desejos sentidos e, ironicamente, sinceros não convém àqueles que desejam muito mais do que o momento, a sensação, o agora. Quem puder reconhecer em seu passado momentos chave em que escolhas mal feitas foram, salvo raras exceções, ponto de partida para grandes e dolorosos sentimentos - mesmo que somente após muito tempo. A definição não serve apenas para apresentações ou conversas entre pessoas que possuem algum interesse, mútuo, em conhecer ao outro.

Saber, palavra por palavra, quem se é, o que se faz e aquilo que se tem por convicção e ideal torna-se justificativa verdadeira para escolhas que parecem erradas, para mentiras disfarçadas de verdades e sonhos fantasiados por desejo ou pela, não menos errada, escolha de momento.

Assim como sensações não justificam erros que vão contra a verdade própria da pessoa, sentimentos, por mais sinceros que possam ser, não justificam ações e opções que afastem a razão, ou a própria emoção, do corpo ou coloque entre as duas uma linha imaginária intransponível. Pelo que sinto, sensação ou sentimento, não posso justificar - e aqui alguém haverá de criticar e discordar - qualquer escolha que vá contra o que tenho como verdade, por mais sincero que seja.

Não sei dizer, agora, se existem meios erros porém, se existirem, algum alívio tomará conta de mim. De resto, a certeza de que continuo não fazendo parte de um mundinho o qual sempre critiquei - mundo que é maioria na sociedade e que não compreende que a verdade, em todos os seus valores, é a grande chave para a verdadeira felicidade.

A sinceridade, em mim, ganhou credibilidade pois lembrou-me, no momento crítico, quem sou. Nenhuma palavra saiu, nada mesmo foi dito. Para aqueles que pensam que sinceridade é apenas falar o que pensa, saber disso é um tanto confuso. Não importa.

Sei que fiz a escolha certa. O problema é, também, saber que, embora tenha acertado, também tenha errado.

domingo, 23 de outubro de 2011

Pedaços de um pensamento (29)


À espera de um definitivo, um milagre definitivo que transforme todo esse desdizer patético em linhas inteligentes, interessantes, fundamentadas em um projeto de presente e futuro. Esquecendo o passado, as minhas palavras não estão mais onde estavam, o meu sentimento não está mais onde estava, duvido que ainda reste alguma lembrança. Nada do que posso ter sido restou e é, somente, a minha existência a única prova de que tudo aquilo um dia existiu.

Não adianta, mesmo batendo com a cabeça e insistindo o passado não vai desaparecer. Do nada ao tudo, variável pela origem do ponto de visão, passasse pela unicidade literal de um tempo e duas vidas. A mesma água que jorra hoje ao chão, pelo olhar para trás, para ajudar a germinar um futuro indefinido algum dia correu apenas por constatações tolas de que o nunca era logo ali.

O nunca era e é logo ali. Lá.

Milagres só acontecem quando, além de fé, há vontade e verdade. Penso ter vontade porém sinto a verdade próxima, como parte de mim. Se tudo tivesse, na realidade, não haveria problemas e os milagres estariam jorrando, pois conclui-se por fé a entrega de todo o futuro.

Retificando palavras depois, há um quarto elemento para o milagre.

Um elemento temporal. Atemporal.

Depende de que lado do princípio do ponto de vista você está. Próximo de que número está o ponteiro do seu relógio.

sábado, 15 de outubro de 2011

Pedaços de um pensamento (28)


Aceitar que, mesmo que você mova um mundo nada muda para melhor, é entender que nem toda mudança traz um sorriso, nem todo crescimento faz de você alguém melhor e não há mundo que mude apenas pela sua vontade. Há casos e casos mas, geralmente, há um condicional maior que tudo isso, que interliga a minha vontade com o que acontece, com a minha história a ser escrita com qualquer coisa que possa a ser vida ao meu redor, à partir de uma escolha minha. Difícil entender, e ainda por cima ficar feliz, com uma situação boa que parece mais com um fracasso patético. As linhas tortuosas das nossas vidas nunca, e nesse caso não há exceção, correm sozinhas, não são apenas as nossas escolhas que definem quem seremos. Optar por um caminho longo ou curto, fácil ou difícil, verdadeiro ou tolamente superficial é, antes de qualquer definição, a abertura de um imenso leque de possibilidades.

E, no meio dessas possibilidades, aquela que mais se encaixar com você será, quando chegar a hora certa, mostrada a você. Não há nada escancarado, não há nada muito claro entretanto, e as exceções continuam inexistentes, quando você estiver preparado para a verdade que está por vir, quando souber lidar com todas as mentiras que lhe serão jogadas contra para tirar-lhe dessa verdade, você saberá que é essa, e não qualquer outra verdade.

Não que essas outras verdades não sejam verdades, mas elas não são a sua verdade. Elas não são A Verdade.

"...the sun will shine..."

sábado, 8 de outubro de 2011

Pedaços de um pensamento (27)


Superar uma fase com um sorriso no rosto não faz qualquer diferença perante o todo da vida, do mundo, nem mesmo da fase. O que  foi superado é, embora não seja de fácil descrição, motivo de orgulho pela conquista, pela superação em si ou pela ansiedade que surge em cada novidade, a vontade de começar a viver uma nova etapa, percorrer um novo caminho. A grande diferença entre dar início a um novo capítulo no livro da vida com um sorriso no rosto e sem é que, quando o sorriso é para si, demonstra que você sabe que tudo o que está acontecendo é a verdade que você precisa viver, que os momentos difíceis que ficaram para trás são também, agora, motivo de alegria, pois sem eles você não seria o que é hoje. Sorrir não muda o mundo, não muda a sua vida e não reduz os seus problemas.

Sorrir, nesse caso, mostra para o mundo, e confirma para si mesmo, que não há necessidade maior do que aquelas que já foram supridas pelas pessoas que estão com você e que ajudaram-lhe a percorrer tudo aquilo que hoje é passado.

Sou grato por tudo, e principalmente por todos, que Me destes de presente ao longo dessas vinte diferentes comemorações.