segunda-feira, 30 de julho de 2012

Pedaços de um pensamento (51)

Enquanto a onda explicada pela - muitas vezes citada anteriormente - lei da ondulação parece estar acendendo agora, consigo ter um pouco mais de clareza no pensar. Mais como verbo do que como ação, prática, porém basta. Por enquanto basta. Antes que isso acabe, a maré suba, a onda desça e nada tenha sido feito, é bom poder olhar para fora - pela janela fechada em virtude do frio - e ver que o céu continua azul mas, por enquanto, um azul claro, alegre.

Inevitável constatar que muito do que foi, e ainda é, não o deixará de ser por questões filosóficas e até mesmo poéticas. Não há intensidade e, claro, não é como um dia foi entretanto, ao seu jeito, é pelo que sempre foi e está marcado na história. Minha história. Deixar para trás o necessário já foi feito e o que ainda continua ganha ares de 'prêmio' por jamais ser indiferente às alegrias vividas.

A vontade é, sim, de falar, de perguntar, sem qualquer intenção que não seja a de acalmar as naturais preocupações. 'Como está' e 'quanto tempo' seriam óbvias demais, talvez depois de um pedido simples e, quem sabe, desnecessário. Não há medo, nem receio... há apenas... cuidado.

Assim como certas coisas são melhores quando ficam para trás, esquecidas, essa talvez deva continuar somente na imaginação, na preocupação, na lembrança. Querer trazer à tona algo que, muitos dias atrás, terminou sem necessidade clara e manifesta pode significar a necessidade de um risco gigantesco sobre tudo o que possa ter sido passado, no passado.

Enquanto isso, sem peso qualquer nos pensamentos, fico tranquilo ao ver que, ao menos aparentemente, não tenho com o que me preocupar.

Ver que há sorrisos, espontâneos, tranquiliza e diminui a importância de um possível - e não provável - resgate unilateral.

Possível e provavelmente unilateral.

Acho que tudo está tranquilo. Estou feliz por haver sorrisos, por haver felicidade. 

Feliz.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Pedaços de um pensamento (50)

- Poderia explicar-me então, senhor, por que saber disso me deixou enciumado?
- Claro que sim, a resposta é simples.
- Diga-me logo, antes que a ânsia por algo que não sei consuma-me por inteiro.
- Acalme-se, é provável que nada disso faça sentido.
- Qual é a resposta? Pare de demonstrar sabedoria.
- Quando descobrir se isso que está sentindo é verdade, saberá por que está enciumado.
- E se não for verdade?
- Terá sido apenas humanidade entretanto, não lhe esconderei, terá achado bom que voltará a tentar senti-lo e, não sendo verdade, ainda sentirá muitas vezes antes de conseguir viver a verdade.

As letras que alguém escreve sabendo que não serão lidas são, geralmente, princípio de grandes e magníficas provas de que a espontaneidade presente em simples atos é essencial para o que muitos chamam de felicidade. A razão disso está no fato de que, mesmo sabendo que não haverá reconhecimento da qualidade do que foi pensado - sequer conhecimento da existência da mesma - , não há desmotivação para tornar aquilo que se pensa naquilo que se pode ver, independentemente de os olhos a ver estarem unidos com o princípio das letras.

Querendo ou não, a busca inconsciente por reconhecimento tira de nós grande parte desse singelo ato de demonstrar, tornando atemporal em palavras, aquilo que nem mesmo a razão em si consegue explicar. Porque é fácil dizer que uma pedra está caindo quando alguém a joga do alto de um prédio. É inevitável, visível e lógico, pois há leis que dizem, explicam e ratificam essa ideia. O mesmo não se pode fazer com aquilo que parte da intimidade de pessoas que, gostando ou não, são frutos do Amor. O amor, humano, é simples por ser nobre, por ser incomparável, por ser de tão diferentes formas e ao mesmo tempo conservar uma semelhança imensa entre as mesmas.

Explicar aquilo que não se vê e, dizem por aí, que não passa de ilusão daqueles que tentam ver o copo meio cheio sempre, é das mais fáceis tarefas quando não há uma exigência descritiva, crítica e, claro, prática. Na teoria é fácil citar exemplos do que é, como funciona, o que ocasiona porém... como age, em si, é complexo. Diriam os poetas - os bons, e não esses enganadores contemporâneos - que é preciso sentir para saber que está vivo. Pensar não basta pois mesmo um cão quando esconde um osso demonstra estar pensando. Não há, também, como exigir que um pássaro voe se ataram suas asas.

As formas e, à partir delas, o ato espontâneo de, a cada dia, viver o que é de fato amor, aproximam qualquer ser (dito) racional da mais profunda insanidade. Perde-se o controle por não saber explicar, talvez vice-versa, tanto faz. O fato é que é tão variado, acontece de maneiras tão diferentes em contextos sem qualquer semelhança que seria de se estranhar se fosse sempre espontâneo.

O começo disso e, portanto, o primeiro componente dessa loucura não deve ser o único momento espontâneo. É necessário que tudo se faça assim para que nunca haja uma explicação, nunca faça sentido, mesmo que um dia descubra-se, então, que houve algum exagero e, portanto, não era bem isso que estava acontecendo.

As coisas que acabam não são, óbvio, eternas. O espontâneo não precisa ser eterno e por isso deve estar presente em tudo o que se sente.

O amor, entretanto, é eterno.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Histórias de uma vida não vivida (50)

*É humano procurar no passado explicações para o presente. Muitas vezes elas são encontradas e, óbvio, são úteis porém, em tantas outras vezes, somente criam inseguranças, com relação a outras pessoas e, principalmente, a si. Eis o grande problema, o medo de mudar, de alternar, de fazer diferente daquilo que um dia foi feito e deu certo, mesmo que não esteja mais dando certo, valendo à pena ou mesmo trazendo satisfação. Olhar para trás como ponto de partida é um erro sempre que não se quer ir muito além desse ponto, mantendo sempre a mesma rotina, as mesmas escolhas, os mesmos gostos. Quem morre para algo, não aprisionando-se nele, tem sempre a oportunidade de desfrutar da beleza da novidade, do gostoso suspense da expectativa. Claro, pouco disso tem a ver com as palavras que virão entretanto é bom abrir os olhos pois olhar para o passado dificilmente traz à tona somente uma lembrança específica.
 
Ela olhava para cada pessoa que passava. Acompanhava com os olhos e ia de cima a baixo, como se procurasse algo nelas. Ele estranhou, e perguntou:

- O que você tanto olha nessas pessoas?

Mal sabia que era a única coisa que não deveria perguntar naquele momento. Paranoias femininas devem ser sempre evitadas.

- Sua mãe andou me contando algumas coisas, ontem.

- É mesmo? Como o que?

- Adivinha...

Ele pensou e, na falta de uma resposta sensata, resolveu lembrar da infância.

- Ela deve ter falado que eu jogava futebol com uma bolinha de tênis na garagem e que me jogava no chão para defender meus próprios chutes.

- Não, ela não falou isso.

- Então não sei, não lembro de nada da minha infância que possa me deixar envergonhado.

- Essa história de chutar e defender o próprio chute te deixa envergonhado?

- Não, mas não lembrei de outra situação.

- Ah ta.

Percebeu a emboscada que aquilo seria porém resolveu levar adiante.

- O que ela disse, ou melhor, sobre o que vocês conversaram?

- Sobre os seus antigos relacionamentos, namoradas, paixões, etc...

Ele riu, socando a mesa.

- Antigos relacionamentos meus? Você só pode estar brincando.

- Ela me disse que você nunca teve um namoro muito duradouro e que...

- ... eu, na verdade, nunca havia namorado, ou pelo menos ela não sabia de nada.

- Isso.

- É isso mesmo, poucas pessoas sabem de muitos detalhes da minha vida.

- Você tem o que esconder?

Era tarde demais para pedir uma porção de batata frita.

- Faz diferença saber se existiu alguém?

- Depende.

- Do que?

- Foi importante para você? Você já amou alguém?

- Se sim, por que importa agora?

- Porque eu não conheço ela. Ou elas. Não sei se há um padrão nisso.

- Padrão no que?

- Nas suas escolhas.

- Tipo?

- Olha aquela loira oxigenada lá...

- Qual?

- Aquela que está usando uma saia preta.

- Quase sem saia você quer dizer.

- Essa.

- O que tem ela?

- Quem me garante que os seus antigos amores não eram loiras com pernas grossas que usavam saias curtas que deixam a mostra pernas bem definidas?

Ele riu, balançando a cabeça negativamente. Não havia como voltar, mas poderia ser engraçado. Apesar da paranoia e da possibilidade de levar uma garfada no olho em caso de irritação.

- Não? E então loiras como aquela magrinha, baixinha, com blusa verde e calça jeans?

- Vai continuar com isso, mesmo?

- Vou, até descobrir qual é o seu padrão.

- Por que eu tenho que ter um padrão de gosto?

- Porque todos os homens tem.

- Toda regra tem exceção, não?

- Essa é difícil. Aquela loirinha não é bonita?

- Não sei, você sabe que minha visão não é das melhores.

- Então essa que tá vindo.

- Mas ela não é loira.

- Que bom que agora eu sei que você está vendo ela. Ruiva, olhar compenetrado e voz grave, que tal? Elas eram assim? Você gosta mais das ruivas é?

Ele riu. Ficar calado provavelmente era a melhor escolha.

- Não.

- E a morena que está do lado dela? Olha que corpo com curvas bem definidas, maçãs do rosto coradas, todo homem baba quando vê uma mulher dessas passando. E ainda tem um sorriso bonito, não?

- Acha mesmo?

- Você não?

- Não estou babando. E, bom, esse sorriso dela pode indicar várias coisas.

- Como o que?

- Ela pode estar desesperada porque o cachorro dela, um poodle, desapareceu sem deixar rastros, levando consigo um papel em que estava escrito o nome e o telefone de um cara rico, famoso e com uma Ferrari na garagem.

- Ãhn?

- Desculpa, acho que imaginei longe demais.

Ela sorriu.

- Tá, mas ela é linda, não é? As outras eram morenas também?

- Não.

- Loiras não, morenas não, ruivas não. Ah, aquela de cabelo castanho, todo cacheado, que linda ela né?! E olha aqueles olhos azuis, caramba, queria ter olhos azuis como os dela.

- Gosto dos seus olhos.

- Mas os delas são mais bonitos!

- Você que está dizendo...

- Ela não é linda?

- Ela é bonita, só isso.

- E as outras?

- Também, pareciam ser, ao menos.

- E qual delas era o teu padrão de gosto? Ou melhor, é o teu padrão de gosto... ah, você entendeu.

- Eu já não disse que não tinha um... padrão?

- Não acredito nisso.

Por um momento pensou em desistir de tudo e virar um homem bomba, talvez em outra vida as mulheres não fossem paranoicas.

- Por que não?

- Todo homem tem preferência por mulheres, mais altas ou mais baixas, morenas, loiras ou ruivas, musculosas ou frágeis, magras ou gordinhas, com olhos azuis, verdes, cor de mel ou covinha quando sorriem. Todo homem tem preferência por um certo biotipo de mulher. Todo homem! Só quero que você me diga como eram os seus antigos amores, qual tipo de mulher lhe atrai.

Ele, mais uma vez, riu.

- Não tive antigos amores. Minha mãe mencionou que, à princípio, não tive nenhum namoro propriamente dito.

- Mas se apaixonou!

- Sim.

- Como elas eram? Loiras ou morenas?

Ele olhou para cima como quem pede paciência ao Céus. Sorriu e olhou para ela novamente.

- Elas? Quem disse que foram várias e não apenas uma? Não tive um padrão, ela era ou elas eram bem diferentes e nenhuma delas conseguiu representar para mim o que você representa, tanto que com nenhuma delas tive o relacionamento que tenho com você.

- Por que é tão difícil me dizer o que mais atrai você em uma mulher? E por que não me diz se foi ou foram?

- Ah, falando dessa forma fica mais fácil responder e... foi, pronto.

- Fala logo antes que eu me irrite!

- Mais ainda?

E sorriu.

- Tá, eu acho que, fisicamente falando, uma mulher, para atrair a minha atenção, deve ter um olhar como o seu, sabe, alegre, que transmita algum sentimento por trás, nem que seja a pura e simples atenção dada ao que está sendo visto. Ela deve ter um sorriso como o seu, que instigue espontaneamente um sorriso recíproco, independentemente do que está acontecendo em volta. Acho que ela deve ter também o seu jeito de andar, com leveza, como se estivesse caminhando sobre nuvens ou colchões super macios, passos despreocupados com o resto mas diretos, conscientes de para onde estão indo. Uma mulher me atrai também se souber falar com gestos, como você faz, facilitando a imaginação de qualquer coisa através dos gestos vistos pelos olhos. Ela precisa também vestir-se com roupas com as quais se sente bem, assim como você faz, sem seguir uma tendência externa ou somente influências de marcas e, claro, sem ser vulgar.

Ela silenciou.

Ele sorriu. E bebeu mais um gole do refrigerante.

domingo, 22 de julho de 2012

Histórias do Bandiolo - Eu que não ri se não entendi

- Eu não entendi.

Essa frase derruba a pessoa que julga ser engraçada. Toda piada bem sucedida termina em riso. Seja ela boa ou ruim. De nada adianta o humor ser inteligente e ninguém entender, mesmo que seja a melhor piada do mundo. Bom, se ninguém riu, é a pior piada do mundo.

- Mas você nunca estudou no...

- Piadas que exigem raciocínio não me agradam.

- Mas nunca ouviu falar em partidos de esquerda e de direita? Os de direita são conservadores e os de esquerda são radicais, anti-governo...

- Sim, e daí?

- Daí que a piada é ótima porque o clima da nossa cidade é como um partido de esquerda porque ou é quente ou é frio, entendeu, é um clima radical...

- O que esportes radicais tem a ver com isso?

- Não falei de esportes, o clima é radical porque não existe meio termo, ou é muito quente ou muito frio.

- Mas na explicação anterior você não colocou o 'muito' antes de quente e frio, logo...

- Vocês são exigentes demais.

- Você está exigindo que nós gargalhemos com algo que só pode ser considerado com algum sentido engraçado quando...

- Blá blá blá.

- Isso, é uma bobagem.

- Mas foi engraçado.

- Para você.

- Se foi para mim, foi para alguém.

- Você contou a piada, sua opinião ou seu riso não contam a fim de julgamento da qualidade da piada.

- Por que?

- É como se eu dissesse que meu pé é o mais bonito dos que estão pisando o chão porque...

- O meu está em cima da cadeira.

Riram.

- Não, porque...

- O meu está sobre o meu joelho.

Riram.

- Vão me deixar falar?

- Não queremos deixar você falar.

- Mas você contou uma piada sem graça então...

- Pelo menos ele tentou falar algo engraçado.

- E, apesar do fracasso absurdo, a tentativa é válida.

- Você é juiz de validez verbal?

- Do que?

- Validez verbal. Se uma sentença é válida ou não.

- Juízes dão as sentenças, não as julgam.

- Ãhn?

Entreolharam-se.

E riram pois já não sabiam mais do que estavam falando.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Pedaços de um pensamento (49)

Há exceções, é claro, mas a história mostra que todo final de época, de era, de uma linha histórica é marcado por um fato pontual. As exceções são poucas e nem convém, aqui, citá-las. Pontualidades que determinaram, ou apenas deixaram claro, o fim de um tempo, de impérios, de domínios e formas de pensamento, são comuns em toda história humana. Clara ou obscuramente, tornam-se conhecidos ou são fruto de conclusões... blá blá blá.

O que motivou-me as palavras, agora, foi ter percebido o fim de um... tempo, com um fato pontual. Não que as coisas estivessem caminhado e, repentinamente, foram interrompidas. Longe disso aliás. Assim como a queda do Império Romano não ocorreu diretamente com os ataques dos comandados de Átila ou dos gauleses, nas minhas poucas páginas um fim ficou determinado... não sei bem quando pelo fato de só ter percebido hoje.

A internet, em sua essência, é aberta e livre para quem quiser... ver. E pode-se ver o que quiser - desde que não haja um firew... blá blá blá.

Eu não consigo, mesmo, continuar com isso. Hoje percebi que o que já estava morto foi cremado antes de ser enterrado e... por que ainda importo-me?

Ah sim, a história do sujeito nostálgico. Não é que esteja preso demais ao passado, é que... há coisas que o tempo não apaga, que a distância não... blá.

É como se parecesse estar tudo no stand-by da televisão. A qualquer hora poderia ser ligado novamente - apesar de o controle remoto e os botões na própria televisão não funcionarem há meses - porém... alguém cortou o fio que conecta na tomada e então...

Muito óbvio?

Quanta bobagem. A história continua no passado, aqueles que tentam apagá-la não são dignos de novas histórias. Sim, quem não está em paz com seu passado - e por isso tenta escondê-lo ou torná-lo desconhecido de todos - não é capaz de viver evolução no presente e conseguir solidez no futuro.

Blá blá blá.

Estaria decepcionado se não fosse algo de tempos, contínuo. Estou é tentando entender se há algum significado por trás...

... do final anunciado.

Não.

domingo, 15 de julho de 2012

O vazio de viver e só (29)

Não tem sido difícil encontrar tristeza, solidão e nostalgia nas minhas escassas palavras. Também pudera, não há como exigir de um médico que saiba projetar uma casa. Esquecendo a teoria, a lamentação nostálgica de hoje talvez possa ser a última. Talvez possa ser mais uma. Ou talvez nem seja uma nostalgia tão clara porém, de uma forma ou de outra, o será. Entendendo-a e tomando para si ou não. Difícil tomar para si o que é próprio da minha história mas...

Sinto saudade dos meus amigos. Tanto jogadores de futebol ou cantores, dos intelectuais e dos opostos a isso, quanto das suaves vozes emitidas por altas, médias ou baixas estaturas. Não classifico saudade como nostalgia mas é difícil explicar a quarta palavra mais difícil de traduzir para outros idiomas sem colocar lembranças, ou seja, o passado em cima da mesa. Sem especificações, sinto saudade dos amigos que impediam, cada um de um jeito, que chegasse a um ponto de onde...

... não estou conseguindo sair.

Nada do que tenho feito tem bastado e aqui entra a lamentação. O que antes era suficiente, como alguns minutos conversando sobre coisa alguma, já não basta. A sede aumentou à medida que o tempo passou. É correlativo, paralelo e ao mesmo tempo perpendicular em vários pontos. Ambos vão para o mesmo lado... como se fossem um só. Eles e eu... era legal não só porque me mantinha intenso, impulsivo e espontâneo. Era legal porque...

... era amizade. Ainda é mas...

Maldito adversativo.

Não sei explicar. Como certas coisas mudaram, outras não mudaram porque, se o fizessem pouca coisa ainda existiria. Quando alguns deles precisaram, fiz um esforço para estar por perto, tentando ao máximo... o que mesmo? Ah, sim, tentar. A tentativa é válida quando a intenção é boa e a ação em si é desconhecida. Eu tentei e mesmo que não tenha conseguido, cumpri o meu dever.

A tristeza aumenta com isso: quando eu precisei, como agora, quantos deles, meus amigos, tentaram?

Em tantas outras vezes, mesmo passando por desertos até maiores e mais árduos do que esse pelo qual transito há algumas semanas, ainda conseguia, com palavras curtas em mensagens ou segundos em ligações, recados, enfim, demonstrar que... o que se demonstra para os amigos? Preocupação, importar-se, saudade, enfim, para cada um alguma coisa.

Coisas de amizade.

Não consigo fazer isso. Atualmente não consigo procurar as pessoas, meus amigos, e saber se estão bem, o que estão fazendo, sentindo, se precisam de alguma coisa. Atravessar esse deserto tem tirado as minhas forças, meus pensamentos quase inexistentes e... tudo aquilo que antes mantinha-me de pé.

Sinto falta de vocês. Preciso de vocês. Como vocês estão? Onde vocês estão?

Sem explicações ou justificativas, nada disso tem importância para mim. Só quero a companhia, a conversa, a lembrança. Parece que se eu não demonstro que ainda existe amizade, ela deixa de existir num todo.

Eu preciso de vocês.

Preciso da amizade de vocês. Se não acreditasse nessas amizades, nenhuma dessas palavras existiria.

terça-feira, 10 de julho de 2012

O vazio de viver e só (28)

Não sei por onde começar. Muito menos como terminar. Qualquer coisa que diga está, hoje, diretamente ligada à hipersensibilidade alheia que... deixa pra lá. Tenho tentado ser o mais cuidadoso possível em tudo que faço e, com um tom infantil de ironia, percebo que quanto mais cuido, mais preciso cuidar. Não faz sentido e nem sei se em algum momento deveria fazer.

Nada do que disse, para qualquer um em qualquer lugar, foi com um tom crítico, orgulhoso, arrogante ou prepotente. A intenção nunca foi essa, o desejo ao expressar-me jamais passou perto disso. A minha espontânea maneira de lidar com tudo acaba sendo o meu único argumento de defesa. Não que precise mesmo porém é preciso estar atento a tudo que vem de fora e que, bem ou mal, acaba interferindo negativamente.

Andar no limite está cada vez mais cansativo. Aliás, quem dera fosse um limite. São vários. De várias pessoas, jeitos, formas e tons. Hipersensibilidade alheia. Duro e insensível como, provavelmente, sou não me deixo tocar por tão pouco. Aliás, mesmo muita coisa acaba não tendo grande efeito porque... eu não preciso explicar tudo.

A essa vontade de querer o bem alheio sempre eu grito que estou cansado. Exausto. Os limites me cercaram, me prenderam, não posso ir para lugar algum sem derrubar alguma coisa. Essas linhas limitantes me sufocam e tiram aquilo que... eu já nem tenho mais. Irônico ou insensato, é uma verdade. Pequena, insignificante, sem valor, mas uma verdade minha.

Fugir, virar as costas e simplesmente fingir a inexistência de tudo não resolve. Deixar para lá, fazer de conta que... sei lá o que, também não. Não existe saída, não existe solução. Ou deixo de me importar e faço de conta que, finalmente, entendi que nem sempre é possível mover-se no escuro sem acertar uma cotovelada em alguém - a clássica cena do ônibus lotado também se encaixa aqui.

Às vezes penso ser desumano estar sempre limitado, externamente, por palavras. Engana-se quem pensa que ligar o 'fod%-se' para o mundo melhor alguma coisa, alivia, sei lá. É cansativo e até deprimente ter de sempre ter o máximo de cuidado e... não ver isso voltando.

Agora doeu.

Algumas pessoas ririam. Outras manter-se-iam indiferentes. Tudo no jogo das possibilidades porque as estatísticas provam, não há olhos passando por qualquer palavra daqui.

E é bom que seja assim. Amanhã o céu há de acordar-me para um dia diferente.

Ou mais um doloroso indiferente.