domingo, 30 de janeiro de 2011

Escolha da verdade


Dúvidas pertinentes e discussões intermináveis impedem a conclusão do que é a verdade, em qualquer situação, posição. Argumentos de todos os lados tentam convencer a verdade de que eles são seus donos, quaisquer seja o lado. Perdida entre tantos puxões, palavras cada vez mais belas e com argumentos a cada dia mais convincentes, a verdade continua procurando seu lugar no mundo, nas palavras, nos sentimentos. Consciência do que é certo não deixa de ser apenas uma ideia do que pode ser o lado correto onde a verdade está. Infelizmente, esqueceram de perguntar a ela onde ela quer estar. Por vontade própria, qualquer que seja o ponto inicial dessa, a verdade deveria posicionar-se antes de qualquer dúvida. Porém, além de não ser consultada antes da guerra que passam a ser as discussões, ela não consegue dizer um não contundente para nenhum dos lados. Até mesmo o lado absurdo fica tão longe, ou perto, da verdade quanto os outros lados, como o coerente, o racional, o emocional e cada um dos pessoais que os envolvem. Inúmeros direitos de resposta, contra-argumentos, sustentados por hifens ou não, tornam cada vez menos imaginável uma solução para o impasse: onde a verdade estaria se não houvessem tantos argumentos em lados contrários? Nem racionais, emotivos, filosóficos ou pacificadores, tampouco radicais ou egocêntricos. Nem um deles consegue provar, indiscutivelmente, que o seu lado está com a verdade clara, imutável, definitiva. Que cada um escolha um lado e lute por ele porém que seja ao menos coerente com o que pensa ser verdade. No fim do texto, do projeto de pensamento e desse nada que acabou se estendendo, toda essa confusão sobre lugar, existência e definitividade da verdade, qualquer que seja o contexto, tem apenas um culpado: o livre-arbítrio. 

Não que eu esteja me importando com o fato de escolher uma verdade que me traga saudade. De qualquer maneira, é provável que o lado onde está essa saudade tenha uma grande parte, senão toda, da verdade. Qualquer verdade que possa vir a ser.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Próprio


Tanto faz pedir, mostrar, explicar. Não vai adiantar, esta é uma via de mão única, não há dupla convergência de palavras, de significado. O disfarce de possível elevação futura pela comparação com pessoa já em posição elevada é enganoso, é falso, ilude principalmente quem vê nele uma explicação que não justifica qualquer aproximação de dois elementos para dizer o que falta em um, apenas em um. Uma vida de comparações que não elevam, não ajudam a crescer, não trazem desenvolvimento algum. A lamentação de não ser como queriam que se fosse derruba, enfraquece, subjuga aos exemplos alheios, à vida alheia. Passa-se a pensar que não se precisa ser nada próprio, apenas uma cópia em cores de alguém que, na maioria das vezes, não passa de um exemplo raso, superficial. Se cada mente é um mundo, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, por que então comparar quem sou e o que faço, colocando isso como inferior perante o que outra pessoa é e faz? Uma faca para destro não é muito eficaz quando usada por um canhoto, então uma característica de uma pessoa não precisa ser característica minha. Nem todos conseguem ter atitude, nem todos conseguem ter coragem, nem todos conseguem ter um conhecimento próprio significativo. Acabem com essa história de lembrar do que o outro amigo diz em certa hora, do que aquela pessoa faz em determinado momento, parem de dizer que precisa agir da mesma maneira que outra pessoa agiu, em outra situação, em outro contexto, em outra vida. Uma vida que não é a minha.

Um desconhecido


Abro as páginas dos jornais, nada prende a minha atenção. Ligo a televisão e troco de canal, nada me interessa. Há certa semelhança com dias que nada parecem trazer, horas que passam sem deixar qualquer resquício de lembrança. É como uma faca sem fio, que pode até machucar mas não deixará cicatriz. A dor passa a ser nada, sequer lembrança de um dia ruim. Pois afinal de contas, qual a diferença entre os grãos de areia? Juntos são significativos, separados, praticamente iguais, todos insignificantes perto de um todo. Dos dias, da vida, dessa passagem desanimadora do tempo que não deixa marcas, onde está o significativo? Escondido no meio dessa proteção às avessas, paredes, grades, muros ou fossas que limitam passos, limitam olhares, limitam vida, viver, até mesmo sonhar. Significativo preso, amarrado, escondido. Não querem que ele seja visto como sentimento, como sinceridade, como palavra. Não querem que seja percebido, por isso o isolamento, a proteção mentirosa. Sem razão, sem lógica, sem coisa alguma. Perdido de vista como palavras aqui. Ontem, hoje e, se surgirem, amanhã. Perdido como qualquer saudade, como qualquer lembrança, como qualquer amor.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Histórias do Bandiolo - Onde está a luz?


Havia algo errado. A luz era fraca, artificial. O Sol parecia morto e o céu era seu cemitério. O verde das árvores, a vivacidade dos animais, enfim, todas as formas de vida estavam agora vazias. O caos imaginado por doutores e cientistas parecia ter chegado. Estranho era ver que ninguém mais estava se importando, se é que do alto de seus egos arrogantes conseguiam perceber algo em torno de seu corpo cheio de enfeites, vazio de verdades. A sensação térmica era... estranha, nem calor nem frio. Não ventava porém as folhas das árvores e os papéis de bala das crianças no chão estavam sem movimentando sem auxílio externo. Quanta sujeira, quanta escuridão porcamente iluminada por luzes que aos poucos se apagavam. Como tudo ficou tão... sem graça, sem vida, sem sentido. Olhos humanos não conseguiam ver, mente não imaginava e coração não sentia... nada. Voltou para casa, fechou a porta. A campainha tocou, o telefone tocou. Não atendeu nem um nem outro. Ouviu gritos. Havia sim, vida. Que diferença fazia esse sinal de vida se não sentia calor, não conseguia imaginar nada à partir do que via, não havia nada especial naquele dia, que diferença fazia?

Voltou para o quarto e deitou-se. Daquele jeito, queria dormir pelo resto... de algum tempo, até que tudo voltasse ao normal. Talvez fosse apenas um pesadelo, ele estivesse ainda dormindo e a luz brilhava normalmente lá fora. Talvez fosse apenas um dia nublado. Talvez ainda fosse madrugada. Telefone, campainha, gritos, qualquer coisa. Quis dormir.

Fosse o que fosse, mesmo querendo, percebeu que há dias em que não há calor, luz, um sorriso ou um céu azul com nuvens brancas.  Dias em que tudo parece descolorir, perder a veracidade, a essência. Felizmente a luz volta a brilhar em algum momento, o céu volta a ser azul, as árvores ganham cor e os animais, humanos ou não, voltam à vivacidade.

No pesadelo, no sonho, no céu nublado ou na madrugada.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Histórias do Bandiolo - Agora, então


Os passos eram pesados como nunca haviam sido, fosse pelo peso sobre a cabeça ou sobre suas costas. Caminhava com dificuldade, com lentidão sofrível e digna de pena. Cabeça baixa, olhava para o chão pois não conseguiria levantar caso tropeçasse. Fraco, instável, desgastado, suas forças estavam direcionadas aos pesados fardos que carregava e aos lentos passos, necessários para que não morresse ali mesmo, com tudo aquilo sobre si. Não poderia deixar nada daquilo para trás por isso, mesmo que custasse o mínimo que lhe restava, continuava a carregar aquela enorme quantidade de... o que era mesmo? Ah sim, coisas do passado. Visíveis e invisíveis, pesadas como nenhuma outra fora no presente. Talvez pelos anos que haviam corrido desde o surgimento de cada uma delas, talvez pelas lágrimas que encharcaram-nas ou, quem sabe, por estar sozinho desde algum então. Seu pai lhe ensinou a nunca baixar a cabeça. Ninguém deveria se curvar ao mundo, ao tempo ou a qualquer outra pessoa, dizia. Baixar a cabeça era sinal de fraqueza, ainda mais para si. Seu pai era sábio porém não poderia fazer jus ao seu conselho. Seus olhos ardiam pois a luz do sol refletia no chão seco, carente de gotas de água. Seus pés e suas mãos tremiam. Fraco, incapaz, lembrava de seu pai e o remorso por não poder fazer o que lhe fora dito transformava aquela situação na pior já vivida. Pelo amor, pelos amigos, por erros ou qualquer outra coisa presente ali, naquele pesado passado. Não tinha mais forças, deixou que tudo aquilo caísse no chão. Assim como ele caiu, exausto e acabado. Cercado por tudo que com vontade e sem razão carregava, estava com a cara no chão. Percebeu que, embora estivesse no chão, não estava mais de cabeça baixa. Talvez seu pai, se ainda vivo, lhe desse uma surra ouvindo isso. Dormiu com um sorriso delirante nos lábios.

Horas, quem sabe dias, depois, levantou. Organizou o que estava ao seu redor e, para sua surpresa, muita coisa havia ficado de fora. Então seguiu, deixado uma parte de seu passado para trás. Dessa vez, sem remorso algum.


*do nada para palavras vindas de pensamentos distantes, 
sem muito significado.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Incertos segundos


Cada segundo alongado torna o estado presente, e passado, maior. Período cada vez mais longo, sem expectativa de término. Duração indefinida que impede qualquer certeza sobre algo que não seja passado. Com uma convicção real, diversas dúvidas inescrupulosas, a falta de discernimento sobre o que realmente acontecerá e a impossibilidade de descobrir o que fazer. Imaginar o presente como tempo e contexto certo faz muito sentido, não só por estar vivendo-o mas também por todas as coisas que cercam esse viver presente. Passado quase distante, ainda digno de remorso e arrependimento, cuja lembrança acaba tornando sensata a impressão de que não teria sido o que hoje pode ser. Imaginar erros longe do presente em direção ao passado, cujas marcas na lembrança são feitas pela angústia de nada poder fazer é fácil, e condiz com o que hoje é motivo de reflexão.  Impossível retirar explicação inútil e justificativa estúpida do meio disso, ou seja, é desnecessário querer ir contra toda essa verdade que jamais deveria ter sido coisa qualquer, menos ainda uma falsa verdade. Entretanto, sentir a falta de, imaginar-se, e ter a convicção de que, remetem a complementos diferentes dos que complementavam essas frases pessoais no passado. A dura e sofrível admissão do que vinha a estar, o que outrora remetia ao próprio ego, buscando uma salvação alheia para então salvar a própria alma, hoje remete à salvação de qualquer alma, qualquer coração ou, em menor escala, qualquer mente, para então conseguir, com muita misericórdia Divina, salvar a alma, e consequentemente o ego. Não que a salvação do ego esteja sendo importante nos últimos, sei lá, 15 meses. E não, também, que alguém em especial não seja o verdadeiro motivo de todo esse pensar, dessa análise um tanto improdutiva porém instigante.

De tudo a mais ou menos, não consigo imaginar a minha vida sem o motivo dessas, e de tantas outras palavras que escondem algo que é muito maior do que qualquer outro algo que outrora tenha me motivado. O meu presente, sendo estado de vida ou recebimento por qualquer razão(quem sabe uma boa vontade do Criador) seria sim, aquela que há muito tempo deixou de ser também uma razão, concentrando-se apenas em uma emoção. Sendo, (ah não!) então, A emoção.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Simples assim


*Palavras cujo significados somem frente ao som que emitem. A culpa é da boca que proclama um sentido ou do ouvido que seleciona o que lhe convém? Que culpa haveria de ter qualquer deles, boca ou ouvido? Diferença alguma faz quando o que importa é o que os olhos vem e o coração faz sentir. Detalhes tão pequenos, como significados e sons quaisquer, perdem sua quase insignificância para o que traz o frio da ansiedade e o calor de batidas fortes, porém inaudíveis. O sol brilha, reflete em dois pontos verdes. Que importância teria qualquer coisa que a razão viesse me dizer?  Nenhuma, pois deixei de ouvir no momento em que pude ver. Deixei de pensar quando voltei a sentir o que faz de mim alguém melhor.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Reflexões de um maluco (13)


Uma soma de singnificados que dizem tanto quanto nada. Ficar calado seria uma boa opção porém inviável. Não é a boca que fala, é a mente. Cale sua mente se for capaz. Mande seu coração parar de bater então, pode ser? Essas vozes não calam, você pode apenas ignorá-las, fingir que são um nada. Possibilidade inescrupulosa, talvez conveniente, mas insensata. Não que ouvir algumas batidas e outros pensamentos seja muito sensato, é claro. Como claro é o entendimento da explicação de tantas outras coisas. Cordas prendem mãos, pés e o resto do corpo. Cordas permitem um andar limitado, pois alguém as puxa, faz delas instrumento para impedir passos ou qualquer outra coisa. Não há como pensar quando estou sendo sufocado por cordas que colocaram em minha vida através da minha conturbada e um tanto insana mente. Separadas ao menos uma vez.

Do implícito ao mais que explícito. A exigência de provas somadas à cobrança um pouco excessiva trazem a obrigação. De mostrar, demonstrar, provar. Fazer valer o que se espera, o que se quer. De fora para dentro, das cordas, das limitações, das imposições para o ser, para o agir, para o eu. Meu eu. Preso e na obrigação de provar capacidade, valor, atitudes, sentimentos. Criam-se expectativas por razões diversas e nada faz delas menos presentes do que cordas que puxam meu pescoço, meus braços, minhas pernas e até minhas próprias palavras.

Cheguei à conclusão, com muita água na cabeça e nenhuma na boca que consigo viver e fazer valer qualquer verbo sob pressão. Transformar em realidade as expectativas não é tão ruim ou difícil. O grande problema, eis então a razão de um desgaste absurdo, é precisar, necessariamente, obrigatoriamente, fazer tudo isso. Provar tudo isso. Demonstrar tudo isso. Aquilo. Sei lá mais o que. Querem que faça valer à pena investimentos no estudo, na vida. Que demonstre sentimentos, amadurecimento, verdade e coerência. Que prove com atitudes que palavras não são em vão, que oportunidades não são dadas para a pessoa errada, que qualquer sonho possa ser merecido, quando surgir. Ter de fazer, sob pena de perda, de afastamento, de julgamento precipitado, dentre tantas outras punições, desgasta e torna exaustiva qualquer relação.

Aprendi tempos atrás a ser exigente. Antes de mais nada comigo mesmo. Assumo metade da culpa por não aguentar mais provações. Tenho exigido mais de mim do que quase todos no mundo que a mim estão relacionados. Faz-se necessário aprender, corrigir, melhorar, evoluir, fazer mais, aproveitar mais, ocupar mais espaço em um tempo propriamente meu, enfim, muito mais. Exijo de mim sem a flexibilidade que exijo implicitamente de qualquer outra pessoa. Até porque, não acho justo exigir algo de alguém que não seja eu.

Nesse ponto, tenho estado no limite. Entre a terra e o ar, entre fogo e água, entre direita e esquerda. Sem pender, sem fazer parte do meio termo, sem nada. No limite entre ambos para tentar tirar o máximo de ambos. No limite da minha razão e de qualquer sentimento que possa ter. Exigido, cobrado, pressionado, posto à prova. Não sei quanto mais aguento. O pior que pode acontecer é decidir ser indiferente a tudo isso, escolhendo a eventualidade e a casualidade como regras de vida. Possibilidade quase inexistente. Porém, cansa, desgasta tentar ser o melhor que se pode ser, sempre. Ou ainda superar limites sempre. Tentar melhorar sempre. Tentar corrigir erros próprios e de terceiros, sempre. Provar que se é de verdade, com palavras verdadeiras, com sentimentos sinceros, com intenções significativas, sempre, sempre, sempre.

Não, não há especificidade, não há reclamação, crítica ou ofensa. À pessoa, situação, palavra ou momento. Eu só precisava escrever que, resumindo em uma frase, não acho justo ter que provar ao mundo quem sou, o que penso, faço e sinto. Sempre.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Histórias de uma vida não vivida(31)


*Pensa-se viver o inferno quando não se está no céu. O meio termo desses dois imaginários possivelmente reais raramente vêm à mente de quem faz um raciocínio barato que alguns, mais arrogantes, dizem ser filosofia. Há dois passos do paraíso ou do inferno, vivemos esperando que o céu caia sobre a nossa cabeça, uma vez que insistimos em pensar que estamos no fundo do poço ou, quem sabe, a dois passos do inferno. Querem saber o que eu acho sobre céu e inferno? Sinceramente, não poder abrir os olhos e ver todas as criações do Amor seria quase como estar no inferno. O céu seria poder, além de ver, fazer de tudo que está ao alcance dos olhos uma maravilha na bênção que é essa história, a vida. Entre tudo isso, estou aqui. Sim, o meio termo entre céu e inferno é o mundo em que vivo. Quem sabe um dia...

Tentaria descrever o que está acontecendo porém, desculpem-me os curiosos, não sou filósofo. Tampouco poeta. Ainda estou tentando não ser apenas um idiota. Dito isso, os três tipos de descritores de tudo sem dizer nada, ou dizendo tudo errado, ao contrário ou fazendo de conta que dizem algo bonito, não se encaixam em mim, nessas fracas e, sim, impensadas palavras. Porque vejo que alguma parte de capítulo qualquer desse livro, que chamo de vida, foi descolorido quando comecei a parar para pensar. Que páginas ingratas aquelas que eram escritas no impulso da falta de pensar, deixando-se levar somente pelas batidas alucinadas de um coração ainda mais alucinado por intensidade. Onde estaria a ingratidão se não além de mim? A dois passos do inferno ficaram essas páginas, alguma coisa terrena as fez desbotar, descolorir, o que quer que tenha acontecido.

Escrevê-las, sem tinta ou ideia do que, foi tão automático quanto ficar parado, esperando o tempo passar, o relógio perder as pilhas e ligar para o dono do bar dizendo 'o cidê, cancela a gelada porque o relógio parou'. Um grande nada disfarçado de muita coisa que, pasmem, não diz nada, não serve para nada, não é nada. E nunca foi.

Queria ter alguma certeza em mente. Pensar faz bem, alimentar pensamentos não. Um maluco enlouquecendo não faz sentido. Ah sim, esqueci, o maluco muitas vezes parece ter ficado para trás, também no nome do blog. Hoje me sinto patético por ser, tantas e tantas vezes, tão racional quanto uma maçã no topo da árvore. Ela caiu na cabeça do Newton, que virou gênio reconhecido para sempre por isso. Ela não cai na minha cabeça, logo continuo de pé, pensando no que fazer sem ter a ajuda daquela maçã para identificar o blá blá blá mental. É patético, quero o meu irracional novamente.

Admitir que errei o julgamento do que mostrado a mim foi é uma boa opção. Está certo, fui enganado pela minha mente, melhor assim? Eu não vou gritar porque não quero acordar ninguém, está tarde, mas ouçam meus gritos por palavras minúsculas. Não sei quanto tempo consigo esperar. Por ver, por ouvir, por sentir. Sem razão alguma, por deixar sentir.

Eu sinto falta, mais do que da falta de razão, da possibilidade de visão, da capacidade de receber ondas sonoras suaves, do calor que um corpo figurativamente hipotérmico, existindo essa palavra ou não, tantas vezes fez derreter, trazendo novamente o sorriso de uma face que tanto pensou em nunca mais sorrir.

Espalhem-se, nas ondas do rádio ou nas letras tortas do jornal velho. Eu ordeno que vocês, palavras de razão, espalhem-se pelo mundo e só quando extremamente necessário, voltem até mim. Não quero que vocês me atrapalhem agora que decidi que, tantas palavras, erros e acertos depois, voltei a... tentar.

Tanto faz o que um par de olhos possa entender o que seja esse tentar. Talvez seja necessário perguntar antes coisa qualquer. Entretanto não vou tentar entender isso agora. Por que?

Estaria somente pensando.

*mesmo que responsável consciente por todas essas palavras, 
sinto sono e uma imensa, e muito coerente, saudade.
**Sinto que escrevi insanamente. 
Não importando agora o que isso significa.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Atestado de culpa


Canso de ficar com peso na consciência. Ora bolas, cones e paralelepípedos, como qualquer ser humano, erro. Diferente de grande parte, me arrependo de qualquer pequeno desentendimento que provoco. A culpa não é só minha, mas insisto em assumir todo o erro. Mandaria para o inferno qualquer um que não me dissesse nada, que fizesse de conta que nunca mais vai falar comigo. Mandaria se não conhecesse a pessoa, se não fosse amigo dela. Cada um com seus defeitos, com suas limitações. Eu assumo as minhas ao menos. Isso deveria compensar. O problema é que estou falando de pessoas. E pessoas não aceitam compensações. A não ser que elas busquem-nas. Um peso, duas medidas e a cabeça que chega tremer com tamanho tráfego de ideias. Tento melhorar mas, como qualquer pessoa limitada, enfrento dificuldades para lidar comigo mesmo, que dirá para lidar com outras pessoas. Eu posso ser insensível, irritante, um tanto arrogante e muito impulsivo porém tenho consciência disso e tento ser uma pessoa cuja companhia seja cada vez menos pior. Você não vai ler, mas peço desculpas por ter pedido (agressivamente) que você tivesse um pouco(muito) mais de vontade no jogo hoje, amigo.


segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Histórias do Bandiolo - Essa vida não me pertence


Saiu de casa, decidido a mudar tudo que não estava no lugar certo na sua vida. Caminhava muito, pensava mais ainda, olhava para nada. Sentou em um bar, decidiu que teria um bar em casa, mas sem bebidas para frescos, só cervejas, champanhes, refrigerantes baratos, pacotes de suco e muito gelo. É, um bar assim faria toda a diferença na sua vida. Também aquele armário sairia da cozinha. Inútil ter um armário sem gavetas na cozinha. Venderia e trocaria por uma mesa, de sinuca, de ping pong, tanto faz, queria uma mesa para na teoria virar praticante de um esporte de mesa. Era importante para a vida social, pensou, entre um gole e outro de água. Fazer o que, não é todo dia que se tem dinheiro na carteira para brindar à vida com goles alcoólicos.

Outra coisa seria demitir a empregada. Aquele asno de avental não sabia limpar, não sabia cozinhar, não sabia anotar um recado e sequer abrir a porta. Porta por porta, ficaria com a da sua casa sempre fechada, assim, como nas bocas, não entrariam moscas. Por que cargas d'água tinha uma empregada mesmo? Bom, tanto fazia. Junto com ela ia aquele jardineiro com quem tinha um caso. Ah sim, era por isso que ela não fazia nada e ele sequer cortava a grama. Verdade, agora sobraria para si a tarefa de cortar três metros quadrados de grama com um cortador elétrico.

As mudanças não parariam por aí, assim como os goles de água com gás. Burps de arrotos seguiam e ele continuava com o planejamento de sua vida. Terminaria aquela eterna dança da morte com a Mariana. Sim, porque aquele vai e vem, aquela aceitação da vontade dela de dar um tempo para, depois de uma festa, um porre bem tomado, uma ressaca do caramba e mais um na sua lista de pegados, precisava ter um fim. Ela dava um tempo e logo depois queria voltar porque ninguém mais se interessava nos seus assuntos de nerd, no seu sorriso branco, seus olhos negros que pareciam que... Pararia também com essa história de elogiá-la. Estava cansado de pensar nela e, sem ver, o tempo dado vinha e voltava, vinte ou cinquenta vezes em um ano.

Outra mudança essencial seria dar um chute na bunda do sogro. Que mala. Não ser mais seu sogro não era o bastante, aquele cara pediu empréstimo, não devolveu e ainda vem com aquele papo que começa com 'meu genro favorito'. Idiota, não percebia que só tinha uma filha? Bom, sujeito safado com era, talvez não fosse o único genro mesmo. Tanto faz, daria um chute naquela bunda gorda para receber às avessas seu pagamento.

Falando em dinheiro, chegaria no banco e diria ao gerente que não teria como pagar a dívida. Ele era seu fiador, que se lascasse então, capitalista arrogante, só pensava no seu dinheiro. Aquele gerente era um representante da boa e velha escola dos gordos donos de bancos que são vistos em filmes antigos. Goles se seguiam e o clima esquentava em sua cabeça. A raiva de tudo aquilo que estava errado em sua vida, em sua casa, em seus relacionamentos com as pessoas, a raiva da sua vida sem nexo começava a aumentar.

Pediu a conta, pagou com moedas de 5 e 10 centavos. O garçon reclamou, mandou-lhe ficar com os 15 centavos que sobrariam de gorjeta. Recebeu um 'seu pão duro' com o olhar daquele fedelho que não devia ter mais do que 16 anos. Sua vida mudaria, não aceitaria mais desaforos, não deixaria nada igual em sua casa e seu trabalho seria diferente. Não obedeceria mais às cagadas que seu chefe impunha. Faria algum relatório errado, ferraria com a empresa e na reunião do conselho colocaria a culpa no chefe que não revisava porque o filho bastardo passava a tarde inteira com dor de barriga.

Que inferno essa vida, mas tudo seria diferente. Culpa daquela água com gás horrível que o deixou com uma vontade insaciável de arrotar. Voltou para casa, abriu a porta e viu sua futura ex-para-sempre-namorada sentada no sofá, acompanhada pelo seu gordo pai, pela sua ridícula mãe e pelos seus pais. Sua mudança começaria ali, expulsando a todos de casa.

Entretanto, antes que pudesse falar, sua ex-para-sempre-namorada Mariana disse:

- Eu já contei a eles que vamos nos casar, môzinho.

Sua nova vida desceu pelo bueiro da rua. Todas as mudanças, incluindo o chute na bunda do gordo e o bar com champanhe e refrigerante barato, a falência da empresa, nada daquilo seria real porque ela, aquela maldita dançarina de tango que quase o matava com pisões irresponsáveis em seu pé quase fraturado, ela, o havia intimado ao casamento. Como dizer não àqueles olhos escuros?

Palavras não falou, apenas resmungou um burp.

Ah, aquela maldita água.

sábado, 1 de janeiro de 2011

O de hoje é o de sempre


Seja por costume, porque todos fazem isso ou por qualquer outro motivo, as pessoas comemoram a troca de ano como se fosse algo realmente importante. Não vejo graça em fogos de artifício e afins que quase estouram nossos tímpanos. Não vejo graça em ficar olhando para pequenos riscos coloridos de pólvora queimada, imagine ficar olhando 20 minutos para isso então. Ficar no meio de milhares, quem sabe milhões, de desconhecidos, grande parte com a superstição boba da roupa branca e das roupas de baixo vermelhas, que coisa legal é essa que não vejo? Seja qual for o porquê, não interessa, eu não me interesso por isso, não acredito nas superstições, nas galinhas que ciscam para trás(????) e nos porcos que fuçam no chiqueiro imundo para frente(?). Que perda de tempo para arrumar, pensar no que pode ou não. E daí se as meias que eu usava às 00:00 de 2011 eram pretas, o tênis era preto, a camisa era verde com cinza e a bermuda era marrom. E daí? A minha vida será terrível ou o que? O verde, o preto, a taça quebrada, comer massa com maionese e beber vinho espumante chocho, qual o significado disso? Meu ano será terrível segundo os astrólogos, numerólogos, corólogos e estupidólogos? Se sim, uma resposta: obrigado, que meu ano seja exatamente assim como vocês dizem.

O único ponto em comum é o desejo de que todos aqueles por quem guardo um sentimento, muito ou nem tão intenso, mas sempre sincero, tenham em suas vidas as coisas boas que merecem e as coisas ruins pelas quais precisam passar. Que tenham saúde, coragem, discernimento e fé.

Porém, desejo-lhes todos os dias, com a mesma intensidade que desejei em mensagens ou em oração nessa troca de ano.

É só mais um dia. Ou melhor, dois.