domingo, 9 de janeiro de 2011

Histórias de uma vida não vivida(31)


*Pensa-se viver o inferno quando não se está no céu. O meio termo desses dois imaginários possivelmente reais raramente vêm à mente de quem faz um raciocínio barato que alguns, mais arrogantes, dizem ser filosofia. Há dois passos do paraíso ou do inferno, vivemos esperando que o céu caia sobre a nossa cabeça, uma vez que insistimos em pensar que estamos no fundo do poço ou, quem sabe, a dois passos do inferno. Querem saber o que eu acho sobre céu e inferno? Sinceramente, não poder abrir os olhos e ver todas as criações do Amor seria quase como estar no inferno. O céu seria poder, além de ver, fazer de tudo que está ao alcance dos olhos uma maravilha na bênção que é essa história, a vida. Entre tudo isso, estou aqui. Sim, o meio termo entre céu e inferno é o mundo em que vivo. Quem sabe um dia...

Tentaria descrever o que está acontecendo porém, desculpem-me os curiosos, não sou filósofo. Tampouco poeta. Ainda estou tentando não ser apenas um idiota. Dito isso, os três tipos de descritores de tudo sem dizer nada, ou dizendo tudo errado, ao contrário ou fazendo de conta que dizem algo bonito, não se encaixam em mim, nessas fracas e, sim, impensadas palavras. Porque vejo que alguma parte de capítulo qualquer desse livro, que chamo de vida, foi descolorido quando comecei a parar para pensar. Que páginas ingratas aquelas que eram escritas no impulso da falta de pensar, deixando-se levar somente pelas batidas alucinadas de um coração ainda mais alucinado por intensidade. Onde estaria a ingratidão se não além de mim? A dois passos do inferno ficaram essas páginas, alguma coisa terrena as fez desbotar, descolorir, o que quer que tenha acontecido.

Escrevê-las, sem tinta ou ideia do que, foi tão automático quanto ficar parado, esperando o tempo passar, o relógio perder as pilhas e ligar para o dono do bar dizendo 'o cidê, cancela a gelada porque o relógio parou'. Um grande nada disfarçado de muita coisa que, pasmem, não diz nada, não serve para nada, não é nada. E nunca foi.

Queria ter alguma certeza em mente. Pensar faz bem, alimentar pensamentos não. Um maluco enlouquecendo não faz sentido. Ah sim, esqueci, o maluco muitas vezes parece ter ficado para trás, também no nome do blog. Hoje me sinto patético por ser, tantas e tantas vezes, tão racional quanto uma maçã no topo da árvore. Ela caiu na cabeça do Newton, que virou gênio reconhecido para sempre por isso. Ela não cai na minha cabeça, logo continuo de pé, pensando no que fazer sem ter a ajuda daquela maçã para identificar o blá blá blá mental. É patético, quero o meu irracional novamente.

Admitir que errei o julgamento do que mostrado a mim foi é uma boa opção. Está certo, fui enganado pela minha mente, melhor assim? Eu não vou gritar porque não quero acordar ninguém, está tarde, mas ouçam meus gritos por palavras minúsculas. Não sei quanto tempo consigo esperar. Por ver, por ouvir, por sentir. Sem razão alguma, por deixar sentir.

Eu sinto falta, mais do que da falta de razão, da possibilidade de visão, da capacidade de receber ondas sonoras suaves, do calor que um corpo figurativamente hipotérmico, existindo essa palavra ou não, tantas vezes fez derreter, trazendo novamente o sorriso de uma face que tanto pensou em nunca mais sorrir.

Espalhem-se, nas ondas do rádio ou nas letras tortas do jornal velho. Eu ordeno que vocês, palavras de razão, espalhem-se pelo mundo e só quando extremamente necessário, voltem até mim. Não quero que vocês me atrapalhem agora que decidi que, tantas palavras, erros e acertos depois, voltei a... tentar.

Tanto faz o que um par de olhos possa entender o que seja esse tentar. Talvez seja necessário perguntar antes coisa qualquer. Entretanto não vou tentar entender isso agora. Por que?

Estaria somente pensando.

*mesmo que responsável consciente por todas essas palavras, 
sinto sono e uma imensa, e muito coerente, saudade.
**Sinto que escrevi insanamente. 
Não importando agora o que isso significa.

7 comentários:

Luana S. Santos disse...

Pra me parece muitas vezes, o vazio e saudade do "estou cheio".


bjs

Ana Seerig disse...

Bom, a citação da música do Ira! no começo do post já me foi ótimo sinal. É uma bela música. E que belo texto! Muitas vezes pensamos em tudo e temos a impressão de não pensar em nada, e vice-versa. Tudo e nada, opostos claros que às vezes confundem-se. Gostei mesmo do texto, tenho por vezes tais tipos de pensamentos.

Vim pra te agradecer a passada lá no blog. Gostei do teu comentário. "toda pessoa que se diz insuportável, ou fica desfazendo suas próprias palavras escritas, no fundo, quer um pouco mais de carinho, ou atenção, do que recebe." Acho que essa é a conclusão óbvia, mas te admito o que pouco digo, essa minha autocrítica é apenas uma vontade imensa de que alguém me critique. Até onde me lembro, nunca recebi uma grande crítica, pelo contrário, muitos elogios, e realmente não acho que isso seja possível: elogios aos montes e nenhuma boa crítica. Então critico-me eu mesma, mas talvez seja mesmo um modo de chamar atenção e gritar "Hey, não sou perfeita, pare de fingir que sou".
Quanto a ser insuportável, é mesmo uma brincadeira relativa a uma das mais fortes características minhas: não parar quieta. O que, depois de um tempo, me torna insuportável a mim mesma. Saber que tá na hora de parar (de trabalhar, se bobear...) e não conseguir parar cinco minutos é cansativamente chato.
Quanto à escrever com agressividade... Bem, é mais ironia, o que não deixa de ser uma forma de fazer rir um pouco mais pesada, portanto, agressiva. Pelo que me lembro de ter escrito, já fiz textos mais "agressivos" que esse em que tu comentastes, mas de qualquer maneira fico feliz de receber o elogio de ser uma das duas pessoas que tu julga escrever bem, apesar da agressividade...

Realmente gostei do teu comentário e do teu texto, volte sempre, eu voltarei quando possível. =)

Ana Seerig disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana Seerig disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rebeca Postigo disse...

Sabe gosto do sabor da loucura...
Às vezes brincar com as palavras nos leva a colocar pra fora aquilo que está nos incomodando...
Os pensamentos na minha humilde opinião têm vida própria...
Não podemos evitar que eles nos alfinete, contudo acredito que o que importa é o que fazemos com eles...
Ótimo texto!!!

Bjs

Xxx disse...

Oiii...

Adorei a passagem por aqui... e já estou te seguindo também.

Adicionarei seu blog em meus links, no meu blog, ok?

Abraços,

Gabriela Marques de Omena disse...

Fico sem ter o que comentar. Quem nunca passou pelo mesmo tipo de descarga mental? Eu sinto saudade da minha infância justo por isto, por não se preocupar tanto. Percebo que a cada dia que tento compreender a vida, mas incompreensível ela fica. Fico tentando interpretar os sinais, entender porque de tanto mistério e me sinto infeliz. A racionalidade nos torna pessoas cansadas, pessoas velhas.
Os poetas e filosofos gastaram a vida inteira materializando ideias e suposições, que esqueceram de apenas viver a vida. Foram infelizes.
Quando começa a pensar demais na vida, eu paro. Cansei de ser infeliz.
Teu texto ficou ótimo! Textos ótimos sempre me dão uma dificuldade imensa de comentar, afinal o que eu poderia dizer a mais do que já foi dito?

Adorei seu cantinho e
agradeço sua presença no meu.

Imenso beijo, ótima semana.