quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A tortura do tempo


Uma tortura causada por um tempo que parece não passar. Nada definido, nada parece sequer inclinado. No exato meio, no ponto central, em cima do muro, no fundo do poço. Em comum a falta de tendência, nenhuma indicação de onde ir, para onde andar, também porque, no fundo desse poço, subir não é uma escolha possível. Fosse jogada uma corda eu subiria mas, quem a jogará? O tempo trará, com o vento do Espírito que vem dos céus, alguém, uma alma viva que faça viver. Enquanto isso a espera. No poço, no muro, no meio. Fechar os olhos e dormir é plausível porém há de se ter consciência de que o tempo pode passar muito além do que deve e a estadia no centro, no meio do nada e do tudo, vira eternidade. Eterno é o que o tempo não afeta, não muda. O eterno pode durar segundos ou um tempo que foge das mãos humanas, dos relógios de pulso e das previsões do jornal. O eterno é aquilo que volta toda vez que a luz brilha, que o calor é recebido pelo corpo cansado, que a palavra é ouvida pelo ouvido da solidão. Ouvida, lida, apenas sentida por uma intuição que, caramba, pode não passar de simples vontade criada, expectativa gerada, fala inacabada... Tempo, no poço, em cima do muro, no ponto central, tanto faz, é cruel, ainda mais com a dúvida, com o receio, agrava o passado e muda um futuro que só existirá quando o arrependimento bater.

*um passo foi dado mas não sinto alívio algum. 
Continuo no centro, pensando e esperando. 
Sentindo cada raio de sol, 
cada partícula de ar em movimento, 
vento. 
Lembrando de cada brilho que o piscar de olhos emana.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Histórias de uma vida não vivida(30)


*O que fazer quando quem tem o poder e a verdade pede para esperar? O natural seria esperar, mas um par de pontos verdes, a luz de pontos brancos que são quase retas e a simples presença que remete a um passado vivo, intenso, sincero, quase indescritível, tornam o esperar uma dificuldade imensa. Não há como explicar a quem não viu e ouviu sobre a espera, sobre a paciência, sobre o tempo. Não esperar e acertar em cheio a resposta que vem de cima pode acontecer, mas não é simples assim. Para um lado ou para o outro, pouca coisa pode ser feita além de tentar explicar por que se está parado, por que se estaria em movimento ou o porquê de tanta confusão. É confuso ter o pedido de espera feita por quem sabe das coisas e não esperar. Felizmente não passa pelo conformismo. A questão passa por uma confusão, pelo medo de ir em frente e não acertar, de perder, quem sabe por todo o tempo futuro, os dois pontos verdes do campo de visão, que tanta verdade fez ser descoberta, que tanta ansiedade trouxe, que tanta sinceridade fez sentir e que, com toda a certeza que pode existir em meio à dúvida, é vontade Daquele que tem o poder, a verdade, Daquele que é o amor.




O significado é grande demais. Você, se não sabe, já deveria saber. É incrível como a novidade do nada desce por água abaixo com a já conhecida rotina da interrogação. Continuo me perguntando, como posso ainda, depois do tempo e do espaço, sentir o talvez mais constrangedor dos sentimentos em relação à você? Você me conhece, sabe que sou estranho, sabe que tenho grandes dificuldades em demonstrar, mas minhas palavras explicando minha fuga, mostram que sim, a interrogação existe ainda, aqui.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Histórias do Bandiolo - Um sapo não chega às estrelas


Passos dados são passos dados. Voltar atrás é físico, espacial, jamais temporal. Enquanto caminhava lembrava de todo o tempo que perdia por estar pura e simplesmente caminhando ali, naquele lugar. Ruas fétidas, sujas, sapos e rãs caminhavam por elas e por pouco não eram esmagados pela raiva dos passos que meus pés pisavam.

Eu não queria ter estado lá. Meus passos raivosos, meus pés inquietos, minha boca silenciosa e meu olhar, que ia muito além das placas sujas, das pessoas mesquinhas e das lojas com decorações de um gordo com um saco nas costas, provavam isso. Era raiva, era nervosismo por estar onde estava, sem fazer diferença o tempo, o dia ou o dado momento presente.

Malditos foram meus passos, maldita foi essa história que não quis escrever. Meus passos pisaram, isso é história, chega. Lembrarei pela última vez agora que olhei para o céu e dei nome a duas estrelas. Imaginei se algum dia um astronauta ou qualquer coisa criada pela humanidade chegaria lá. Duas, nenhuma, todas, tanto faz. Estrelas distantes, como eu daquele lugar sujo, daqueles sapos que eram tão estúpidos que nem barulho faziam. As folhas secas quebravam em silêncio, a música não tocava, apenas ruídos foram ouvidos por mim, ao longe. Ouvidos que não ouviam e olhos que não viam nada que pudesse fazer essa raiva cessar.

Longe, sempre longe. Longe, demais, de tudo, em um parafraseamento de Frejat e seu Barão Vermelho, semelhante ao da Corrida maluca. Idiota, longe da ideia de um texto que não deveria existir, assim como a história escrita pelos meus passos curtos, pesados, cheios de raiva. Raiva por não querer estar, por não conseguir distinguir qual estrela, qual pensamento, qual era o motivo, para qual seriam cada um dos motivos. Indefinido, com raiva.

Da distância.

Como sempre, estava longe, dessa vez ainda mais, de onde queria estar.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Nenhuma necessidade, nenhum sentido


Essa história de vida poderia ser resumida. Sério, você não precisar passar tantas vezes pelas mesmas coisas seria uma boa maneira de ter mais tempo para passar uma única vez por coisas que nunca imagino passar. Passar, estar, viver ou apenas olhar. Imagine escolher um momento como o almoço e fazer com que um substituísse no seu tempo, e no seu corpo, vários outros, quem sabe por uma semana. Assim, durante seis dias, você teria o tempo que gastaria almoçando para, sei lá, ir ver os pássaros na árvore da praça, comendo pipoca que os velhinhos que só vão lá ao meio dia jogam.

Ilusório, é claro, mas é suposição. Resumir atividades seria uma boa para uma história mais longa. Porém, depara-se aqui com a física, antiga, moderna, tradicional e quântica, e nada disso será possível, certamente nunca.

Então o que fazer quando você vê, pela milésima vez, algo que não gosta de ver, que traz sentimentos ruins ao seu coração já cansado de sentir aquilo, mas não pode sair dali? Sabe, pular essa parte seria interessante. Não com um controle remoto, mas com, quem sabe, um piloto automático. Você não estaria mais ali em mente, mas estaria em corpo, passando por aquilo sem saber.

A química e a astronomia nos mostram que isso, nem em filme, será possível.

Então, quem sabe, arrancar o coração do peito, as lembranças ruins do cérebro e jogar tudo isso na lata do lixo. Que maravilha! O problema seria se algum ambientalista viesse com a ideia de reciclar o lixo. Aí você estaria na sarjeta pelo seu próprio lixo. Ou não. Poderia você mesmo reciclar suas lembranças, seu coração, vivendo então em paz consigo mesmo.

Bom, a psicologia nos ensina que, se não temos algo que nos faça evitar alguma coisa, jamais evitaremo-na-la. Então não ter lembranças ruins e dores no coração sentimental acarretaria em diárias e constantes novas decepções, tristezas, lágrimas.

Incrível, nada do que poderia facilitar pode existir.

Se alguém pergunta 'por quê?' alguém acabaria respondendo 'porque a vida não é fácil' e então não chegaríamos a lugar algum.
É mais fácil dizer que nenhuma história faz sucesso se não tem um drama. Nenhuma árvore cresce como deve se a terra onde está não é bem adubada, também pelas suas folhas e frutos velhos, já podres, que caem ao chão. Ninguém é autodidata nessa história de vida, nessa história da vida. Ninguém faz um sonho ser vida se não tiver certeza, com lágrimas ao seu redor, de que aquilo sim é um sonho.

No fim das frases, é só um texto bobo escrito às 4 e meia da manhã. Viram só, a vida é tão fácil que nem nesse horário os mosquitos me deixam escrever em paz, e silêncio.

*bom, dia 25 é Natal, 
que o nascimento do Menino Deus seja revivido no coração, 
e na mente, de cada um que busca vida, e vida de verdade.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Palavras claras para olhos fechados


O cansaço parece desaparecer. Um sono diário, consequência de várias situações, passa a não ser nada além de desculpa para uma piscada mais longa aqui e outra acolá. Há, claro, um envolto que afasta da realidade e aproxima da pureza, da ligação perfeita. Mas há, inegavelmente, um brilho diferente, intenso, real. Quando o sentido mais sincero é trazido à tona, a felicidade torna-se palpável. Como não perder a concentração naquilo que aproxima os olhos do chão e passar a movimentar em pró de uma luz que guia para um lugar tão sereno e sincero quanto a nuvem envolvente e racionalmente irreal. Pensar como humano, usando do livre-arbítrio, levaria a negar nuvem, sentimento, sonho e brilho. Em ambas situações. Pensar como humano tiraria a beleza, o prazer e o espontâneo. De parte em parte, pensar eliminaria o risco de insanidade, a incerteza sobre uma intensidade vibrante de pancadas vivazes e muito convenientes. Pensar apenas como um humano me tiraria o complemento de alegria de um dia que não foi feito por sorrisos, boas ações, descanso ou mesmo alegria. Não pensar como um simples ser humano, usando de uma razão indiferente ao que se vive de verdade, me impediria de escrever frases. Pensar apenas como humano me impediria de disfarçá-las nas entrelinhas, em um contexto em que por vezes eu acabo por esquecer a saída. Dúvidas que volta e meia aparecem, volta e meia podem ter sido respondidas. Não há certeza.

Pensando bem, não pensar me dá uma resposta que, se não toda verdadeira, pelo menos leva um sorriso ao final.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Entender, sem resposta


O que está acontecendo? É tanta movimentação que ultrapassa o tato e passa a ser visão constante, irritante, para quem vê e para quem mostra. Seja ansiedade, angústia ou nervosismo, seja pelo motivo que for. É desconhecida a razão, o motivo e também o sentimento. O que está acontecendo aqui, comigo? É como se o mundo fosse desabar sobre as minhas costas e meus ombros já estivessem se preparando. Movimentos contínuos, impulsos nervosos inacabáveis. Quem poderá amenizar ou mesmo acabar com isso? Alguém poderá? O que poderá? Possibilidade? É desconhecida qualquer resposta, como de costume. Perguntas nunca faltam. Respostas nunca existem. Nunca, nada, todas negações. Sempre com essa constatação. Como o sempre também, mentiroso. Exceções de uma regra que não importa, sobre palavras que não importam com respostas que não existem para perguntas que não fazem diferença concreta.

Mas eu queria mesmo saber por quê.*


*com ou sem acento, separado ou junto.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Pés molhados e olhos fechados


Chuviscos que formam uma névoa fazem sumir o calor do corpo, encharcam as roupas recém colocadas e fazem do tempo passado olhando-se no espelho um tempo mais do que inútil. Vem do alto, não deixando de ser nuvens, atrapalham a visão, dificultam o entendimento de onde se está. Como qualquer dúvida, como qualquer medo, como qualquer angústia ou receio. Ficam até atordoados aqueles que não sabem para onde estão indo. Mal sabem que, mesmo julgando saber, nem sempre estão verdadeiramente cientes de onde seus passos os farão chegar. A água cai em gotículas que nunca vêm sozinhas. Isso é visto pelos olhos humanos, os mesmos que sempre acrescentam à sua dificuldade outras que, mesmo que como gotas caiam longe, parecem estar intimamente ligadas às que caem em seu cabelo, já molhado. O medo do que não se vê é pior do que o medo do que se vê. A agonia de não conseguir progredir como se quer, pela névoa e pelo vento, é semelhante à agonia de quem busca e não encontra, de quem abre os olhos e não vê o que era quisto ou de quem os abre e vê tudo aquilo que julga não precisar. Insistência em querer abrir os olhos quando o melhor é mantê-los fechados. Costume de quem não acredita, de quem não confia, de quem não sabe esperar.

Costume de quem sempre reclama das gotas de chuva, da névoa e do vento.

*a trilha sonora encaixa 
melhor no momento do que nas palavras

Histórias do Bandiolo - Costas para a porta, para a dúvida, para o entendimento


Fechou a porta, não voltaria mais ali. Virou as costas e, com princípio de lágrimas nos olhos, caminhava tentando não pensar no que havia acontecido. Não poderiam ter sido tão ruins as suas palavras. Porém, sentia-se mal. Pela situação, por si, por ela. Uma mistura de arrependimento com vontade de desaparecer. Não era a primeira vez que acontecia. Rezaria para que fosse a última, mas que conseguisse enfim, deixar de lado seus problemas pessoais passados, libertando-se das amarras que acabavam, inevitavelmente, prejudicando-o e interferindo negativamente em suas relações. Explicações que, contudo, não justificam. Há algo que vai além disso. Talvez a vontade de parecer menos... alguma coisa. Chegou à calçada. Aquele longo caminho seria mais longo ainda enquanto estivesse pensando. Não havia música, barulho de carro ou qualquer evento naquela noite que tirasse sua atenção de seus pensamentos. Dos pensamentos que estavam em um lugar bem definido: atrás da porta da casa de onde acabara de sair. Chutar pedras como autoflagelação não adiantava. Ele sentia e não sabia explicar. Não sorria e nem chorava. Atônito, querendo se entender.  Raiva de toda a situação, da porta mais uma vez fechada. Entendimento das suas palavras nesses e em tantos momentos menos importantes. Talvez fosse isso, talvez desse importância demais para poucas palavras, para consequências ruins dessas palavras. Entretanto, como não dar importância? Sentir-se sem saber como definir, por tempo quase incontável. Horas que eram segundos, todos anos que não passavam de dias. Tudo isso era motivo suficiente para entender por que dava tanta importância a pequenas palavras, a pequenos momentos, a todos aqueles pequenos segundos que, agora sim, passavam a ser horas. Ansiedade com frio. E aquela nuvem de dúvida sobre... Já nem sabia mais do que duvidava.


*sem saber da dúvida, 
da explicação, 
da justificativa, 
da razão. 
Sem saber.
**Claro, eu não gostei.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Sobre a incapacidade da descrição


Distante de paranoias complexas, ainda assim com o quase ininterrupto sentimento de incapacidade. Não é difícil entender. O subjetivo está escondido, com medo do literal. Há possibilidade de clareza maior? Não, não há. A ironia, ou algo normal que se passa por ela, irritam tanto que não há remédio senão fechar os olhos e virar para o lado. Em busca de nada. Meus olhos se fecham, não deve haver de ser. Infinitivo, gerúndio ou particípio, a resposta provavelmente é não, você não. Independentemente do que possa ser negado pelo não. Lascas saiam dessa situação, caindo todas ao chão, como míseras... lascas, insignificantes.

Como um par de olhos, fechados, que gostaria de ser garganta para gritar alto, até perder-se no torturante silêncio.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Histórias do Billi J. - Era apenas... alguma coisa


Algumas das lembranças do Billi J. eram tão incompreensíveis quanto a própria vida do Billi J.. São tantas lembranças que fica complicado escolher uma e transcrever aqui. Bom, como em muitas das lembranças de histórias significativas contadas pelo Billi J. para mim, havia nessa uma mulher. Mentira, ainda era uma menina, no salto alto dos seus 17 anos. Nem velha demais, nem nova demais. Da mesma idade do Billi J.. E foi a única que conseguiu, por um pequeno espaço de tempo, fazer com que o Billi J. esquecesse a Renata. Ah, a Renata... como ela era linda, e como seus cabelos balançavam quando ela caminhava...

A menina em questão era Verônica. Contrariando a lógica, em vez de Vec, como o Veranópolis Esporte Clube, seu nome para os íntimos era Vic, como as pastilhas para a garganta e as pomadas. Vic era tão bonita que ninguém a chamava de bonita, ou de linda. Ela era deslumbrante. Desfilava em passos certeiros, chamando a atenção e fazendo tremer qualquer par de olhos que a colocava em seu campo de visão. Usava uma rasteirinha e, contrariando o que muitos dizem, tinha um jeito de andar que prendia a atenção. Não parecia modelo, não parecia uma qualquer. Era apenas Verônica. Vic. Chamá-la assim era perigoso, seu misterioso sorriso sempre surgia quando chamavam-na pelo carinhoso nome. Sim, Vic era nome carinhoso e jamais apelido, pois ela não merecia um... apelido.

Atormentava aquele sorriso misterioso. Se o sujeito tivesse o privilégio de receber um sorriso particular para si sem antes conhecê-la, ele tremeria. Todos tremeriam. Todos tremiam. O Billi J. tremeu quando, poucos segundos após vê-la, teve em sua direção aquele sorriso. Mais bonito que os de propagandas publicitárias, mesmo não sendo tão branco quanto neve nova. Tremedeira inexplicável, pois não havia medo, não havia sequer razão alguma. Ele apenas olhou, recebeu aquele sorriso e... tremeu, sentindo um frio na espinha, na barriga, em qualquer lugar interno que pudesse estar momentaneamente congelado.

Ela, exuberante, cativante. Ela sorria sempre que via o Billi J.. E quando sorria para o Billi J., sorria apenas para o Billi J.. Os matumbos dos colegas do Billi J., asnos em razão e arrogância, não entendiam como podia aquela... maravilha de jovem, aquele ser deslumbrante e incomparável dar o mínimo de atenção para aquele... como era mesmo o nome daquele cdf de óculos? Bom, eles sequer sabiam o nome do Billi, mesmo sendo seus colegas desde... o jardim da infância. Quanto ao Billi, no começo apenas estranhou aquelas sensações estranhas. Porém compreendia que a cada dia a Renata não parecia ser mais a pessoa perfeita. Porque, sendo bem racional, a Vic era mais decidida, não ficava com um pé atrás para largar tudo o que estava fazendo e ir apenas dar-lhe um oi... Vic, aquela intimidade toda não era normal.

Vic não era normal.

A Renata percebeu que o Billi J. estava ficando todo bobão e como quase todo mundo nessa história, ficou sem entender por que sentia tanto... ciúme(?!) quando via Verônica com Billi. Renata não sabia o que sentia, quando via, quem via. Acabava afastando-se todas as vezes em que Verônica se aproximava de Billi J., com isso, o Billi sentia-se cada vez mais distante dela, cada vez mais próximo da doce e incrível Vic. E como seu caminhar era hipnotizante, como ela ficava mais bela quando usava uma flor no cabelo, como...

Bom, e quanto a Verônica, o que sentia, como chegara até ali, por qual motivo havia trocado de colégio naquele momento final do ensino médio? Ninguém sabia, principalmente porque ninguém queria perguntar alguma coisa a ela quando estava na sua frente. Como por encanto, tinha todos os meninos do colégio, todos aqueles marmanjos de 16, 17, 20 anos em suas suaves e pequenas mãos. Todos queriam segurar aquelas mãos que, só por serem as mãos de Vic eram encantadoras.

Ela sorria, para uns e outros, para o Billi em especial.

Dia qualquer, vendo Renata se afastar quando acabara de chegar, foi atrás dela. Conversaram 10, 20, 57 minutos e 12 segundos, cronometrados mentalmente pelo Billi J.. Voltaram abraçadas, rindo, sorrindo como se fossem velhas amigas. Billi não entendeu. Mais uma vez. Como todos que há haviam percebido a repulsa de Renata por Ver...digo, Vic. Chegando perto de Billi, separaram-se. Renata foi para algum lado e Vic foi falar com Billi.

Conversaram, mas dessa vez o Billi J. não conseguiu se concentrar no tempo, apenas naquele sorriso, naqueles olhos, naquela... namorada do filho do prefeito?! Billi J. não tremia mais, não sentia mais frio. Pelo menos não pelo sentimento de outrora. Namorada do filho do prefeito? Primeiro perguntou a Vic... agora Verônica, porque estava contando a ele aquilo. Não conseguiu disfarçar o... ciúmes?. Não, não conseguiu disfarçar. Verônica riu. Disse que... bom, ela disse isso:

- Billi, você é um menino muito legal, muito querido, mas você não pode se apaixonar por mim. Primeiro porque eu tenho um namorado, rico, que tem um carro. Segundo... bom, você é muito querido mas...

Não deixou-a terminar. Ser chamado de legal e querido no começo de uma frase sempre indica que você é um idiota e não serve para a outra pessoa em questão. Billi J. estava certo, ser chamado de querido era o fim. Porém não chegava ser chamado de legal e de querido para aliviar o peso do... bom, Billi J. pode não ter dito nada, mas como todos os outros, sentia uma forte atração por Verônica. Não podia negar isso, nem quando lembrava que...

...Renata. Céus, como pode...

E saiu correndo, atrás da sua amada. Daquela que sempre saía de perto quando Verônica se aproximava dele. Por que será que a Renata...

Renata!

Da mentira, o desdém


Eles falam que não querem, que não precisam, que tudo isso é bobagem. Falam que é passado, que não importa mais. Falam com desdém inigualável, tentando demonstrar repulsa somente pela lembrança. Falam e mentem, pois sua natureza é mentir, aprenderam que, quando não se tem uma coisa, deve-se desdenhá-la, fingir não querer, fazer de conta que é bobagem, que não se precisa de tal coisa. São criados para mentir, para fingir, pela e para a inverdade. São criados para serem falsos. Por isso são culpados apenas dois terços por serem o que são. Poderiam sim, mudar, escolher não mentir, não fingir, demonstrar a verdade mas não, acomodaram-se e passaram a fazer parte de um mundo comum, rotineiro, mentiroso. Passaram a defender esse mundo. Eles mentem, continuam fingindo que não, mas sabemos que é mentira. Porque eles querem. Eles desejam. Ambicionam. Sonham como crianças inocentes, fantasiam ilusões irreais. Tão irreais quanto suas verdades mentirosas. Coitados, quem abre os olhos por poucos milímetros e alguns segundos vê claramente que são apenas mentirosos.

Incomoda um tanto considerável seu desdém. Irrita, perturba, chateia. E irrita novamente. Porque a mentira quando entra em um lugar não habituado a ela faz isso, irrita, perturba, faz sujeira, deixa sujeira. As verdades sobressaem quando seus emissores não são covardes. Profetas da verdade, de verdade, não mentem, pois a verdade está com eles e eles a fortalecem, fazendo-a imperar sobre uma mentira casual e mísera que possa surgir. 

A verdade impera quando não há um cômodo transmissor de si.

Antes de pensar no que você está sentindo, pense se você está sentindo alguma coisa. Muitas vezes a superficialidade de uma suposição leva ao irreal, à fantasia boba, à mentira. Porque um sonho mentiroso é medíocre.

Tão medíocre quanto aqueles que desdenham o que querem, mas não podem ter.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Um velho nada


Se pudesse ao menos entender como isso acontece, como é possível esse tudo estranho e disperso acontecer simultaneamente. Se pudesse. Como de costume, maldito presente condicional. Possibilidade de resposta, zero. Nada. Sem chances. É como treinar, preparar-se, estar pronto e fracassar. Como de costume, fracassar. Sem ter feito diferença a mudança de hábito, o abdicar de situações, de vivências ou pessoalidades, existindo ou não essa palavra estranha, entretanto significativa. Chegar ao ponto de perceber que nada do que se altera traz uma diferença no final faz concluir que há sim um grande fracasso correndo, concorrendo com um sucesso cada vez menos visível, cada vez mais ilusório, cada vez, em realidade, apenas uma vontade, um desejo. Nem um sonho. Para completar o todo de nada antes citado, outras tantas derrotas, os mesmos joelhos caídos sobre terrenos diferentes, por circunstâncias diferentes. Há um céu, sim, há! Hoje, porém, não o vejo. Minha cabeça rende-se ao solo, às rochas e à integração disso com tantos outros elementos, tantas outras componentes. São tantos e tantas que levam ao nada. Irônico, sem dúvida. Mais ainda por... bom, chega de aumentar para, no fim da história, do pensamento e, claro, do texto, terminar em nada.