domingo, 12 de dezembro de 2010

Pés molhados e olhos fechados


Chuviscos que formam uma névoa fazem sumir o calor do corpo, encharcam as roupas recém colocadas e fazem do tempo passado olhando-se no espelho um tempo mais do que inútil. Vem do alto, não deixando de ser nuvens, atrapalham a visão, dificultam o entendimento de onde se está. Como qualquer dúvida, como qualquer medo, como qualquer angústia ou receio. Ficam até atordoados aqueles que não sabem para onde estão indo. Mal sabem que, mesmo julgando saber, nem sempre estão verdadeiramente cientes de onde seus passos os farão chegar. A água cai em gotículas que nunca vêm sozinhas. Isso é visto pelos olhos humanos, os mesmos que sempre acrescentam à sua dificuldade outras que, mesmo que como gotas caiam longe, parecem estar intimamente ligadas às que caem em seu cabelo, já molhado. O medo do que não se vê é pior do que o medo do que se vê. A agonia de não conseguir progredir como se quer, pela névoa e pelo vento, é semelhante à agonia de quem busca e não encontra, de quem abre os olhos e não vê o que era quisto ou de quem os abre e vê tudo aquilo que julga não precisar. Insistência em querer abrir os olhos quando o melhor é mantê-los fechados. Costume de quem não acredita, de quem não confia, de quem não sabe esperar.

Costume de quem sempre reclama das gotas de chuva, da névoa e do vento.

*a trilha sonora encaixa 
melhor no momento do que nas palavras

Um comentário:

Gabriela Andrade V disse...

Ainda bem que não reclamo das gotas de chuva, da névoa e do vento. Somente e, tragicamente, reclamo do medo invisível aos meus olhos.
A trilha sonora é linda...

P.S.: também não gosto de textos e filmes de auto-ajuda ou afins, provocam-me o sono.