quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Histórias de uma vida não vivida (26)


*Peçam e lhes será dado! Procurem e encontrarão! Batam e abrirão a porta para vocês! Pois todo aquele que pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, a porta será aberta. (...) quanto mais o Pai de vocês que está no céu dará coisas boas aos que lhe pedirem." - Mt 7, 7-11

Uma mente racional, ou um pouco sã concluiria que eu consegui ser muito bobo, muito idiota, muito qualquer coisa desse gênero. É provável que apenas um dentre milhões, na minha situação, com o meu sentimento, com os meus longínquos pensamentos, fizesse o que fiz. Eis mais uma prova de insanidade deste que escreve sem conseguir calcular ao certo quantas linhas serão, o que essas linhas conterão, se significarão, no futuro ou mesmo nesse tranquilo presente, alguma coisa.

Há uma coisa chamada pedir. Há uma coisa chamada sinal. Há uma coisa chamada compreensão. Tudo isso em um dia. Seria abusar da boa vontade de Quem me presenteia. Seria abusar se além de receber eu tivesse tomado alguma atitude. Não era o momento. Ou pelo menos entendi que não era o meu momento. Mesmo que aqueles instantes tivessem sido, como foram de fato, meus, exclusivamente meus. Ao meu redor outros tantos momentos. No meu momento, apenas o presente pedido, o sinal do dia inteiro, a compreensão dessa loucura toda.

Das pequenas coisas ditas hoje ao meio dia até esse, que agora já é aquele, momento, um grande vazio. Lembrança alguma digna de pensamento, recordação, gravação. Não. Mais uma negação. Estranho para um dia de afirmação. Com um grande e sonoro ão. Que importância tem o vazio do resto do dia e de tantos outros dias? Tão pouca importância quanto o vazio de tantos outros dias. Àqueles que pedem de coração, algo pequeno e simples, um grão de areia no meio do deserto que pode ser a vida, a hora demora a passar. Os minutos extravasam qualquer conta calculada ou suposta. Até que, de repente, eis o pedido. E você, no caso eu, bobo sem saber o que fazer.

Há poucos dias de alguma comemoração, um motivo a mais para comemorar. Uma mudança de atitude, de compreensão, de visão. Ver. Olhos humanos, da mente ou do coração. Todos viram hoje. Me fizeram sentir uma enchente de insanidade, que alguns chamam de êxtase de alegria. Eu chamo de graça de Deus.

Eu pedi que pudesse apenas usar um dos meu sentidos. Esse seria meu presente de aniversário, a alguns dias dele. Até demorou um pouco, mas recebi esse presente. É uma bênção. Mesmo que daqui para frente nada mais faça sentido, nenhum dos sentidos possam ser usados ou semelhante coisa estranha. Mesmo que as distâncias todas sejam ainda enormes, com obstáculos invisíveis e razões desconhecidas. Continuo falando difícil, para a terra boiar em meio à imensidão do oceano azul.

Esteja esse oceano azul grudado em um deserto de areia, ou em duas gotas de chuva.

É uma loucura maior ainda mas, para o Senhor das pequenas coisas, um oceano cabe sim em duas gotas de chuva.

domingo, 26 de setembro de 2010

A vida do Jaimão(parte 5)


T-E-L-E-F-O-N-E, era isso. Mas antes deveria atender, seria algum vizinho que ouviu barulhos estranhos? Para aumentar ainda mais a raiva do Jaimão, era uma atendente de telemarketing tentando vender-lhe um conjunto de pentes para homens peludos, tipo Tony Ramos. Isso lá pelas 3 da madrugada. Xingou a pessoa, seja homem ou mulher e voltou ao seu plano, bem, à sua tentativa de ter um plano para assassinar aquela que ficaria sendo sua falecida esposa. Maldita, até mandaria um bando de pivetes urinarem na sua sepultura. Voltando, ele pensou que asfixiaria ela com o fio do telefone. Sim, com o fio do telefone. Um sorriso brotou de seus lábios. Ainda pulando, subiu mais uma vez as escadas da casa e, com boca, pé e braços ensanguentados ele foi até o quarto, não sem antes dar mais umas bordoadas nos afeminados filhos daquela... mulher. Chegando no quarto, mais uma decepção. O telefone era sem fio. Como era difícil essa vida de assassino...

Entretanto, sua raiva era maior, fazia-o engolir a dor, a sujeira da pedra e de tantos outros insetos que rondavam sua boca que mais parecia uma sopa de sangue de pato. Como nenhuma ideia surgia em sua mente, sentou-se na cama e tentou descansar. Acabou dormindo, cansado de tanto fracassar, com tantas dores que fica difícil imaginar.
Ao acordar, notou que havia dormido em cima da sua... esposa(?), que estava fria e imóvel. Tentou acordá-la, em vão. Havia matado-a sem intenção, ou pelo menos sem intenção no seu sono, no seu dormir, no seu descansar. Seu pé, furado, doía. Suas mãos doíam. Sua boca era uma poça seca de sangue. Seus dentes da frente estavam grudados naquela pedra. Mas pelo menos aquela vagab mulher, já estava morta. Como esconder o corpo dela sem que os pivetes soubessem? Tapou aquele corpo fedorento, e agora morto, com um lençol... transparente. Caramba, não havia outro na casa.

Seguiu seus passos em direção ao hospital. Passou alguns dias lá. Pensando no que fazer da vida, agora que era viúvo. Bom, não totalmente, já que ninguém sentiria falta daquela... coisa. Talvez aqueles caminhoneiros fedorentos. Tudo muito rápido, semanas depois voltou para casa, ainda com o pé machucado, com os dentes postiços e outros remendos em seu corpo sem nenhum ão de qualidade. Seus filhos sorriam ao vê-lo. Aqueles viados de uma figa. Eles o abraçaram e ele respondeu com uma bofetada na raiz do ouvido de cada um. Eles choraram e lhe entregaram o dinheiro.

Que dinheiro? Onde esses imbecis arrumaram tanto dinheiro. Devia haver uns 30 mil naquele maço todo. Mandaram-lhe ir até o quarto para ver de onde vinha o dinheiro. Com dificuldade, subiu as escadas, abriu a porta e, que nojo! Até ele ficou apavorado quando viu uma bola humana de pêlos em cima do corpo da sua ex-mulher, aquela v... . Ela, morta e eles em cima, fazendo coisas indevidas. Necrófilos! Que nojo. Não conseguia pensar em outra coisa. Ele era um gordo, obeso, fedorento, fumante. E estava ali, em cima daquele corpo morto. Que nojo.

Não sabia o que pensar. Então fechou a porta, desceu as escadas, sentou no sofá e começou a contar o dinheiro. Aqueles dias não haviam sido fáceis, mas o final valeu toda a dor.

Apesar de ter consciência de que ainda era um corno, uma vez que sua... mulher, ainda mantinha relações com outros homens, mesmo estando morta.

*o final de uma história é quase sempre ruim. 
Essa não conseguiu fugir à regra. 
Porém era preciso terminar essa história,
infeliz, de vida, de alguém que não existe.

Histórias do Bandiolo - Tão seu, tão só.


Tentou voltar ao sonho mas não tinha sono. Não depois do que estava sonhando e aquele maldito celular, com apenas um toque, interrompeu. Sequer viu quem era, mas tentou voltar. Que nada. Contrariando sua raiva por perder a linha de um sonho delicioso, viu que a realidade da ligação o afastava do sonho, prazeroso e irreal, trazendo-o então para uma outra linha, uma outra história, tão imprecisa quanto distante. Tanto quanto o sonho, tanto quanto tudo que não estava a seu alcance.

Se pudesse, não saberia escolher. Se pudesse escolher ficaria em casa, trancado no quarto feito criança de castigo. O que dizer, o que fazer, o que escolher, quais razões ou, sentimentos? Escolheria como qualquer um, por ordem de chegada, cartão postal ou socialidade? Dificilmente levaria qualquer dessas opções como critério. Critérios postos seriam prova de que ambas opções eram apenas isso, opções. E não eram apenas opções.

Sem escolher, olhou para fora e nada viu. Tentou pensar na questão mas o sonho e o celular tornavam a dúvida, apenas suposição naquele momento, ainda maior, ainda mais inconstante e impensável. Quem dera pudesse mesmo optar por a ou b, um ou dois, sol ou lua. Bom seria se pudesse deixar de lado essa inexistente vida dupla. Que grande loucura boba era pensar por isso ou aquilo, sonho, sono ou celular. No fim tudo não passava de desejo subconsciente de alguém que consciência já não tinha.

Buscando entender, nada conseguia. Um completo fracasso, uma decepção. Nada disso fazia diferença, rebaixava sua auto-estima, com ou sem hífen, ou fazia-o pensar que sua vida era uma grande porcaria. Não era rebelde ou sentia-se injustiçado. Que bobos eram os que faziam aquilo. Tampouco faria alguma diferença se tivesse consigo um sentimento de confiança, de possibilidade. Uma certeza era mais uma coisa desnecessária naquele momento.

Sozinho pensava, imaginava, sonhava e olhava o celular. Assim ficaria, sem sono, sem sonho, sem celular, sequer certeza.

Assim ficaria ali. Sozinho.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O vazio de viver e só(16)


Tanto passa, muda ou finge mudar. Tanta palavra que nasce, tanta palavra que morre sem crescer. Faltam razões para as palavras crescerem e terem algum sentido antes de morrer na obscuridade. Querem ser mais do que atualmente podem ser. Idiotas, sem sentido algum percorrem caminho nenhum sem existir de plena e visível ou audível forma. Se pudessem, entenderiam seus porquês. Entenderiam esse grande porquê. Distância enorme, nem tanto ou irrisória. Todas elas como se fossem apenas uma. Semelhante a um cego que precisa escolher um caminho mas não sabe onde vai pisar pois não os vê. Importância alguma tem o fato de ele saber onde quer ir, embora isso não seja uma certeza. Tampouco o que preferem que ele escolha, uma vez que ele é cego e não vê os gestos. Confiança sem ver, tentando perceber a verdade sem poder escolher, de fato. Seguir por um instinto que não segue padrão, patrão ou afirmação. Estúpidas palavras. Pior que elas, só estas, que pouca razão possuem, que pouco sentimento possuem, que explicação desconhecem e cuja existência passa despercebida.

Apenas palavras, apenas um lamento que, felizmente, não quer dizer muita coisa. Talvez seja saudade, talvez seja amor, talvez seja paixão. Talvez não seja coisa qualquer. Sem condicional, probabilidade. Quem sabe até sem possibilidade. Sendo palavras ou não.

sábado, 18 de setembro de 2010

O vazio de viver e só(15)


Queria poder dizer alguma coisa que ecoasse distante, derrubasse com força. Queria poder dizer, quem sabe escrever, palavras que recebessem como resposta o brilho de um encanto, de olhos ou dentes que se mostram em sorriso. Queria ser capaz de criar, produzir, inventar ou apenas escrever coisa qualquer que fosse vista com algo que não fosse estranheza, pavor, tédio ou semelhante. Só que da mesma maneira que um fruto não cai longe da árvore onde nasce, eu não posso dizer, escrever, criar ou mostrar algo que não seja algo próximo desse quase tudo que não consegue ser entendido, visto com algum valor, mais obscuro que estivesse. Escreveria tantas outras incapacidades minhas, tantas limitações mas não, tanto faz ler uma autorreflexão ou uma crítica radical e irracional. Escreveria. Escreveria. Um tudo para mim que acabasse não sendo um nada para alguns dos poucos olhos com os quais verdadeiramente me importo.

Muito visto como nada. Tanto quanto boas ações perto de todas as más ações diárias. Tanto quanto batidas fortes de um coração perto de palavras que ecoam livres. Tanto quanto pensar que certas coisas mudam rápido perto da velocidade com que elas mudam. Se é que mudam.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O vazio de viver e só(14)


Quem olha para fora da janela com cara de bobo sempre quer tentar encontrar alguma coisa, nem que seja um sonho, que, ao menos momentaneamente, não pode ter. Quem olha para dentro da janela busca alguma coisa que quer ver, nem que seja pela, tantas vezes boba, curiosidade. Quem é uma janela, sem vidro ou trinco, é uma janela, não pensa, não sente, sequer percebe que alguém olha através de si. Quem é uma janela não é uma janela. As janelas são, apenas. Assim como as portas e os tijolos. Cada um com seu estilo, sua função, enfim. Tudo pré-conceituado por seres que deveriam ser muito mais do que executores de funções pré-definidas, pré-conceituadas, pré-entendidas. Seres bobos, paranoicos pelo banal, teimosos contra muitas verdades, acomodados por um tempo que passa muito mais rápido por ver que não vale à pena ficar esperando por eles. Sábio seria o tempo se fosse algo além de cronograma, história e conteúdo de física. Seria tão sábio quanto o mais sábio dos burros que tentam entender o tempo que passou, como se isso fosse fazer diferença no tempo que está passando e que passará, a curto, médio e longo prazo. Pensam no sempre, no nunca, no passado e no futuro. Pensam no que vão fazer no trabalho, sobre quem vão falar mal, contra quem vão agir, quem precisarão destruir ou atrapalha para conseguirem inflar seus egos cada vez mais gordos de tanta sujeira. Pensam em tudo menos no que vão deixar para seus filhos, para os filhos de seus filhos e dos outros. Acham que entendem sobre o tempo, a natureza, sobre política, Deus, o ser humano como parte do universo e horóscopos. O centro do mundo, de uma criação que é, e por muito tempo será, o centro da existência de alguma racionalidade livre-arbitrária. Escolham o que quiserem, disse o Superior. Agora estou aqui, lamentando por tantos que não sabem escolher, banais, egocêntricos, assassinos, pervertidos e, credo, donos do tempo, do seu tempo e do tempo de quem se faz necessário nos seus egos, pelos seus egos, para seus egos. Tudo bem. Afinal de contas, um dia vocês passarão. Embora eu tenha muito medo do que as gerações futuras às suas, seres inteligentes, poderão fazer com essa coisa toda chamada vida. Do viver à natureza, do pensar ao tempo, da laranja ao blog, da música ao esgoto. Sem sair de casa, sem trocar a estação de rádio e sem entender, no fim da vida, do viver e da música, quem é o tempo, o que é verdade, tampouco o que se quer quando se olha para fora da janela com cara de bobo.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Histórias de uma vida não vivida (25)


*Pequeno raio de sol. Pequeno e tão valente raio de sol. Percorreste milhões de quilômetros de onde nasceste até chegar aqui, no meu campo de visão. És contínuo e jamais andas sozinho. Não te faz falta algum momento de solidão, para refletir sobre essa vida corrida e um tanto impensada? Raio de sol, sabes da tua capacidade, pela simples, porém estranha, existência tua? Sabes o que a tua presença, rápida e minimalista pode representar em um dia onde poucos como tu conseguem existir em campos de visão como o meu? Consegues trazer um sorriso que, mesmo sendo mínimo como a tua existência, faz valer à pena um dia escuro, com ar e céu de tristeza e lamento. Sim, consegues. Apenas existindo, acontecendo. Não pensas, não aconteces, não refletes sobre a tua existência. Mas fazes teu papel melhor do que todos os que pensam sobre suas existências, buscam entender de onde vieram e para onde vão, e por que, além de tudo. Tu és sábio por isso, raio de sol. Sábio e um tanto quanto malandro, por não ter tempo de achar que a tua existência é inútil e desnecessária, sabendo da existência de outros como tu. Sim, raio de sol, tua sabedoria vem Daquele que criou aquele que te enviou. Está bem, eu sei que tu não pensas nisso. De qualquer forma, parabéns, mesmo sem ter noção, tu cumpres muito bem o teu papel. Ou melhor, a tua existência.



*outra vez achei tão boa a introdução que nem precisei escrever nada além disso. 
Consegui dizer o que queria com poucas linhas, muitas palavras e afins. 
Gostei tanto dessas frases mentalmente infantis 
que nem entrei na complexidade da existência de um raio de sol 
que ilumina e aquece sem ao menos ter saído do sol. 
Deixa para lá, quem sabe em um outro dia de chuva, 
como hoje, 
eu consiga trazer o calor do raio do sol de algum outro lugar. 
Relativo quanto à situação, jamais quanto ao significado.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Como uma volta


Dentre tantos gritos, um ecoa vaidosamente no meio de tantos outros. Ele toma para si proporção descomunal e inútil. Bom, e um tanto quanto superficial. Desgosto feroz que não é raiva, lamento tolo que não é tristeza. Distante do que precisa, necessita e é dito, com mais uma rara exceção hoje, aqui, nessas palavras costumeiramente tortas. Um grito que não sai da boca porque não precisa sair de lá. Ele ecoa, deixa sua marca derrubando uma coisinha aqui e outra ali com suas ondas sonoras, pasmem ou não, inexistentes porém, ainda assim, fortes. Não há o que dizer quando um nome passa a ser a razão das palavras ditas. Não há. Grito algum consegue compensar a vaidade superficial de um grito, qualquer que seja a proporção do seu eco, qualquer que seja a sua consequência. Tanto faz, palavras são ditas e não há como mudá-las. Quem sabe com a troca de nome, de cidade, de identidade, de autor ou idealizador do tal nome, das tais frases. Dizem que uma árvore não cai longe do pé, mas se um pássaro ou um menino pegar e carregar, ela terá caído em outro lugar. Pensem como quiserem, dizendo o que digo, não explico nada, não demonstro nada, não busco entreter ou ter alguma palavra bem recebida. Sim, tanto faz se a vida é entendida literalmente, por palavras, gestos ou pelo nome. Achei que não precisava mais dizer que cansei da literalidade daquilo que não tenho e prefiro voar sem asas, falar sem voz e fazer ecoar alguma coisa por algum lugar do incrível, distante, um tanto quanto irreal, mas muito interessante mundo obscuro da subjetividade.


*não que alguém fosse comentar, mas... 
sem comentários nessas frases.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O vazio de viver e só(13)


Entre as palavras e os números. Ou elas ou eles. Entre o idealizado e o concretizado. Apenas um. Entre o que remete a tempos e o que remete a tempo. Com considerável diferença entre ambos. Entre o ideal, ligado ao idealizado, e o distante do ideal, caminho um tanto quanto oposto. Entre média e assíntota. Muito, muito imaginário agora. Alguns passos separam o sonhador e o arrependido do extasiado e insano. Olhos que se olham para trás e veem o que poderia ter sido ou foi. Distante de um mundinho já não mais real. Já não mais exato. Já não mais verbal ou numérico. Passos acima e abaixo, ao lado pontual e oposto, jamais adentro. Tanto menos afora. Não há como voltar, tampouco escolher uma terceira opção. Dentro da razão o sentimento. Quem sabe vice-versa aqui ou acolá. Tanto faz. Perdido no entre afastado passos ou quilômetros de um e outro. De direita ou esquerda, sem o denotativo intuitivo. Não é o braço que avisa para onde vai. Não são os olhos que avisam para onde vão. Nem a mente. Nem o coração. Razão, emoção, qualquer forma que destoa do que se pensa ou sente. Nada, repito, nada disso escolhe entre um ou outro. Nada disso avisa, sabe, intui ou mesmo imagina para onde vai. Nenhuma dessas possibilidades, dessas frases ou números, no infinitivo ou de sete em sete. Nada, ninguém. Quem sabe uma nuvem, quem sabe um vento. Quem sabe um caminho que cai do céu ou empurra os que estão no meio do entre para o lado. Direito ou esquerdo, não importa. Quem sabe está complexamente perto e longe daqui. Quem sabe não é quem escreve, menos ainda quem lê. Saber, conhecer, imaginar, nada. Nem ao menos sonhar mais é possível. Nada disso faz ou deixa de fazer sentido. Nem real ou irreal, nem ideal ou real, nem braço, olho ou pé. Nem mente ou coração. Nem ilusão. Muito menos sonho. Nada disso define uma escolha, uma opção, uma definição. Nada disso faz sair do meio. Nada disso distingue entre a lembrança e a lembrança.

domingo, 5 de setembro de 2010

Frase do dia

Uma história, por mais errada que seja, não pode ser apagada quando escrita com tinta permanente. A vida é assim. Embora você tenha a possibilidade de aprender a melhorar, a escrita e o conteúdo. Quem se importa com seus erros busca sim, corrigi-los. Mesmo que não volte no tempo.


*dedicado à menina dos olhos verdes que, após uma, 
infelizmente breve, conversa, inspirou o pensamento que trouxe essas frases.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Histórias do Billi J. - Uma história por cinco letras


O Billi J., quando com 5, 6 ou 7 anos, queria aprender a ler muito mais do que alguém quer aprender alguma coisa em qualquer fase da vida. Ele era sedento pela leitura, tanto que olhava fotos e balbuciava as frases das imagens dos livros que ganhava de sua mãe. Sabia o alfabeto inteiro de trás para frente, letra por letra, mas não conseguia juntá-las de maneira ordenada. Isso o intrigava, o motivava a querer aprender a ler, a juntar aquele alfabeto de maneira ordenada. Ele queria ser gente, poder ler, recitar, falar, aprender cada vez mais enquanto os outros meninos só se preocupavam com brinquedos e brincadeiras de criança. Sim, vocês sabem que o Billi J. não era um exemplo de criança com muitos amigos, uma vez que era excluído por seus colegas riquinhos e cheios de pré-conceitos caseiros contra meninos que usam óculos, andam sem roupinha de menino rico e afins.

O Billi J. procurava memorizar sequências de letras em todos os lugares. Placas, panfletos, jornais, revistas e televisão. A cada nova sequência de letras, chegava na aula, escrevia, ou tentava escrever, no quadro e pedia para a professora qual palavra era aquela. Encantou-se quando descobriu que maçã e melancia eram escritas dessa maneira, pois pensava serem palavras muito mais complicadas. Imaginem o prazer que ele teve quando conseguiu escrever anticonstitucionalissimamente pela primeira vez. Bom, deixa para lá, isso não vem ao caso agora. Porque ele ainda não havia aprendido a ler e aquele era seu maior sonho, no auge dos seus 5, 6 ou 7 anos, nem bem completos ou vividos.

A sua professora tinha paciência e gostava da sua curiosidade. O Billi J. ia atrás e a cada dia trazia uma nova sequência de letras para que sua professora o ensinasse a ler. Palavra por palavra. Muitas vezes repetia a palavra, ou melhor, a sequência de letras, mas não se importava quando percebia isso, pois o importante era estar em busca do aprendizado que a maioria não queria nem saber. E pensar que isso não vale apenas para as crianças pequenas, infelizmente.

O Billi J. decidiu que acertaria uma vez a palavra. Então ficou ouvindo na televisão o sorteio daquelas cartelas de... números. E quando apareceu o número e embaixo o seu nome, o Billi J. decidiu que ali conseguiria acertar, escrita e leitura da palavra. Cinco letras, sendo três consoantes e duas vogais. Decorou a sequência e a leitura. A leitura e a sequência escrita. E ficou assim das 3 horas da tarde de uma terça-feira até às 7 e 30 da manhã da quarta-feira subsequente. Pensava e dizia alto, letra, ordem, leitura da palavra. Sim, conseguiria mostrar para sua professora que valia investir nele, nessa sua sede por conhecimento e aprendizado.

Chegando na aula, na quarta-feira, sedento por mostrar que havia aprendido a escrever, e ler, uma palavra. Chamou a professora e escreveu no quadro, as três consoantes e as duas vogais, nas suas ordens corretas. Leu. E sorriu. Olhando para a professora, a decepção(mais uma...).

-Billi, é vinte, e não vinti.

Sério, o Billi J. quase chorou quando ouviu aquilo. O que fizera de errado? Não entendia.

- Billi, não fique triste. Você deve ter ouvido a pessoa dizer vinti, com i, mas se escreve vinte, com e, tá bom? Nem tudo o que se fala é como se escreve. Tà, mas que bom que você continua procurando aprender.

Aquele consolo ajudou muito aquela criança de 5, 6 ou 7 anos. Ele sorriu, engoliu o choro e voltou para sua mesa, não sem antes ser chacoteado, como de costume, pelos colegas que não sabiam diferenciar um r de um m.