domingo, 26 de setembro de 2010

Histórias do Bandiolo - Tão seu, tão só.


Tentou voltar ao sonho mas não tinha sono. Não depois do que estava sonhando e aquele maldito celular, com apenas um toque, interrompeu. Sequer viu quem era, mas tentou voltar. Que nada. Contrariando sua raiva por perder a linha de um sonho delicioso, viu que a realidade da ligação o afastava do sonho, prazeroso e irreal, trazendo-o então para uma outra linha, uma outra história, tão imprecisa quanto distante. Tanto quanto o sonho, tanto quanto tudo que não estava a seu alcance.

Se pudesse, não saberia escolher. Se pudesse escolher ficaria em casa, trancado no quarto feito criança de castigo. O que dizer, o que fazer, o que escolher, quais razões ou, sentimentos? Escolheria como qualquer um, por ordem de chegada, cartão postal ou socialidade? Dificilmente levaria qualquer dessas opções como critério. Critérios postos seriam prova de que ambas opções eram apenas isso, opções. E não eram apenas opções.

Sem escolher, olhou para fora e nada viu. Tentou pensar na questão mas o sonho e o celular tornavam a dúvida, apenas suposição naquele momento, ainda maior, ainda mais inconstante e impensável. Quem dera pudesse mesmo optar por a ou b, um ou dois, sol ou lua. Bom seria se pudesse deixar de lado essa inexistente vida dupla. Que grande loucura boba era pensar por isso ou aquilo, sonho, sono ou celular. No fim tudo não passava de desejo subconsciente de alguém que consciência já não tinha.

Buscando entender, nada conseguia. Um completo fracasso, uma decepção. Nada disso fazia diferença, rebaixava sua auto-estima, com ou sem hífen, ou fazia-o pensar que sua vida era uma grande porcaria. Não era rebelde ou sentia-se injustiçado. Que bobos eram os que faziam aquilo. Tampouco faria alguma diferença se tivesse consigo um sentimento de confiança, de possibilidade. Uma certeza era mais uma coisa desnecessária naquele momento.

Sozinho pensava, imaginava, sonhava e olhava o celular. Assim ficaria, sem sono, sem sonho, sem celular, sequer certeza.

Assim ficaria ali. Sozinho.

2 comentários:

Rebeca Postigo disse...

Como gosto de ler esses textos que tu escreves com inúmeros dilemas...
Acabo sempre criando em minha mente questionamentos nunca antes imaginados...
Amei, Vini!!!

Bjs

Maria disse...

Quantas vezes quis quebrar o celular por ele interromper sonhos bons...

Gostei Vini (: