domingo, 28 de março de 2010

Histórias de uma vida não vivida(18)


"Qual a pessoa mais famosa que você conheceu?" - era a pergunta daquele momento. E nós, em seis, pensamos muito até definirmos nossas respostas. Alguém gritou 'Jão Marreco', que foi colocado no último lugar pelo simples fato de os outros cinco perguntarem 'quem?'.  Depois veio um 'o jogador de vôlei...' e nem disse o nome, já foi colocado como penúltimo, afinal de contas, quem assistia vôlei dentre eles?

Outro nome citado foi o do 'Reginaldo Rossi'. É, foi famoso quando alguns deles nem tinham pêlos nas pernas. Aí veio uma das meninas presentes e gritou bem forte 'eu conheci o Di'. Quase levou uma surra. Só faltavam dois. Eu deixei o meu por último, por saber que era mais famoso que todos esses já citados e seria mais famoso do que o que a outra menina falaria. Ela disse "o Ricky Martin' e então todos duvidaram que eu conhecera alguém mais famoso.

Então comecei a lhes contar a história.

"Certo dia, estava eu a caminhar por verdes campos de trigo quando fui parado por um homem montado em um cavalo, enrolado em papel alumínio e com uma lança bem afiada em suas mãos, lança que estava apontada para minha cabeça. Então ele amarrou minhas mãos e me levou para um castelo. Mas um castelo bem louco, daqueles da idade média, antigos pra burro. Encurtando a história, nesse castelo morava um rei,..."

Interrompido fui com um 'rei?', ao que continuei...

"...rei mesmo, com cetro, coroa e manto. E trono, rainha, empregados, bruxo, mago, servos, masmorra e tudo mais. Ele foi com a minha cara. No começo não entendia bem, mas fui aos poucos compreendendo que a língua que ele falava era um inglês bem primitivo, o que no caso não foi empecilho para alguém que já estava na Inglaterra..."

- E desde quando você foi para a Inglaterra?
"... - não importa - o fato é que era um rei bem louco. A rainha era feinha, quase uma bruxa. E com aquelas roupas ridículas do século 18, piorava a situação. E era saidinha, tanto que me convidou para tomar um banho com ela durante um dos passeios matinais do rei..."

- E você foi?

- Peraí, quanto tempo você ficou nesse castelo?

"... mas eu não fui, já que vi que o corpo dela era murcho. Ela devia ter uns 40 anos mas já estava acabada, uma mulher tipo Suzana Vieira sabe. Enfim. Conversei bastante com o rei, ele me mostrou todo seu reinado e virei seu confidente..."

- Vai dizer logo onde está o famoso em questão?

"...tanto que ele me contou que estava traindo a rainha. Me apresentou àquela loira espetacular, 1,80, 22 anos de pura vida, de pura sensualidade. Uma loucura. E como a rainha não podia ter filhos, ele me disse que pretendia separar-se, só estava esperando o aval do Papa, que chegaria no outro dia, para separar-se da velha e casar-se com a loira espetacular com quem já mantinha um certo caso. A questão é que ele me pediu o que eu achava dessa separação, já que a Igreja Católica é contra o divórcio..."

- E você disse o que?

"...  e eu fiquei sem saber o que falar. Soltei um 'a gente tem que ser o que é', ou algo do tipo, para disfarçar minha falta de opinião, afinal de contas, ele tinha um calabouço e uma guilhotina bem afiada. Ele olhou-me admirado e agradeceu. No outro dia, pediu e recebeu um não como resposta do Papa. Então virou-se para mim e  disse 'vou criar uma igreja onde eu possa me casar quantas vezes quiser!'..."

- Você tá traduzindo os diálogos para nós né? Sim, porque se ele falava inglês...

"... e eu mantive-me calado. Ele perguntou-me ' Você aceita ser o papa na minha igreja?'. Pensei, pensei, e ele insistiu 'sim ou não?'. Eu continuei quieto, com cara de filósofo e ele berrou 'sim ou não?', ao passo que retruquei com um 'posso ter uma esposa linda como a sua também'. Ele pensou, então insisti 'sim ou não?'. Ele respondeu 'não. Sim ou não?', então eu respondi que não. 'Tudo bem então, na minha igreja não haverá papa.'. Olhou para o Papa católico, contou sua intenção e pronto, mandou a mulher velha embora com o Papa. Dizem que ela virou freira, mas não sei. E casou-se com a loira."

- Tá, onde entra o cara famoso nessa história?

Então eu respondi:

-O rei em questão era o Henrique VIII.

- Mas você não conheceu ele. Se é por isso a pessoa mais famosa que eu conheci foi o Napoleão.

- Hitler.

- Elvis Presley.

- Ayrton Senna.

- Mas eu conheci ele. Viram como eu contei a história com detalhes. É sério, eu conheci pessoalmente Henrique VIII.

- Não fala bobagem. Conhecer alguém em sonho não vale.

- Quem disse que eu sonhei isso?

- Só pode ter sido sonho.

- Não foi sonho.

Todos teimaram comigo. Idiotas. Se soubessem que eu ganhei a coroa do próprio Henrique VIII não falariam isso. Se soubessem que depois do casamento dele, fugi com aquela loira espetacular e tive noites incríveis com ela, não falariam isso. Tenho cicatrizes no corpo inteiro das lançadas que levei dos soldados dele quando me acharam. Levaram a loira de volta, mas não tiraram o que vivi com ela. Eu dei para ela o que ele jamais dará: um iPod Nano.

Eu fiz parte da história sim, e quem aqui vai conseguir provar que não? Quem?

sábado, 27 de março de 2010

sexta-feira, 26 de março de 2010


Uma folha que cai, um minuto que passa, um chute inconsciente, uma batida inevitável, um piscar de olhos, o cair dos cabelos, um sonho estranho. Qualquer uma dessas, e de qualquer outra pequena coisa, pode ter algum significado futuro? Um aviso, um lembrete, um 'não vá' implícito. Qualquer mensagem subliminar enviada por algum espírito, ou quem sabe o próprio Deus. Acredita nesses pequenos indícios, nessas palavras não ditas, nessas mensagens implícitas aqueles que sabem entender. E a certeza é que são poucos que diferenciam algo subliminar, invisível ou não muito claro de algo que não é nada.

Não vou ficar ensinando coisa alguma aqui, até porque não tenho muita verdade de um todo comigo. Mas para mim, muita coisa faz sentido, ou seja, é a verdade para mim. Mesmo com muita desatenção, ainda, percebo várias e várias coisas que são indícios de futuro, ações que querem ser impedidas e verbos que não devem ser ditos. A imaginação é espontânea, parece que alguém começou a passar um filme jamais visto na sua cabeça. E você tenta entender por que. Muitos não tentam. Esses, incrivelmente, preferem ver sempre os mesmos filmes já vistos, por si ou mesmo por alguém.

Tantas palavras para muito pensamento mas não muita leitura.

Nada me fez pensar não dever fazer algo. Nada me fez pensar algo que não estivesse querendo. Nada. Nenhum detalhe, nenhuma pequena coisa.

Só não entendi o sentido das ervilhas. Só isso. E era só isso que eu precisava entender. Entretanto um dia entenderei, porque, como adepto do subjetivo, sei que é assim que isso veio. Subjetivo. Muito distante do que alguém com muito sono, pouca força e zero de autocontrole pudesse entender. Imediatamente ou depois de passar isso, aquilo e daqui para lá. O que foi e poderia ser realidade, o que é ou poderia ser imaginação. Barreira quebrada, bolha estourada, dimensão ultrapassada. E distância que diminuiu. De um lado para outro, sem vice-versa.

Com tempo cada um, daqueles que querem, consegue entender como aparecem essas coisas para si, para sua vida, para seu eu. Sinais, detalhes, indícios, coisas, até premonição. Cada um chama de um jeito. Cada um tem um jeito. Para cada um tem um jeito, ou até dois.

No caso do meu sonho, o fato de o despertador ter me acordado em determinado momento pós ervilhas é sim, dadas alternativas experiências, um fator para guardar na lembrança essa coisa - ou sonho, detalhe, indício, seja lá o que for - estranha que certamente colocou um sorriso em alguém dado por morto.

Aparente, não realmente.

*pense bem se for comentar sobre 
o sonho com as ervilhas 
ou a loucura do autor

segunda-feira, 22 de março de 2010

Sem frase alguma por uma vírgula. Ou nem isso


Cada vez mais as pessoas me mostram grandes contradições. Querem algo mas não fazem esforço para consegui-lo. Sonham com algo mas não tiram a mão do queixo nem quando ela fica dormente. Não dão risada com medo de serem chamados de bobos alegres.

E assim para-se no tempo. Contradiz-se a vontade pela falta dela. Estranho. Engraçado. À beira de coisa pior. Pois criticam tudo e todos mas, quando recebem uma vírgula de comentário, que não precisa ser algo além de um simples comentário, largam tudo, vontades, pretensões, intensões, mudam caminhos, rotas e sentem-se incapazes de realizar muita coisa, se não tudo, a maioria do que queriam.

Uma coisa é depender de algo para prosseguir. A outra é fazer-se dependente de algo para prosseguir. E fazer-se dependente é fazer-se fraco, mostrar-se inepto ante um simples fio branco no meio de um cabelo black-power bem preto. É um nada que vira o mundo inteiro, com poder de decisão superior à própria pessoa. Se algo externo tem maior poder de decisão que o próprio vivente, não há sentido em continuar, certo? É mais fácil começar a andar sobre quatro patas, comer ossos e... pensando bem, um cachorro tem um nível bom de decisão. Ele decide o que quer fazer, quando pode fazê-lo.

E há algum momento em que eu não posso decidir sobre a minha própria vida? Eu não sou escravo, não tenho dono algum, não há contrato que me obrigue a fazer o que eu não quero fazer.(sem piadas sobre trabalho, por favor).

É tão simples. É só continuar. Mas alguém disse que você leu mal e você não lê mais. Alguém fez alguma coisa errada no grupo então você não participa mais dele porque há um mau exemplo. Alguém erra e o mundo é o culpado, vai atrás de um mundo onde as pessoas não erram. 

Gosto de utopias, acho a impossibilidade delas um tanto quanto fascinante, mas essas utopias, de achar que você nunca vai receber uma crítica, uma sugestão, um comentário que vai contra o que você pensa ou mesmo alguém fazer algo que você julga ser errado, essas e tantas outras utopias são patéticas. Porque não existe possibilidade nesse caso, isso é busca por perfeição, em situações ou pessoas. Busca inútil por perfeição inexistente.

Deixam de lado caminhos corretos para seguir outros, muito diferentes, apenas porque alguém disse algo. Porque alguém deu um mau exemplo. Os elogios e os bons exemplos logo são esquecidos, são preteridos pelo ruim, que talvez nem tenha sido tão ruim. Ou nem precisam de alguém. Julgam-se incapazes, distantes demais de sonhos, vontades e desejos. E pela distância, pela dificuldade, ao invés de motivação, deixam-se levar pelo medo, o receio, a preguiça e provam assim, atando suas mãos para a sua própria vida, que não queriam aquilo de verdade. Da boca para fora, assim como políticos mentirosos.

Chega de olhar a escuridão. Quem sabe você abre os olhos e vai ver que uma luz fantástica brilha e ilumina teu caminho. Chega de lamúria e de lamento. O caminho é teu, ninguém tem o poder de mudar ele. As influências você escolhe, mas para onde você vai é escolha própria, a não ser que você seja um grande... vai qualquer termo... um grande banana. É irritante quando alguém pode mas hesita seguir em frente pelos mais diversos, e bobos, motivos.

Você não escreve o texto porque disseram que você usa muitas vírgulas. Você não canta porque alguém disse que outra pessoa canta melhor. Você não sai de casa porque disseram que você se vestiu mal no sábado. Você olha para o espelho e acha que seus dentes não estão tão brancos quanto os das suas amigas, então decide ficar em casa comendo pipoca e alisando os pêlos do gato. Você acha que todos estão errados e ainda assim deixa de lado o que você acha que é certo, ou diz achar certo, de verdade. E ainda julgam-se corretas, colocando mágoas e decepções passadas, dores, lágrimas e sofrimentos de tempos atrás como boas razões. E sofrem ainda mais, maltratando seus corações, seus bons sentimentos.

É engraçado, é estranho, mas é triste e decepcionante ver tantas pessoas com potencial de liderar, continuando bonitas e corretas histórias, deixando isso de lado por acharem que é difícil, por deixarem-se ir ao chão pelos tantos motivos ruins que existem. Pessoas que poderiam construir histórias grandiosas, mas que não conseguem sequer escrever a sua própria história, pois vivem com medo. Do mundo, das pessoas, da dificuldade.

Medo do que dizem, do que fazem, do que podem dizer e fazer. Medo de perdoar, de amar, de sonhar. Medo de lutar por esses amores e sonhos. Medo de fazer o diferente, o certo.

Essas pessoas têm medo de viver. Medo de si mesmas.

E isso é muito, muito triste.


*sem comentários do tipo 'a gente tem que fazer o que quer fazer' ou 'não dá pra dar bola para que os outros falam, cada um tem que viver a sua vida' ou 'as pessoas são diferentes' ou 'a gente tem que ir atrás dos nossos sonhos' ou algo motivacional do tipo 'tem que pensar positivo e achar que vai dar certo'. Sério, não quero comentários que qualquer pessoa poderia fazer, a intenção do texto não é trazer à tona essa rotina besta de frases feitas que para mim são tão patéticas quanto coisas citadas no texto

sábado, 20 de março de 2010

Estranho por ser, ou não, estranho


Comecei a escrever vários textos entre uma aula e outra na faculdade porém todos, com uma exceção apenas, eu joguei fora. E o que vou escrever agora, se é que vai ser um texto de fato, não será a exceção daquela regra. Quem sabe de alguma outra, não minha, que eu desconheço. Ou não também.

Parar para pensar no todo como um todo, no mundo como coisa monstruosamente grande e nas possibilidades, apenas por pessoas, você já começa a ficar paranóico. É muito mundo, muita gente e, restritamente(ou nem tanto) nesse caso,  são muitas possibilidades.

Quebrar regras não é difícil. Aliás, seguir ou manter regras é difícil. Ainda mais quando convivemos com pessoas que, em sua maioria, preferem o seu ego, a sua razão, o fim pelo meio - que nem acaba sendo uma coisa boa no fim das contas - enfim, seguindo essa linha, chegaria a mais uma crítica social a pessoas fúteis, egoístas e arrogantes, que não se importam com o que é certo de fato, dando valor somente às suas necessidades, ou melhor dizendo, vontades.

O fato é que não vou criticar. Pelo menos não hoje. Ou ainda, pelo menos não agora.

Eu só queria dizer que os últimos fatos, no mundo, na minha vida e nas vidas de algumas pessoas próximas - ou nem tanto - têm me feto pensar sobre o que é válido quando falamos de coisas não definidas e sequer bem concretas. Sabe, estranho por ser estranho, ou algo do tipo.

Parar para pensar tem sido difícil. Até porque, não moro com a minha mãe para ter roupa e louça lavadas, almoço pronto - e bom -, casa varrida, dentre outras vantagens de se morar com a sua geradora. Eu disse geradora e não geladeira. Então falta tempo para pensar na vida. Ou melhor, não falta, mas...

...acontece que eu não tenho tido - não gosto quando preciso usar esses dois verbos em tempos diferentes - vontade alguma de pensar na vida, nas situações, no estranho por ser estranho e nem mesmo no presidente da república chamando um islâmico de turco, ou vice-versa. Chego em casa e quero mais é ouvir alguma coisa. Músicas estão em baixa comigo. É a fase. Baixa.

Sem fundo de poço, lágrimas ou decepção. Isso já foi. E voltará a ser, mas não hoje.

No fim, escrevo muito sem dizer nada. Entretanto, é do conhecimento de vocês que o livre-arbítrio está aí e ninguém foi obrigado a chegar até aqui sem entender muita coisa.

Distância de muita coisa tem me levado à distância de outras tantas coisas.

A música é uma delas. Mas há exceções. Como a desse texto.

Ãhn, chega.

*ãaaaaaaahnn... um agradecimento especial
às pessoas que ainda lêem e comentam aqui.
Não tenho retribuído, visitas e comentários,
por motivos. Mesmo assim, obrigado.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Igualdade no que é de verdade



Enquanto alguns precisam de abraços, afagos ou belas palavras, eu precisei de um soco. Vários socos no peito, na direção do coração.

Precisei disso para voltar a sentir o coração batendo, para lembrar de uma promessa feita, de um objetivo a ser cumprido.

Lembrar que mesmo quando não há força ou vontade, ainda há algo maior comigo. Algo que palavras descrevem superficialmente, apenas.

Arrepios que trouxeram lembranças, que afastaram medos, que afogaram mágoas e afloraram sentimentos bons.

Pensamentos à princípio direcionados, mas verdadeiramente espontâneos. E a sensação do golpe foi verdadeira. E muito real.

Uma vivência bem diferente. Mas pura, e sincera. 

Vivência do amor verdadeiro, de Deus, que me trouxe, mais uma vez, forças para viver.

Em meio à fraqueza onde injustiças e indiferença me levaram, levantei, caminhei e voltei a pulsar. No ritmo apropriado, sem afobação.

Seja lá o que palavras lidas queiram dizer, o importante continua aqui.

O importante é a única verdade sincera, pura.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Histórias do Billi J. - o ontem explica muito do hoje


Essa é do tempo do kinder ovo a 25 centavos, de Cavaleiros do Zodíaco sendo novidade na TV, da Nigéria ganhando do Brasil nas olimpíadas, do começo do fim das patentes, enfim, por aí, uns anos mais ou menos à partir dessa época incerta.

O Billi J. nem era impopular. Pelo menos não tanto quando acabou sendo alguns anos mais tarde. Mesmo que por necessidade, seus colegas o chamavam para brincar. E ele ia. Chamavam-no na fila da merenda. Ele também ia. Chamavam-no de quatro olhos. E ele... bom, sei lá, nunca descobri se ele chorava ou ria, mas é provável que, como criança insegura, ele chorasse. Talvez não na frente dos colegas, mas chorava. Ou não.

Como quase toda turma, aquela do Billi J. decidiu viajar. Era um lugar mais desconhecido que o esconderijo do Bin Laden oua verdade no Lost. Porém era um lugar com boas recomendações, não importando aqui quem as deu. 

Coisa de criança, perturbação dos pais e a viagem foi organizada, agendada, cobrada e paga em um período de incríveis seis horas. Um recorde para uma escola pública(e talvez até para as particulares). Na madrugada seguinte saíram. Assim, do nada. Na primeira vez, sem o Billi J., que estava limpando os óculos que suas colegas haviam sujado de batom - o que explica a futilidade futura das mesmas.

Durante a viagem, sujaram o rosto do Billi J. com batom e pasta de dente. Nada estranho se não fosse dez e vinte e dois da manhã e se o Billi J. não tivesse sido segurado, inclusive por um professor, já que estava acordado naquele momento. Depois do proposital banho de refrigerante que tomou, o ônibus parou para que o Billi J. pudesse limpar-se. Então, para lhe dar um susto, o ônibus saiu antes que ele voltasse do banheiro.

Com o Billi J. novamente no ônibus, o destino final da viagem foi alcançado. Pararam em frente à entrada do local e todos desceram. Quase todos. O Billi J. só foi descer no estacionamento junto com o motorista, que não parava de rir da sua cara, já  que ele teria de subir um grande aclive até chegar onde seus colegas estavam. Para piorar, seus colegas cortaram os cadarços de seus tênis. Ainda assim o Billi J. sentia que algo bom iria acontecer naquele dia.

Discreto e simples, o Billi J. chegou ao local onde todos estavam e logo entrou na brincadeira. Brincou um pouco e correu outro tanto mas desistiu ao perceber que, não importava o que fizesse ou quem tocasse, era sempre ele o bobo no meio do círculo ou o que corria atrás dos outros no pega-pega. Então afastou-se, abriu sua mochila e foi ler.

Billi J. trouxera toda sua coleção de livros do Bichinho-da-maçã. Lendo, começou a pensar que de certa forma era parecido com aquele bichinho. Por ser feio, estranho, por viver longe dos outros, por ser diferente. Análise de gente grande feita por um menino de... poucos anos - isso explica sua complexidade futura -. Em um ataque fulminante de sua bexiga, deixou tudo para trás e foi ao banheiro, literalmente correndo.

Ao voltar, é óbvio que suas coisas não estavam no mesmo lugar.

Começou aí uma busca incessante pelas suas coisas. Parte de sua vida estava junto com aquela mochila. Além dos livros, seu óculos, o sanduíche de atum com pepino e chocolate em pó que sua mãe preparara, enfim, coisas importantes. Incluindo a mochila, que o Billi J. ganhara de seu avô, quando esse anunciou que separaria-se de sua mulher - ou seja, da avó do Billi J. - para viver com uma stripper em Santiago, no Chile. O Billi J. morreria quando sua mãe descobrisse que ele perdera a mochila e tudo que havia nela.

Enquanto seus colegas aproveitavam o lugar, o Billi J. procurava suas coisas, sem sucesso algum. Pediu para os colegas, para os professores, mas ninguém o ajudou. Ninguém sequer riu da desgraça do Billi J., pelo menos não na frente dele. E o Billi J. ainda perguntava-se quem poderia ter feito tamanho crime? Inocente, não acusou seus colegas, mas é tão óbvio que eles estavam por trás dessa sacanagem que eu nem precisaria ter escrito.

Sozinho e sem saber o que fazer, apelou. Pegou um megafone emprestado e gritou, até que um gari, lá no fundo, levantou a mão e o chamou para perto. O gari lhe devolveu suas coisas e disse que alguns meninos lhe haviam entregue aquilo para que ele jogasse no lixo. Disse também que só não fizera aquilo pois uma linda menina o abordou após a conversa com os meninos e pediu para ele não jogar nada fora pois o dono das coisas viria atrás delas, sendo elas importantes para ele, no caso, eram mesmo. Sem saber dizer o nome ou mesmo mostrar quem era a menina - o gari era quase cego - o gari agradeceu a atenção do menino e, ao virar-se, bateu a cara em um galho de árvore, encerrando ali o seu expediente naquele dia.

Aliviado e contente por ter achado suas coisas, o Billi J. conseguiu livrar-se da raiva que sentia dos seus colegas idiotas e só pensava em quem poderia ser aquela menina que, mesmo sem ele pedir, lhe fez um grande favor naquele complicado dia, entretanto com um final feliz. Ou nem tanto, já que a imaginação do Billi J. não tinha limites e o alvo era descobrir quem era ela.

Mal sabia ele que quando olhasse nos olhos daquela menina, alguns dias depois, descobriria o sentimento que mudaria a sua vida.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Apenas história? Que história?


Alguém algum dia disse que a história é escrita pelos vencedores. Ganhadores de guerras, conflitos, pessoas que assumiram o controle, o poder em algum momento da história que, cedo ou tarde, passou a ser importante por um motivo qualquer. Tanto que antigos imperadores, ditadores, enfim, vencedores de guerras, conflitos e afins, mandavam matar as pessoas mais cultas, inteligentes, para evitar que uma outra versão da guerra(muitas vezes injusta e desnecessária) ficasse conhecida pelas gerações futuras, unificando a verdade.

E quando não há guerras ou aparentes importantes momentos, quem escreve a história? O que é a história?

*Sem delongas ou utopias. Sem belas palavras, interessantes conceitos, contundentes opiniões.Cada um escreve a sua história e todos sabemos disso, mas nem todos tem capacidade de escrever a história. Quem escreve, talvez algum dia consiga. Ou já o esteja fazendo.

domingo, 7 de março de 2010

Frase do dia


 Se você precisa mudar o rumo da viagem, 
não espere o vento mudar de direção. 
Mude a posição das tuas velas 
e comece a nova viagem. 
Mas tenha certeza de que é isso 
o que você quer,
antes de fazê-lo.

*para um amigo, um irmão. 
Não posso dizer mais nada. 
Não tenho condições de fazê-lo hoje.
E quem sabe por um bom tempo.

sábado, 6 de março de 2010

Frase do dia:


Não espero que aqueles que amo façam coisas fantásticas. 
Espero apenas que sejam únicos em minha vida.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Retratos de uma sociedade patética (7)


Engraçado como hoje em dia a maioria busca mostrar-se diferente. Mostrar, aparentar, fazer de conta, ser visto como diferente, mesmo sabendo que não passa de uma cópia de tantas outras pessoas, de tantos outros erros, de tantas popularidades e superficialidades pré-existentes. O importante é parecer ser, não ser de fato. Porque aí você pode dizer 'prefiro ser diferente do que ser igual a todo mundo', mesmo não sendo nada, muitas vezes nem alguém.

Não vem ao caso isso, essa do ser diferente. Mas tem relação.

Buscam mostrar-se diferentes, para provarem ser únicos, enfim. Só que cometem um grande erro: generalizam. Porque em tais situações isso, tais pessoas aquilo, pessoas importantes aparecem em momentos importantes, as dificuldades são superadas e devemos aprender. Generalizações que, sendo assim, deixam de ter valor, passam a ser meras frases sem verdade, sem sinceridade, mesmo que com muita aparência.

Generaliza-se para não cometer injustiças, esquecendo de alguém, de alguma coisa. Mas esquecem-se eles que, generalizando, cometem uma injustiça maior. Transformam coisas de pouco ou nenhum valor em valores importantes, em pessoas fundamentais, em lições aprendidas, em problemas resolvidos. Generalizam por ser mais fácil, por ser aparentemente mais bonito aos olhos alheios, já que você deixa como incógnita o número de situações, pessoas, seja lá o que for, mencionadas.

E de palavras falsas surgem as atitudes falsas. Você passa a ajudar alguém com quem não gostaria de manter contato para não precisar fazer mais aquilo, afinal de contas, devemos ajudar as pessoas que precisam de ajuda, ou seja, com qualquer idiota que eu tenha ajudado, terei cumprido essa meta.

Depois disso, a hipocrisia aumenta. Porque não se cumpre mais meta alguma. Apenas fala-se sobre isso, aquilo, aquele. E a hipocrisia volta às palavras maior do que havia delas saído. Pega-se uma parte pelo todo com mais frequência e iguala-se tudo, o bom e o ruim, o útil e o fútil, o prazeroso e o cansativo, o importante e o desnecessário.

Até que algum dia alguém pergunte, com suposta grande cara de pau 'me dá um exemplo específico disso'. E o alguém haverá de rir, quando perceber que não há nada além de frases, não há nada além do falso pano da verdade.

É medo, receio, preguiça ou hipocrisia mesmo a causa dessa generalização toda. Eu não gosto de ser colocado como apenas mais um, tido como apenas mais um, qualquer que seja o lugar, a situação. Porque eu sei que posso fazer a diferença. Do mesmo modo, não igualo ninguém, para bem ou mal. Porque pessoas, e situações, são únicos, quando importantes.

Entretanto, já que insistem em banalizar as utopias em formas de palavras, mentindo para si mesmos, para todos os outros e igualando o bem e o mal, a verdade e a mentira, é preciso dizer que devemos perdoar as ofensas, ajudar os pobres, falar sempre a verdade, tratar todas as pessoas bem, sorrir sem motivo, aproveitar a vida, dizer àqueles que se ama o quão são importantes...

terça-feira, 2 de março de 2010

Histórias do Bandiolo - Hei, você aí, pega esse dinheiro, aqui?


Como a grande maioria dos seres humanos, mais especificamente dos brasileiros, ele achou aquela carteira, abriu-a e viu grande quantidade de dinheiro. Caramba, nem se somasse tudo o que havia ganho nos seus 33 anos,8 meses, 12 dias, 10 horas e 2 minutos de trabalho conseguiria juntar o dinheiro que havia naquela carteira.

O cara era podre de rico. Só pode. Mas podre. Porque afinal de contas, todo rico é podre. Rico que é rico ou é traficante de drogas, ou é chefe de jogo do bixo, ou ganhador de loteria ou ainda dono de empresa que acabou com as rivais para poder crescer e ganhar muito dinheiro. Rico só é honesto depois que morre, já que todos os mortos perdem os defeitos, têm os erros perdoados e nada do que fizeram foi com má intenção.

'O cara deve ter um Toyota, uma BMW, um Audi modelo novo. Só pode. Com esse dinheiro na carteira, só pode ter um carrão. Ou um carro de pobre, um Fiat 147 ou um Fusca, pra disfarçar. Tem idiota pra tudo nessa vida. Ah se esse dinheiro fosse meu...'

E com aquela carteira na mão, pensou na família, nas dificuldades em conseguir pagar todas as contas, em dar comida para seus 3 filhos diabéticos e para sua mulher obesa. Em contrapartida ele era subnutrido, já que não sobrava comida com aquela gorda em casa.

Tinha um número de telefone na carteira. Em cima do número estava escrito 'meu número'. Ele ia ligar como? Então pegou uma nota e comprou um cartão telefônico. Bom, já que estava na frente da padaria, e com fome, pegou mais uma nota e comprou três pastéis, daqueles que têm até a carne da bunda da cozinheira gostosa dentro, e uma garrafa do vinho mais caro, aqueles vinhos de rico. Sim, em uma padaria, algo contra?

Ele devolveria aquilo, algum dia. Quem sabe o dono da carteira nem cobrasse por aquilo, já que ele devolveria o dinheiro, quase que em sua totalidade, para o dono. Ligou e o cara atendeu aos berros 'quem é o filho de uma égua que resolve me ligar enquanto estou no motel com a minha secretária?'. Apavorado, apenas resmungou 'achei sua carteira.

O tom da voz do dono da carteira mudou. 'Que carteira?'. 'Tem o seu número aqui em um papel, em cima está escrito meu número, que é o seu número, no caso'. 'Ah, carteira de dinheiro. Tá.'

Marcaram de encontrar-se na praça. Mas como chegaria até lá? Caminhar 3 km em 10 minutos estava fora de cogitação. Táxi era caro. Paciência, o dinheiro não era seu. E era por uma boa causa. De táxi chegou ao local combinado, um minuto antes. Estaria fazendo o certo? Sua família precisava, ele precisava mais do que eles. Mas era honesto, nada no mundo o faria ficar com o dinheiro.

O podre de rico dono da carteira chegou e perguntou se o homem havia gasto alguma parte do dinheiro. O homem subnutrido disse que teve algumas despesas, como telefone e táxi para poder localizá-lo. O podre de rico gritou 'prendam-no, ele confessou que roubou meu dinheiro'.

Foi para a cadeia, 6 meses. Nesse tempo seus filhos morreram pela diabetes e sua mulher teve um infarto pelo excesso de gordura no corpo. Sabe que nem sentia falta deles. Mesmo honesto foi para a cadeia.

Bom, ele mereceu. Era um desgraçado. Precaviu-se e pegou dois terços do dinheiro da carteira antes de encontrar com o podre de rico, que nem sentiu falta daquele dinheiro, já que subentendeu que o dinheiro que havia sumido o pobre(não podre) confessara ter gastado.

Com dinheiro, sozinho e desempregado, resolveu arrumar um jeito de ganhar dinheiro. Apostou todo seu dinheiro, das mais diversas formas, na loteria.

E virou mais um podre de rico. Podre, hipócrita e ladrão. Com seu Citroën novo, atropelou o podre de rico que o jogou na cadeia e subornou alguns guardas para não ser preso. Fez o que podia fazer com o dinheiro.

Não passava de um pobre coitado. Pobre podre rico.

Anos depois morreu por complicações que a AIDS, que pegou na transfusão de sangue com um homossexual feita sem necessidade, acarretou.

E morreu sendo mais um pobre coitado. Mesmo que por algum tempo tenha vivido como um podre rico.

*não há moral , mensagem, objetivo ou subjetivo nessa história.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Reflexões de um maluco(9) - Retrospectiva reflexiva


Quando achei que havia me tornado uma boa pessoa, veio a primeira decepção. Com o mundo, com as pessoas, com tudo. Nada parecia certo. Era injusto que alguém que nunca fizeram mal algum passasse por tantas situações difíceis com pouca idade. Ao tentar ajudar a todos, ser uma boa pessoa com todos e tratar bem todos, descobri muitos motivos para manter-me afastado das pessoas. Deixei de sorrir por achar desnecessário e então passei a esconder quem era atrás de uma cara feia, de mau.

Então aprendi a observar as pessoas e o que elas faziam. Aprendi que há indícios de pessoas que querem brincar ou maltratar você. Indícios. Desconfiei de todos, mantendo sempre um pé atrás. Afastei quase todos que tentavam chegar perto, uns acertadamente e outros de maneira errada.

Precisei reaprender a confiar nas pessoas. Reaprender a sorrir e não ser tão radical, com tanta raiva das pessoas, da sociedade, do mundo, afinal de contas, a falta de amigos me prejudicava. Não que tenha conseguido isso totalmente, mas muita coisa mudou.

Percebi que tinha me tornado mais humano. E então achei que já tinha evoluído o suficiente. Era maduro com pouca idade, muito mais do que qualquer outro que perto de mim estava. Suficiente. Sabia distinguir pessoas boas de más sem afastar ninguém de cara.

Outra decepção veio. Outras decepções vieram. Precisei aprender a escrever para achar solução, para entender as coisas que aconteciam. Aprender a refletir. A desabafar. A expandir minha raiva de outras maneiras. Aprender a controlar a raiva, a decepção, as palavras. Aprimorei a sinceridade, transformando-a em uma grande virtude. Fortaleci e complementei personalidade e caráter. Força e coragem viraram adjetivos meus. Incrementei valores, morais e emocionais.

Além de mais humano, havia me tornado mais inteligente. Aprendi a lidar com várias situações, boas e ruins, com as quais havia tido problemas. Então percebi ter crescido mais. Evoluído mais. Era uma boa pessoa, com caráter e que havia aprendido muito. Havia me tornado espontâneo e sincero ao mesmo tempo. O suficiente.

Não.

O emocional veio então abaixo. Coração que doeu muito. Paixão de verdade. E o que faltava passou a não faltar mais. Tristeza pela ausência, pela decepção, pela falta, pelo querer e não ter. Dor que não se controla.

Então aprendi a aceitar o que não poderia ter. A entender o que me era dado e como era dado. A aprender nesses momentos. Refletir não só sobre a sociedade, mas principalmente sobre eu mesmo. Pensar e entender o que sentia. Sentimentos. Passei não só a entendê-los, como a valorizá-los. Valorizar sentimentos de fato. A dor passou, superei-a e fortaleci-me com ela. Passei a valorizar ainda mais minha família e meus amigos.

O que faltava não faltava mais. Emocional, racional, social. Eu já evoluíra o bastante. Uma boa pessoa, capaz de sentimentos bons, puros.

Não foi o bastante.

Descobri-me novamente apaixonado. Dessa vez muito mais do que isso. Amor. E mais uma vez não havia a retribuição, a entrega mútua, embora houvesse algo parecido. E amor de verdade. Tanto que meses depois, com erros cometidos que me afastaram mais ainda dela e me fizeram entender o que eu realmente sentia, a certeza de não haver apenas um amor verdadeiro havia sumido. Agora existe a certeza contrária. Mas não há nada que eu podia fazer, que eu possa fazer.

Então tive que aprender a entender as escolhas de Deus, os caminhos e as palavras Dele. Percebi que precisava me aproximar de Deus e ter com ele uma relação mais próxima. Encontrei paz, encontrei verdade, encontrei pureza. Cada vez mais facilmente elimino mágoas, tristezas e decepções. Aprendi a estar feliz apenas por amar, sincera e puramente, mesmo que não existam muitos motivos para sorrisos. Aprendi a confiar em Deus a minha vida, e não só o meu futuro.

Ainda falta muito. Aprendi a não achar suficiente aquele que sou hoje. Aquilo que sou hoje.

Mas não posso negar que estou muito satisfeito com esse sentimento de luta, de inconformismo, de busca pelo que os meus sentimentos querem e precisam. Hoje vejo que estou muito mais preparado do que em qualquer outro momento para enfrentar qualquer coisa que possa vir.

Aceitar o plano mestre foi difícil, porém importante. Entender-me e ao mundo também.

Mais importante que isso foi ter aprendido a sonhar e a lutar por isso. Claro, mesmo que os sonhos estejam muito próximos da linha do impossível.

Sinceridade, espontaneidade. Em gestos, sentimentos e pensamentos. Em vontades, ideais e convições. No caráter e na personalidade. Na crença e na busca pelo crescimento.

Orgulhoso de quem sou hoje. Do que penso, do que falo, de como vivo. Orgulhoso do que sinto, do que sonho.