quinta-feira, 4 de março de 2010

Retratos de uma sociedade patética (7)


Engraçado como hoje em dia a maioria busca mostrar-se diferente. Mostrar, aparentar, fazer de conta, ser visto como diferente, mesmo sabendo que não passa de uma cópia de tantas outras pessoas, de tantos outros erros, de tantas popularidades e superficialidades pré-existentes. O importante é parecer ser, não ser de fato. Porque aí você pode dizer 'prefiro ser diferente do que ser igual a todo mundo', mesmo não sendo nada, muitas vezes nem alguém.

Não vem ao caso isso, essa do ser diferente. Mas tem relação.

Buscam mostrar-se diferentes, para provarem ser únicos, enfim. Só que cometem um grande erro: generalizam. Porque em tais situações isso, tais pessoas aquilo, pessoas importantes aparecem em momentos importantes, as dificuldades são superadas e devemos aprender. Generalizações que, sendo assim, deixam de ter valor, passam a ser meras frases sem verdade, sem sinceridade, mesmo que com muita aparência.

Generaliza-se para não cometer injustiças, esquecendo de alguém, de alguma coisa. Mas esquecem-se eles que, generalizando, cometem uma injustiça maior. Transformam coisas de pouco ou nenhum valor em valores importantes, em pessoas fundamentais, em lições aprendidas, em problemas resolvidos. Generalizam por ser mais fácil, por ser aparentemente mais bonito aos olhos alheios, já que você deixa como incógnita o número de situações, pessoas, seja lá o que for, mencionadas.

E de palavras falsas surgem as atitudes falsas. Você passa a ajudar alguém com quem não gostaria de manter contato para não precisar fazer mais aquilo, afinal de contas, devemos ajudar as pessoas que precisam de ajuda, ou seja, com qualquer idiota que eu tenha ajudado, terei cumprido essa meta.

Depois disso, a hipocrisia aumenta. Porque não se cumpre mais meta alguma. Apenas fala-se sobre isso, aquilo, aquele. E a hipocrisia volta às palavras maior do que havia delas saído. Pega-se uma parte pelo todo com mais frequência e iguala-se tudo, o bom e o ruim, o útil e o fútil, o prazeroso e o cansativo, o importante e o desnecessário.

Até que algum dia alguém pergunte, com suposta grande cara de pau 'me dá um exemplo específico disso'. E o alguém haverá de rir, quando perceber que não há nada além de frases, não há nada além do falso pano da verdade.

É medo, receio, preguiça ou hipocrisia mesmo a causa dessa generalização toda. Eu não gosto de ser colocado como apenas mais um, tido como apenas mais um, qualquer que seja o lugar, a situação. Porque eu sei que posso fazer a diferença. Do mesmo modo, não igualo ninguém, para bem ou mal. Porque pessoas, e situações, são únicos, quando importantes.

Entretanto, já que insistem em banalizar as utopias em formas de palavras, mentindo para si mesmos, para todos os outros e igualando o bem e o mal, a verdade e a mentira, é preciso dizer que devemos perdoar as ofensas, ajudar os pobres, falar sempre a verdade, tratar todas as pessoas bem, sorrir sem motivo, aproveitar a vida, dizer àqueles que se ama o quão são importantes...

2 comentários:

Camila disse...

Mas é mais fácil ser igual, do que sustentar uma realidade diferente ;D
adorei o texto

Rebeca Postigo disse...

Existem pessoas que não entendem o real significado de ser diferente...
É triste perceber que as pessoas se esquecem que palavras não as revelam...
Só saberemos se alguém é realmente diferente quando observamos seus atos...
Falar é fácil...
Mas agir de acordo é bem diferente!!!

Bjs