terça-feira, 2 de março de 2010

Histórias do Bandiolo - Hei, você aí, pega esse dinheiro, aqui?


Como a grande maioria dos seres humanos, mais especificamente dos brasileiros, ele achou aquela carteira, abriu-a e viu grande quantidade de dinheiro. Caramba, nem se somasse tudo o que havia ganho nos seus 33 anos,8 meses, 12 dias, 10 horas e 2 minutos de trabalho conseguiria juntar o dinheiro que havia naquela carteira.

O cara era podre de rico. Só pode. Mas podre. Porque afinal de contas, todo rico é podre. Rico que é rico ou é traficante de drogas, ou é chefe de jogo do bixo, ou ganhador de loteria ou ainda dono de empresa que acabou com as rivais para poder crescer e ganhar muito dinheiro. Rico só é honesto depois que morre, já que todos os mortos perdem os defeitos, têm os erros perdoados e nada do que fizeram foi com má intenção.

'O cara deve ter um Toyota, uma BMW, um Audi modelo novo. Só pode. Com esse dinheiro na carteira, só pode ter um carrão. Ou um carro de pobre, um Fiat 147 ou um Fusca, pra disfarçar. Tem idiota pra tudo nessa vida. Ah se esse dinheiro fosse meu...'

E com aquela carteira na mão, pensou na família, nas dificuldades em conseguir pagar todas as contas, em dar comida para seus 3 filhos diabéticos e para sua mulher obesa. Em contrapartida ele era subnutrido, já que não sobrava comida com aquela gorda em casa.

Tinha um número de telefone na carteira. Em cima do número estava escrito 'meu número'. Ele ia ligar como? Então pegou uma nota e comprou um cartão telefônico. Bom, já que estava na frente da padaria, e com fome, pegou mais uma nota e comprou três pastéis, daqueles que têm até a carne da bunda da cozinheira gostosa dentro, e uma garrafa do vinho mais caro, aqueles vinhos de rico. Sim, em uma padaria, algo contra?

Ele devolveria aquilo, algum dia. Quem sabe o dono da carteira nem cobrasse por aquilo, já que ele devolveria o dinheiro, quase que em sua totalidade, para o dono. Ligou e o cara atendeu aos berros 'quem é o filho de uma égua que resolve me ligar enquanto estou no motel com a minha secretária?'. Apavorado, apenas resmungou 'achei sua carteira.

O tom da voz do dono da carteira mudou. 'Que carteira?'. 'Tem o seu número aqui em um papel, em cima está escrito meu número, que é o seu número, no caso'. 'Ah, carteira de dinheiro. Tá.'

Marcaram de encontrar-se na praça. Mas como chegaria até lá? Caminhar 3 km em 10 minutos estava fora de cogitação. Táxi era caro. Paciência, o dinheiro não era seu. E era por uma boa causa. De táxi chegou ao local combinado, um minuto antes. Estaria fazendo o certo? Sua família precisava, ele precisava mais do que eles. Mas era honesto, nada no mundo o faria ficar com o dinheiro.

O podre de rico dono da carteira chegou e perguntou se o homem havia gasto alguma parte do dinheiro. O homem subnutrido disse que teve algumas despesas, como telefone e táxi para poder localizá-lo. O podre de rico gritou 'prendam-no, ele confessou que roubou meu dinheiro'.

Foi para a cadeia, 6 meses. Nesse tempo seus filhos morreram pela diabetes e sua mulher teve um infarto pelo excesso de gordura no corpo. Sabe que nem sentia falta deles. Mesmo honesto foi para a cadeia.

Bom, ele mereceu. Era um desgraçado. Precaviu-se e pegou dois terços do dinheiro da carteira antes de encontrar com o podre de rico, que nem sentiu falta daquele dinheiro, já que subentendeu que o dinheiro que havia sumido o pobre(não podre) confessara ter gastado.

Com dinheiro, sozinho e desempregado, resolveu arrumar um jeito de ganhar dinheiro. Apostou todo seu dinheiro, das mais diversas formas, na loteria.

E virou mais um podre de rico. Podre, hipócrita e ladrão. Com seu Citroën novo, atropelou o podre de rico que o jogou na cadeia e subornou alguns guardas para não ser preso. Fez o que podia fazer com o dinheiro.

Não passava de um pobre coitado. Pobre podre rico.

Anos depois morreu por complicações que a AIDS, que pegou na transfusão de sangue com um homossexual feita sem necessidade, acarretou.

E morreu sendo mais um pobre coitado. Mesmo que por algum tempo tenha vivido como um podre rico.

*não há moral , mensagem, objetivo ou subjetivo nessa história.

2 comentários:

Rebeca Postigo disse...

Kkkkkk...
Que imaginação!!!
Gostei!!!

Bjs

Mulher na Polícia disse...

Como diria Alanis Morissete: "isn't it ironic, don't you think?"

*_*