terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Sobre a dor de hoje.

As minhas lágrimas, de domingo até hoje, e por alguns dias mais, não tem nome ou sobrenome específico, idade, altura ou curso de graduação diferenciado. São as mesmas para cada vida que foi destruída.

Enquanto muitos insistem em ações ideológicas insensíveis e insensatas, rezo por cada alma que partiu, e por cada coração que, mesmo vivo, parou de bater em virtude de uma perda. Se quiser continuar com ideologias, vá em frente, não responderei a quem quer, insistentemente, provar que uma mentira é uma verdade através de fatos que são explicados simplesmente por sucessivas falhas humanas.

Frutos de ambição, ganância, desrespeito, descuidado e busca incessante pelos prazeres do ego.

Culpar, prender, fazer justiça humana não tira a dor, não ameniza o sofrimento. Vingança, muito menos. Essa cria uma dor ainda maior, um peso maior a ser carregado. Isso, porém, não quer dizer que pessoas não devam ser responsabilizadas, presas e outros locais, investigados e fechados se não estiverem de acordo com os requisitos mínimos de segurança e conforto. Devem, sim, mas isso deve ser feito em paralelo ao mais importante, que é cuidar de quem aqui fica.

Esses sofrerão pelo resto da vida. As lembranças não se apagam e, por costume bem humano, muito será feito para que elas mantenham-se vivas nas histórias de quem envolvido está. O silêncio, respeitoso, ficará tão forte que deverá ser quebrado. Não com estrondo e arruaça, mas com palavras, voz, enfim, que mostrem respeito, saudade mas tragam conforto.

Que Deus derrame seu amor e que os corações que hoje sofrem o acolham, para que consigam encontrar paz, tranquilidade, e conforto.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Reflexões de um maluco (21) - Eu, eles, eu



Difícil dizer alguma coisa sobre.

Não sei, ao certo, o que é isso, mas não consigo deixar de pensar que é, no mínimo, estranho. E diferente. E espontâneo.

Depois de um longo tempo, há algo em mim que surge sem passar pelos filtros mentais – quando esses conseguem superar as limitações físicas e psicológicas e agir contra o que está por vir – e leva a palavras, escolhas, tempos e outros detalhes que tem feito alguma diferença, positiva, em um mundinho particular e não muito bonito.

Toda indiferença existente ainda faz-se presente, inegável. Inevitável, ainda, falar sobre o orgulho que tira a tranquilidade e permite que ações contrárias estejam tendo consequências com alguma facilidade. Não que alguém veja o que acontece mas, sem dúvida, não é e jamais será esse o problema. Enquanto estiver ciente de que a fraqueza é fruto de um orgulho enraizado, de uma arrogância estúpida e da falta de algo mais concreto por si para prender-me a uma distância segura dessa coisa toda, nada do que o mundo veja, ou possa ver, faz alguma diferença. E a indiferença está, então, para com tudo o que de bom pode ser visto, inevitavelmente ofuscado, intencionalmente – embora pareça inconsciente e de natureza presa à essência – pelo receio de que seja uma hipocrisia pública e não somente privada.

Egoísmo é, também, não colocar nada disso para longe de mim. No fim, o respeito que tenho por aqueles que fazem parte do mundo particular – externo – é maior e talvez justifique tais parcelas curtas e definitivas de egoísmo.

Como um todo, estão tentando lutar – sem razões, justificativas ou explicações – para derrubar tudo o que possa haver de contrário. Ditadura das minorias, dos preconceitos e imposição de egos inflados e nem um pouco justos e verdadeiros. É isso que acontece lá fora, com a maioria que se diz ‘diferente’ mas que, no fundo, não passa de cópias piratas de jogos que há tempos não vendem mais nada por não condizer com o dito gosto popular.

Enquanto querem acabar com o que está, em suas visões, errado do lado de fora, estou tentando desfazer-me de um orgulho seco e degradante, óbvio que presente do lado interno. Qual a diferença entre eu e eles? O senso crítico. O meu aponta para mim, o deles... bom, não existe.

Não quero tirar o foco das minhas limitações, a minha guerra particular. Só não quero parecer egocêntrico e não citar algo impessoal. E isso, no entanto, não ameniza nem faz sorrir.

A origem do espontâneo, citado muitas palavras atrás, entretanto faz. E dá motivos para continuar com essa guerra, por assim dizer.

Em nenhum outro tempo, nem nos de maior espontaneidade e impulsividade, acreditei que valesse tanto à pena. Não tinha consciência do quanto isso poderia transformar. Antes era mais fácil, havia inocência, insanidade pura, sinceridade crua e um tanto de loucura por querer sem saber o que fazer.

Agora, porém, há consciência quanto a tudo que isso pode vir a ser. Ainda mais quando o pouco que já existe consegue fazer tanto. Além disso, a dificuldade obriga um maior cuidado, uma sinceridade plena – mas honesta e carinhosa – e, por incrível que pareça, doses de insanidade leves, quase imperceptíveis, mas ainda assim, um tanto insanas.

E divertidas.

Por fim, é por isso que consigo ver um final para a indiferença. Distante mas, ainda assim, um final.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Histórias de uma vida não vivida (53)

*Então os pensamentos tomam conta e é como se ganhasse vida outro eu além do que já existe e, por motivo justo ou não, controla o que é pensado, falado e escrito. Ou não controla tanto assim, verdade seja dita. Pequenos pedaços que vão ganhando forma à partir de uma visão perspicaz e, sem perder a raiz, inútil e um tanto quanto doente, metaforicamente falando. As palavras que vão e vem são diferentes das que deveriam surgir. Enquanto a música de fundo e o barulho de frente impedem que haja paz, simplesmente dizendo, a história que vem é um oasis, não Oasis, em meio a pequenas, e desprezíveis, quantidades de criatividade, imaginação e planejamento. É só isso, inútil, pequeno e simplório até demais. Mas isso, hoje, é muito mais do que a capacidade criativa, imaginativa ou algo relacionado a planejamento é capaz de oferecer a uma mente que não tem paz. Nem quando descansa.

Ela:

Por que ele está olhando para os lados desse jeito? É como se tivesse cometido um crime e estivesse tentando achar alguém que possa tê-lo visto para denunciá-lo. Ele olha, e de maneira direta, nos olhos, como se interrogasse, instigasse uma confissão de culpa. Sendo que a culpa seria dele. Contradição. Agora ele... ah, não, ele limpa o canto da boca como se... como se... FOSSE UM VAMPIRO. Ai, céus, o que eu faço? Ele está limpando o canto da boca como se tivesse mordido o pescoço de uma bela jovem. E continua a procurar. Ele está olhando para mim agora... ai, não. Vou disfarçar... será que ele já parou de olhar? Vou olhar e... ah, parou. Ufa, ainda bem. Será que é um vampiro mesmo? Vi em filmes de vampiros de todas as épocas aquele gesto de limpar o canto da boca enquanto procura testemunhas do crime a serem caladas ou... novas vítimas. Será que estou correndo risco de ser a próxima? Ele olhou para mim, nos olhos, como se quisesse ver o meu interior. Será que ele escolhe as novas vítimas assim ou só pela aparência mesmo? Porque né, convenhamos, nenhum vampiro escolhe a gordona ou a raquítica, é sempre a gostosona. Nunca vi vampiro chupando pescoço de uma que não fosse, como dizem por aí, turbinada. Sempre elas, as boazudas. Nossa, que pensamento recalcado esse, só porque estou um pouco acima do peso. Se alguém ouvisse minha conversa solitária em meus pensamentos... ou melhor, conversa em pensamento é pensamento por si só e.... ah, vou sair daqui logo antes que ele venha atrás de mim para tirar meu sangue com aquela boca... hum.... Chega.


Ele:

Bah, esqueci os óculos e... bem hoje que também esqueci de pegar guardanapo. Será que consigo limpar o canto da boca, que deve estar sujo de feijão, sem que ninguém me veja? Deixa eu tentar ver... nossa, como é difícil ver sem os óculos, forço e não consigo identificar se alguém está me olhando. Então vai. Pronto. Limpei... opa, aquela guria me viu. Vou embora antes que ela me chame de porco na frente de todos. (poft) Que droga, mindinho no canto da mesa.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O vazio de viver e só (35)

A soma de dias que não trazem qualquer lembrança só aumenta. A indiferença parece não ter mais limite e a vontade, teórica, hoje tem ares de utopia misturada com nostalgia. Tudo para trás ou para frente - sendo que, nesse caso está condicionado ao tratamento dado a isso hoje - e nada para o agora. Estranho, não há nada aqui que possa ser digno de palavras, nem o resquício de luz que paira sobre minha existência singela e, por minha própria culpa, inútil. Sinto-me até mesmo pior do que isso.

Não é um vazio, está mais para inutilidade, incapacidade, ou alguma coisa semelhante em um termo menos degradante. O pouco de novidade que há, por si só, ainda não existe - e tenho medo de que, se for para ser assim, a maior das chances será jogada fora por ter surgido no pior dos momentos.

Queria fazer mais... ou melhor, queria fazer alguma coisa. O estudo é incompleto, o trabalho, o cuidado pessoal, seja emocional, físico ou espiritual, tudo está incompleto, sem um sentido, uma definição, um rumo. É como se estivesse circulando sobre o meu próprio corpo, como uma criança quando chega no parque de diversões e quer ver tudo ao mesmo tempo. De um lado para outro, geralmente no sentido horário, meus olhos buscam, de alguma forma, compensar a falta de todo o resto gravando tudo o que for possível no menor espaço de tempo.

Para piorar nem isso adianta. Não há nada sendo gravado, por mais que imagens, e até mesmo palavras, estejam sendo jogadas para dentro sem qualquer filtro. O bom, o ruim, o ótimo, o péssimo e tudo o mais tem sido tratado com indiferença por alguém que já não se sente capaz para coisa qualquer. Se antes a preocupação era deixada de lado por um ou outro motivo - bom ou ruim, não importava, havia algo que tirasse a urgência da existência de preocupação - agora ela surge com tons de imediatismo.a

Como se todos os meses que passaram devessem ser compensados em alguns dias, recuperando, curando, tratando e regenerando tudo o que foi perdido, machucado, estragado, extraviado, desviado ou mesmo destruído em todos esses meses de vazio, indiferença e solidão - mesmo em meio à multidão.

Não vejo qualquer rumo e peço, com algum desespero, que o Amor que todos os dias me faz acordar mostre, de uma forma ou outra, onde é o lugar ao qual devo chegar para conseguir ser curado, regenerado, revigorado, etc. Onde não haja mais indiferença e incapacidade mas sim vontade, coragem e potencial a ser transformado em ações reais.

Difícil. Mais do que em algum momento pude mensurar. A única vantagem que tenho é que Deus não dá a mínima para o tamanho das minhas dificuldades.

Porque Ele é grande. Imenso. Infinito. E o Seu amor torna qualquer coisa vinda de mim um grão de areia no deserto.