sábado, 27 de novembro de 2010

Um ponto em lugar qualquer


Por tanto tempo você disse. Escreveu. Tornou conhecidas tais palavras. Demonstrações claras e provas literais de um sentimento. Por tanto tempo recebi e guardei essas palavras. Com muitas dúvidas sim, mas tornava-as bobas e infundadas, pois você me convenceu sempre de que era sim, tudo verdade. Nem mesmo as fortes e concretas constatações de que tudo aquilo poderia ser mentira, que era muito duvidoso que tudo aquilo existisse em meio à essa perdida falta de fatos concretos e não apenas palavras. Fui levado por suas palavras, suas doces e agradáveis palavras. Sorri por muito tempo ao recebê-las. Hoje vejo quão mentirosas são. Verdades não existem em palavras que não são tornadas vida, realidade, verbos no infinitivo, gerúndio ou particípio. Nunca pedi uma prova clara, visível a esses rasos olhos humanos. Apenas pedi que fosse verdade. E você mentiu todas as vezes que confirmou ser verdade o que, hoje concluo não ser. Eu precisava das suas palavras e, admito, hoje continuo precisando, mas não posso mais conviver com elas sabendo quão mentirosas são. Mentiras em cima de falsas verdades, encobertas por um sorriso. Um grande e visível sorriso. Sua vontade era mentirosa. Suas palavras foram mentirosas. Seu sorriso... pelo que ainda há de verdade em você, que o seu sorriso não tenha sido mentira também.



*entristece, tira forças que não tenho por natureza.
Estranho, está sendo e será.
Eu cansei.
E, que se alguém tiver razão, 
que me perdoe por isso 
porém eu não correrei mais contra esse vento, 
tão distante.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Histórias do Billi J. - A carta de uma mísera lembrança


"Vini, sem muita enrolação no começo, vou direto ao motivo que me levou a escrever-te mais essa carta, que será curta, prometo.

Certa feita em dia passado, estava eu em conversas com a Renata e me lembrei, após uma frase dela, de uma antiga conhecida. É, por aí mesmo, você sabe como era. Essas coisas de sentimento de fato nunca aconteceram, o amor que sempre senti pela Renata era maior. Mas você já sabe disso, também. A questão é que, lembrar de uma conversa passada nunca me havia feito tão mal. Tentarei explicar. 

Eu estava há cerca de 1 ano longe da Renata. Sabe quando a desilusão faz com que a saudade e a dor fiquem em segundo plano? É, sabe. Eu estava assim: desiludido. E como. Conversas com pessoas diferentes ajudavam a amenizar essa desilusão. Aquela menina era diferente. Ela demonstrava muita paciência com meu marasmo incansável, com minhas dores explícitas mas encobertas. Como que sem muito sentido ela, que sequer me encantava, foi me fazendo deixar de lado todos esses fatos que me deixavam, e por muito tempo estava e acabaria sendo assim, deprimido, para baixo, desanimado em um todo. Ela não tinha nada em especial, apenas me fazia companhia. A sensação que sentia quando conversava com ela era de que eu era único. Não por ser quem eu era, apenas por estar ali, conversando com ela. Não conversávamos nada muito profundo, não contei mais do que qualquer amigo rotineiro meu soubesse. Ela não dava nada a entender, não havia indireta, nada oculto. Eram conversas claras, sem frescura. Apenas conversas. Ela e eu, me sentindo especial mesmo. Aí você se pergunta, Vini, o que remeteu a um sentimento ruim pela lembrança dela, de uma conversa sua. Assim, é complicado explicar o que causou isso porém aconteceu tão repentinamente quanto começaram as nossas conversas. Em algum momento, sem nada pontual claro, ela fez uma comparação. Entre eu e outro alguém. Não pela situação, pelo dia ou pelo assunto. Ela comparou por comparar, como se quisesse medir quem era mais... bom, não lembro mais o adjetivo. É uma coisa mínima, sim, mas foi se repetindo e aquela sensação de que eu era único por ela desapareceu tão rapidamente quanto surgiu. Talvez seja bobagem sim, mas eu não gostei, mesmo. Sinto-me mal por lembrar da decepção que foi quando percebi que eu não estava mais na condição de especial. Fosse quem fosse a me alegrar e depois me decepcionar, ficaria mal ao lembrar. É bobagem minha, lembranças bobas de uma época um tanto difícil, mais ainda vulnerável. Qualquer micro-decepção era uma bomba gigantesca. Tanta coisa me foi tirada e tudo parecia ruim. Você sabe, me conheceu e já naquela época me ajudou. Hoje é diferente, sou feliz por tudo que comigo está, pela Renata estar comigo, por estar perto de casa. Bom, você sabe que não é fácil apagar traumas, por mais que sejam ínfimos perto ao que se pode, e acaba-se, vivendo. Bom, era apenas (mais) uma lembrança que gostaria de compartilhar com o amigo. Mais uma bobagem, sinto por ter tomado seu tempo. Acredito ter escrito muito sem dizer nada de mais. Espero que as coisas aí estejam andando. Há um tum tum tum louco por aí atualmente ou só lembranças?

Abraço, amigo.

Billi .Johansson, 21/11/10"

domingo, 21 de novembro de 2010

Histórias de uma vida não vivida(29)



*O que iria acontecer? Seus tiques nervosos estavam à flor da pele, dos nervos, das veias, dos ossos e das pontas duplas dos fios de cabelo, já cheio de caspa. Nada de imundícia, caspa acontece com qualquer um em qualquer momento da vida, é como chutar uma bola e arrebentar a vidraça da velha que odeia meninos. Não que a velha importasse para ele, maldizendo assim o dia em que perdeu o senso de normalidade e passou a ser mais um perturbado pelas manias incontroláveis do próprio corpo. Esses problemas de nervos que afetam toda uma vida são incríveis, não adianta remédio, autocontrole ou socos nas regiões que se movimentam desordenadamente. Aquilo havia uma razão de ser. Só faltava descobrir se era nervosismo por ansiedade, medo, angústia, felicidade ou, o mais provável, nervosismo por estar nervoso.

Nenhuma imaginação estava ali. Das milhares de possibilidades, nenhuma era sua. Sem cair no tédio, seguiu seu ritmo lento, com passos cuidadosos e cheios de receio. Quase parando, com medo de tudo e todos à volta. Que poderiam fazer, agarrá-lo? Bobagem. Era medroso por natureza. A natureza o fizera assim por colocá-lo diante de sua face mais imunda. Passado explicativo, nunca justificativo. Sem dúvida aqui. Nem lá, fez o certo, sem matar ou morrer. Caminhou querendo, apenas no fundo da vontade, chegar. Também por não saber onde, como e com quem chegaria, estaria, ficaria.

Sozinho às avessas, realidade invertida, boba mas muito significativa. Não era irreal, não era visível. Apenas era. E, mesmo andando lentamente nessa estrada sem volta, aproveitava. Deleitava-se com leite e mel próprios de uma natureza que, sonhando, um dia seria sua. Lento porém andante, jamais parado. No fim, fazendo valer o que tinha à disposição, ainda que, como essas frases, nada estivesse muito bem definido.

Olhou para o lado ao perceber que aquela solidão o incomodava. Solidão repetida às avessas que incitava uma imaginação. Um pensamento qualquer, bobo, simples, apenas pela companhia. Ali estava, ali queria ficar dando passos lentos à frente. Quem sabe alguém pudesse acompanhá-lo. Não que fosse realmente necessário, mas a diversão de uma imaginação por ser imaginação é ter o que não se precisa, sequer o que se deseja, em uma realidade que nem paralela acaba sendo. Movia-se passivamente, com um tom bruto, e futuramente estrondoso, de vivacidade.

Perdeu-se em ideias, querendo o que não queria. Confundindo a realidade lenta com uma imaginação fugaz, imprevisível. O que não era e, com improvável possibilidade seria, passou a ser por um momento, e toda ladainha banal veio à tona, desnecessariamente. Um sonho que, se bem sonhado, valeria à pena, mas não era o caso, não era o momento, não era a vontade, não era... coisa alguma. Não existe sentimento de culpa, não houve perda ou dano para qualquer um. Um nada insistente, uma imaginação persistente que só teve fim quando a solidão mudou de figura. Não por ter acabado, mas por estar no seu lugar habitual, diário, onde já fica fácil controlá-la, mais pelo costume do que pela sua aquietação.

Percebeu a tempo que aquela era uma estrada em que não importava a companhia, incerta, na duração, mas sim a certa na chegada. Sorriu. Feliz. Não pela imaginação ter sido apenas imaginação. Não por ter chegado a um lugar onde demorará, e muito, a chegar. Tampouco por estar com a solidão habitual novamente consigo. Sorriu por ter descoberto-se um pouco mais. Por ter-se conhecido um detalhe a mais, um pensamento a mais, uma solidão a mais. Bobamente sorria, como criança com sorvete ou mulher com sapato novo. Não havia motivo claro, mas sorria.

*mas a inquietação nervosa continuava

sábado, 20 de novembro de 2010

Sem definir ou tentar entender


É tão fácil não explicar nada, dizer pouco mais que dez ou quinze palavras e já encaminhar o término de uma sequência de frases. Fica tão tranquilo quando não há muito mais do que dizer além do que se diz. Confuso ao ponto de não saber como começar esse fim. Poucos admitem isso. São tão poucos quanto aqueles que entendem uma possível razão de ser na existência própria. Sim, na sua. Alguns acreditam, outros não, tanto faz também no que eu acredito daqui, seja o sim ou o não a resposta. Alguns entendem muito bem o que precisam fazer, o que devem fazer. Outros não entendem, vivendo então desregradamente uma vida que algum dia talvez percebam não ser a sua. Ninguém nasceu para ser lixo, para ser bandido, para dar o corpo por trocados ou nada. Ninguém nasceu para matar, para roubar ou para mentir. Ninguém nasceu para a hipocrisia, as traições ou outros desvalores. Mas muitos acham que esse é o seu caminho, a sua história, e vivem-na, achando que nada existe, que nada tem valor. Poucos entendem o que é da natureza e o que é da influência.

Daqueles que tentam encontrar-se nessa possível razão de existir, a dúvida quanto ao estar ou não onde se deve estar é assombrosa. Ela impacienta, inquieta, faz ansiar pelo que não se tem certeza, pelo que não se sabe. Dúvida, quem sabe cruel em uma forma disfarçada. Incerteza.

Mas também, que diferença faz para quem não se importa?

*muito sono

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Mais uma queda, mais uma lamentação


O mundo pode até me levar a fazer o que não quero, pelo impulso iniciado em olhos famintos, que assim o são por culpa de uma mente mal instruída quando o início de sua consolidação. Malditos sejam todos que influenciam negativamente cedo e impõe erros difíceis, nunca impossíveis, de serem corrigidos. Hoje me sinto um perdedor, um grande e verdadeiro perdedor. Sofro muito, lamento, estou triste por ser formador de um erro, que explica sim, mas não justifica esse erro. Também, maldito erro. Desculpa, não consegui, fracassei. Felizmente apenas eu sou prejudicado nessa infelicidade toda. Infeliz, sim, sou quando esqueço, impaciento, forço uma angústia inexplicável, atordoante. Que pensamentos estúpidos. Trariam dor menor se o entorno não levasse à tristeza ainda maior.

Tantas vezes caí, tantas vezes mais me levantarei. Jamais sozinho. Tu sabes, Me conheces, Me levantas. És a única fortaleza inquebrável no meio desse deserto onde me perco. Sei que Estás comigo. Eu não sei como me sentiria se o Teu amor não curasse essa minha dor. Cura lenta, não importa. Minhas lágrimas Secas quando Julgas necessário.

Obrigado.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Dias de incrível, de indescritível


Mais de um dia de viagem, coroada com horas de congestionamento no trânsito mais do que caótico. E dentre confusões aceitáveis em uma dimensão maior do que se está acostumado a ver, caminhar à meia noite, ou perto dessa hora, em uma cidade enorme, desconhecida, com malas e outros entulhos nas mãos. Teria mais, porém é o menos da história. De sexta a ontem, incluindo depois a quinta e o hoje, nada do que irrita vez alguma diferença. Inconformar-se com o que pode ser melhor não é tirar mérito do gigantesco bom presente.

Foram dias incríveis. Resumir é complicado por terem sido tão numerosas e intensas situações. As correntes cortadas e a percepção de que, no fim, nada foi estragado empurram o resumo em uma palavra para o lado do incrível.

E nos pequenos detalhes, os grandes detalhes ficam maiores ainda. Uma, duas ou duzentas chuvas caíram. Todas com a mesma intensidade, lavando, fertilizando, gerando frutos. Direta ou indiretamente.

No mais uma missão. Várias missões. Vários verdadeiros significados. A sensação de que podia durar mais, pois falta alguma a minha vida rotineira fez nesses últimos dias.

Aos irmãos, de todos os cantos do Brasil, reunidos em um Rio de Janeiro conturbado ,por amor ,um abraço.

E sim, Ele é a minha força. Sempre será.

*não há como escrever muito, não agora ao menos. 
Muitas ideias em mente, 
muitas coisas escritas nesses últimos dias mas, 
organizar tudo vai demorar um tempo.
Ah, cadê o pato?

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Definitivo como tudo que não existe


Começo aqui. Com um resumo na desolação, mas que vai muito além de uma palavra que significa, dentre outras coisas, ruína. Quem sabe um dia virem ponto turístico, como tantas outras em diversos lugares do mundo. Só que ao invés de câmeras, os turistas trariam suas próprias desolações, traduzidas gramaticalmente para ruínas, e completariam todo esse vazio, essa ausência, essa minha falta de ser, de pensar, de sentir. Explicações no início são piores que justificativas no final. Elas tentam fazer com que sejam antevistas situações para, quem sabe, serem evitadas. É como dizer a uma criança 'não come doce antes do jantar'. Esqueçam. Também que vou explicar por que justificativas no final são ruins. Viaje sem sair do pensamento. E sem aditivos. Para onde você quer ir? Qualquer lugar é possível quando se pensa, quando se sonha. Você para de pensar, acorda e decide que já é hora de voltar a estudar, a ouvir música ou escrever. Onde você está mesmo? Ah sim, onde estava antes da viagem. Mais do que imagens, pré-vistas ou puramente imaginadas, você não tem. Mais do que um sonho você não tem. Não querendo desvalorizar sonhos, eles podem até ser motivacionais, porém eles não te tiram do lugar. Pensamentos não fazem você sair de onde está imediatamente. A ideia é fugir, é sumir, é viajar, se distanciar e começar algo novo, do seu jeito, a vida dos seus... sonhos. Acorda, o despertador tocou, você tem que lavar a louça, o cabelo, estudar e trabalhar. Parabéns, você não tem a vida que quer, mas tem sonhos incríveis, em lugares incríveis, com a pessoa dos seus... sonhos. Porém ela não está aí. Ela nunca estará aí. Não porque ela não exista, mas sim porque ela existe no seu sonho. Partindo de uma suposta existência dela na realidade, você sonha porque não a tem por perto. Porque a ama, ou quer amar, e mais nada. Porque quer  falar, transformar, criar, literalmente enlouquecer. Sonha e... sonha.

E termina. Começando para, no fim, acabar no aqui, no começo.

sábado, 6 de novembro de 2010

Histórias do Billi J. - Em cada riso, um sonho. Em cada sonho, você.


Em cada lugar uma nova história era construída. Com pressa, quase irracionalmente. Sem muitos detalhes. Com o mínimo do pensar na construção, no enredo, na história em si, no próprio pensar. Não havia começo, meio ou fim. Havia apenas algumas partes, alguns fragmentos de histórias inacabadas, sequer começadas. Uma aula de 'acorda para a vida' era dada por si, em si, para si todas as vezes que a percepção surgia. Ficava embasbacado consigo. Eram quase tantas histórias quantas eram as pessoas que por ele passavam. Papeis pequenos em um livro de microcontos, com hífen ou sem. Participações nada especiais escolhidas com os olhos, pela semelhança com a cor do cabelo, com o sorriso, com a voz ou o jeito de falar, com as maçãs do rosto, os braços ou mesmo a semelhança no branco do olho...

...Semelhança com o cabelo, o sorriso, a voz ou o branco do olho dela. Renata. Que tão longe estava. E que mesmo tão distante, se fazia presente em cada dia seu, através das outras pessoas. Desconhecidas outras pessoas. Que amor era esse que ultrapassava não só as barreiras da distância e da saudade como também a da própria existência?

Sem saber a resposta, Billi J. batia na cabeça, resmungava que não deveria ficar sonhando acordado com pessoas que no fim, do microconto, do pensamento ou do tapa na cabeça, acabam sempre sendo Renata. A sua Renata.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Definitivo como tudo que é simples, como tudo que é verdadeiro


É definitivo que o país está perdido. E não é porque estamos em uma mesa de bar, bebendo uma cerveja bem gelada em uma tarde de verão, bem quente. O país está perdido pelas eleições, pelo que está sendo e será feito. Pela covardia de um povo que aceita tudo que lhe é colocado como opção indutiva. Pela influência que a mídia e tudo o que é visível têm sobre aqueles que não possuem capacidade de discernimento.

Definitivo é também que, além do país, nossas vidas estão perdidas. Porque o trabalho nos cansam. As namoradas ou quase esposas exigem-nos atenção e damo-lhes. Exigem carinho doamo-lhes. Exigem que sejamos fieis, autênticos e únicos. E assim o somos. Mas elas continuam desconfiando dessa nossa simplicidade, desse nosso jeito pacato. Estamos perdidos porque raramente sentamos nessa mesa de bar, na escada da praça ou nas cadeiras sujas da lanchonete com nossos amigos, para lhes contar sobre essa nossa vida, corrida, cansativa, mas um tanto divertida.

Definitivo como tudo aquilo que é simples apenas pelo fato de ser. Definitivo como olhar para o céu e dizer que vai chover. Minutos depois rir, vendo o palpite furado. É definitivo aquilo que não muda. Como a nossa cabeça. Quanto cabelo tínhamos, e hoje as entradas da calvície ameaçam a nós e aos nossos, quem sabe, futuros filhos. Definitivo é aquilo que não muda, ao contrário da nossa fome. De leões vorazes com fome insaciável, chegamos ao ponto de recusar o aperitivo porque o almoço de ontem não desceu bem. Estamos ficando fracos, envelhecendo, perdendo a capacidade até de jogar futebol, de resmungar com uma mulher, de sair por aí apenas para beber, uma ou duas cervejas, ou um litro de pepsi cada um. Eu disse sim, cada um.

E isso é um tanto definitivo.

Entretanto, toda essa porcaria que se encaminha para o definitivo, tudo o que a nossa juventude antiga, que vai passando a cada dia e tirando nossa vivacidade física, nossa sagacidade mental e nossa intolerância ao pouco, toda essa porcaria não consegue tirar de mim uma definição, um definitivo, muito mais importante do que todas essas reclamações. Muito mais confortante que o abraço da mãe quando ralávamos o joelho na infância. Muito mais forte do que o tapa do pai quando quebrávamos um vidro. Ainda mais, tudo que se encaminha para o definitivo não elimina um definitivo que tenho comigo e que terei, definitivamente, sempre.

Vocês. Sem promessa banal de eternidade, sem promessa fútil daqueles que dizem ser de verdade, sem promessa atemporal de todo o tempo. Definitivo que me conforta é o saber de que, estando onde estiver, estarão comigo.

Aos amigos, um brinde, alegre, sorridente, definitivo. Aos amigos, a amizade que é definitiva, que não se altera com o tempo, a distância, os rumos pessoais de cada um, trabalho, estudo ou companheiras. Aos amigos, da barriga cheia, da cabeça cheia, das palavras e dos sonhos cheios.

Aos amigos. Que são definitivos com a bênção de Deus.

Aos definitivos amigos.

*cabe a lembrança aos amigos,
companheiros de futebol,
de histórias, da vida,
que nos deixaram e que nesse
dia de finados merecem
 todas as nossas orações.

**É uma pena não ter uma foto para ajudar 
a representar o que me fez escrever hoje.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

De passo em passo, de olhar em olhar


Quando percebi que estava sendo observado, olhei direto nos olhos de quem o fazia. Era um menino que, como qualquer menino, olhava com curiosidade para aquele rapaz barbudo que estava à sua frente. Sem maldade, sem preconceito, apenas olhava para mim e para minha barba comprida, imaginando coisas. As crianças imaginam muitas coisas quando olham para homens barbudos. Ele me olhava fielmente, como se mais ninguém existisse. Um olhar puro, como qualquer olhar de criança. Ao ver que eu olhava-o, desviou sua atenção como olhar para um sujeito barbudo fosse errado. Também como toda criança ele foi contra o que parecia ser errado e voltou a olhar para mim e minha barba. Saí de onde estava e pus-me a caminhar pelas ruas estreitas dessa cidade. Mas aquele olhar curioso não saiu da minha mente. E foi isso que motivou uma das experiências mais estranhas e perturbadoras que já tive. Assim como o menino, decidi olhar com curiosidade de criança para as pessoas que passavam por mim, tentando imaginar como seriam, o que pensavam, por que estavam ali. Eram muitas, todas passageiras na rua, na cidade, na minha vida. Estranho e tolo, mas precisava olhar para aquelas pessoas e pensar nelas, mesmo que por poucos instantes. A curiosidade que o menino despertara momentos antes era grande demais para ficar presa na minha mente. Segui meu caminho, agora olhando para aqueles seres humano com interesse e simplicidade, buscando uma suposição para cada uma das minhas indagações, apenas pelos seus olhares. Direcionei minha atenção para uma mulher, sentada no canteiro da praça com um saco de latas amassadas, olhando para o chão, sem notar a presença daqueles que caminham como se ela não existisse. Ela não olhou para mim. Outra, uma jovem loira, olha-me nos olhos e é conduzida pelo seu namorado para o outro lado da rua. Ele demonstrou sentir ciúmes naquele momento. A moça da farmácia que olha para a rua apenas esperando o tempo passar para poder ir embora, sem notar que eu a via. A senhora de quarenta anos que troca olhares ríspidos com o senhor de terno e gravata, que posteriormente olha-me e acelera os passos, com medo do barbudo que imaginava estar seguindo-o. O jovem musculoso que torceu o pescoço para a moça que estava escorada no balcão de um bar, e o seu amigo que ouvia música nos fones de ouvido, sem perceber o que acontecia ao seu lado. A menina de olhos verdes que sente-se envergonhada quando notada no meio da multidão. Pessoas diferentes, com motivos diferentes, com rostos diferentes. Nenhuma igual à outra.Caminham para algum lugar como se estivessem sozinhas ali. Pessoas que quando olham, em sua maioria, fingem não ver, não olhar, não reparar na aparência daquele sujeito barbudo, da mulher com a sacola de latas, quando na verdade já definiram o que pensar sobre eles. Pessoas que carregam uma série de pré-conceitos, tentando manter-se distante de todos os desconhecidos com quem cruzam nas movimentadas calçadas da cidade. Vi que essas pessoas perderam o sorriso espontâneo, o olhar curioso e terno daquele menino. Deixaram essa pureza em algum lugar de suas histórias, preferindo seguir seus próprios caminhos sem importar-se com os caminhos percorridos ao seu lado. São pessoas que esbarram e, ao invés de desculparem-se, trocam ofensas. Que deixaram de sorrir sem motivo, por educação, de pedir desculpa, de pensar no semelhante, de dar atenção com um olhar. Que têm pressa e não se importam com a vida de seres estranhos, tão parecidos consigo. Que, infelizmente, deixaram de lado o ser humano.

*eis uma crônica fracassada, 
a grande prova de que as pessoas estão erradas. 
Inclusive eu.
Aqui, lá, em letras ou palavras. 
Ao sol ou ao vento. 
Ao nada.