quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Nos fundo dos olhos, a prova de que algo ainda bate

*a música é boa mesmo

Não tive muito tempo. Não quis ter muito tempo. A maioria do que eu poderia ter dito eu não disse. Por opção. Não queria perder aquele momento com explicações, por mais sentido que elas façam. Não queria e não perdi aquele momento. As palavras, por mais espontâneas e sinceras que fossem, foram ditas com dificuldade. Sem escolha, termos corretos ou prezando por alguma coerência. Apenas falei o que precisava falar. O que queria falar.

É muito provável que elas não fizeram sentido algum. Menos sentido faria todo o resto que poderia ser dito. Dessa vez não errei, finalmente não errei. Mesmo que o coração para o qual destinei aquelas poucas palavras não quisesse ouvi-las, acho que ele ouviu. Aqueles olhos, que mais de uma vez já haviam tirado-me a concentração e as palavras, aqueles olhos... pareciam atentos ao que os meus olhos queriam destinar.

Acredito sim que a maior sinceridade está no olhar diretamente nos olhos enquanto se fala. Parece que através desse olhar os dois corações entram em sintonia e tudo que é dito faz mais sentido, isso quando o sentimento transmitido, mesmo que apenas por um lado, não ofusca tudo e aqueles olhos se perdem uns nos outros, os olhares são trocados como se nada mais fosse necessário. Difícil um tímido fazer isso, até porque é quase certo que quando falo algo a alguém eu olhe para o chão ou para os lados. Mas decidi fazer diferente, e consegui.

Eu falei. Disse. Demonstrei. Mergulhei naqueles olhos e quase afoguei-me. Queria ter afogado-me mesmo, estaria muito mais vivo do que estou hoje. Não foi possível. Talvez nunca venha a ser. Não há sentimento, por menos humano e mais divino que seja, que consiga compensar tudo o que o lado humano pode empurrar contra.

É incrível que quando deveria sumir, desaparecer ou ao menos ser esquecido, isso, esse sentimento que eu não preciso nomear, só aumentou, tomou dimensões que eu não esperava. Por mais que seja estranho, mesmo que não o viva de fato, fico feliz por tê-lo comigo.

Porque o amor vem de Deus. Amando, mesmo que não vivendo ele num todo, me aproximo de Deus.

Quando todos me dizem para esquecer, eu rio. Porque sei que, fazendo o que eu possa fazer, não conseguirei apagar o que não pode ser apagado por uma mente, por mais forte e preparada que ela seja.

É grande, é sincero. E ao transmitir isso diretamente aos olhos, fiquei mais seguro ainda da grandeza e da sinceridade desse... amor.

Talvez seja impossível qualquer coisa que venha disso. Pois é. Mas eu já escrevi que 'acreditar na possibilidade é racional, acreditar no quase impossível é esperança'.

Já não me sinto mal por isso. Pelo contrário. Quero viver o que puder, mesmo que não seja tudo.


*eis a grande prova de quão grande é a insanidade na qual tenho vivido. 
É loucura tudo isso, não faz sentido. 
Quase todos me criticam, tentam me fazer cair numa real humana, racional e simples. 
Tentei fazer algo humano,
 ignorando e tentando me afastar disso, 
mas NÃO SOU ASSIM. 
Ajo de um jeito diferente, 
cada vez menos humano, 
mais espontâneo... 
e mais sincero.

É só mais um desabafo alternativo


Toda lista feita, por maior que seja a quantidade de boas intenções contida nela, é errada. Porque toda lista limita demais o que é listado. As 10 músicas, os 10 lugares, as 10 pessoas, os 10 fatos do ano, os 10 dias mais importantes da história, os 10 gols mais bonitos e os 10 melhores times, dentre tantas outras. Muita limitação para pouca coisa. Porque listar é tentar resumir em vão. Sempre algo que mereceria estar lá fica de fora.

As minhas 10 músicas agora são 12, quase 13 e deveriam ser 50, no mínimo. Como posso deixar fora tanta música boa, tanta banda boa, tanto bom e velho rock'n roll fora da minha lista? Transpondo isso para cá, não farei como fiz ano passado ao listar os 10 melhores textos meus, na minha opinião. Também porque uma coisa é eu ter gostado e outra é eles terem sido bons.

E estamos no fim de um ano. Listas não faltam. As melhores e piores coisas, as melhores e piores pessoas, os melhores e piores livros, músicas, bandas, momentos, viagens, enfim, qualquer coisa que tenha mais de uma... coisa, diferente.

Sinceramente acho uma grande bobagem todas as listas de fim de ano. Assim como as listas de começo de ano. Não é a primeira vez que critico isso, mas é porque acho uma grande bobagem mesmo. Vou fazer isso, emagrecer aquilo, comer tal coisa, ir para tal lugar. Que saco. Tão saco quanto aquelas bobagens de cor, roupa, lugar e até comida no momento do início do ano novo. Tudo balela, bobagem para quem quer acreditar na sorte, no azar e nas estrelas, constelações e qualquer outra coisa que possa fazer por você o que você deveria mas não tem a mínima capacidade de fazer.

Sou um grande oposicionista de deixar que a 'sorte', coisa que para mim não existe, leve as pessoas a fazerem as mais patéticas e bobas coisas para que o ano que virá seja melhor. Que saco, mais uma vez. É só um dia, com dois números diferentes na datação. Só isso. Por que não se comemora o primeiro dia de cada vez então já que o importante é a mudança?

É bem provável que o problema esteja comigo. Em não acreditar no que todo mundo acredita, só porque para mim não faz sentido algum. Mas tudo bem. Sou burro, idiota, bobo, chato, teimoso por tantos outros motivos, ser chamado de tudo isso só por não gostar de listas(as quais só faço para mostrar meu gosto musical no orkut) e não acreditar em sorte e azar, não vai me afetar negativamente.

Frase do dia






Uma espontânea 
e sincera 
enchente de loucura 
tomou conta de mim.





*há muito mais coisas que eu poderia escrever e é provável que essa frase não esteja completa, pois não foi apenas a loucura que tomou conta de mim. Embora o cansaço, a dor, a tristeza, mágoas e decepções pesem contra, encontrei em algum lugar o que acho que estava procurando. Não sei ao certo o que é, mas sinto como se faltasse muito pouco para que eu pudesse voar, embora tenha a consicência de que estou tão longe de tudo que esse voar também não passa de um sonho. Mais um sonho, sincero, espontâneo e, provavelmente, impossível. Não importa. Uma vez eu escrevi que 'enquanto houver um sonho, ainda haverá esperança' e tenho de dizer, sem qualquer arrogância, que eu estava certo sim.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Histórias do Billi J. - Desisto de tudo, mas não de você





A vida não poderia ter sido melhor, Renata estava de volta(clique no marcador 'histórias do Billi J.' no fim do texto e você entenderá), por ela, e também por si mesmo, havia mudado de emprego, seu irmão já não incomodava-o de maneira insistente e tola, seus pais já não pareciam ser empecilhos na sua tentativa de mostrar ao mundo que era possível viver de um jeito diferente e não havia sequer um pensamento ruim na cabeça do Billi J. .

Tudo ótimo, sim, até que...

Bom, nem mesmo o Billi J. sabe como isso começou, o que originou, porém aconteceu e é isso o que vem ao caso agora. Ele e sua amada Renata desentenderam-se. Normal para namorados, principalmente para quem se conhece tão bem quanto eles. Pequenas diferenças fazem grandes estragos nesse caso. E foi mais ou menos isso o que aconteceu. Entretanto esse desentendimento não era normal para Billi J. e a Renata. Porque afinal de contas, depois de toda a distância e do tempo, o simples fato de estarem juntos já era a prova de que nada poderia separá-los(e entramos no auge do famoso 'acreditar no amor').

Houve o dia, o momento, a visão.

Renata estava chegando em casa quando foi abordada por um sujeito. Segundo o Billi J. era o cara mais parecido com um ator de Hollywood que já havia visto. Ela conversou com ele. O Billi J. olhou tudo de longe. Ciúmes sim, e muito, já que conhecia os amigos de Renata e aquele sujeito não era um deles, definitivamente. Como era sensato, embora impulsivo, Billi J. apenas olhava de longe. E apertava forte as mãos, piscava como se tivesse um grande peso nos olhos, enfim, olhava com raiva.

Eles riam. O Billi J. não entendia por que a Renata estaria rindo com alguém que não conhecia. Antes de pensar coisas ruins, precipitando-se em um julgamento errôneo, decidiu sentar ali perto e esperar a conversa acabar. Depois disso, chegou na casa de Renata e indiretamente lembrou o fato de poucos instantes antes.

Respostas evasivas, como se algo estivesse sido escondido. E aquele medo cresceu, transformou-se em angústia e o Billi J. já não controlava mais. O tom da voz subiu como há muito tempo não subira. A velocidade nas palavras era incrível. Um desabafo que saiu sabe-se lá de onde, sabe-se lá por qual motivo.

Renata não entendia, mas parecia não querer entender, não tentar explicar o que talvez não precisasse de explicação, talvez não devesse ou quisesse ser explicado. Estava decepcionada com Billi, pela desconfiança, mas não deu motivo algum para que ela não existisse no Billi J., falava alto como Billi J. nunca havia ouvido e ele fez o mesmo, como se fosse algo necessário.

Ouvidos atentos sem resposta. Saiu e, sem saber para onde ir, ficou sentado na esquina da praça, triste, atordoado, sem saber o que ou por que aquilo acontecera. Sua amada Renata... não, não podia ser. Mas ela não fez a menor questão de negar. Verdade?

Ficaram dias sem se falar, sem buscar explicações. Até que, ao acaso, encontraram-se em uma esquina.
- Pensei que nunca mais fosse falar com você.
- Por que?
- Eu não sei.

Ambos afirmaram, perguntaram e mostraram-se distantes de uma resposta. Diálogo com começo e fim em ambos os lados, da mesma maneira. Perplexos e sem saber ao certo por que havia acontecido, o que havia acontecido. Não tentaram dizer o que poderiam dizer, coisas do tipo 'eu não conseguiria ficar sem nunca mais falar com você'. Não, nada desse tipo foi dito, nada além de um recíproco 'eu não sei' foi dito.

Então de mãos dadas, seguiram o mesmo caminho, sem destino, juntos. O que aconteceu ao certo ninguém sabe. O porquê desse desentendimento. Motivos, razões, explicações. Nada. Não fingiram que nada aconteceu, apenas continuaram de onde pararam, deixando de lado o que eles não precisavam lembrar. Não tentaram explicar-se, pedir desculpas, nada.

Continuaram de onde pararam. Por que explicar esse desentendimento todo se não conseguiam explicar tudo o que acontecera no tempo em que estavam longe? Algo muito maior havia entre eles e não podia ser explicado. Havia motivos para tentarem explicar algo tão insignificante?

Não. E seguiram o mesmo caminho. Juntos, porque algo verdadeiro os unia.



*Não se pode apagar o passado. 
E mesmo sem um presente ou mesmo uma perspectiva de futuro, 
o passado continuará existindo, pois ele foi vivido. 
E tudo que for indescritível, 
de tamanho imensurável, de sinceridade inegável, 
jamais será apenas passado. 
Mesmo que não seja um presente vivo, 
jamais será apenas passado 
e jamais será apagado.

Fim de ano, começo de ano. Tá, e daí?


No ano passado eu elegi os 10 textos que eu mais tinha gostado de escrever nele. Não vou fazer isso. Os marcadores estão aí ao lado, e também, eu nem escrevi tanto, embora considere os textos deste ano melhores dos que os do ano passado.O que posso relembrar desse ano? Muita coisa.

Muita coisa importante, boa, fantástica, sincera, verdadeira. Mas muita coisa ruim, pensamentos, agonias, tristezas, mágoas e decepções. Ano de contrastes, como qualquer outro. Não para mim.

Acho que num possível balanço nunca vivi um ano tão ruim. Com tantos momentos ruins. Entretanto a intensidade do que foi bom, do que é bom de ser lembrado(mesmo que no fundo acabe não sendo muito bom), acaba encobrindo o que não precisa ser lembrado.

O que aumenta consideravelmente a sensação de que sou um grande perdedor é muito mais em quantidade do que intensidade. Muita coisa, sem muita profundidade. Porém, preciso fechar os olhos toda vez que preciso deixar de lado isso para sentir o que realmente foi bom, para lembrar do que é necessário, importante e, mesmo que pareça contraditório por motivos que não serão escritos, fundamental.

Ano ruim? Não sei. Com muitas coisas ruins, como nenhum outro ano havia trazido. Mas intensamente produtivo, pela mente, pela intensidade de alguns sentimentos, pela comprovada sinceridade de outros, pela evolução e desabrochamento de alguns ideais, pelo aperfeiçoamento de sonhos, de realizações, de reflexões e vivências.

Cada um define o seu ano como quiser. Ou não defina, isso não muda absolutamente nada, porque o ano não vai agradecer por você elogiá-lo, não vai existir mais alguns dias além do que ele têm que durar por ter sido chamado de bom, disso ou daquilo.

Sem nostalgia. Até porque, nem todo mundo sabe o que é isso.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal

Mesmo que as minhas palavras nada valham, mesmo que não faça diferença alguma qualquer coisa que escrevo, como alguém que importa-se com o que é importante de fato, preciso fazer hoje o que não farei amanhã. Não vou criticar ou escrever palavras raivosas e sinceras sobre o capitalismo e o maldito papai noel.

Como a vida não tem sido a melhor, a situação não tem sido a melhor, a sensação e os sentimentos não têm sido os melhores, não quero mais exprimir lamentos, palavras tristes, mesmo que isso seja a única coisa da qual sou capaz nesse momento, principalmente ontem e hoje.

De volta à vida, mas ainda assim longe dela, pois longe de mim estou.

Só desejo Feliz Natal, que o nascimento do menino Jesus Cristo, salvador do mundo, traga esperança, fé e amor aos nosso corações. Que possamos abrir esses corações, que mesmo não estejam bem ou mesmo inteiros ou com os melhores sentimentos, para que esses corações recebam o Espírito Santo, e se deixem guiar por ele, para que encontremos a verdadeira felicidade nos verdadeiros sentimentos, com as verdadeiras e mais sinceras intenções.

Mesmo que o amor não seja aquilo que poderia e, quem sabe até, deveria ser, não há razão, por mais racional que seja, que possa impedir-nos de acreditar que ele nos aproxima do bem, da verdade, de Deus.

E haverei de entender a frase que Ele me disse num dia desses:

"As coisas certas, nos momentos certos, para as escolhas certas."

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Histórias de uma vida não vivida(14)


*Nem a maior preparação, os mais intensos treinamentos, as mais cautelosas preocupações e todos os cuidados possíveis são capazes de evitar que algo dê errado na hora, ou mesmo antes da hora do combate, da disputa, de qualquer duelo, contra o melhor do mundo, o companheiro de bar, o vizinho ou consigo mesmo. Não há como evitar que erros sejam cometidos, que as coisas aconteçam erroneamente ou nem aconteçam. Você não pode confiar totalmente em alguém, porque todos um dia erram, inclusive você.

Saiu de casa apenas com uma mochila nas costas. Mochila? Aquilo mais parecia um pedaço de pano enrolado e com as extremidades presas por algumas coisinhas que pareciam grampos. Saiu de casa sem levar roupa ou comida na mochila. Tinha apenas um livro, um cartaz de publicidade e umas poucas moedas. Era com aquilo que viveria, na melhor das hipóteses, as próximas semanas.

Em busca de um sonho. Sonho que seu pai lhe ensinou a sonhar. Um sonho que veio de seu avô e chegou até si. Inicialmente apenas um sonho, mas ele viveria e faria tudo para realizá-lo, por si, por seu pai e também por seu falecido avô. Lutaria, faria guerras, moveria montanhas e cavaria buracos intermináveis se fosse preciso. Não mediria esforços.

Chegando na cidade grande após dias e mais dias de viagem, nada viu. Não havia uma pessoa na rua. Estaria no lugar errado? Viu as placas, mas não sabia ler. Não sabia o que eram muitas daquelas coisas. Só sabia que queria lutar, que precisava lutar, que seu sonho era lutar e conquistar o mundo com lutas. Lutas justas. Lutas onde provaria seu talento, seu valor, sua força, sua coragem, seu sonho.

Sem saber para onde ir, quase morto por dias sem comer, parado na entrada de uma cidade vazia. Não sabia para onde ir, como ir, o que fazer. Sentiu um cheiro de comida e, com um instinto olfativo que mais parecia de um cachorro, foi até o cheiro. Mas não pode comer, suas moedas não foram aceitas, embora fossem do ouro mais puro extraído no pé da montanha onde vivia. O que faria? Não sabia para onde ir.

Tentou falar com o homem, mas não conseguia. Sua voz o abandonara, parecia não ter mais garganta, tamanha fome e sede. Sem poder dizer nada, saiu do local e olhou para os céus. A chuva era iminente. Chuva? Tempestade. Dito e feito. Malemal chegou ao final da quadra e, mais uma vez sem saber para onde ir, começou a chover. Temporal forte, chuva de granizo, raios ensurdecedores. Os boeiros começaram a entupir, o nível da água na rua começou a subir, e ele, mesmo guerreiro, estava com fome, fraco, sem saber para onde ir.

Perdido. Desiludido. Aquilo então era a cidade grande, onde ele poderia lutar e realizar seus sonhos. Aquilo. Enchentes também aconteciam perto de onde morava, então por que não poderia conquistar o mundo ficando em sua casa, com seus pais, bem alimentado e sem todo aquela terra cinza que fazia quase sangrar seus pés descalços. A aparência era diferente mas as coisas eram iguais.

A enchente tornou-se uma catástrofe natural de dimensões gigantescas e prejuízos incontáveis. E ele lá, afogando-se no meio de um lugar que nenhuma esperança de vitória lhe dava. Seu sonho ficava cada vez mais distante, mas ele não desistiu. Subiu na estátua do presidente do país que estava na praça, também inundada e ficou sentado lá. Esperando que o nível da água baixasse e que então ele pudesse procurar alguém que pudesse lhe ajudar com seu sonho.

Não tinha mais forças. E a situação piorou quando um helicóptero da televisão mais assistida do país o filmou. O povo considerou aquilo um atentado contra o governo, o início de uma revolta. Ele não falava a língua da maioria, saíra do interior falando apenas um dialeto local. Vinha de longe, não sabia nem que onde vivia era um país. O que era um presidente então? Ele sequer entendia essas palavras.

Então a enchente já não importava mais. O que importava para o povo, para o governo, para o mundo era que algum rebelde estava sentado na cabeça da estátua do presidente. Fazer protesto durante uma enchente era algo inconcebível para todos, mas acharam que era isso o que ele fazia lá. Aproximaram-se e tentaram conversar, mas ele nada dizia. Não tinha forças, não tinha mais esperanças.

Então, quando ele colocou a mão na sua 'mochila' de panos completamente encharcados, atiraram e mataram-no. Ele puxaria uma arma daquela sacola de pano, pensaram. Que nada. Queria mostrar a eles o livro, o cartaz, por que estava ali. Sua voz, que já não era ouvida desde que ali chegara, calou-se de vez. Seu sonho de conquistar o mundo lutando, de maneira justa e sem ferir ninguém a ponto de matar, acabara ali. Uma arma foi colocada propositalmente em sua sacola para justificar o tiro. Mataram-no sem razão alguma.

Para onde quer que tenha ido, levou consigo seu sonho. Queria ser um lutador, daqueles que quebram madeiras com as mãos sem dificuldade alguma. Queria apenas conhecer o mundo lutando, justa e honestamente. Não teve tempo de pensar que seu sonho acabara ali, que sua vida acabara ali. Não teve tempo. De lutar, de sonhar.

O mundo conspirou contra si. As pessoas não o conheciam mas já o odiavam. Sem apoio, sem ser entendido, sem ser reconhecido. Mas é provável que, se algum dia alguém encontrar com ele no céu e perguntar 'você teria ficado em casa, bem alimentado, trabalhando com seus pais e vivendo longe do mundo se soubesse que morreria daquela maneira?', ele responda 'jamais, pois assim teria abdicado de viver, mesmo que por pouco tempo e da pior maneira possível, um sonho que não era apenas meu'.

É provável que sejam os sonhos sem sentido de existirem, aqueles cuja possibilidade de não serem realizados beira a totalidade, sejam a única coisa que ainda haja em pró da esperança. O que não depende de nós faz com que essa esperança seja ainda mais importante. Porque acreditar na possibilidade é racional, acreditar no quase impossível é esperança. Com uma grande enchente de loucura.

Reflexões de um maluco(8) - Vôos sem asas de sonhos vivos


Quanto mais se pensa mais se pensa. É como um pacote de goma. Você come uma e depois outra e quando vê, sobraram apenas meia dúzia daquele pacote imenso. Ou como salgadinhos em festas de criança, você vai comendo e comendo até que começa a passar mal por não conseguir mais comer, e ainda assim, mesmo mal, come mais um antes de ir embora, passar a noite inteira mal por ter comido demais. Pensamentos são assim, vem um, e outro, e outro. Principalmente quando você busca por eles.

Busca rápida, pois mesmo sem querer você já está pensando, raciocinando, tentando movimentar seu corpo, seus olhos, ou qualquer coisa em você. Talvez até você consiga mesmo um dia movimentar seus neurônios de um jeito útil. Ou talvez o faça apenas como eu, que movimenta os neurônios buscando respostas para perguntas inúteis, provavelmente sem resposta.

Neurônios que se movimentam desorganizadamente mesmo que você queira organizá-los. A maioria das mentes que pensa, ou tenta pensar com fundamento, é uma grande bagunça. Isso é apenas o reflexo do cérebro, da mente, ou seja lá qual for o lugar onde estejam os neurônios que devem habitar as cabeças dos seres... humanos?

Como um raciocínio lógico, uma retrospectiva histórica, as causas e consequências do efeito estufa. Ligações rápidas, fáceis e nem sempre conclusivas. A lentidão perante o tempo é ignorada por mais uma série de pensamentos que faz análises e mais análises em um tempo que não existe. A possível quarta dimensão e o provável sétimo sentido nos levam a crer que nada é impossível, ainda mais se neles, ou mesmo que muito distante deles mas ainda assim na nossa mente, estejam sonhos.

E enquanto um desejo, um sonho, uma vontade for sincera e assim sentida de coração aberto, não há nada que venha a ser impossível, nem mesmo o vôo sem asas, do tempo ou da própria pessoa. Acreditar que o irreal existe não é mais do que um pequeno ataque de insanidade, embora quem viva o irreal já tenha passado dessa insanidade para um estágio que não possui adjetivo.

O fundo do poço e as nuvens do céu estão muito mais próximas do que neurônios infinitamente próximos, e ao ainda assim com uma dificuldade imensa de trabalharem juntos, podem chegar à conclusão. Porque neurônio algum, mente alguma, conseguirá acabar com o vazio, a solidão ou a sensação de que tudo, seja lá qual for o tudo, está perdido. Mas apenas uma gota de sangue que é impulsionada para fora de um coração vivo é capaz de mudar isso. Mil neurônios contra uma gota de sangue. O que se pensa e o que se sente.

Ambos aumentam exponencialmente sem precedentes ou razões. E não há como controlar. O tempo não controla, não diminui e muito menos apaga. A razão e a emoção são dois adjetivos meramente ilustrativos. Porque os pensamentos fluem na bagunça mental e transformam-se em ações, atitudes e palavras, e as gotas de sangue jorram para todo o corpo levando força, vontade e, se com sinceridade, sonhos que nenhum neurônio sequer conseguirá provar serem impossíveis.

Sonhos que o espírito eleva aos céus, onde, nem que seja apenas lá, há o vôo pleno, a elevação, o surreal, a vivência imaterial. A fé e a esperança mais pura.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Frase do dia e alguma coisa dos últimos meses

(ao som de Magic bus - The Who)

É como ganhar uma bala como prêmio de consolação por não ter conseguido o bombom. (escrita originalmente no meu twitter)

Não tentem entender. Não me peçam por quê, como, onde, para que. Não me peçam de onde veio, com que intenção foi escrito, qual sentimento foi colocado nele. Não me peçam nem como ou onde estou e nem para onde vou. Não me peçam nada. Eu não sei de nada. Nada do mundo, nada de mim. Distante de quase tudo. Sem perspectiva. Sem reclamações também. Eu já nem sei mais, o que, para que, por que, como, onde, ou qualquer outro motivo, razão, ideia, origem ou entendimento.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Histórias do Billi J. - Frase do dia




" Em momentos como esse eu acredito ser verdade a frase 'tudo na vida é uma questão de logística' " 


- Billi J., 
após ter seu pedido, 
de que todos os itens que havia comprado no mercado fossem colocados em uma única sacola, 
atendido.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Histórias de uma vida não vivida(13)

(ao som Yesterday - The Beatles, composição de Paul McCartney)

*Que credibilidade pode ter um louco que parece viver em outro mundo, que sonha acordado e fala alto e que não consegue, de maneira alguma, livrar-se de um sentimento, o mais sincero possível, mas que, por muitos motivos(desconhecidos), apenas sensações e sentimentos estranhos tem trazido para sua vida? Que credibilidade pode ser dada às palavras desse louco, desse insano, desse idiota? E ele ainda fala que acredita em um mundo melhor, mais justo. Ele sonha com isso. Ele acha que pode dar algum bom exemplo, mostrando como as coisas podem ser feitas para que a humanidade seja uma palavra que represente muito mais do que um grupo (quase) incontável de humanos. Ele é louco. Ele é insano. Ele, ou eu?

O supermercado estava lotado. Muito barulho, muitos ruídos, pessoas conversando, outras tantas reclamando do preço, da vida, de outras pessoas. Música de fundo terrível, som que faz doer qualquer ouvido e latejar a mente de qualquer um que aprecia uma boa música. E ele ali no meio dessas pessoas, desse barulho, de todas aquelas mercadorias mas, ao mesmo tempo, distante disso tudo. Não procurou nada, pois já sabia onde estavam os três itens que precisava. Não fez pesquisa de preço nem nada, queria mais era sair dali.

Fila no caixa e ele continava alienado a tudo aquilo. Até porque, Yesterday tocava no seu MP3 a todo volume, mesmo que a guria que estava atrás dele na fila lhe oferecesse tudo, ele não ouviria. Não tinha medo de ignorar alguém sem querer por não ouvir nada do que pudessem lhe falar já que, ninguém o conhecia, ele não era popular, rico, bonito, não era nada. Era apenas alguém que fora no mercado comprar algo que precisava. Só.

As pessoas o olhavam de um jeito estranho. Talvez fosse pelo excessivo suor, talvez fosse pela enorme caixa de sucrilhos que havia comprado ou talvez fosse porque ele cantava em voz alta. Parecia estar falando com alguém, já que, sem medo, olhava para as pessoas nos olhos. Era direto, simples, talvez até aterrorizante e amedrontador. Não que sua intenção fosse essa, mas o que pudesse parecer, não mudava. Ele não se importava com o que alguém pudesse pensar. Seria só mais um no meio de uma multidão de gente normal que acha que todos os que fazem o que lhes faz bem são loucos, idiotas, estúpidos. Sociedade patética...

Duas moedas a mais no pagamento, saiu dali normalmente. Até que alguém lhe olhou no olhos e lhe falou alguma coisa. Sua fortaleza intransponível de música, ouvida e cantada, e de isolamento no meio da multidão havia acabado. Não conhecia o sujeito, mas resolveu tirar os fones e ouvi-lo. Uma moeda. Aquele sujeito mal vestido lhe pediu uma moeda. Olhou-o nos olhos apenas por uma moeda. E ele tinha aquela moeda, de 1 real na mão. Na mesma mão e que segurava a sacola. Mas não queria dar. Aquele dinheiro era para as fotocópias(xerox) do dia seguinte. E aquele homem que fosse trabalhar.

O dia não tinha sido bom. Apesar de toda imensidão da obra de Deus saltando às vistas de todos aqueles que tinham dois olhos em funcionamento, dentre os quais ele, o dia não tinha lhe trazido boas sensações, muito menos boas lembranças. Estava cada vez mais distante do passado. Mais distante do presente. Mais distante do futuro. Quase um morto vivo, literalmente. E aquele sujeito lhe pedia uma moeda ainda! Era o fim. 'Será que Deus está brincando comigo agora?'.

Disse ao homem que não tinha mais moedas. Nem uma moeda. O homem lhe agradeceu, sentou novamente no meio fio e ele seguiu caminhando. Dobrou a esquina e, na metade da quadra parou. Não entendeu por que, mas parou. A cabeça pesou. O coração parou de pulsar. Seria tudo isso, toda essa sensação de se estar carregando uma bigorna apenas fruto de não ter dado aquela moeda àquele mendigo? Não entendeu. Sentiu-se sujo, normal, apenas mais um ser humano. Sentiu como se aquilo fosse o fim do mundo, da sua vida, dos seus sonhos. Tudo sumiu, e ele parado, pensando.

Olhou para cima e voltou. Caminhou um trecho considerável e entregou a moeda ao homem. Virou as costas sem ouvir resposta alguma, os fones estavam novamente nos seus ouvidos e, mais uma vez, o que lhe dissessem não seria ouvido. Não importava. O peso que perdeu quando se livrou daquela moeda era inacreditável. Mais um pouco e poderia voar de tão leve.

Por uma moeda. Para alguém que talvez nem precisasse tanto. Apenas por um olhar no olho, por uma palavra ouvida em um momento de surdez. Pela derrubada de uma barreira mental, criada sem sentido algum por todos aqueles que lhe cercavam. Indiretamente ou não, deixara-se afastar do mundo por ter aceitado o que faziam com ele.

Voltou para casa e continuou pensando naquilo. Não fazia sentido.

E concluiu: "a minha vida perderia todo o resto de sentido que pode ter se eu tivesse deixado de ajudar alguém que me ajudou apenas porque ninguém mais faria o que fiz. Não mudei o mundo, mas pelo menos agora me sinto orgulhoso por poder dizer que não preciso me afastar de tudo para poder provar que é possível sim fazer a diferença. Por mais que ninguém veja."


E, sozinho, sorriu.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Não há nada a ser dito além disto.

No olho do furacão, no centro do universo. 
Um simples grão de areia numa dimensão inimaginável. 
Por mais que esse grão queira, 
e com muita boa vontade tenha a remota possibilidade, 
não será nada além de um miserável grão de areia em uma praia, 
que dirá na dimensão do universo. 
Não há um centro do universo, porque não se sabe até onde ele vai. 
Então como um grão de areia pode querer sê-lo?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Beirando a insanidade(2) (ou mergulhando nela)

Uma raiva incontrolável, uma decepção indescritível e um cansaço físico que quase me fez parar.

Uma palavra quase final, como se fosse um atestado de desistência. Várias e várias palavras que tanta verdade continham mas que, no fundo, eram indesejadas.

A distância do coração e a ausência nova, agora de um cérebro.

De certa forma, uma redenção, um alívio. Uma música, cantada, uma foto vista com os olhos fechados, uma lembrança pensada, um sentimento humano.

Vida.

E nem interessa se há viver nisso. Tantos detalhes, tantos motivos para dizer 'chega, desisto', a tal da maré jogando para baixo. Pedras sendo atiradas e eu sem meus escudos, sem minhas espadas, sem a minha força. Indefeso, sozinho.

E ainda assim, vivo.

A cada dia caminho mais tempo junto com a insanidade. Aquela coisa que no fundo ninguém explica porque ninguém sabe o que é, mas quem sabe o que é só o sabe porque acaba vivendo um pouco dessa insanidade, ou com um pouco dela, ou em parte dela. Difícil explicar o que é, como é. Viva isso, um dia você me entende. Se é que já não está entendendo.

A distância entre o real e o irreal, entre a fraqueza e a força, a solidão e a companhia. Tudo isso é mínimo, se é que existe distância. Os olhos não vêem aquilo que deveriam ver, mas sim aquilo que alguma coisa os manda ver. Alguma coisa maior, também sem explicação. Dizem que isso é fé, que isso é amor, que isso é saudade, que isso é apenas um sentimento, qualquer que seja ele.

Dizem e digo. É alguma coisa. Alguma coisa espontânea, alguma coisa sincera, que transforma uma possibilidade de pior dos dias em um dia de vida, um dia de percepção, de fortalecimento daquilo que nunca enfraqueceu.

O esquecido que foi lembrado sem intenção. A espontaneidade mental que prova que ainda há um cérebro, ainda existem neurônios, mesmo que eles não sejam muitos  não façam grandes coisas. Um sentimento, dois sentimentos, vários sentimentos. Com o adjetivo da sinceridade por perto. Sinceridade que prova serem reais.

Real e imaginário, o que se vê e o que se imagina, sentir plenamente ou apenas da boca para fora. Insanidade.

Cantar, lembrar, pensar, sonhar, sentir. Sem sair da mesma cadeira onde antes tudo parecia tão difícil, onde antes o dia parecia ter sido terrível. Onde antes o cansaço prendia, fixava, como se houvessem colado-a em ti.

Insanidade.

Talvez não haja ainda viver da maneira que havia, e que um dia haverá. Mas há vida. Há um coração, um cérebro, há uma alma.

Há a sinceridade, as lembranças, o amor.

E as palavras.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Histórias do Bandiolo - alguém já viu esse filme?

- Mãe, e a Ana?
- Querida demais, um doce de pessoa. Gostaria muito de tê-la como nora.
- Hum... e a Marina?
- Simpática que só, um sorriso imenso.Gostaria muito de tê-la como nora.
- Fabiana?
- Muito inteligente, conversa sobre qualquer assunto. Gostaria muito de tê-la como nora.
- Júlia?
- Linda ela, olhos azuis que encantam qualquer pessoa, voz suave e gestos amáveis. Gostaria muito de tê-la como nora.
- E quem você não gostaria de ter como nora.
- A Sabrina.
- Por que?
- Não sei, ela me parece muito arrogante. E com aquele ar de superioridade, fala tudo o que vem na cabeça. É uma inconsequente, não tem noção do que as palavras dela podem causar. Aquele cabelo dela também não me agrada, parece que ela não se cuida. E ela fala e fala e fala e fala. Como se fosse uma tagarela. E reclama demais viu. De todas as gurias que já vieram aqui em casa, fosse por amizade ou com segundas intenções, ela é a que eu não gostaria que entrasse pra família. Ouviu bem?
- Mas vocês nem conversaram direito, como pode criticar tanto ela?
- Eu achei e pronto. Você sabe que a primeira impressão é a que fica para mim, então. Escolha uma das quatro primeiras, a Sabrina não, ela não é mulher para você.
- Mas ela tá terminando o doutorado, tem um emprego fixo, é dedicada, sempre me fez companhia, não comete excessos nas festas, sabe fazer o trabalho de casa e disse que você parece ser legal.
- Ela disse? Tá querendo puxar o saco.
- Mas m...
- Não, você não tá querendo me dizer que...
- Sim mãe, estou namorando com ela.

domingo, 29 de novembro de 2009

Histórias de bergamota (12)

Perguntei para minha mãe como eu nasci. Ela não sabia responder. Perguntei ao meu pai. Ele também não sabia. Então fui perguntar ao meu avô, a mais sábia alma que eu conhecia, mas ele também não sabia me explicar com eu nasci. Cegonha, couve-flor, nada disso é verdade, sabia eu. Como eu nasci? O que aconteceu quando nasci? Por que ninguém sabe me explicar?

Depois de algum tempo, percebi que meus pais não eram meus pais. Meus avós não eram meus. Todos eram meus irmãos. E aquele sábio não era nada meu, porque era uma laranja do céu.

Ninguém sabia me explicar como nascem as bergamotas. Por não achar uma resposta sensata para o 'de onde vim', decidi definir logo o 'para onde vou' e, sem fazer esforço, caí no chão, sendo ajuntado por um xeba, que me descascou e chupou todo o meu suco.

Eu sou uma bergamota, e essa pode ser a minha história.

*escrever coisas como essas me afasta um pouco daquele sentimento de vazio total

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Uma grande quantidade de nada

(O amanhã colorido - Cidadão Quem - trilha sonora do texto e da(com boa vontade) reflexão de hoje. Ótima música e ótima letra)

*Para sonhar é preciso apenas viver. Mesmo que o sonho não se possa viver. E mesmo que o viver não passe de um sonho.

Muita coisa já escrevi, já apaguei, já lembrei e já pensei.

Tanta coisa que não sei de mais nada. Como nunca soube de tudo. E nunca saberei.

Nunca precedido de verbos no futuro é algo perigoso e, no mínimo, impreciso. Seja qual for a pessoa. O verbo. O nunca.

Porque o nunca nem sempre é nunca. Assim como o sempre também não o é por completo.

Exceções, malditas e benditas exceções.

Tempo que não será assunto hoje. Não intencionalmente.

Porque acho que todos já sabem que eu tenho uma raiva imensa do tempo. E pena daqueles que nele, ou seja, no tempo confiam.

E não é só por esperar e não viver. É por achar que o tempo vai fazer aquilo que a própria pessoa precisa fazer.

Comodismo? Não. Sinceramente, é falta de vergonha na cara. Falta de coragem, de sinceridade, de vontade.

Eu disse, o tempo não deveria estar aqui.

Porque ele não é o culpado pela volta de alguns problemas que eu tinha, e agora voltei a ter.

Olhar para o chão enquanto falo com alguém ou alguém fala comigo. Falta de educação? Não. Problemas relacionados à timidez.

Tique nervoso no pescoço cada vez mais intenso, cujas dores musculares(óbvio, no pescoço) são cada vez maiores. Engraçado? Não. Irritante e inexplicável.

Um aumento progressivo na ansiedade, sem motivo algum, e na preocupação, que não é com a necessidade de notas ótimas em provas tiradas do inferno.

Voltaram. Ou começaram. Piores do que eram, do que outra haviam sido.

Frases. Voltas, mudanças.

Continuo na mesma. No nada. Num deserto de tudo e nada. Só não consigo achar o tudo.

No meio de um oceano. De desilusão? Talvez. Talvez seja um oceano de desmotivação. Tudo tão parado, a água, o sol, o vento.

Sem rumo, sem destino, sem saber onde estou. Perdido.

Em mim.

O que era ruim piora.

E o que alguém pensa que mudou continua a mesma coisa. E, sabe-se lá o mente que deveria colocar aqui, acaba aumentando.

Talvez esse aumento, sem percepção, sem valorização, sem retribuição seja o pior.

Talvez.

Porque se eu não sei nada, ou quase nada, não posso, ou não é provável, saber.

Lamentação. Mais do que tristeza.

Desmotivação, mais do que pareça.

Frases. Recurso muito utilizado no passado e só re-utilizado agora porque o texto escrito antes havia ficado terrível.

Enfim.

Deve haver um propósito nisso tudo. Escolheria sempre o mesmo caminho, quantas fossem as vezes repetidas.

Sempre o mesmo caminho porque algo maior existe sim.

E só um cego, ou alguém que se faz de cego, não vê, e não... entende(ou qualquer coisa do tipo "cai na real") o que é isso.

Depois não entende por que tanta coisa ruim vinda de mim.

Não esperem nada de mim. Nem um texto bom consigo escrever. Nem um pensamento bom consigo.. pensar. Nem um sonho bom consigo imaginar, que dirá realizar.

Se bastasse a inconformidade, a vontade e a sinceridade, eu não estaria aqui. Se bastasse qualquer razão, qualquer motivo, qualquer prova, eu não estaria aqui.

Por mim, e também não por mim.

domingo, 22 de novembro de 2009

Não é bem assim (8) - voltando a estragar frases feitas

Se não for pra me fazer voar bem alto, não me faça tirar os pés do chão.


Começando essa análise bem simples e simplificadora, vamos levar em conta que essa frase deveria ser apenas dita para pilotos de avião, ou veículos que voem. Mas em todo o caso, levarei em conta o lado patéticamente figurativo dessa frase.

Vejamos, para quem assiste filme, sabe que durante cenas impróprias para menores de 18 anos os caras, ou mesmo as mulheres dizem 'vou te levar pro céu'. Então. No caso não é nesse sentido, mas poderia ser, o que desmoraliza a frase(e, o que não muda nada, o blog).

Hum...

Agora, com um abraço bem apertado pode-se tirar os pés de alguém do chão. Mas a pessoa não vai voar. Então quem diz isso não gosta de abraços bem apertados que as fazem levantar. Que bobagem. Que grande bobagem. Bom, não posso fazer nada. A frase é uma bobagem por completo.

Vamos ver. Voar, felicidade grande, alegria, êxtase(não confundir com aquelas drogas de plaiboizinhos e patricinhas alucinados e, óbvio, estúpidos). É, acho que há uma relação. Bom, se não é para fazer a pessoa feliz, nem chegue perto. Por aí né? Tá bom.

Se não é pra fazer a pessoa viver, de fato, alguma coisa indescritível, nem comece a dar indícios de que pode ou quer isso.

É isso?

Talvez seja, mas não fica claro. Muita gente burra há no mundo. Muita gente burra fala português. Muita gente burra usa orkut e/ou procura essas frasesinhas feitas sem razão alguma. É patético esse tipo de frase que todo mundo usa. Por isso ironizo(na falta de outro verbo) elas. Mesmo que a ironia seja tão ruim quanto a frase.

Mas que não fica nada muito claro na frase, não fica. E que gente burra não entende essa  frase direito(seja lá qual for o direito dela)(talvez seja a última tentativa de explicação que eu escrevi).

Eu precisava escrever uma grande bobagem sem fundamento ou sentimento algum. Era isso. Foi isso.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Histórias do Bandiolo - Para não ficar só no tchau

Olhou-a e despediu-se. Sem beijo, abraço, nada. Nem aperto de mão, olhar nos seus olhos ou qualquer outro tipo de afago. Nada. Estava atrasado e, acima disso, magoado. Não importava mais o que ela lhe fizera, as coisas ridículas que ouviu daquela boca que quando sorri ilumina cavernas profundas e escuras. Não importava mais o que lhe fizera pensar, sentir. Passado.

Mas ainda estava magoado.

Sentiu-se a pior pessoa do mundo por aquilo. Sentiu-se pior do que a pior pessoa do mundo sentiria-se. Senti-se como se fosse... de fato, a pior pessoa do mundo. Como se tivesse cometido o pecado mais grave, a falta mais dura, dito a maior blasfêmia e provocado a pior das dores. Sentiu-se como se fora culpado de algo que nem ao menos sabia o que era. De algo que, de fato, percebeu não existir.

Fora acusado, incriminado, culpado, criticado, ofendido, destroçado e destruído. Sentiu-se tão mal que não sabia como em tão pouco tempo voltou a estar com ela. Sabia, mas não queria saber. Não queria entender. Era injusto. Não merecia ter passado pelo que passou, sentido o que sentiu. Sensações estranhas. Sentimentos profundos. Tristeza. Mágoa, mágoa, mágoa.

Despediu-se como se ela não fosse mais do que uma empregada de seus pais e, por consequência, uma empregada sua. Despediu-se como o dono se despede do cão.

"Tchau."

Virou as costas. Precisava fazer aquilo. Deixar aquela impressão de que ele poderia fazer o mesmo, embora ela não fosse sentir um centésimo do que ele sentiu. Era uma forma de vingança, para ele era. Indiferença. Sentimento terrível. Tantas vezes sentia como se estivesse há anos-luz dela mesmo estando abraçados. Agora era a sua vez de retribuir. Tchau e nada mais. Isso mesmo, sentia-se agora bem.

A mágoa passou. Rápido demais. Parou, pensou bem, refletiu e sentiu-se mal. Parecia que algo estava lhe chamando, embora ela estivesse quieta. Será que ela se arrependeu? Será que falará alguma coisa, que pedirá desculpas? Não. Ele não vai fazer nada disso, sabia ele. Deixou de lado o orgulho que era próprio dela e sentiu-se aliviado por ter desistido de tentar fazer o que, de fato, nunca quis fazer.

Voltou e beijou-a. Para não ficar só no tchau. E para não se arrepender e sentir-se mal por ter dito apenas uma palavra na última vez em que a veria naquele dia.

Voltou e nem foi mais, sabe-se lá o porquê...



*O autor acha textos como esse, 
escritos em dias como esses, 
patéticos, 
e não esconde sua preferência 
por textos postados com verdadeiros sentimentos 
e um algo a mais de explosão, 
que nesse caso não passa de uma espontaneidade sincera,

e cheia de... enfim.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Só para constar, de passagem

(não levem em conta esse texto. Não o leiam. Sério. Eu não o escrevi para que alguém lesse. Escrevi para tentar cuspir para fora alguma coisa que hoje me impediu de pensar, de sonhar, de tentar, de fazer. Leiam os textos abaixo. Tenho escrito cada vez menos, mas tenho gostado cada vez mais do que escrevo. Sério, não leiam esse texto, pulem para o próximo, ou achem no histórico ou nos marcadores algo que lhes interesse. Nesse ano escrevi pouco, mas insisto, menor quantidade com maior realização. Realização? Sério, não leiam. Esse texto está aqui apenas, também, para que o blog passe pelo mesmo que eu passo.)

Acho que devo desculpas a quem lê o blog. Acho que devo desculpas a quem comenta no blog.

Tempo até eu tenho, pouco mas tenho. Estudo bastante, muito mais do que havia estudado em toda a minha vida. E mesmo somando todas as horas de estudos antes da faculdade, do fundamental e do ensino médio, não conseguirei chegar perto do que tenho estudado aqui.

O que tem faltado é cabeça. Para escrever, para comentar, para responder. Um ou outro desabafo consigo fazer no twitter, mas falta muita coisa. Faltam textos, palavras, atitudes. Na cabeça. Nesse espaço onde eu acredito estar alojado um cérebro. Talvez não haja nada lá, mas um dia houve. Se não espirrei tudo aquilo, então ainda possuo uma massa cerebral. Isso é complicado.

Faltam motivos. Ou não. Ou faltam olhos, ouvidos, tato, coração. Não sei. Talvez não falte nada. Talvez falte tudo. Generalizar não vai me ajudar. Reclamar não vai me ajudar.

Engraçado, nunca precisei desses ou daqueles motivos, para qualquer que fosse o verbo subsequente, mas agora sinto que chegou a hora de tê-los para continuar. Continuar algo, alguma coisa. Não sei. Eu já não sei. Não sei se preciso fazer algo, se preciso pensar, se preciso rezar, se preciso estudar. Não sei do que eu preciso.

Não sei como ainda levanto da cama(e hoje demorei mais de meia hora para levantar). É sério, desmotivação total. Um vazio. Um sentimento de nada incomparável.

Falta motivação, falta vontade, falta muita coisa. Muita coisa que eu não faço a menor ideia do que pode ser, do que é. Desiludido, perdido, deprimido. Não sei. Falta de sonho, de vontade, de sentimento, de coragem. Acho que não. Mas não sei. Incapaz. Vem à tona a maldita síndrome passada. Sensação de segundo lugar estúpida, pois não há qualquer tipo de competição ou algo que eu possa perder nesse momento na minha vida.

Um vazio que toma conta de alguém que nunca foi nada além de um maluco. Estranho, diferente. Cheio de teorias, de frases, de ideias, de ideais, de sonhos. E agora nada disso é motivo. Nada disso faz sentido. Nem isso nem a fé. Muitos hoje, se estivessem como estou, diriam 'Deus não existe" e isso e aquilo. Que gente mais estúpida. E mais deprimente que eu. Conseguem ser piores, ser pessoas piores.


Eu realmente não sei onde estou. Não sei onde fui parar. Mas não é culpa de Deus. Talvez amanhã um raio de sol bata no meu olho e me mostre onde estou, para onde preciso ir ou mesmo, o que já me seria suficiente, para onde quero ir.

Desculpa pessoal. Até poderia dizer que já não sei mais quem sou, mas não. Sei bem quem sou. Eu só não sei por quê. Como. Quando. Onde.

Pouca coisa faz sentido.

Aliás, alguma coisa fez sentido hoje, eu lírico idiota?

(escrito em 18/11/2009, mas postado dois dias antes, por questões óbvias)

sábado, 14 de novembro de 2009

Histórias do Billi J. - Tudo sumiu, tudo se foi. Coração que volta a bater.



"Caro amigo Vini Manfio:

Era apenas mais um dia. Acordei naquele dia com a ideia de que seria mais um. 'Just another day', apenas. Rotina de sempre: acordar, ler o jornal, comer, ir par o banheiro, tirar as meias e colocar o chinelo, andar um pouco pela casa, ouvir Kinks nos lp's originais que ele comprei em um leilão na internet, enfim, o de sempre até trocar a camisa, colocar uma calça, os tênis brancos e ir para o trabalho.

Tudo estava tão... normal naquele dia. Normal de habitual, não de comum. O Sol e seu calor intenso e insuperável, as árvores sendo louvadas como maravilhas de Deus pelas sombras necessárias, as crianças indo para a escola e quase sendo atropeladas por motoristas céticos, arrogantes e estressados que acham que se chegarem 10 segundos atrasados aos 5 minutos de babação ao chefe antes do trabalho serão demitidos. As coisas estavam acontecendo como acontecem todas as manhãs.

E eu caminhando. Pensando na vida. Em como estaria o meu coração, que a Renata levou com ela para a Inglaterra. Renata. Namorei outras gurias(puts, agora acho que posso falar em mulheres, mas na época eram gurias) mas nenhuma despertou em mim algo além de um carinho. Bons momentos, mas nada que me traga imensos e sinceros sorrisos quando lembro. Pessoas legais, mas nenhuma como a Renata. E como eu sentia falta dela.

Mas então. O dia seguiu normal. O trabalho, normal. Nenhuma grande incomodação. Fiz o que tinha que fazer, almocei, voltei ao trabalho. Nada de mais. Conversei pouco com aqueles porcos hipócritas que me cercam, bando de puxa saco. Malditos. Quando podem, me ferram. Inventam coisas que não tem cabimento contra mim. Quase fui demitido várias vezes. Por isso não converso com quase ninguém.

Enfim. Era só mais um dia. Quando cheguei em casa vi um email. Da Renata. Fiquei feliz que ela tinha me mandado algo. Quando vi que era apenas uma frase quase fechei o navegador. Bom, li, óbvio. Ela pedia que eu ligasse o celular e ligasse para ela. Caramba. Eu ia gastar um bom dinheiro. Ligação internacional. Caro pra dedéu. Mas ela pediu. Talvez precisasse. Adivinha? Liguei, claro. Não aguentei. A sensação de que ela precisava falar comigo falou mais alto.

Liguei. Chamou, chamou, chamou. Estava quase desligando quando ela atendeu. O coração deu aquela bombada, foi sangue para todo o corpo em instantes. Os olhos brilharam, o sorriso veio. Alegria que contagiou meu corpo. Quase não conseguia segurar o celular. Antes que eu pudesse perguntar se ela estava bem, ela me disse que queria me ver. Eu disse que também queria ver ela, mas que não era possível no momento. Ela disse para eu ir na antiga casa dela, pois havia preparado uma surpresa para mim. Eu perguntei o que era e ela disse que, se confiava em nela, iria lá agora mesmo. Então disse que me amava e desligou.

Fiquei sem reação. Estranhei. Pensei e repensei. Por que eu iria lá? Ela não está lá. Ela mora longe daqui. Por que ainda fico alimentando esperanças? Eu continuo amando-a do mesmo jeito que passei a amá-la quando ela me disse oi pela primeira vez, há longos... sei lá. 10 anos. Ninguém no meu lugar iria. Ninguém. Fazer o que lá? Sabe-se lá quem estaria morando lá agora. Quem sabe a Gabriela, minha primeira namorada e prima da Renata. Seria bom revê-la mas, não sei. Pesei tudo que tinha na cabeça. Tudo me dizia para não ir. Mas o "se você confia em mim, vai lá" falou mais alto.

'Coração idiota, por que ainda faço o que me pede?' pensei naquele momento. Mas fui. Antes, tomei um banho, coloquei uma roupa bem normal, bem simples, e saí. No caminho tudo veio à mente. Que surpresa ela teria para mim? Se quisesse me mandar algo pelo correio, saberia meu endereço. Não fazia sentido. Mas eu estava indo. Meu coração e ela me disseram para ir. Fui. Sem pressa. Meu coração batia acelerado. Diminuí mais ainda o passo. Mas ele continuou querendo saltar pela boca. Parecia desesperado, ansioso, mas pelo que? Por uma surpresa que, no fim, não seria nada do que eu realmente gostaria?

Segui. E cheguei lá. Toquei a campainha. Ninguém atendeu. Comecei a ficar irritado. O que ela queria que eu fizesse naquela casa que parecia não ter ninguém dentro? Pensei em ligar para ela. Toquei mais duas ou três vezes a campainha. Vi a cortina se mexendo. Estão chamando a polícia, só pode. Então tentei ligar para ela. Quando começou a chamar, comecei a escutar algo tocando. A nossa música. Beautiful, do Marillion. Era essa a surpresa. Ela me trouxera aqui para escutar a nossa música. Mas ainda não fazia sentido.

Quando a maçaneta da porta começou a girar, pensei que iria ser xingado. Estava cabisbaixo, como quem diz "tá bom, não vou mais incomodar, aliás, não sei por que toquei a campainha". E aquela música foi se aproximando. E eu cantando apenas com os lábios. Quando ouvi uma voz cantando. Não, não podia ser. Eu não conseguia olhar para cima. Meu corpo estava prestes a... sei lá, me abandonar. Comecei a cantar alto aquela música, porque aquela voz parecia ser da Renata. Eu estava sonhando. Só podia. Louco, insano, sonhando com alguém que mora há milhares de quilômetros daqui.

Continuei cantando a música alto, mas aquela voz não saía. Não desaparecia. No último refrão, cantei o mais alto que pude, mas aquela voz continuou. Ela se fez presente comigo naquele momento e eu, por algum motivo, não conseguia parar de olhar para o chão. Que me levassem preso, mas eu não sairia dali enquanto a música não parasse de tocar.

Foi quando a música parou. E eu percebi que a minha ligação estava indo para a caixa de mensagem. Sem perceber, meu celular continuou chamando. Durante toda a música. Não consegui entender como, isso é praticamente impossível. Mas naquele momento fora possível. Não sei. Aquilo me trouxe de volta à vida. Meu coração batia como se fosse um pandeiro numa roda de pagode. Batia mais do que alguma coisa bate no liquidificador. Batia, pulsava, queria sair do peito. Só pela música. Por estar tocando onde estava tocando, na casa onde ela morava.

Era hora de ir embora. Quase tive um infarto, tamanha aceleração cardíaca. Eu devia estar pensando nela, apenas nela, mas conseguia pensar no porquê do meu coração quase ter explodido. E eu nem sequer vi de onde vinha a música. Meus olhos lacrimejavam. Todas as lembranças dela, aquela angústia por não vê-la há anos. Todo amor guardado. Tudo. Todo aquele desejo sincero de estar com ela. Uma lágrima caiu do meu rosto e, antes que eu levantasse a cabeça, ouvi um "Oi".

Eu estava delirando. Definitivamente. Ia ligar para o manicômio. Estava ouvindo a voz da Renata. Mas como não tinha mais nada a perder e, tendo a certeza de estar alucinado em virtude de uma simples música numa casa 'qualquer', resolvi levantar a cabeça e... quase morri Vini. Sério. Ou tinha morrido e não sabia. Ela estava na minha frente. Eu ouvia a voz dela. Mas não conseguia acreditar.

Antes que eu pudesse pensar que era um sonho, ela abriu o portão, se aproximou de mim, segurou a minha mão e, indo no fundo dos meus olhos disse "Eu voltei". Sinceramente, se algum dia o tempo parou, foi naquele instante. Eu não sabia se acreditava naquilo ou o que teria que fazer para acreditar naquele sonho. Eu não sabia de mais nada, nem qual a porcentagem de ácido acético no vinagre(lembra que eu sou engenheiro químico né?). Nada. Mente vazia.

Fazia sentido o coração quase sair do corpo, aquela ansiedade toda. Pressentimento. Dizem que existem essas coisas com pessoas que se amam. Amor sincero e mútuo. Dizem. Talvez não exista. Mas naquele momento qualquer coisa que me dissessem que o amor poderia fazer, eu acreditaria. Se dissessem para me jogar do alto do Big Ban por amor, eu me jogaria. Tudo. Faria tudo. Porque eu não sabia o que estava sentindo mais. Meus pés não tocavam mais o chão, meus olhos já não viam, minha boca não falava, meus ouvidos não ouviam. Eu parei de funcionar. Quase por completo.

Só o meu coração quase explodia. Quase explodiu. Demorei a entender que era ela mesmo. Toda aquela saudade, aquele amor, toda... todo... eu não sei. Jamais vou conseguir explicar o que senti. O que vivi naquele momento. Indescritível, literalmente. Sem palavras. Ela voltara. Para casa. Para mim. Se houvesse um ranking, eu seria o homem mais feliz do mundo. Muito mais do que alguém que ganhara na loteria, que conseguira qualquer que fosse a coisa. Eu era mais feliz que a própria felicidade. Louco, insano, feliz.

Ela tentou me explicar. Eu não pedi explicações. Nem pedi quanto tempo ela iria ficar. Mesmo assim, ela disse que havia voltado para sempre. Por mim. E pela mãe dela, claro. Não importava. Ela que voltasse por saudade daquela casa, do vira-latas, do sistema de transporte público precário. Pelo que fosse, ela voltara. E... mais linda do que nunca. E como ela é linda. E como seus cabelos balançam quando ela caminha...

O amor da minha vida Vini. Depois de tanto tempo, estava com ela novamente. E nem tínhamos sequer dado um abraço, um beijo. Apenas nos olhávamos, de mãos dadas, como namoradinhos à moda antiga. O mundo não existia mais. Meus problemas não existiam mais. A minha vida talvez não existisse mais. O mundo talvez não existisse mais. O abraço, o beijo. Os abraços e os beijos. Ficamos horas na frente da ex e agora atual casa dela. O meu amor estava comigo. Depois de tanto tempo longe, percebi que não vivi nesses anos. Apenas sobrevivi. Muito bem, mas faltava algo, faltava o amor, faltava ela.

Decidi que daquele sonho não queria acordar. E passei a vivê-lo todos os dias. Pedi demissão do meu emprego e arrumei outro, melhor e sem pessoas tão sujas quanto no antigo. Fossem quem fossem. Não importava mais quem estava ao meu lado, pois sabia que eu a veria. E só por vê-la eu perdia tudo que de ruim possuía, na cabeça e no coração.

Eu não sei como terminar essa carta. Não sei como está a sua vida, a sua cabeça, o seu coração Vini. Não sei. Não sei como está a sua faculdade, os seus amigos, sua família. Não sei Vini. Me desculpa, mas com ela aqui, momentos como esse são raros. Serão raros.

Desejo a você que consiga viver como eu agora vivo. E obrigado pela ajuda em todos os momentos ruins que passei.

Grande abraço,
Bilionárico Johansson
"

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Histórias de uma vida não vivida(12)

*Difícil falar sobre o passado, porque são boas e más lembranças misturadas. Difícil falar do presente, dos bons e maus momentos. Difícil falar do futuro, porque ninguém sabe nada sobre ele. O que dizer sobre um passado que é provável que não tenha existido mas que parece ter sido vivido com a mesma intensidade com que teria sido vivido se tivesse sido vivido mesmo? Quando a intensidade dessa vivência não vivida(ou mesmo vivida de um jeito diferente) é grande demais, a diferença entre o irreal e o real, entre o sonho e o fato concreto diminui. Chega-se à insanidade. E depois de chegar aqui, é muito difícil sair.

Quando me dei conta, já estava no meio de tudo isso. Um lugar arruinado, acabado, completamente destruído. Quando percebi, estava no centro desse lugar. Lugar assombroso, pavoroso, mais tenebroso do que qualquer filme de terror que já fizeram. Mais destruído do que qualquer lugar destruído pela guerra. Um quase nada completo. Uma paisagem terrível, triste, sofrida. Tudo foi por terra.

Não sabia o que fazer. Para onde ir. Tudo tão igual. Destruído. Prédios que caíram, casas que foram derrubadas, pontes e túneis igualmente foram ao chão. O rio secou, as árvores foram queimadas, nada restou. Só um monte de terra, e de restos que não consigo distinguir ao certo do que são ou o que algum dia foram. Está tudo em ruínas. Queimado, destruído, derrubado. Eu não sei o que aconteceu aqui e nem quem poderia fazer, ou ter a capacidade de fazer isso.

O vento é frio e leva consigo apenas a poeira do resto. Do resto de vida que agora é sinal de morte. Do que um dia fora o lugar mais propício para qualquer coisa, mas que hoje não passa de um nada. Destruído. Arruinado. Ao chão. Triste, deprimente, tenebroso.

Não vejo ninguém. E como alguém sobreviveria a isso? Também não vejo restos mortais de alguém. Nem um pedaço de roupa, de calçado, um fio de cabelo. Nada. Não há uma forma de vida aqui. Nem bactérias ou vírus. Nada. Uma bomba atômica poderia ter feito isso, mas essa possibilidade é descartada. Ninguém gastaria dinheiro destruindo algo que poucas pessoas vêem, vivem, conhecem. Não há razão alguma.

Quem destruiu isso aqui? Como destruíram? Olho para os lados e nenhuma ideia consegue ter a mínima porcentagem para começar a fazer algum sentido. Nada. Nem um indício. Tudo veio ao chão e ninguém sabe, ninguém viu. E eu, que chego agora, não tenho condições de saber, de entender, de descobrir. Nada. Destruído, isolado, arruinado. Tudo veio ao chão.

Ninguém por perto, como poderei reconstruir tudo isso sozinho? Se sou incapaz de entender ou ao menos descobri o que ou quem fez isso, como poderei ser capaz de recomeçar essa história aqui? Olho para os lados, para a frente, para trás. Ando em círculos e não saio do lugar. Vazio. Minha mente e meu coração estão vazios. Meus olhos não vêem mais nada. Olho para o nada e nada vejo. Nem um barulho, nem um ruido. Nada.

Preto. Com riscos cinzas. Marcas profundas que foram feitas com algum objeto gigantesco que não consigo decifrar. Eu tinha esquecido o que era o nada. Hoje lembro. E vivo no nada. Em um nada. Para um nada.

Tudo está destruído. E acho que o culpado sou eu, por ter deixado de lado tudo isso que hoje está destruído. A culpa só pode ser minha, porque somente eu estou aqui agora. Com nada nas mãos, na mente, no coração. No nada. Por nada.

É, a culpa só pode ser minha. Deixei esse lugar e agora ele está destruído. A culpa é minha, porque abandonei a minha vida aqui. E agora tudo está destruído.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Reflexões de um maluco(7) - Lágrimas sem chuva em um mundo sem viver


Dizem que a vida é feita de escolhas. Que cada escolha traz uma consequência, ou uma série de consequências únicas, que nenhuma outra escolha traria. As pessoas dizem muitas coisas. Tantas coisas que elas não param para pensar nelas. Nas coisas e em si próprias. Elas falam. E falam. Podem até ter sentido, mas ele estará apenas na frase, e não na pessoa que diz, na intenção da pessoa que diz ou mesmo na razão da pessoa dizer.

Dizem, falam, comentam. Bobagem. O mundo precisa é de pessoas mudas. De pessoas cegas. De pessoas surdas. O mundo precisa de dias no escuro, noites de sol. As pessoas merecem chuvas que não molham, raios de Sol que não aquecem, árvores que não fazem sombra e abraços que não acalmam. Precisam parar de falar, de ver, de ouvir. E até de sentir. Precisam parar com tudo o que possa lhes ser razão aparente para reclamação, para palavras intencionais mas sem sentidos, para vidas sem fundamento.

Vidas que não seriam vidas se não existissem padrões. Tendências. Passado a ser seguido e reescrito, parâmetros e metas a serem cumpridas. Vidas e mais vidas desperdiçadas pelo simples pensamento de continuidade. De manutenção, de conservadorismo. Vidas e mais vidas não vividas por uma insistência teimosa no que não faz sentido nem em raciocínios insanos. Tempo mal usado, desperdiçado de fato, com memórias e planos egoístas que atrapalham "apenas" algumas poucas vidas que precisariam muito menos do que a mera ausência desse egoísmo e desse orgulho traria e daria.

As pessoas reclamam da vida. Reclamam do time que perdeu, do calor, da chuva, do vento que estraga o cabelo, do céu que não está azul o suficiente ou mesmo do lindo azul(qualquer que seja o tom) do céu. Acham que a vida deveria ser perfeita. Com momentos perfeitos todos os dias, ou ainda, todas as horas. Com histórias e livros impecáveis. Apenas com bons momentos. Reclamam que não aprendem, que não tem oportunidades. Reclamam e xingam os momentos de tristeza, a dor, as lágrimas.

As pessoas esquecem os sonhos, esquecem a sinceridade em gestos, palavras e sentimentos. Esquecem dos sorrisos, dos olhares, dos abraços e dos beijos. Esquecem daquilo que lhes fez bem. Esquecem. Como um devedor esquece de pagar. Porém lembram cada detalhe do dia triste, cada nuvem no céu nublado, cada grão de areia na grama, cada vírgula colocada no lugar errado. Esquecem e lembram. Ou pensam fazer isso. Lembram de reclamar da vida, mas esquecem que a vida não é perfeita, que ela não pode ser perfeita. Que ela não precisa ser perfeita. Que os sonhos não precisam ser realizados de maneira perfeita. Esquecem que a sinceridade naquilo que recebem e doam é mais importante do que qualquer frase perfeita escrita no livro de suas vidas.

Por isso acho que o mundo precisa de cegos, para que o céu, o sol e todas as maravilhas da natureza sejam mais valorizadas. Precisa de mais surdos, para que a palavra sincera, a declaração de amor, o desabafo amigo e todas os gritos da alma sejam mais valorizados. Precisa de mais mudos, para que a conversa seja valorizada, para que as oportunidades não sejam desperdiçadas e para que a música, a poesia e quaisquer frases não sejam mais banalizadas.

As pessoas dizem muitas coisas. Dizem que valorizam algo só quando perdem-no. Dizem que valorizam uma pessoa só quando estão longe dela, ou a perdem para sempre. Dizem que só há verdadeira valorização num sentimento, ou mesmo num gesto que o prove, quando não o tem mais a qualquer momento. As pessoas dizem muitas coisas. Ridículas.

As pessoas dizem sem saber. Ouvem sem querer. Vêem por obrigação. Pensam sem razão. E vivem, ou fingem que vivem, sem sentimento, sem coração.


*como a maioria dos meus últimos textos, esse vem de um lugar escuro 
e escondido, que ainda não consegui dizer se está na cabeça ou no coração. 
A solidão, a tristeza, a decepção 
e a simples lembrança de tudo aquilo que me faz bem 
se misturam nessas palavras.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Histórias de bergamota(11)

Eu estava ali. Disposta a tudo. Daria a minha vida por ti. Tudo que estava ao meu alcance eu fiz. Cresci, evoluí, amadureci. Por mim, sim, mas também por ti. E estiveste ao meu lado por tanto tempo. Tempos maravilhosos. Dias fantásticos. Momentos inesquecíveis. E algo muito maior foi surgindo dentro de mim. Um sentimento tão puro, tão bonito. Evolução, crescimento. Amadurecimento. Por isso eu disse que daria a minha vida por ti. E o faria de fato. Mas você não quis. Preferiu outra. Preferiu uma mais popular, mais conhecida, mais famosa. Uma maior. E ela acabou contigo.

Eu não mandei você comer aquela melancia inteira. Eu não mandei você gostar mais de melancia do que de bergamota. Você morreu engasgada por tantas sementes.

E eu aqui, chorando todo o meu suco por alguém que nunca quis dar a vida por alguém que daria a vida por si.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Um fracasso, em tempo

Frações de segundo duram uma eternidade. Breves momentos que parecem durar muito mais do que os relógios dizem que duram. A Física, a Química ou mesmo os professores arrogantes que acham que sabem tudo conseguem explicar isso. A minutos ou horas em segundos. Rios transbordam em apenas um pensamento. Senhor do mundo. De tudo. Da sua vida. Você. Eu. Qualquer um.

Não há problema nisso. Em ter o seu tempo parado, congelado ou mesmo reduzido.Não há problema algum. O tempo é seu, a vida é sua, as horas, minutos e segundos também. Quem manda é você. Quem escolhe é você. Quem quer seguir o relógio, a natureza ou mesmo a Física ignora isso, finge não ser possível viver horas em apenas alguns segundos. Quem quer viver ignora tudo isso.

Lamentável como há uma insistência em seguir caminhos, padrões impostos. Parece que tudo tem que ser como está sendo. Não é questão de conservadorismo. É questão de comodismo. E em algum ponto, vagabundagem. Conservar é manter o necessário, o lado bom, o que dá certo, o que faz bem. Comodismo é a conservação de tudo, bom e ruim. É lembrar sempre do prato quebrado e não do churrasco que você comeu nele antes de alguém bater com o cotovelo e derrubá-lo. Por que não inovar com os erros, seguindo um caminho diferente do que todos seguem, ou seja, fazendo diferente do que os outros fazem? Por que não tentar mudar?

A vida é diversão, estudo, trabalho, dinheiro, profissão, sucesso, sexo e, quem sabe, herdeiros. A vida não é só isso. A vida nunca tem um só. Apenas. Um 'é isso' no final da frase. A vida não é só lembranças. Porque o que é ruim deve ser esquecido. As dores devem ser lembradas apenas até entendermos o que aconteceu.

Esperar pelo tempo, seja ele uma fração ou uma eternidade é esperar pelo ônibus embaixo da árvore e não na parada. Ele passa e você acaba nem vendo. Você perde ele. E, correr atrás é difícil, então o que fazer? Dar um tiro no motorista é enfiar um punhal no coração, acabar com tudo de uma vez.

Minutos e horas em segundos, ou mesmo frações desses. Por que não frações de segundo em horas também? Quem sabe dá tempo de alcançar o ônibus, sem ter que correr. Depende de mim, ou de quem quer que seja o dono do tempo. Porque a vida é minha, e o meu tempo, eu já disse, é meu.


Fracassei hoje, 
aqui, mas tentei, 
se é que isso vale alguma coisa.
(e o título veio depois dessa frase)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Hoje foi mais fácil superar

Não sou bom o suficiente. E é provável que nunca tenha sido sequer bom. Mas tenho vontade, disposição, fé, desejo de melhorar, de crescer, de evoluir. Muita coisa falta, mas o pouco que tenho já basta para ver que vale à pena. Que valeu. Que valerá.

Hoje uma terrível sensação de medo pairou sobre uma cabeça já preocupada e apavorada com tantos outros fatores. Um medo natural, simples e descritivo. Um medo que já pairou sobre muitos, provavelmente sobre a maioria. Medo do fracasso. Fracasso que impede uma progressão maior, uma evolução maior. Medo. Com raiva, ira e decepção.

E a cabeça ficou tomada. Os gestos ficaram tomados. Foi-se parte da espontaneidade, da sinceridade, da diferença. O já raro riso deu lugar à seriedade e ao cansaço. A disposição, a busca, a  vontade de não ter mais vontade. Vontade de mandar tudo para os infernos. De deixar de lado toda essa porcaria inútil. Coisas que não me são úteis, que nunca foram, mais ainda agora. Coisas que tiram o meu tempo, a minha vontade, o meu viver.

Necessidade sim. Infelizmente.

Mas alguma coisa mudou de três horas para cá. Parece que todo aquele cansaço foi esgoto abaixo. Desceu como uma gota d'água numa calha. E tudo ficou pra trás. Toda raiva, tristeza, o medo do futuro, a ira, a decepção, a falta de vontade. Tudo isso sumiu. Desapareceu. Evaporou ou simplesmente foi jogado na lata do lixo. Foi tudo para algum lugar que eu não sei onde fica. E não quero saber também.


Que fique onde foi parar. E não volte mais. Não preciso desse medo, desse receio, dessa tristeza. Já tenho coisas ruins demais para precisar disso. Ninguém precisa, por que eu precisaria? Vá e não volte mais. Não quero saber se é natural ou se todos já sentiram isso. Não quero saber. Quero distância. Porque eu tenho algo que dá força para continuar, para transformar esse obstáculo em um nada.

Fé e confiança. Passei por cima de mais essa pedra. E se alguém souber onde ela está agora, não fale. Eu peço.

Obrigado.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Histórias do Bandiolo - Um, dois, dez?

O pessoal foi chegando. Se amontoando. Entupindo, literalmente, sala, cozinha, quartos, banheiros e todo o redor da casa. O pessoal foi chegando. E chegando como se fossem donos. Da casa, dos quartos, da pasta de dente, de mim. Como se aquilo fosse a vida deles. Como se aquilo fosse algo deles. Mas não era. Nada era.

Parecia até festa de jovem bêbado de filme de jovens americanos. O cara popular empresta a casa para a festa, todos bebem, divertem-se, há o tradicional sexo no banheiro, nos quartos, em cima do sofá, do tapete persa que a mãe dele recém comprara, atrás do matagal, do lado da macieira. É aquela putaria toda. Aquela sujeira toda. Aquele vômito todo. Aquela diversão... diversão?

Hei, essa casa é minha. Eu não sou popular. Não conheço vocês. O que vocês estão fazendo aqui? Saiam já. E não finjam que não me ouviram. Saiam daqui. Estou... porra, seu idiota, derrubou cerveja na minha camisa, na minha calça... que droga, até a cueca ficou molhada de cerveja. Mas que porcaria vocês estão fazendo? Ei, em cima desse sofá... não...

Estúpidos, quem convidou vocês? Isso aqui, insisto, não é filme americano. Não estamos nos Estados Unidos, muito menos no cinema. O quê? Quebraram a televisão com uma latada de cerveja? Ãhrrrrrrrr. Que droga. De onde vocês saíram? Não, por favor, nãaaaaaaaaaaaaaoooooo joga... Por que você tinha que jogar esse vidro de whisky pela janela? Podia ter aberto a janela pelo menos...

Que bagunça. A polícia chegou. O QUÊ? A polícia chegou? Caramba. Quero ver o que vai acontecer com o dono da casa... Ei, eu sou o dono da casa. Não, não seu policial, eu não sou responsável por isso. Tá, a casa é minha mas... o quê? Bebida alcoólica para menores de 18? Que hipocrisia. O que eu disse? Nada não, mas eu não comprei essa cerveja. Não. Nem o whisky, nem a vodka, nem o absi... absinto? O que é isso? Ah... Não, eu também não sou... plantador de maconha? Traficante? Ãh? Acharam uma plantação de maconha lá no fundo do quintal? Como? Heroína e ecstasy tudo no meu nome? Armaram para mim, eu não sou trafi... quem denunciou disse que eu sou, também, dono de um prostíbulo? Mas seu... ah não... eles tavam fazendo isso em cima do piano francês do século XII da minha avó... Não... Mas eu não... Como? Sério, repete. Ãh??? Aquela vaga... aquela mulher disse que eu contatei ela para animar os ... convidados? Mas eu não convidei ninguém.

Tudo no meu nome? Quem é que... Peraí. Repete o nome. Ah ta, não sou eu. Desculpa. Não sou mais o dono dessa casa, me mudei daqui há dias... Esse que vocês procuram é aquele ali.

Obrigado seu policial, quase que um erro foi cometido. Não, não precisa agradecer. Não não, eu não quero pegar uma vagabunda, pode ir lá terminar o servi... tá. Não hoje, mas obrigado pelo convite, mesmo. Não não, muito menos em cima do piano da minha... digo, da vó dele. Se é que é da avó dele.Talvez seja pirateado. Não mesmo, vou embora, boa noite.

Sério, ainda não entendi como eu vim parar aqui. Ah ta, esqueci. Me mudei dessa casa há dois dias. Hahaha. E pensar que o cara já teve tempo de plantar maconha e montar um... Bom, preciso me despedir melhor da casa, e daquele piano, mesmo que não seja o da minha avó. Já volto.

*qualquer semelhança com a realidade,
ou com a ficção é sim,
mera coincidência.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Coisas que eu não poderia morrer sem fazer (5)

322 - Ser amigo de alguém importante. De um bispo.

323 - Sair para comer pizza com um bispo.

324 - Ter o blog comentado pelo mesmo senhor citado acima.

325 - Deixar alguém irritado sem saber por que e ainda assim rir. Na cara da pessoa. Sem maldade, mas com muita vontade.

382 - Jogar tudo para o alto e depois que tudo cair no chão perceber que um saco com papel picado não é a melhor escolha para fazer isso.

domingo, 18 de outubro de 2009

É um erro? Então eu vou errar.

Remo contra a maré. Não, eu não tenho um barco. Não estou em um rio digitando um texto sem me mexer muito para que o barco não vire. E o texto só começa assim porque remar contra a maré é a mais simples frase que define hoje. Ontem. Alguns dias. Muitos dias.

É uma atitude. Uma decisão. Um propósito, com uma intenção. É uma vontade, um desejo, um sonho. E tudo vai contra. E você é chamado de louco, de burro, de idiota. E você é criticado e cansa de ouvir tantos poréns, tantas queixas, tantas dúvidas de pessoas que querem o teu bem, achando que sabem qual é esse bem. E talvez estejam certos. Mas você não acredita, porque algo te faz voltar ao barco e continuar remando. Sem direção, sem sentido. Remando. Como se fosse a única coisa que você soubesse fazer na vida. Como se remar contra a maré fosse algo que o seu instinto de leva a fazer.

Remar contra a maré. Uma gota d'água no deserto. A luz no fim do túnel. O centavo achado no chão. É um nada, mas um nada tão grande que se torna algo tão grande que você não se importa se ele é um nada tão nada. Porque pra você esse nada, que é tão nada, representa muito.

Lembrei de Some might say, do Oasis. Tem um trecho que diz algo como 'alguns vão dizer que não acreditam no paraíso... vai lá e diga isso para o cara que mora no inferno'. Algo que não adianta, algo que não vai ter eficácia nenhuma, algo que não vai fazer diferença nenhuma. Mas que é um paraíso para quem acredita que aquilo faz diferença sim. Que aquilo adianta. Que vale a pena lutar.

Sempre julguei-me um teimoso por natureza. Um inconformado. Um teimoso inconformado. Nunca desisti. Achei que era por isso. Me descobri, mais uma vez. Sou mais do que um inconformado. Mais do que um teimoso inconformado.

Sou um ser humano. Um ser humano teimoso e inconformado. Movido pelo que há de mais sincero em sentimento. Que rema contra a maré usando as palavras mais sinceras que possam sair de uma boca, ou serem digitadas por dedos cansados e exaustos. Que tem com uma única gota d'água a sede saciada. Que tem em um sonho o paraíso. Uma esperança. Aquilo que move, ou deveria mover, o mundo. Um desejo. Um sonho. E um sonho sincero.

Indo contra muitos. Remando contra a maré. O que talvez só traga destruição ao meu barco. E daí. Quando morrer não vou levar o barco comigo. No paraíso deve haver rios, lagos, oceanos. Mas lá eu não vou me afogar, porque vou conseguir caminhar sobre as águas ao lado do meu Mestre.

Talvez eu também não leve a concretização desse sonho. Dessa sinceridade. Dessa espontaneidade. Dessa... coisa, que me faz o maior e o menor dos homens. Talvez. Mas certamente, no fim da minha vida, vou levar comigo a sensação de que tudo foi tentado. De que todas as possibilidades foram esgotadas. De que eu não tive medo do fim. Não tive MEDO de tentar, de lutar, de querer, de remar contra a maré, de fazer o mais difícil, o mais complicado, o mais impossível. De passar por cima do que já me fez mal. De esquecer mágoas e lágrimas. De deixar de lado o cansaço, a tristeza, todos os sentimentos ruins. Não, não tenho e não terei medo.

Um ser humano teimoso e inconformado, mas fascinado pelo improvável, pelo impossível e pelo intocável. O que vier, virá. E, preparado ou não, enfrentarei de cabeça erguida. E assim continuarei.

Me critiquem, me chamem de burro. Eu mereço. Mas não tenho culpa. Eu sou estranho, diferente. Sou aquilo que eu quero ser. Sofrer está tão próximo de sorrir. O fim está tão distante do começo mas tão próximo do recomeço.

Sejam elas boas ou ruins, para mim ou para vocês. Sejam elas limpas ou sujas, claras ou escuras. Sejam elas as melhores ou as piores, as justas ou as injustas. Sejam elas as certas ou as erradas. Sejam elas o que forem, elas são sinceras. Sinceras, espontâneas, improváveis ou impossíveis.

Mas são as páginas da minha vida. Os lemes do meu barco.