quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Histórias de uma vida não vivida(12)

*Difícil falar sobre o passado, porque são boas e más lembranças misturadas. Difícil falar do presente, dos bons e maus momentos. Difícil falar do futuro, porque ninguém sabe nada sobre ele. O que dizer sobre um passado que é provável que não tenha existido mas que parece ter sido vivido com a mesma intensidade com que teria sido vivido se tivesse sido vivido mesmo? Quando a intensidade dessa vivência não vivida(ou mesmo vivida de um jeito diferente) é grande demais, a diferença entre o irreal e o real, entre o sonho e o fato concreto diminui. Chega-se à insanidade. E depois de chegar aqui, é muito difícil sair.

Quando me dei conta, já estava no meio de tudo isso. Um lugar arruinado, acabado, completamente destruído. Quando percebi, estava no centro desse lugar. Lugar assombroso, pavoroso, mais tenebroso do que qualquer filme de terror que já fizeram. Mais destruído do que qualquer lugar destruído pela guerra. Um quase nada completo. Uma paisagem terrível, triste, sofrida. Tudo foi por terra.

Não sabia o que fazer. Para onde ir. Tudo tão igual. Destruído. Prédios que caíram, casas que foram derrubadas, pontes e túneis igualmente foram ao chão. O rio secou, as árvores foram queimadas, nada restou. Só um monte de terra, e de restos que não consigo distinguir ao certo do que são ou o que algum dia foram. Está tudo em ruínas. Queimado, destruído, derrubado. Eu não sei o que aconteceu aqui e nem quem poderia fazer, ou ter a capacidade de fazer isso.

O vento é frio e leva consigo apenas a poeira do resto. Do resto de vida que agora é sinal de morte. Do que um dia fora o lugar mais propício para qualquer coisa, mas que hoje não passa de um nada. Destruído. Arruinado. Ao chão. Triste, deprimente, tenebroso.

Não vejo ninguém. E como alguém sobreviveria a isso? Também não vejo restos mortais de alguém. Nem um pedaço de roupa, de calçado, um fio de cabelo. Nada. Não há uma forma de vida aqui. Nem bactérias ou vírus. Nada. Uma bomba atômica poderia ter feito isso, mas essa possibilidade é descartada. Ninguém gastaria dinheiro destruindo algo que poucas pessoas vêem, vivem, conhecem. Não há razão alguma.

Quem destruiu isso aqui? Como destruíram? Olho para os lados e nenhuma ideia consegue ter a mínima porcentagem para começar a fazer algum sentido. Nada. Nem um indício. Tudo veio ao chão e ninguém sabe, ninguém viu. E eu, que chego agora, não tenho condições de saber, de entender, de descobrir. Nada. Destruído, isolado, arruinado. Tudo veio ao chão.

Ninguém por perto, como poderei reconstruir tudo isso sozinho? Se sou incapaz de entender ou ao menos descobri o que ou quem fez isso, como poderei ser capaz de recomeçar essa história aqui? Olho para os lados, para a frente, para trás. Ando em círculos e não saio do lugar. Vazio. Minha mente e meu coração estão vazios. Meus olhos não vêem mais nada. Olho para o nada e nada vejo. Nem um barulho, nem um ruido. Nada.

Preto. Com riscos cinzas. Marcas profundas que foram feitas com algum objeto gigantesco que não consigo decifrar. Eu tinha esquecido o que era o nada. Hoje lembro. E vivo no nada. Em um nada. Para um nada.

Tudo está destruído. E acho que o culpado sou eu, por ter deixado de lado tudo isso que hoje está destruído. A culpa só pode ser minha, porque somente eu estou aqui agora. Com nada nas mãos, na mente, no coração. No nada. Por nada.

É, a culpa só pode ser minha. Deixei esse lugar e agora ele está destruído. A culpa é minha, porque abandonei a minha vida aqui. E agora tudo está destruído.

2 comentários:

Érica Ferro disse...

Acredite, sempre há um meio de reconstruir.

Me identifiquei com esse texto.

Grande abraço, Manfio.

Jééh disse...

belissima história (e triste tbm)
é isso mesmo não podemos culpar ninguém pelo o que fizemos com a nossa vida não é

e mitas vezes o que nos restos é juntar os cacos ( se é que sobrou algum)e preparar pra começar novamente, mesmo que temos em mente que é tarde, porque mais tarde que agora, só amanhã.

o quanto a pergunta que vc deixou no meu blog, a verdade é que não tenho resposta pra ela/fato como poderie saber relamente se tal pessoa quer o meu bem?, se quer até quando vai ser assim? não posso dizer que o que me aconteceu foi recente, mas com certeza mudou minha maneira de ver o mundo, como diz a minha mãe, confei desconfiando, quem sabe isso um dia mude, mas até eu fico com pé trás com tudo e todos que se aproximam o bastante pra ver quem sou/fato