sexta-feira, 25 de abril de 2014

O vazio de viver e só(50)

Tantos lamentos, tantas decepções, tanta tristeza que nem as palavras salvam. Se não existem palavras porque, afinal, elas não saem, como seriam o que eram quando, inúmeras, transformavam o acúmulo de tristeza em um vazio que, por não possuir mais nada em seu interior, permitia que a alegria voltasse até mesmo sem intenção.

Sem explicações lógicas, não consigo mais escrever. Penso em desistir disso, dessa história de transformar em palavras meus pensamentos. Não tenho talento, a música que toca, qualquer que seja a letra ou melodia, em minha mente não leva a lugar nenhum e não é nada além de repetição.

Triste e sem fim repetição.

Queria recomeçar. Bem de boa. Com calma. Acertando cada detalhe mas... como, se não gosto de detalhes? Ou deixei de gostar deles porque não consigo lidar com fragmentos que vão e vem sem que eu possa, sequer, saber as razões da existência.

Tudo curto. Sem profundidade. Raso como prato. Fino como camada de tinta. Chato como a falta de rimas ou o excesso delas. Cansativo, estressante. Quando penso que estou no final de uma jornada, tremo de medo por não saber o que virá depois. Um grande vazio me espera? Um fracasso ainda maior, só que sem desculpas?

Eu, por eu, e ninguém mais a defender ou compensar minhas falhas.

Triste. Cansado. Exausto. Com sede e fome. Não de algo material.

De sonhos. De vontade. De capacidade. De desejo de vencer.

Sinto-me como se fosse um grande fracasso. Retumbante.

Triste. Como há tempos não me sentia.

As luzes que me iluminam, às vezes, não são capazes de acalentar meu coração machucado. Minha mente perturbada. Meus problemas nervosos, ansiosos e desconcentrados.

Estou cansado. Acho que perdi o rumo da história. E o passado não volta. Como voltar a ele então?

Não. Recomeçar... de onde? Tudo tem sido um recomeço. Que acaba em um novo recomeço. E sucessivamente, repetidamente.

Tristemente.

Algumas vezes achei que pudesse ser uma pessoa brilhante, ao menos em um aspecto.

Quero ser brilhante em vários aspectos.

Quero. Não sei se consigo.

Acho que não.

Tristemente, novamente.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

O vazio de viver e só(49)

É preciso ter coragem, e naturalmente ser um grande insano, para olhar o passado de forma séria e admitir até mesmo erros justificáveis, ou mesmo aqueles que não foram necessariamente cometidos por si.

Já escrevi a frase que espancou minha concentração hoje, posso voltar ao Gatsby? Não, espera, tem mais.

A perseguição do condicional, aquele estúpido se que faz pensar nas vidas que teríamos se as escolhas tivessem sido diferentes. Nos sonhos, reais ou imaginários, que teriam sido realizados se a pessoa, no caso eu, fosse menos eu e mais alguém que eu, geralmente, conheço - e que, por algum motivo, não canso de imaginar que nunca teria tais comportamentos. Nas conquistas que a qualquer vida presente, miserável ou rica, inveja pelo simples fato de não poder ter. Condicional, eu te odeio mas não consigo viver sem a sua existência barata, indesejável e irritante.

'Condicional, eu te odeio' é um ótimo nome para colocar em um livro futuro. Entretanto, deixe essa ideia mofar em minha cabeça até que, em algumas décadas, após alguém ter publicado, o condicional se tenha mais um motivo para esfolar meus pensamentos.

Certa vez, acredito, escrevi que sentia-me responsável até por coisas que não foram, objetiva e claramente, culpa minha, por não aguentar mais a lembrança deprimente e o arrependimento - perdão, de antemão, pelo excesso de erres - arrebatador que insistiam em fazer-me voltar, imaginando, ao ponto onde o mundo parece ter ruído. Bom, é necessário dizer que não foi um e sim vários pontos onde o mundo desabou sobre a minha cabeça e tirou-me de qualquer paz que pudesse haver na relação eu eu-lírico.

Caso não tenha escrito outra vez, o fiz agora. Não que isso não seja perceptível.

Os cruciais momentos em que a história toda mudou foram tantos que fica difícil dizer por onde começou. E, mais, onde poderia ter parado. É provável que nenhuma das vidas que passaram, durante esses anos, por mim, fosse a vida vivida para uma escolha, consequência ou transcrição diferente.

As portas que acabaram sendo fechadas, hoje, não incomoda por estarem fechadas. E sim por terem existido. Tudo muito vago porque há mais espaço do que portas. Mais tempo do que arrependimento. E mais vida do que escolhas.

Eu deveria ter parado na primeira frase. Há frases isso não faz sentido algum.

Um delírio sem significado.

Ou...