quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O vazio de viver e só (36)

Não vi saída qualquer. Parecia que as paredes estavam vindo ao meu encontro para amassar-me e tonar-me parte de coisa qualquer que não fosse boa. Sensação de aprisionamento, a algo ruim, que tira as forças, a vontade, os sonhos e mais ainda a já perdida, há tempos, concentração. Estava fraco, com sede e sem ânimo. Nada tinha e assim permaneci por algum tempo. Ainda que nada, de fato, tivesse acontecido, parecia que o pior do que sequer consegue ser imaginado havia acontecido e não havia solução.

Apenas soluços.

A tristeza e os lamentos vinham com naturalidade espantosa. Ninguém, nem mesmo os doentes, em sã consciência conseguem ver naturalidade no terror psicológico que havia ali. Como um grande passo para o fim, não parecia haver saída, nada alegrava, nada satisfazia ou motivava. Nada, nada, nada, ninguém, ausência total e completa de tudo, de coisa qualquer, de resquícios ou ínfimos detalhes. Tampouco miséria.

Ainda assim, há vida. Há recomeço. Há misericórdia.

E Amor.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Pedaçosde um pensamento (70)

Fizeram-me pensar muito hoje.

Em tantas coisas que tinha, fazia, ouvia, dizia e vivia. Tudo no passado. Distante e longínquo passado. Era legal, sim, divertido, também, prazeroso, sem dúvida e, por conta disso, hoje parece fazer tanta falta que nem sei explicar bem. Não é a primeira e, sei bem, não será a última mas... por que?

Tentei explicar de várias formas, seja pelo contexto pessoal ou social, pela idade ou círculo envolta porém pouco ou nada disso serviu de consolo ou embasou as escolhas que me fizeram chegar até aqui, como estou, sou, enfim, ao presente.

Lembranças boas são necessárias e o agradecimento a Deus é diário por elas entretanto prender-se a elas e imaginar quantas mais poderiam ter vindo é, no mínimo, irresponsabilidade. Como se todas as escolhas até aqui foram erradas porque trouxeram até aqui e não levaram...

... para onde as outras escolhas teriam levado? Onde o outro lado do condicional, que aparece somente agora, teria levado a mim, minha mente, meus sonhos, sentimentos, meu presente? Onde estaria se não tivesse optado por um caminho e seguido nele desde então, caindo, chorando e sofrendo mas, também, sorrindo, levantando, recomeçando, experimentando e aproximando-me da Essência de tudo.

É injusto para com quem sou hoje imaginar que poderia ser alguém melhor só por ter mantido as mesmas escolhas do passado, aquelas que me faziam rir, de maneira mais espontânea e... por que na época nada daquilo parecia ser tão bom quanto parece ser hoje? O passado, esse do condicional, mais atrapalha do que ajuda, mais desanima e faz temer do que motiva e faz sorrir. Porque tudo está errado? E se as escolhas fossem outra? Os lugares, as pessoas e eu mesmo também? Como seria? Como eu seria?

Quanta paranoia e, no fim, nada disso faz crescer, nada disso ajuda e, muito menos, fortalece. São dúvidas infantis, somente, pois antes de mais nada, fazem duvidar de escolhas que são, comprovadamente, melhores. Não interessa o que ficou para trás, nenhum outro caminho teria me trazido para quem sou hoje e, apesar de toda dúvida, ausência de respostas e cansaço, valeu à pena abdicar de tanta coisa para estar aqui, preocupado, cansado, desgastado, muitas vezes inerte porém, acima disso, vivendo com significado uma Verdade impessoal e, ao mesmo tempo, muito pessoal.

Fiz uma escolha. Várias escolhas seguiram-se e, diariamente, surgem novas opções. A convicção racional, a fé e as sensações que provam a existência de sentimentos são as justificativas mais singelas, e verdadeiras, que me levam a crer que tudo aquilo que morreu na minha vida por não ter sido escolhido, em algum momento, por mim, morreu no tempo certo, sem deixar marcas negativas e sequer problemas que hoje afetam.

Sinto falta de algumas pessoas, muita falta de alguns amigos e amigas que ficaram para trás. Sinto falta da facilidade para escrever, criar, imaginar, sonhar e até mesmo agir. Falta de momentos, de partes de rotina, de encontros e risadas, de fotografias idiotas e piadas sem graça. Muito de tudo isso morreu.

Era preciso. Coisas novas nasceram, gostos novos surgiram, vidas novas - dentro da minha vida - surgiram, pessoas novas foram conhecidas, chegaram, algumas passaram, outras ficaram. E isso segue por toda a vida.

Os condicionais do passado fazem-me achar mais atraente do que de fato eram as coisas do meu passado porque, se não fosse assim, não haveria cogitação, não haveria condicional e, sem alimento, esse não existiria. Morreria também.

Esse, entretanto, acredito ser um mal necessário. A imaginação do que poderia ter sido instiga a uma atenção redobrada nas escolhas de hoje, nos momentos do presente.

Caminhos diferentes não me possibilitariam a liberdade da qual desfruto hoje.

Essa liberdade que só o Amor é capaz de me dar... por eu ter querido escolher.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Outro pedaço de nada

Alento.

Não que isso seja fato concreto de que essa nuvem, que parece não ter fim, tenha começado a dissipar-se em si própria, um nada completo mas, evidente, é muito melhor do que qualquer coisa que está vindo a ser.

Por enquanto, ainda, não há nada de efetivo como conclusão ou resposta a tudo o que vem sendo, ou deixando de ser. É clara, e manifesta, a sede de transformação e isso, por si só, seria um alento e tanto se não fosse a única coisa, como vinha sendo.

Esperança de dias melhores, de uma capacidade maior, mais apurada e, enfim, definitiva em si, é o que veio desses poucos momentos de luz em meio a uma grande parte do tempo obscurecida por impaciência e ansiedade, frutos naturais de algo que, por algum motivo aparentemente definidor de uma estupenda mudança, não sei definir a origem ou o que é, em si.

Estou cansado de não saber dizer, de não saber sentir, de não conseguir fazer as duas coisas por falta de... algo que não consigo definir. Essa incapacidade cansa. Ausência de algo que parece nunca ter existido embora tempos atrás falta alguma fizesse.

Mas hoje faz. Hoje que equivale a meses. O alento veio. Alívio. Seguido de mais ansiedade, pressão e outras coisas indefinidas. Que seja um começo que tenha continuidade. Em uma grande mudança ou em um grande entendimento.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Pedaços de um pensamento (69)


Diversos momentos estiveram ao alcance das minhas mãos com maior solidez do que o agora. Antes de mais nada, não é uma mensagem positivista que fala algo como 'o importante é viver o hoje'. As minhas palavras tratam da minha vida e, bem, esse egoísmo é um direito meu, aqui. Isso permite-me continuar sem qualquer medo de estar errado. Minhas palavras passadas não mentem: diversas foram as vezes em que a imaginação começou, de alguma forma espontânea, a surgir sem que houvesse consciência exata do 'o que' e do 'por que' algo está por vir. O para que nunca chegou a ser cogitado - devido a incompreensão dos outros dois que's.

Até agora.

Parece que nada está ao alcance das mãos e, mesmo com toda tecnologia que nos envolve, até mesmo os olhos parecem ter dificuldades em passar para algo mais real o que, ainda, não parece ter deixado de ser um sonho. Distante e improvável sonho. O início é confuso e todas as pequenas diferenças estão, agora, para mim soterradas pelo que há de mais concreto em relação ao futuro.

Confiança.

Nada do que possa ser dito tira de mim essa confiança que tantas outras vezes não fez-se presente e, de uma forma ou outra, impediu-me de quebrar minhas barreiras pessoais, cuja exemplificação é desnecessária. Em suma, entretanto, nada é tão concreto que não possa virar pó e, pelo passado, tudo tende ao pó. A história do mundo, em si, não escapa disso então... quem sou eu para tentar contrariar isso?

A diferença, porém, entre o que é inevitável perante o tempo - a história da existência - e o momento presente é que esse, queiram os arrogantes autoproclamados intelectuais ou não, pode ganhar a eternidade por dois motivos. Esses, no entanto, não deixam de ser um só pois um vem do outro e o outro é o próprio um.

Assim, então, o que aqui existe começa como um pedaço de insanidade. Por motivos um tanto incompreensíveis. Com contrapontos válidos e difíceis de serem avaliados. Independentemente disso, parece querer continuar com um ar que difere daquele respirado por tudo o que vira pó.

Todo pedaço de história vivido intensamente sob a presença inconfundível do Amor entra para a eternidade sem sequer escolhê-la por si.

Algum dia a confiança nesse pedaço de eternidade, contínuo, haveria de vir.

Hoje ela está aqui, sorrindo.

Ah, aqui não é o passarinho que é verde mas sim o céu. Por si e por mim.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Retratos de uma sociedade patética (12) - A manchete que desrespeita



Difícil encontrar alguma pessoa que, possuindo o mínimo de amor no coração, não ficou chocada ou sensibilizada com a tragédia que vitimou centenas de jovens em uma boate de Santa Maria. Salvo pessoas inescrupulosas que na internet demonstraram sua completa falta de humanidade, o que se viu foram comentários cobrando justiça ou buscando levar apoio aos familiares das vítimas. As notícias que chegaram até nós, pessoas simples, através dos mais diferentes tipos de mídia foram, em parte, uma agressão tão grande ao luto de amigos e familiares envolvidos na tragédia quanto as palavras inescrupulosas anteriormente citadas. Ainda no domingo ouvi um jornalista perguntar ao comandante dos bombeiros se ‘poderiam ser filmados os corpos das vítimas’. Durante os dias seguintes, fotos e vídeos mostrando as lágrimas e todo sofrimento pelo qual passavam os que aqui continuam inundaram os sites e redes sociais, deixando claro que não há necessidade de zelo e respeito para com os sofrimento alheio, e que o importante é, apenas, ter uma matéria chamativa.

Até onde vender jornais e conseguir acessos nos sites é necessário? Usar de sensacionalismo cretino, desrespeitando o luto, a dor e a sede de silêncio dos amigos e familiares é, no mínimo, uma atitude digna de imbecis gananciosos e arrogantes. Seja oriundo de repórteres e fotógrafos ou de ‘ordens vindas de cima’, os dias que passaram nos mostraram que não há mais piedade e caridade entre humanos. Durante uma missa, uma senhora passou mal e, enquanto recebia atendimento, deitada e imobilizada, um fotógrafo insistentemente direcionava o flash a ela. Ele precisava mesmo fazer isso? Não consigo conceber que seja necessário invadir a privacidade e as feridas abertas durante a tragédia para mostrar o que aconteceu. É desumano o que foi feito, de várias formas.

Além do mais, o desrespeito dos jornalistas para com os momentos de oração, dentro ou fora das igrejas cristãs também deve ser mencionado. Celulares tocando, cadeiras sendo arrastadas para obter um melhor ângulo e, mais uma vez, fotos e mais fotos que perturbavam as pessoas que estavam sofrendo e buscando ali, na igreja, o seu refúgio, a sua tranquilidade.

De que vale fazer um juramento de ética profissional se, no momento em que uma tragédia dessas ocorre, prefere-se criar manchetes e obter imagens chocantes ao invés de apenas fazer o necessário: registrar os fatos. É válido, mesmo, ignorar a dor alheia para conseguir uma matéria com maior capacidade de atrair os olhares do grande público? E se esses jornalistas e fotógrafos estivessem a sofrer, gostariam que os corpos dilacerados de seus entes queridos fossem tratados como sacos de lixo, e os seus próprios sentimentos como fonte de renda de alguém?

Falta respeito, piedade e, acima de tudo, falta amor.

Que Deus abençoe a todos os que sofrem por conta desse absurdo que emudeceu a cidade de Santa Maria e que todas essas pessoas que usaram e estão usando dessa tragédia para o bem próprio aprendam, da maneira que for, o que é amar, o que é o Amor.

Vinícius Manfio, 21 anos, estudante de Engenharia Civil e vice coordenador do Grupo de Oração Jovem São Pedro.

Santa Maria, 04 de Fevereiro de 2013

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Pedaços de um pensamento (68)

É possível, e provável, que a inércia que atinge cada centímetro da minha existência, há incontáveis dias - que certamente já passaram de meses, quando somados - esteja agora levando um soco na boca do estômago.  Mas daqueles violentos, com raiva, ou dos que mais doem de fato, que são os inesperados.

Embora não seja de todo inesperado, essa grande pancada veio em um momento propício, embora dizer isso seja uma uma grande estupidez. Quando a dor e a tristeza, frutos de humanidade e caridade, não consegue forçar movimentos pessoais, é porque algo muito sério continua escondido, guardado ou reprimido. Se algo gigante, assim, acaba sendo incapaz de locomover alguma coisa nesse pedaço de vida, num todo, quase imóvel, é porque há muito a acontecer.

Ou nada a continuar, eternamente em ciclos incontáveis e lastimáveis - sem soma ou adição.

Há, entretanto, algo sendo quebrado. Rasgado, arrancado pedaço por pedaço. Como se fosse um ovo cozido sendo descascado após ter caído no chão. Os pedaços são muitos e não há automatização nesse processo - a menos que você conheça ovos cozidos e saiba que há uma espécie de pele por baixo da casca que, quando arrancada, traz consigo os pedaços de casca. Do ovo, claro.

Esse é o ponto de quebra, de retirada de coisas que, agora, só atrapalham, é quase o momento definitivo de encarar algo de frente, sem máscaras de imaginação, de idealização ou mesmo de repreensão. Porque toda verdade exige uma grande responsabilidade.

E sentir, qualquer coisa que seja, é essencial nesse ponto. Caso contrário, é monstro, e não humano, o que há por trás de tudo isso que agora, quebrado, é retirado com alguma facilidade. Foi preciso que sentisse como se estivesse à beira de perder o que nem bem conquistei para que voltasse a sentir sangue circulando nas veias.

Mesmo que por decepção - para comigo - e não por outro motivo... mais nobre, por assim dizer, reencontrar-me em um ponto de indignação, de vontade, inconformismo(ou inconformidade, seja qual for a palavra correta) é alento, é motivo de satisfação - egoísta, dado o contexto - porque demonstra que há sim, não um monstro, mas um humano por trás daquela casca fraturada.

Pouco se pode compreender disso tudo. Além, é claro, do fato primário e básico de ser uma madrugada onde o desejo, não de ser e sim de fazer algo que foge da inércia, tem como origem um querer, de sinceridade incalculável, ser.

Não ser por si só, apenas para satisfazer um ego perdido e desiludido. A vontade de deixar o marasmo, que subjuga a vontade e o querer, para trás vem por haver algo muito maior do que a preocupação com o eu.

Para o que vem - e a confiança de que virá não parece ser, ainda, uma insensatez - é preciso estar em movimento, com vontade, desejo, querendo, buscando, sendo.

Fazendo.

Por mais que seja ruim ir dormir com uma decepção decorrida de um erro, senti-la e, principalmente, sentir a vontade de superar as limitações que levaram àquilo é como um presente às avessas.

Como um livro para um analfabeto. É preciso que ele aprenda a ler antes de ser um presente útil. Mas é um presente útil independentemente do fato de ele não saber ler. Porque alguém sabe, sim, e pode ler o que está escrito para ele. Entretanto, se quiser não depender de mais ninguém, usando o livro por conta própria, é preciso muito esforço.

Era cômodo esperar que alguém lesse o livro. A vontade fazer a leitura com meus olhos, hoje, tirou esse comodismo de mim.

E isso, e não a decepção, que é bom.