segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Retratos de uma sociedade patética (12) - A manchete que desrespeita



Difícil encontrar alguma pessoa que, possuindo o mínimo de amor no coração, não ficou chocada ou sensibilizada com a tragédia que vitimou centenas de jovens em uma boate de Santa Maria. Salvo pessoas inescrupulosas que na internet demonstraram sua completa falta de humanidade, o que se viu foram comentários cobrando justiça ou buscando levar apoio aos familiares das vítimas. As notícias que chegaram até nós, pessoas simples, através dos mais diferentes tipos de mídia foram, em parte, uma agressão tão grande ao luto de amigos e familiares envolvidos na tragédia quanto as palavras inescrupulosas anteriormente citadas. Ainda no domingo ouvi um jornalista perguntar ao comandante dos bombeiros se ‘poderiam ser filmados os corpos das vítimas’. Durante os dias seguintes, fotos e vídeos mostrando as lágrimas e todo sofrimento pelo qual passavam os que aqui continuam inundaram os sites e redes sociais, deixando claro que não há necessidade de zelo e respeito para com os sofrimento alheio, e que o importante é, apenas, ter uma matéria chamativa.

Até onde vender jornais e conseguir acessos nos sites é necessário? Usar de sensacionalismo cretino, desrespeitando o luto, a dor e a sede de silêncio dos amigos e familiares é, no mínimo, uma atitude digna de imbecis gananciosos e arrogantes. Seja oriundo de repórteres e fotógrafos ou de ‘ordens vindas de cima’, os dias que passaram nos mostraram que não há mais piedade e caridade entre humanos. Durante uma missa, uma senhora passou mal e, enquanto recebia atendimento, deitada e imobilizada, um fotógrafo insistentemente direcionava o flash a ela. Ele precisava mesmo fazer isso? Não consigo conceber que seja necessário invadir a privacidade e as feridas abertas durante a tragédia para mostrar o que aconteceu. É desumano o que foi feito, de várias formas.

Além do mais, o desrespeito dos jornalistas para com os momentos de oração, dentro ou fora das igrejas cristãs também deve ser mencionado. Celulares tocando, cadeiras sendo arrastadas para obter um melhor ângulo e, mais uma vez, fotos e mais fotos que perturbavam as pessoas que estavam sofrendo e buscando ali, na igreja, o seu refúgio, a sua tranquilidade.

De que vale fazer um juramento de ética profissional se, no momento em que uma tragédia dessas ocorre, prefere-se criar manchetes e obter imagens chocantes ao invés de apenas fazer o necessário: registrar os fatos. É válido, mesmo, ignorar a dor alheia para conseguir uma matéria com maior capacidade de atrair os olhares do grande público? E se esses jornalistas e fotógrafos estivessem a sofrer, gostariam que os corpos dilacerados de seus entes queridos fossem tratados como sacos de lixo, e os seus próprios sentimentos como fonte de renda de alguém?

Falta respeito, piedade e, acima de tudo, falta amor.

Que Deus abençoe a todos os que sofrem por conta desse absurdo que emudeceu a cidade de Santa Maria e que todas essas pessoas que usaram e estão usando dessa tragédia para o bem próprio aprendam, da maneira que for, o que é amar, o que é o Amor.

Vinícius Manfio, 21 anos, estudante de Engenharia Civil e vice coordenador do Grupo de Oração Jovem São Pedro.

Santa Maria, 04 de Fevereiro de 2013

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