Difícil encontrar alguma pessoa
que, possuindo o mínimo de amor no coração, não ficou chocada ou sensibilizada
com a tragédia que vitimou centenas de jovens em uma boate de Santa Maria.
Salvo pessoas inescrupulosas que na internet demonstraram sua completa falta de
humanidade, o que se viu foram comentários cobrando justiça ou buscando levar
apoio aos familiares das vítimas. As notícias que chegaram até nós, pessoas
simples, através dos mais diferentes tipos de mídia foram, em parte, uma
agressão tão grande ao luto de amigos e familiares envolvidos na tragédia
quanto as palavras inescrupulosas anteriormente citadas. Ainda no domingo ouvi
um jornalista perguntar ao comandante dos bombeiros se ‘poderiam ser filmados
os corpos das vítimas’. Durante os dias seguintes, fotos e vídeos mostrando as
lágrimas e todo sofrimento pelo qual passavam os que aqui continuam inundaram
os sites e redes sociais, deixando claro que não há necessidade de zelo e
respeito para com os sofrimento alheio, e que o importante é, apenas, ter uma
matéria chamativa.
Até onde vender jornais e
conseguir acessos nos sites é necessário? Usar de sensacionalismo cretino,
desrespeitando o luto, a dor e a sede de silêncio dos amigos e familiares é, no
mínimo, uma atitude digna de imbecis gananciosos e arrogantes. Seja oriundo de
repórteres e fotógrafos ou de ‘ordens vindas de cima’, os dias que passaram nos
mostraram que não há mais piedade e caridade entre humanos. Durante uma missa,
uma senhora passou mal e, enquanto recebia atendimento, deitada e imobilizada,
um fotógrafo insistentemente direcionava o flash a ela. Ele precisava mesmo
fazer isso? Não consigo conceber que seja necessário invadir a privacidade e as
feridas abertas durante a tragédia para mostrar o que aconteceu. É desumano o
que foi feito, de várias formas.
Além do mais, o desrespeito dos jornalistas
para com os momentos de oração, dentro ou fora das igrejas cristãs também deve
ser mencionado. Celulares tocando, cadeiras sendo arrastadas para obter um
melhor ângulo e, mais uma vez, fotos e mais fotos que perturbavam as pessoas que
estavam sofrendo e buscando ali, na igreja, o seu refúgio, a sua tranquilidade.
De que vale fazer um juramento de
ética profissional se, no momento em que uma tragédia dessas ocorre, prefere-se
criar manchetes e obter imagens chocantes ao invés de apenas fazer o necessário:
registrar os fatos. É válido, mesmo, ignorar a dor alheia para conseguir uma
matéria com maior capacidade de atrair os olhares do grande público? E se esses
jornalistas e fotógrafos estivessem a sofrer, gostariam que os corpos
dilacerados de seus entes queridos fossem tratados como sacos de lixo, e os
seus próprios sentimentos como fonte de renda de alguém?
Falta respeito, piedade e, acima de
tudo, falta amor.
Que Deus abençoe a todos os que
sofrem por conta desse absurdo que emudeceu a cidade de Santa Maria e que todas essas pessoas que usaram e estão usando dessa tragédia para o bem próprio aprendam, da maneira que for, o que é amar, o que é o Amor.
Vinícius Manfio, 21 anos,
estudante de Engenharia Civil e vice coordenador do Grupo de Oração Jovem São
Pedro.
Santa Maria, 04 de Fevereiro de
2013
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