sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Pedaços de um pensamento (68)

É possível, e provável, que a inércia que atinge cada centímetro da minha existência, há incontáveis dias - que certamente já passaram de meses, quando somados - esteja agora levando um soco na boca do estômago.  Mas daqueles violentos, com raiva, ou dos que mais doem de fato, que são os inesperados.

Embora não seja de todo inesperado, essa grande pancada veio em um momento propício, embora dizer isso seja uma uma grande estupidez. Quando a dor e a tristeza, frutos de humanidade e caridade, não consegue forçar movimentos pessoais, é porque algo muito sério continua escondido, guardado ou reprimido. Se algo gigante, assim, acaba sendo incapaz de locomover alguma coisa nesse pedaço de vida, num todo, quase imóvel, é porque há muito a acontecer.

Ou nada a continuar, eternamente em ciclos incontáveis e lastimáveis - sem soma ou adição.

Há, entretanto, algo sendo quebrado. Rasgado, arrancado pedaço por pedaço. Como se fosse um ovo cozido sendo descascado após ter caído no chão. Os pedaços são muitos e não há automatização nesse processo - a menos que você conheça ovos cozidos e saiba que há uma espécie de pele por baixo da casca que, quando arrancada, traz consigo os pedaços de casca. Do ovo, claro.

Esse é o ponto de quebra, de retirada de coisas que, agora, só atrapalham, é quase o momento definitivo de encarar algo de frente, sem máscaras de imaginação, de idealização ou mesmo de repreensão. Porque toda verdade exige uma grande responsabilidade.

E sentir, qualquer coisa que seja, é essencial nesse ponto. Caso contrário, é monstro, e não humano, o que há por trás de tudo isso que agora, quebrado, é retirado com alguma facilidade. Foi preciso que sentisse como se estivesse à beira de perder o que nem bem conquistei para que voltasse a sentir sangue circulando nas veias.

Mesmo que por decepção - para comigo - e não por outro motivo... mais nobre, por assim dizer, reencontrar-me em um ponto de indignação, de vontade, inconformismo(ou inconformidade, seja qual for a palavra correta) é alento, é motivo de satisfação - egoísta, dado o contexto - porque demonstra que há sim, não um monstro, mas um humano por trás daquela casca fraturada.

Pouco se pode compreender disso tudo. Além, é claro, do fato primário e básico de ser uma madrugada onde o desejo, não de ser e sim de fazer algo que foge da inércia, tem como origem um querer, de sinceridade incalculável, ser.

Não ser por si só, apenas para satisfazer um ego perdido e desiludido. A vontade de deixar o marasmo, que subjuga a vontade e o querer, para trás vem por haver algo muito maior do que a preocupação com o eu.

Para o que vem - e a confiança de que virá não parece ser, ainda, uma insensatez - é preciso estar em movimento, com vontade, desejo, querendo, buscando, sendo.

Fazendo.

Por mais que seja ruim ir dormir com uma decepção decorrida de um erro, senti-la e, principalmente, sentir a vontade de superar as limitações que levaram àquilo é como um presente às avessas.

Como um livro para um analfabeto. É preciso que ele aprenda a ler antes de ser um presente útil. Mas é um presente útil independentemente do fato de ele não saber ler. Porque alguém sabe, sim, e pode ler o que está escrito para ele. Entretanto, se quiser não depender de mais ninguém, usando o livro por conta própria, é preciso muito esforço.

Era cômodo esperar que alguém lesse o livro. A vontade fazer a leitura com meus olhos, hoje, tirou esse comodismo de mim.

E isso, e não a decepção, que é bom.

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