sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

São típicas palavras de mau humor


Quem já voou sabe como é. Em avião, helicóptero ou sei lá o que mais. Quem já voou sabe como são as nuvens. Você passa por elas e nada delas fica em você. São como poeira levantada, com a diferença que duram muito mais tempo no céu do que a poeira dura voando próxima à terra. Por que então as nuvens são tidas como objetos de utopias subjetivas? Se elas são tanto quanto nada, só que longe do nosso humano alcance, não deveriam ser tão exaltadas, como se fossem importantes além da questão física da chuva.

Sonhos, objetivos e ideias, no sentido figurado, nas nuvens. No alto céu. Onde ninguém faz a menor ideia de como chegar, onde está ou mesmo por que fazer isso. Viajar sem destino para cima, para que? Morrer sem oxigênio? Subjetivamente, que morrêssemos todos no céu, longe de toda a podridão da terra. Mas faz alguma diferença? A morte é uma só, seja ela subjetiva ou simplesmente real.

Que diferença faz ir até as nuvens então?

Morramos todos aqui, pertinho da terra. Pelo menos ao cairmos no chão, não espalharemos pedaços de nós para todos os lados. Se é que sobram pedaços após quedas gigantescas em terra firme. O céu é só uma promessa, que só é cumprida após a morte.

Entretanto, isso sim depende de você.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O que me faz escrever?



Deixando de lado as maiores coisas a induzirem reflexões, que são o amor e a vida em si, hoje, uma semana depois da última coisa que escrevi aqui, tentei pensar no que já foi escrito, por mim(óbvio) e o que havia por trás além da vontade de escrever, da espontaneidade e da sinceridade, presentes em todos os textos.

Eu já escrevi desabafos. E como. Quem leu mais do que 5 textos aqui leu pelo menos um desabafo, certamente. Cheios de mágoa, tristeza, decepção, raiva, ou alguma coisa semelhante para a qual ainda não inventaram adjetivo ou advérbio correspondente. Desabafos, deprimentes ou engraçados, fundamentados para todos ou apenas para mim. Não importa, foram necessários.

Já escrevi coisas que acabariam sendo indiretas. Acabariam porque, no fim, as pessoas que 'deveriam' ler não leram, e não lêem, e não lerão. Coisas passadas que motivaram histórias ou aquele complexo emaranhado de frases soltas que quem lê tenta, mas não consegue entender.

Entendimento. Escrevi textos com um certo ar de arrogância, querendo que ninguém entendesse. Por mais que os comentários sejam poucos, há sempre uma busca de um seleto grupo de pessoas que enche-me de orgulho com frequentes visitas, que tentam entender. E não é culpa deles a não concretização desse entendimento. Alguns poucos foram intencionalmente complicados durante a escrita para que a generalização, errada, fosse tida como certa. Entenderam? Não, acho que não.

Já escrevi por estar feliz. O reencontro do Billi J. com a Renata foi num desses dias. Mesmo sem motivos para estar feliz, mesmo ainda incompleto, reflexivo, triste e coisas a mais, feliz por sentir algo grande, sincero, espontâneo e, sim, puro, em mim. Sentimento, ou até sentimentos, definidor de escolhas, sejam certas ou erradas.

Escrevi para agradecer. A Deus, aos amigos, à família. À vida em si, por me proporcionar tanta coisa, aprendizados, momentos de pura e simples existência e alguns de vivência intensa. Não há muito o que dizer aqui.

Escrevi. Escrevo. Escreverei. É ridículo usar o mesmo verbo em três tempos, mas nunca importei-me em ser, ou parecer, ridículo. Escrevo porque gosto, porque preciso, porque quero, porque é uma forma de aliviar alguma coisa ou mesmo de buscar respostas longínquas em palavras que, no fim, estão dentro de... mim. Não queria que rimasse.

Bom, os comentários estão aí, se alguém quiser dizer o que o faz escrever... bom. Já entenderam, pelo menos isso.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Histórias de uma vida não vivida(15)




Cansei de tanto aprendizado, de tanta reflexão, de tanto pensamento. Cansei de ouvir as pessoas dizendo o que devo fazer. Cansei de ouvir de mim o que devo fazer. Cansado, exausto, quase inválido. Como as verdades que já não são mais verdades e as mentiras que são cada vez mais mentiras. Sem sossego, descanso ou uma assimilação de fato. Cansado da teoria, do raciocínio, da leitura e da escrita. Do nada. Daquele maldito nada em que vivo uma parte da minha vida.*

Dizem que a vida é feita de escolhas. Nunca pensei nada a respeito dessa frase. Acho que escolhas são feitas todos os dias, todos os momentos, mas não acho que a vida seja feita de escolhas. Talvez também, mas não necessariamente à partir delas, apenas. Estranho? Muito, mas eu insisto que nunca pensei bastante nisso, nessa frase, nesse sentido todo que essas palavras que as pessoas tanto gostam de dizer possam ter.

Pensando bem, se eu fosse pensar bastante em tudo o que dizem por aí, não teria tempo para pensar nas coisas que eu digo ou posso dizer. São tantas frases que nem sei qual outro exemplo citar. Não vou entrar na questão qualidade, oportunidade ou mesmo intenção das frases ditas, mas que são muitas ditas não há como negar.

Entendendo que não pensava e não ouvia muito, resolvi aceitar e seguir tudo o que me diziam. Loucura, eu sei.

Começando de manhã quando, respondendo à pergunta de meu pai, deixei escapar que estava triste por causa de uma guria. Ele então me disse "mulher é que nem esse café que estou tomando, se esfriar, perde o gosto". Isso foi profundo demais, mas enfim, resolvi 'beber' o café antes que esfriasse. Mas acho que não entendi direito já que os resultados foram três dentes quebrados, os braços cheios de arranhões e um olho roxo.

Ao voltar para casa, disse à mãe que estava com problemas na escola, com dificuldades de aprendizagem. Ela então foi sábia e disse-me: "Quanto mais você estuda, mais você aprende". Fiquei 12 horas seguidas estudando. Todas as matérias, artigos, livros, enfim, tudo o que poderia me dar conhecimento, principalmente o conteúdo da prova da manhã seguinte. O resultado também não foi muito bom, já que tive enxaqueca, meus olhos arderam muito e não pude fazer a prova do dia seguinte já que demorei para acordar, pois fui dormir tarde demais por estar estudando, e cheguei atrasado.

Fui reclamar com o diretor da escola, que me disse: "A pontualidade é a chave do sucesso". Então, por dias, fui pontual em tudo. Acordava 5 minutos antes para ser pontual na fila do banheiro, comia antes para chegar antes na parada de ônibus para chegar antes na escola e nunca mais perder uma prova. Só que também não deu certo, já que cheguei tão antes na parada de ônibus que peguei o ônibus errado e fui parar no bairro mais violento da cidade, sendo lá assaltado e agredido verbal e fisicamente.

Na delegacia onde denunciei os agressores, o delegado me disse "Amoldar-se à dor é vencê-la". Essa foi a frase mais complexa para mim, mas decidi aceitá-la como regra de vida. Preciso dizer que não deu certo? Primeiro, amoldar é algo como adaptar, eu acho. Então aceitei toda e qualquer dor como algo normal e passei a ser um vencedor? Não. Fui despedido da empresa onde estagiava pois o meu chefe me disse que eu não era ambicioso o suficiente, já que aceitava as derrotas, que não deixavam de ser dores sentidas pela minha mente, como algo normal.

Desesperado, fui ao psicólogo. Ele me disse apenas que 'a imaginação é mais importante que o conhecimento'. Só que aquele idiota esqueceu de me avisar que eu não posso imaginar respostas nas provas de matemática, física e biologia. Os professores ainda ridicularizaram minhas respostas e fiquei conhecido com o maior idiota da história da escola. Imaginação... aquele psicólogo idiota.

Li então no jornal que 'depois de algum tempo você aprende que o sol queima se ficarmos expostos nele por muito tempo'. E não é que deu certo dessa vez? Fiquei das 10 da manhã às 3 da tarde na praia e fiquei quase preto de tão queimado, parecia que eu tinha sido jogado numa frigideira e esqueceram de me tirar depois de lá.

À partir do momento que uma frase de outra pessoa fez sentido para mim, completei minha missão.

Bom, qual era a minha missão?

*só esse parágrafo realmente faz sentido com relação à minha vida

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Frase do dia(ou da série 'frases apenas subjetivamente significativas)


Não importa se a casquinha do sorvete é de baunilha ou de chocolate.
O que importa é que você tenha onde colocar o sorvete.



*não quero que pensem que sou um monstro, que odeio o ser humano nas suas mais diversas formas ou que odeio e acho desnecessários e estúpidos os comentários que recebo. Não. Não acho isso, não quero que pensem que sou um monstro que apenas posso parecer ser. O texto abaixo foi um desabafo motivado por motivos que nada a ver tinham com ele. Gosto de demonstrações voluntariosas de ajuda, mesmo que a única consequência seja um sorriso. Não há muito sentido em muitas coisas que escrevo. Mesmo assim, obrigado a todos por tentarem entender o que muitas vezes não há possibilidade de entender, tamanhas confusão, indefinição e subjetividade.

Sinceramente...


As pessoas podem resolver os problemas de todos, menos os seus. Elas acham isso. Eu, há muito tempo, achava isso. Mas não só não posso resolver os problemas dos outros, como continuo sem poder resolver alguns dos meus. Alguns.

Seria arrogância essa história de julgar-se conhecedor de tudo, vivenciador de tudo o que os outros estão passando para assim ter conhecimento e experiência para dar conselhos? Talvez, cada um coloca o adjetivo que bem entende.

Entender. Verbo banalizado demais. Todos entendem tudo, sabem de tudo o que os outros estão passando, como estão se sentindo. Mentirosos hipócritas e arrogantes. Eu pelo menos fujo disso, já que assumo não saber nada nem mesmo da minha vida. E tento ajudar os outros, mas não mais dizendo que os meus problemas são piores ou que já passei por tudo o que as outras pessoas estão passando.

Cada um ganha um buraco. E o óbvio é jogar-se nele. Eu fiquei sentado à beira do meu, olhando para baixo e vivendo como se lá estivesse. Talvez estivesse mesmo, não importa, mas pelo menos não achei que era a pior vida do mundo a minha. Sim, em algum momento achei, mas logo parei de pensar que fosse mesmo. Embora para mim fosse, para os outros não era, então, como era apenas o meu mundo, o meu buraco, a minha imaginação, os meus problemas, a minha vida, eu sabia o que estava acontecendo, ou não, e tentava entender.

O engraçado é que as pessoas achavam, e demonstram ainda achar, que me entendem completamente, que já viveram tudo isso, do mesmo jeito que vivi. Que eu cavei meu próprio buraco e que sairía de lá quando quisesse, já que estava lá por escolha própria.

As pessoas acham demais. As pessoas acham demais da vida das outras pessoas. As pessoas acham que sabem demais de tudo, e contam para as outras pessoas como se esse inexistente tudo fosse a verdade única. O caso único. A única solução, visão, saída e entendimento.

Sério, as pessoas são muito irritantes, muito arrogantes e pouco pensantes. Era preciso colocar uma rima estúpida para facilitar a leitura. Para facilitar o entendimento, já que o que as pessoas buscam é entendimento dos outros, da vida dos outros, das palavras e dos buracos dos outros. Jamais dos seus.


*Esse que aqui escreve, tomado por uma raiva franca e fraca, desabafou.
*Não levem em conta nada disso na hora de um desnecessário julgamento.
*Há sim, textos melhores a serem comentados, os marcadores estão ao lado

*Espaço próprio, para vida, conhecimento, experiências e buracos próprios.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Algo de um passado não tão distante



"Longa viagem, longa reflexão, longas e distantes ideias e nenhuma conclusão. Ou seja, nenhuma novidade. Um entendimento incompleto. Um sentido esquecido. Algo incontrolável, imutável, instável e sem qualquer perspectiva de melhora ou mudança. Medo do provável, do imaginável, daquilo que jamais deveria existir. Longe, de mim, da verdade, da sinceridade, da espontaneidade. Distante dos meus olhos, das minhas mãos. Distante de mim, do meu coração. Um sonho, um sentimento, uma verdade, distantes de tudo. Eu, distante de um tudo tão relativo quanto escolhas superficiais, com futuros patéticos. E eu aqui. Perdido, longe."


*escrito no dia 26/12/09, no meu celular. 
Dias complicados, sem muita fundamentação mental. 
Dias chatos, monótonos e cansativos pela falta do que fazer. 
Acabei publicando no Lar dos Escrivólatras antes. 
Nada mais a dizer.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Frase do dia(vinda do twitter) e uma instigação(?) subjetiva



A vida é como um jogo de pingue pongue. 
E você pode ser a bola 
ou a raquete.


*O legal de escrever uma frase é dar uma ideia maior para ela, uma dimensão maior que a coloque num patamar superior ao de uma simples frase. Quando pensei nisso, não pensei no sentido subjetivamente óbvio, do você controla ou é controlado, bate ou apanha, não, até porque ação e reação seriam respostas físicas bem cabíveis(e chatas). Vem a ideia do livre arbítrio novamente, mas não quis dizer isso também. Cada um vai entender de um jeito, pensar de um jeito, achar uma ou outra coisa, ou não achar, pensar, entender nada. É só uma frase que você, assim como eu fiz, poderá transformá-la em alguns pensamentos mais, ou menos, profundos, com ou sem algum sentido e alguma produtividade. Talvez essa escolha não seja sua, mas do seu sub-consciente. Não importa, só por você ler, acho que cumpri meu dever de ajudar a tirar pessoas do caminho do big brother e das novelas. Sim, eu sei que isso não é uma grande cultura mas, de uma forma ou de outra, é leitura. E pelo menos ajuda a manter a mente saudável. Ou leva a, como aconteceu comigo, insanidade mental, o não conseguir distinguir alguma coisa mas ainda assim(e isso é opcional) achar que sabe-se muito sobre pouco e tudo sobre o nada.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Quantidade, tempo, valor, quem?

Hão de dar valor apenas quando descobrirem onde está o valor, ou ainda o que é valor. E, provavelmente, será tarde para colocar esse valor no lugar certo. Mesmo que tapas sejam dados, mesmo que luzes ceguem, mesmo que pedras sejam atiradas e palavras sejam proferidas, não há como ir contra o livre-arbítrio. Restará o arrependimento e a tentativa, talvez frustrada, de compensar de alguma forma, provando uma mudança. E o julgamento cabe a cada portador do valor, seja ele qual for.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Frase do dia(ou uma verdadeira declaração de amor)


E como ela é linda... 
e como eu perco o chão, 
como meu coração bate mais forte, 
como todas as outras coisas parecem não existir, 
apenas, e somente apenas, 
por vê-la.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Só de passagem, sobre os últimos dias, os últimos aprendizados


Mesmo que seja apenas uma possibilidade, que nenhuma probabilidade seja confirmada e que as más expectativas não sejam confirmadas, aprendi muita coisa nas últimas semanas. Olhei a minha existência com outros olhos. Os olhos de cima, muito mais distantes do que a própria distância possível. Pode até ser inacreditável, mas os sentimentos não mudaram, nem os sonhos, nem os desejos. A única coisa que mudou foi a minha visão sobre o simples fato de haver um coração que pulsa em meu peito. Poucos acabam dando-se conta disso tão cedo, e tive essa oportunidade. Pedi para Deus um caminho e Ele me mostrou que eu estou no caminho. Longe de muita coisa, sentindo-me perdido, mas jamais sozinho e fora do rumo certo. Muita coisa virá, ou nada disso será confirmado. O importante é que sei que estarei pronto, pois, além de fé Naquele que me fortalece, sinto-me muito mais corajoso a encarar o que poderá vir. E ainda há o amor, motivação de todas as lutas justas, que estranhamente só cresce dentro de mim.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Histórias do Billi J. – Joguei o jogo de jogar


Embarcou no ônibus rumo à Porto Alegre. Apresentaria uma proposta aos donos da empresa onde trabalhava. Coisa boa, bem trabalhada, fundamentada e qualificada. Afinal, Billi J. era inteligente, dedicado e voluntarioso, ou seja, qualquer boa idéia que surgia era logo transformada em algo a ser feito.

Sentou no ônibus e de cara deparou-se com uma daquelas escandalosas, porém normais, situações de quem viaja de ônibus: uma mulher histérica porque alguém sentara na ‘sua cadeira’. Como em todos os casos, a falta de bom senso das pessoas que dizem que a marcação deveria ser cumprida, largando uma indireta irritante a quem, talvez por descuido(ou porque alguém sentou na cadeira que seria ‘a sua’), estava sentado no ‘seu’ lugar. No fim, as pessoas que estão sentadas no lugar ‘errado’ levantam-se, geralmente perplexos pela falta de bom senso.

E dessa vez não foi diferente.

O Billi J. agradeceu aos céus pela cadeira, ou poltrona que seja, com o número que estava na sua passagem estar livre. Sentou-se e logo depois sentou ao seu lado uma loira. E que loira. O Billi J. reparou bem nela enquanto a mesma colocava sua mala no... (como chama aquilo?) lugar para as malas que fica acima da cabeça de quem senta na poltrona da janela. Mas nada demais, ela era bonita mas não era incomparável à sua exuberante Renata.

Pois então. Saiu o ônibus e o Billi J., seguindo o conselho do seu antigo psiquiatra, resolveu conversar com aquela loira, apenas para conversar. Perguntou de onde ela era, o que fazia na cidade já que nunca havia visto-a por lá, enfim, coisas simples que não são intromissões nem desrespeito. E não é que ele foi mal entendido pela loira. Ela respondeu algo como:

-Estava passando o final de semana com o MEU MARIDO. Porque o MEU MARIDO tem parentes aqui e achei bom visitar eles. O MEU MARIDO é bombeiro e voltou para Porto Alegre ontem, e eu estou voltando hoje para lá, onde moramos e somos felizes.

Os substantivos escritas todas em maiúsculo não são mera coincidência. Idem para os pronomes possessivos. Ela explicitou que tinha um marido três vezes em três frases. Era como se o Billi J. tivesse dito algo como ‘quando chegarmos você quer sair comigo?’ ou ‘gatinha, rola?’(em uma linguagem bem chula que plaiboizinhos usam). Mas ele sequer havia pensado naquela possibilidade.

Então voltou-se para a janela e ficou pensando. Logo veio a idéia de que se ele fosse um daqueles personagens de filme hollywoodiano, aqueles caras que recebem uma resposta dessa e, com a intenção entendida pela mulher, falam algo do tipo:

- Pelo visto você é casada, e fiel ao seu marido, mas não se preocupe, não estou interessado nele. Nem em você.

Ou:

-Três pronomes possessivos em três frases, muito bem, você é paranóica e tem medo que eu te agarre.

Ou ainda:
- Insistindo no 'meu marido', você está insegura e tem medo de não conseguir negar que sentiu-se atraída por mim.

Ou então qualquer outra frase de efeito dita em filme que faria uma análise das palavras ditas por ela, como se o cara fosse inteligente, ou querendo fingir-se um. Ele, com ou sem a intenção pensada por ela, sairia como se fosse o poderoso, o senhor de tudo. Ridículo sim, por isso o Billi J. resolveu responder:


- Que legal, meu sonho de criança era ser bombeiro. Eu até havia começado a preparação mas a MINHA NAMORADA não quis. A MINHA NAMORADA achou perigoso e temia que ficasse ferido. Mas ainda ajudo os bombeiros quando posso, menos em caso de incêndio, já que a MINHA NAMORADA não quer que eu carregue qualquer mulher que seja no colo, mesmo que seja para salvá-la.


E mesmo que não fosse verdade, ainda completou:


- O bom é que vou encontrar a MINHA NAMORADA quando chegar ao meu apartamento em Porto Alegre. Ela vai ficar feliz em ver-me.


Envergonhada, a loira trocou de banco na parada seguinte, alegando que sentar nos bancos da frente estava lhe fazendo mal. Foi até o último banco e ficou lá, calada, como quem diz ‘que grande merda que eu fiz’.


Billi J. sentiu-se satisfeito pelo que dissera. Mesmo que inventara toda a história do sonho de criança, da casa em Porto Alegre, enfim.


E nunca mais a viu. Lá, aqui ou acolá.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Eu já nem sei mais o que é isso


Pouco importa se a nuvem foi um dia algodão, ou se houve alguma nuvem.

Pouco importa se o ar parece vital ou é de fato indispensável.

Pouco importa pedra, flor, espinho e todo o resto do jardim.

Pouco importa se acham que a minha vida é uma grande coisa.

Pouco importa quantos exemplos de coisas boas ou certas eu posso dar.

Pouco importam todos aqueles que clamam por socorro, mas que acabam fechando seus ouvidos.

Sinceramente, pouco tem me importado o mundo.

Porque os meus sorrisos são incompletos.

Porque os dias não me agradam.

Porque as coisas não me trazem lembranças.

Porque as palavras já não aliviam mais.

Porque eu não posso ser o que os meus amigos merecem.

Porque eu erro sem saber.

Porque deixo de buscar na minha família.

Porque não consigo abrir meu coração todo para Deus.



E porque, qualquer que seja o advérbio cabível aqui, os raios do sol não chegam até mim.


É complicado dizer. É duro pensar. É angustiante sentir.
Espero um dia merecer essas pessoas que, mesmo sem saber, ainda lutam por mim.
Até quando ?

sábado, 2 de janeiro de 2010

Frase do dia

"A luta é parecida mas não é a mesma, 
o sonho é semelhante porém não é o mesmo, 
a história não é a mesma, a pessoa não é a mesma. 
Entretanto, só por saber que existe alguém 
que é igualmente chamado de burro, 
de idiota e de coisas piores, apenas por sonhar
sinto-me melhor. 
E mais forte. 
Não me sinto mais como se fosse o único, 
mas nunca achei que gostaria tanto de não ser a sentir-me único como exceção de uma regra."


*obrigado, amigo, 
por ser de certa forma um espelho para mim

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Histórias do Bandiolo - E o que te importa?

Estavam aqueles senhores conversando. Senhores e senhoras de idade, diga-se de passagem. A vida, o tempo, a política, o mundo e histórias antigas. Conversavam sobre qualquer coisa. Afinal de contas, o tempo para eles não era mais nada, não tinham pressa nem afazeres. Aposentados, aproveitando as companhias uns dos outros, e mais nada.

Quando uma das senhoras presentes desmaiou, indo ao chão como se esse fosse um macio cobertor, todos ficaram apavorados, principalmente seu marido, um senhor muito estranho, o que agora não vem ao caso. Logo tentaram levantá-la, abanaram, sopraram e tentaram reanimá-la, reacordá-la ou qualquer coisa que pudesse dar-lhes a certeza de que estava viva.

Mas nada.

Até que alguém teve a brilhante ideia de jogar um pouquinho de água em seu rosto, o que deveria trazer alguma consequência positiva. Foi então a outra senhora presente até a cozinha da casa, que era do casal cuja mulher havia desmaiado, mas logo foi seguida pelo dono da casa, o estranho homem já citado, que disse:
-Deixa que eu pego a água, se não você acaba enchendo o copo e isso não é preciso, porque a água é cara, temos que economizar.

Sem entender direito, mas preocupada com sua vizinha, amiga, ou o que quer que seja, deixou que o homem pingasse algumas gotas em um copo e atirasse no rosto da mulher.

Ela abriu os olhos. Alívio geral. Mas quando disse 'me levem para o hospital porque estou mal', todos voltaram a ficar preocupados. Então carregaram-na até o carro dos visitantes, já que ele estava supostamente mais próximo da rua, ou seja, demoraria menos tempo para sair dali. Os visitantes sabiam que ele era mão de vaca e não queria gastar gasolina, mas nada disseram, pois eram generosos e achavam aquilo engraçado.

Antes de saírem, o dono da casa voltou até ela e pegou uma grande quantidade de folhas, que pareciam ser documentos, jogando-na dentro da bolsa da sua mulher, que iria no banco da frente. Sem saber o que eram aqueles papeis, o visitante ligou o carro e partiram.

Era uma subida longa, mas mesmo assim a mulher que havia passado mal estava com a cabeça inclinada para frente, como se estivesse vomitando. Então sua amiga, do banco de trás, tentava, em vão, manter o pescoço, a cabeça da mulher reta, para que não piorasse.

Seguiram o caminho até que, curiosamente no fim da subida, a mulher ergueu a cabeça, encheu o peito e disse:
-Achei o cartão do plano de saúde.

Seu marido quase soltou foguetes de tanta alegria. Seus amigos ficaram olhando, sem entender muito, até que o marido da doente disse:
-Vocês acham que eu ia gastar dinheiro com uma bobagenzinha dessas? Ela tem essa porcaria de cartão de plano de saúde, então que use já que está passando mal, eu não vou gastar um centavo com um desmaio dessa mulher que tá só carne e osso.

Parecia que ele havia enchido a sua mulher de glórias* mas não, ele era assim, o tempo inteiro. Depois daquilo, nenhuma outra palavra foi dita, nem depois que saíram do hospital.

*por mais que não pareça, a gíria 'encher alguém de glórias' significa destratar, ofender