quarta-feira, 28 de abril de 2010

Histórias do Billi J. - Eu era, eu sou e sei que serei


Dos tempos da faculdade, o Billi J. traz à tona sempre o dia em que passou a dar valor para tudo o que havia feito. Ou seja, essa história ocorre antes disso e depois disso(p1, p2, p3, p4).(clicando nos disso você vai para as respectivas histórias e blábláblá)

Recém entrara na faculdade, longe do amor, do seu amor, da sua Renata, separado dela por uma distância que ultrapassava o gigantesco, sozinho. É, sozinho, pois seu irmão não contava, uma vez que era pirralho bobo e nada sabia, nada entendia, a não ser sobre tortinhas de baunilha, circuitos elétricos, video-games e a vizinha da frente. Que porcaria. Sozinho, muito embora essa fosse uma constante da sua vida, antes de Renata, e durante o período que esteve perto dela(e, arrependimento maldito!, longe simultaneamente). Sozinho. Sozinho. Sozinho.

Não era a sua essa história de festas. Para ser sincero, o Billi J. admitiu que a primeira festa em que foi, por vontade própria, foi aquela em que ele deixou de ser um menino e passou a ser um homem(frase dita por Michael Jordan e adaptada pelo próprio Billi), entregando e explicitando todo seu amor por Renata... ah Renata. A imagem daquele paraíso em forma feminina, daquela, agora, mulher com o jeito angelical e puro de menina, ah Renata, Renata. E como seus cabelos balançavam enquanto ela caminhava, como seus olhos brilhavam quando estava feliz...

Mas a vida era outra. E o Billi J., como eu já disse, estava só. Sentindo-se só. Odiava aglomerações e só não era antissocial por completo porque frequentava faculdade, supermercado e banco. Bom, uma vez ou outra a padaria, já que os brigadeiros daquela portuguesa com sotaque russo eram fantásticos. Ãhn, onde estava? Ah sim. Solidão, Billi J., antissocial, é, por aí.

Sem vontade, quase desistindo do seu ainda não sonho profissional, o Billi J. queria dar um fim nessa situação. Era a última vez que passaria por aquela situação que, se não era péssima, beirava o insuportável apenas. Não que fizesse alguma diferença, uma vez que o Billi J. não queria mais aquilo. Sentia-se só, estava só. Só, só, só. Só solidão. Solidão do cão que vê os donos abandonarem a casa por não pagar o aluguel. Um pouco forçado, mas não deixa de ser.

Durante o caminho, começou a lembrar da sua infância. Crianças brincando. Uma mais afastada. Deveria ser ele. É, era ele, pois era uma criança franzina, usando óculos, longe da maioria, sentada em um banco comendo a merenda e olhando para o céu, imaginando quem sabe um dia ser astronauta. Sonho de criança que o Billi J. nunca realizou. E viu naquela criança a melhor lembrança. Sempre fora diferente, sentira-se diferente, distanciava-se da maioria. Distante da maioria. Sempre e sempre.

Essa tônica desde cedo havia desgastado o Billi J. como ser humano por si em sociedade. Não pensava em mudar, apenas em como seria se não fosse tão diferente, tão estranho, tão distante da maioria. Como seria se gostasse da maioria, de conviver com a maioria, com suas generalizações e banalizações, com falsas verdades, sonhos e sentimentos ilusórios. Não, deixa para lá. A lembrança daquele menino, de si mesmo quando criança, bastava para perceber que poderia ser e viver sendo assim, desse jeito estranho.

O menino se foi, ficou para trás como se fosse parte do passado. E não deixava, mesmo, de ser apenas passado, embora muito daquele menino continuasse no Billi J. do hoje. Depois do menino, veio a lembrança da quarta, quinta ou sexta série. Não soube ao certo qual daqueles anos viera à tona na sua mente, em uma vaga mas desejada lembrança. E a permanência da diferença, agora com as brincadeiras estúpidas por parte dos outros, o menosprezo de alguns por seus ideais e convições politicamente corretos, algo difícil de manter nessa idade. O... amor. Bom, isso se resume à Renata. Nessa época já havia descoberto seu amor por ela. Já sentia o coração quase explodir em pulsações sentimentalmente sinceras. Bom, era melhor nem lembrar dela agora.

Junto com o desejo de não lembrar mais do começo de seu amor pela Renata, foi-se embora a imagem do Billi J. pré-adolescente. Como se fosse um melhores momentos, veio então a temida, mas igualmente bem-vinda, lembrança do ensino médio. Tão mais próxima do presente. Tão mais intensa, tão mais vivida. Amor e ódio, a raiva e a felicidade, a espontânea risada e os incontáveis e indescritíveis sorrisos da Renata. Ah, só pensava nela. todas as suas lembranças traziam ela consigo. E mesmo nessa retrospectiva indireta e de certa forma incontrolável, ela estava onde devia estar, onde havia estado de fato no passado do Billi J..

E do passado para o presente, longe, distante. Da felicidade que surgiu daqueles poucos momentos de intensa vivência daquele amor para a tristeza e a dor da distância, da ausência, da perda. Renata. E por ela veio tudo o que de bom conseguira fazer. Tudo o que de melhor conseguia demonstrar. Por ela, e consequentemente por si mesmo. Louco, percebeu que o ônibus havia chegado na universidade. Não teve que abrir os olhos, pois não havia dormido.

Já não sabia se tivera mesmo as lembranças ou se apenas vira em uma escola para crianças, uma de ensino fundamental e a outra de ensino médio, alguém que representava a si em tempos passados. Dúvida indiferente, pois a lembrança ou a visão lhe trouxeram vontade.

Pois a partir delas, vistas ou pensadas, voltara a sentir orgulho de sua constância e da sua persistência com suas convicções e ideais. Estava só sim, longe dela, mas e daí? O amor era o mesmo. Ele era o mesmo.

E aquilo, certamente, era um ótimo motivo para continuar, pois ele era se não tudo, pelo menos uma boa parte, do que queria ser.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Histórias do Bandiolo - Você não gritou, você não viveu. Você apenas existiu. E morreu.

Diferentemente do pobre que não tem nada mas quando uma enchente arrasa sua casa ele diz que perde tudo, este, aquele, seja lá quem ele era e onde estava, não perdera tudo. Pelo menos não ainda. Centrado e concentrado em seus afazeres, por um instante um asterisco caiu em sua cabeça. E o pensamento foi longe. Muito mais longe do que seus afazeres necessitavam que ele fosse.

E voou em pensamentos longínquos, distantes, até que um outro asterisco caiu sobre si. Então parou, olhou para os lados. Estava agora na sua infância. Procurou uma poça d'água e nela viu seu reflexo. Voltara a ser criança naquele momento. Tão jovem, cheio de vontade, de disposição, de pureza, de inocência. Quando aproximou-se de seus antigos colegas, começou a chover. E então sua viagem continou. Para longe dali.

Estava agora na faculdade. Aquela coisa louca e com pouco daquilo que tivera na infância. Agora o seu eu falava mais alto do que alguma coletividade. Os nervos e as células todas à flor da pele. Não sabia explicar aquela sensação, mas sentia-se poderoso, dono do mundo, do seu imenso mundo, o qual não possuía fronteiras. Era dono daquilo, de si. E ao avistar a antiga paixão, começou a nevar. E diferente da intensidade da chuva, a neve veio calma, e logo tudo ficou branco.

Em um piscar de olhos chegou novamente onde estava. Senhor de idade, viúvo, só. Solidão que nunca lhe acompanhara e que ao conhecê-lo nunca mais separou-se dele. Não fazia mais diferença alguma. Sem herdeiros ou pequenos guerreiros em sua vida, via-se cercado de trabalho, de seu trabalho. Mas não queria mais aquilo. Queria paz. A morte lhe traria paz, pensou.

E foi em busca disso. Sem janelas, sem cordas, sem armas ou venenos. Queria que o céu caísse sobre sua cabeça, tendo então, uma glória. Glória avessa, estúpida e vazia. Mas era a glória que queria, já que a única que conseguira em sua vida o mundo lhe tirou da pior maneira possível. Distante da morte, rente ao patético. Sua Glória lhe abandonara. Anos atrás. Pela mulher mais gorda que já pisou na face da terra. Talvez tenha sido dela, da sua antiga Glória, a glória de ter sido a primeira mulher a largar um marido para viver com outra mulher.

Glória avessa, glória devassa. Glória ingloriosa para este que, vendo sua vida sem sentido, já estava morto e não sabia. Existira por anos, até que decidiu glorificar-se pelo céu descer sobre si e arrasar com tudo o que havia existido em sua patética vida.

Estava morto e não sabia, por isso sua vontade de morrer com alguma glória fora apenas um sonho que não existiu, pois ele já não existia mais. E só depois que o asterisco caiu em sua cabeça percebeu que ele era, na verdade, um pedaço do telhado de sua casa. Asterisco maldito, que o levou para longe, o fez pensar numa falta de vida naquela existência imunda.

Morreu, perdendo naquele asterisco a última chance de ter uma glória antes da sua morte, ou durante a mesma.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Histórias do Bandiolo - Liberte-se de si, vivendo livre consigo


Livre de algemas, mas não de correntes. Tudo imaginação, exagero, não! Tudo verdade. Inconveniente e dolorida. Verdade que os males do mundo trazem à tona e o jogam na lona, para debaixo do tapete, tão inconveniente, tão deprimente, tão verdade. Preso à sua maldita rotina, que nada de maldita haveria de ter se soubesse ser, viver, fazer acontecer. Só que sozinho não conseguiria, então pegou as correntes e prendeu-se à pessoas, não muito boas, achando que sua vida seria uma grande vida, sua existência seria muito mais do que um mundinho só seu. E deu no que deu. Uma pessoa livre, acorrentada imaginariamente pela verdade, repito, inconveniente e dormente. Pois só isso queria, só isso conseguia, apenas nisso convergia, sua triste, por tola opção, vida. Que vida? Que seria dele se não quisesse ser amigo, fazer de tudo pelos amigos. Amizade de uma mão, com um só coração, sendo o outro um invejoso meio-irmão. De meio em meio chegaria a um inteiro. Que nada, eram todos forasteiros em sua vida, interesseiros no seu fazer, na sua vontade, no seu próprio viver. E ele perdeu o seu, pois o entregou a outros que apenas usaram e, quando cansaram, largaram, foram procurar outro bobo.

Só queria um pouquinho de atenção, um pedaço de algum coração, para si, para preencher o seu vazio, outrora cheio de sentimentos, hoje oco com teias nos cantos. Só queria um sorriso, um recado, uma lembrança. A prova de que alguém percebia a sua existência, a sua sincera doação, seu espontâneo coração, sua singela e pura oração.

Viu-se só, quando percebeu que já não estava mais acorrentado. Sentiu. Frio, medo solidão. E tudo aquilo que pudesse vir de bom seria vão. Um abraço. Apenas uma abraço. Ou um sorriso. Ou uma palavra. Um mísero gesto.

O tudo que não existe é nada. O nada que não existe jamais será tudo. Compreendeu então que sua vida deveria ser prioridade. E que jamais deveria querer estar ao lado de alguém que não lhe queria ao lado.

Sentido uma imensa tristeza, às lágrimas, decidiu que ali seria um marco em sua vida.

Aquele seria o dia em que passaria a ter amor-próprio.

*irritante por rimas espontâneas, mas sincero. 
Mais uma vez a realidade se faz presente, 
o que não quer dizer que seja um texto auto-bibliográfico. 
O que também não quer dizer que, 
de certa forma,
não seja.

domingo, 18 de abril de 2010

No fundo do poço. Ou do prato.


Hoje, durante o meu singelo almoço, senti pena do arroz. É, do arroz. Aquele grão branco que é comido aos montes em vários almoços, de várias pessoas, com vários acompanhamentos. E é visto de muitos que o arroz, com raras exceções, nunca é prato principal. Ou é a feijoada, ou é a carne, a massa, o purê e até a salada(!). Tudo isso fica à frente do arroz no prato. Não que você coma o arroz por último ou não goste de arroz. Mas a preferência no prato é da outra comida. O arroz é acompanhante, secundário. Entende?

Por isso tenho pena do arroz. Porque ele é apenas acompanhamento. É apenas complemento. É secundário. É deixado de lado nos restaurantes, perdendo de colherada para lasanhas, massas e afins. Insisto, até para as saladas o arroz perde. Até delas o arroz é coadjuvante. E você aí acha que o arroz gosta de ser assim? Gosta de ser deixado de lado até mesmo para saladas? Você acha que o arroz não gostaria de um lugar melhor para ver os noivos entrando nos carros após o casamento, um lugar que não fosse um chão sujo? Você não acha que o arroz é digno de pena? Se não, então acabe por aqui, insensível!

O arroz é assim como o cara que vende amendoim em estádio. Se é que existem ainda os vendedores de amendoim. O arroz e o vendedor de amendoim são dois coitados. Alguém está com fome. Ele passa e vai vender, mas a pessoa diz 'ah, deixa pra depois, o vendedor de cachorro quente vem aí'. Mundo injusto, mundo cruel. E o vendedor de amendoim continua carregando o peso totalitário de sua carga de amendoins, salgados e doces, pois nada vende. 

Ninguém quer amendoim. 

E assim o vendedor de amendoim sofre. Porque o povo prefere cachorro quente, com sua salsicha incrementada com maionese e ketchup. Prefere algodão doce, pipoca, picolé, enfim, qualquer coisa que não seja amendoim. O amendoim e seu triste e sofredor vendedor sempre são preteridos. E após o jogo ele ainda espera que alguém vá e ao menos compre um saquinho, para comemorar ou como prêmio de consolação pela derrota. Mas não. E o vendedor volta para casa, triste, desolado, e com um fardo pesado de amendoins nas costas.

E o que dizer então dos dias em que chove um pouco, sai o sol por pouco tempo, fica nublado, depois o sol reaparece e então chove mais um pouco. Não necessariamente nessa ordem. Esses dias também são dignos de pena. Porque as pessoas gostam de dias ensolarados. Ou até de dias chuvosos. Não de meio termo. Não dos dois dias em um mesmo dia. Dias assim recebem a frase 'esse é um dia para ser esquecido' de tantas e tantas pessoas. Coitado. Ele não tem culpa. O dia não tem culpa de ser assim. Porque não pode chover ou sair sol em todos os lugares. Mas ainda assim ele é colocado como dia ruim, péssimo, e daí para baixo. Sempre preterido, jamais preferido. Mais um coitado.

Não quero nem pensar no que acontecerá o dia em que, em um dia desses citados acima, nublado com sol e chuva alternando momentos, um vendedor de amendoim chegar em casa e comer um prato apenas com arroz.

Não, eu não quero pensar.

*um texto real e literal, com muita subjetividade implícita. 
Um desabafo tão distante de raiva que talvez nem chegue a ser um desabafo. 
Enfim, uma crítica social e muito mais 
em um texto que aos olhos normais é bobo, besta, ou até coisa pior.
Talvez uma crônica. E apenas talvez.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Nem seis, nem meia dúzia. Uma paulada e ponto final.


Quando a situação não está boa, o time não consegue ganhar e perde jogos que poderia ganhar, quando os craques do time racham o grupo ao meio por julgarem-se um melhor que o outro, o que a diretoria faz? Demite o técnico, em uma tentativa desesperada de evitar o rebaixamento do time. Dar aquela mexida no grupo, aquela sacudida. Geralmente com um técnico que seja duro, rígido, que trate todos da mesma maneira, que dê sopapos nos arrogantes e xingue para valar quem ousar julgar-se mais importante.

Em uma empresa, quando os lucros diminuem, o que acontece? Reformulação. De membros da diretoria, de funcionários de um setor que não tem trabalhado direito, enfim, a chacoalhada, a mudança também serve nesse caso. Busca por renovação, por recomeço, por melhora. Ao invés de tentar mudar com o que tem-se à disposição, tenta-se mudar trocando peças, pessoas, enfim, alguma coisa mais fácil do que ajeitar e adaptar o que há.

Assim como computador. Quando está dando problemas, vários problemas, poucos pensam em ir a fundo e consertar. Muitas vezes porque não vale à pena, o custo benefício não vale, porque não tenha consertou ou algo do tipo. E é assim. Você compra um novo e deixa o velho, que tanto te incomodava e irritava de lado. Às vezes nem consegue vendê-lo, o que deixa você com mais raiva dele.

O que não dá é ficar de braços cruzados vendo o time ser rebaixado, a empresa à falência e a sua paciência e seu tempo desaparecerem assim como os arquivos do computador. Não dá para esperar que o técnico em computação se ofereça para consertá-lo, para ajeitá-lo ou mesmo para oferecer um novo. Como não dá para achar que trocando de técnico o time irá ganhar todos os jogos ou trocando os funcionários a empresa irá crescer monstruosamente.

Dependendo do caso não vale à pena mudar com o que se tem. Mas achar que só mudar as peças vai mudar a situação toda também é deixar para que o vento guie sozinho o rumo do barco. E você sabe que o vento não te obedece e não vai para onde você quer(pelo menos não sempre).

Muito mais importante do que peças, é mudança de atitude. E para isso, é bom deixar o computador de lado, uma vez que a tecnologia traz infelizes exemplos para a realidade. Troque o técnico mas também dê uma bofetada e corte o salário daqueles craques que só estão atrapalhando. Troque os funcionários mas lhe dê melhores condições de trabalho.

Troque o barco mas compre um com motor, se você não quer mudar as velas de lugar a cada instante.

Vá à luta, mude de atitude para só então pensar em mudar as peças.

Aí, se nada der certo, feche os olhos e reze, até que alguma ideia revolucionária ilumine o teu caminho. 

Brincadeira.

Se preciso, de socos na cara. Dos jogadores, dos funcionarios, do computador. Ou quem sabe dê um soco no meio da sua cara. Coloque vergonha no meio dela, uns cartazes na parede com escritos do tipo 'deixa de ser idiota e vai fazer o que você sabe que precisa fazer'.

E sem choro, sem reclamar da vida, do mundo, de Deus. Sem pensar no que poderia ter sido e não será. 

Se você não vai mais ganhar chocolate, por que não aprender a gostar de amendoim?

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Só de passagem, por uma passagem


Alguém já parou para pensar, hoje e não algum dia, em coisas feitas antigamente que hoje são grandes bobagens, por serem erros, ou que são razões para momentos de orgulho próprio, por acertos?

Sem banalidades, coisas de criança. Bobagens mesmo, atitudes que pareciam ser indispensáveis e que hoje são motivos de riso, de lamentação, de algum sentimento diferenciado, com ou sem nostalgia.
Coisas com as quais você se importava. Pessoas com as quais você importava-se, sem motivo aparente(embora com motivos que você achava serem suficientes). Atitudes tomadas em determinados momentos e que hoje são vomitadas só com a lembrança.

Ficar triste porque alguém riu de você ou rir junto quando estão querendo te humilhar. Chorar pela equipe ter ficado em segundo lugar na gincana da escola ou de emoção, pela sua paixãozinha da escola ter lhe dado bom dia. Exaltar-se com um oi ou rebaixar-se pela falta do mesmo. Subir pelas paredes de ansiedade e cair na valeta de decepção.

Situações que remetam esse tipo de coisa. Acertos que hoje são erros. Risos que hoje não são mais entendidos, lágrimas que hoje não seriam derramadas. Pensar em si, alguns anos ou mesmo meses atrás e imaginar qual seria a reação se aquilo acontecesse hoje e não naquele tempo, naquele dia, em um passado controlável apenas pelo tempo, insano e incansável.

Acho que essa é a prova de que estou ficando velho. Mais mental do que fisicamente. Mais por pensamentos e até atitudes do que por números no documento. Mais por situações vividas do que por qualquer outra coisa.

Porque velho é assim, gosta de relembrar, imaginar e pensar sempre no passado, querendo fazer relações do ontem com o hoje. Entender e concluir. Rir e chorar com passados estranhos, próximos ou longínquos. Tentar imaginar se o Pelé jogaria hoje o que jogou na época, se os Beatles fariam o mesmo sucesso hoje e se 'E o vento levou' levaria tantas pessoas ao cinema.

E pensei nisso, nessas palavras, ao lembrar de um momento, com o rádio na mochila, em que sem razão alguma, em uma conversa particular mas sem muito sentido existencial, falei algo que, tão diretamente, nunca mais senti vontade de falar.

E o pior de tudo é que eu deveria ter ficado quieto mesmo, porque sei que só falei porque era impulsivo demais.

Era. Talvez ainda seja, mas bem menos do que... era.

Estou ficando velho. Mesmo sendo novo.

Só que isso não vem ao caso.

*Eu não gostei disso. 
Não gostei desse texto. 
Faltou... um pouco.... muito mais de inspiração. 
Mas queria escrever.

**E hoje não é o texto em si, 
mas sim o conteúdo que deve ser levado em conta
na hora de colocar um comentário.

terça-feira, 13 de abril de 2010

O que não foi em horas passadas


Momentos não aproveitados passam. E você não consegue reeditá-los, mesmo que eles não tenham saído de sua cabeça, ainda. Existe uma hora certa para quase tudo. Uma hora, minuto ou mesmo instante. Talvez até um dia, em uma especificação requeridamente menor. Existe o momento certo para escrever sobre os hábitos alimentares dos gafanhotos japoneses e, se você perder esse momento, nunca mais escreverá sobre isso, ou pelo menos não da mesma maneira que escreveria quando teve a ideia, a intenção e a vontade, mas foi contra isso, por motivos quase numa totalidade menores.

E passa. Como passa a hora certa de jogar o lixo fora, de comer aquela comida que está na geladeira, de ir à missa cuja homilia seria um grande tapa na sua cara, de estudar para a prova ou fazer o trabalho, de sair correndo e esbarrar em uma pessoa que acabará sendo especial apenas pelo fato de, mesmo sem razões, lhe perguntar 'você está bem?". Como passa o momento de uma despedida decente de um ente querido.

Passa. E passou. Passará. Ou não. Depende. De mim, de você, do dono da vida e do que há de ser feito. Não dá para saber tudo, quando as coisas vão acontecer ou quando é o momento certo de acontecerem. Como não dá para saber se são as coisas certas. Como não dá para voltar e acertar no tempo certo. Também não existe acertar sempre. Não dá para saber, às vezes, nem o próprio saber.

Entretanto, é muito pior ficar parado esperando que alguém faça por você. Fale por você. Sinta por você. Viva por você. Acerte no seu lugar, na sua escolha, na sua vontade, no seu tempo.

Talvez você tenha lido esse texto na hora certa. Talvez devesse estar fazendo algo certo na hora certa enquanto estava aqui, lendo essas humildes e quem sabe desconexas frases. Talvez, talvez.

Tanto quanto o se, o talvez é muito relativo. E esse não é, com certeza, o tempo certo para expandir essa ideia em frases que certamente seriam erradas no momento errado. Um erro completo. Erro que deve ser evitado. Fazer a coisa errada na hora certa ou o contrário desmotiva sim, mas é melhor do que deixar para depois da novela, da hora de estudo que ainda nem chegou, de você comprar um cacho de uva ou ir ao mercado apenas para comprar um bombom.

Só que o tempo que se perde achando e vivendo como se existe um talvez para tudo, um empecilho para você ser você no seu tempo, nas suas escolhas, na sua vida, esse tempo não é relativo.


*algumas palavras certas,
algumas palavras erradas no momento necessário,
certo ou não só as semanas dirão.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Histórias de uma vida não vivida (19)


*Preso por linhas invisíveis, algemas de sistemas semelhantes ao capitalismo e ao justo injusto socialismo. Separado de si mesmo por espelhos invisíveis, que transpassavam seu corpo como se não fosse nada. E talvez não fosse mesmo. Não sabia o que era seu e o que não era. O que era real e o que era imaginário. Ele estava sem estar. Pensava sem pensar. Queria sem querer. Imaginava sem imaginar. Falava sem falar. Sentia sem sentir. Porém vivia, vivendo.

Fingiu, olhando para os lados. Fingiu esdenhar, como quem não só não quer comprar, mas também não quer nem saber que existe. Fingiu olhar para os lados, como se nada pudesse ver. Fingiu estar procurando alguém conhecido em meio à uma multidão de estranhos. Fingiu estar atento ao seu prato de comida, já limpo pós-almoço. Fingiu tomar suco, levando à boca um copo vazio. Fingiu olhar as horas em um celular sem bateria. Fingiu procurar um caderno em meio a folhas e mais folhas amassadas na sua pasta. Fingiu, fingiu, fingiu... Ele a desejava mas fingia sequer saber de sua existência. Contava as horas para poder procurá-la no refeitório, para então escolher uma mesa frontal à sua e olhá-la, apreciá-la, desejá-la. Ele a queria, ele sonhava com ela. Com aqueles lábios, aqueles olhos, aquele voz suave, o cabelo macio, as mãos de fada, o corpo escultural. Ele sonhava.

Fingiu e fingia que nada acontecia, que ele não era ninguém e que ela jamais passou por seus olhos. Fingiu, fingia e fingiria enquanto algo não a colocasse frente-a-frente para que pudesse falar, gritar. Não era sentimento, era admiração, sonho, ambição, desejo puro e simples.

Mas fingia, como se o seu desejo fosse mero fingimento.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Histórias do Bandiolo - Eu vou?


Via em tudo uma ocasião, mas sem a continuação do ladrão. Em tudo uma chance, um futuro possível, provável. Tudo imaginável. Imaginava sem imaginação. Pensava, quem sabe até no pensar. Exagerava em hipercasualidades, sem hipersensibilidade, com hipérboles de duas folhas, cada uma apontando para um extremo de um sentido qualquer. Um sentido sem sentir, sem querer. Apenas por fazer, por imaginar, por almejar sem sequer acreditar.

E assim, enlouqueceu. Indo ao chão, ainda que sem fim.

domingo, 4 de abril de 2010

Quem gritará primeiro?


Os fracos não possuem força alguma, por isso são chamados de fracos. Não há como fazer alguma coisa, sequer gritar. Suas vidas ficam apenas nos seus imaginários, de maneira que ninguém há de saber como acontecem essas vidas. Esqueçam, os fracos não irão gritar.

Os hipócritas não possuem personalidade, caráter, verdade. Não fazem nada por si, movem-se para que os outros não façam por eles, ou para que ninguém faça nada por nada, nem ao menos por si mesmos. Os hipócritas são miseráveis, adaptam-se às suas ambições. Mas eles, por conveniência ou simples arrogância, também não irão gritar.

Os fortes não possuem discernimento para entender que não são apenas eles que precisam de suas forças. Os fortes podem confundir superação com vanglória, vontade com comodidade, personalidade correta com alter ego. E muitas vezes guardam para si essa força, achando que apenas seus exemplos de resistência a situações adversas serve. Os fortes não vão gritar.

Os arrogantes e egocêntricos não possuem olhos, ouvidos e tato externos. E se os possuem, não usam, vivendo assim em uma bolha forrada por espelhos. Eles, arrogantes e egocêntricos, não fazem nada por ninguém, pois seus mundos são muito mais importantes. Cada um por si e Deus por cada um deles. Contradizem-se por também não fazer nada por si, deixando que suas frases sejam apenas da boca para fora. Eles também não irão gritar.

Aqueles que possuem fé, católicos, protestantes ou judeus, não devem possuir a devida raiva para um grito forte e estridente, uma vez que os ensinamentos de amor a Deus e ao próximo eliminam a raiva, um sentimento que pode ser sincero, mas não é puro. Orando para que Deus os ajude, esquecem-se de abrir os olhos e sentir essa força que tanto pedem, deixando de fazer, de buscar, de lutar. Aqueles que possuem fé também não irão gritar.

Os conservadores não gostam de mudanças. Logo, aceitam a situação e tudo que ela possui de maneira calma e racional. Abafam os esforços dos radicais ou mesmo daqueles que querem pequenas mudanças, apenas para manter seus status de conservadores no poder, na situação favorável ao comando, político, social, religioso ou simplesmente vivencial. Os conservadores, e tampouco os radicais - cheios de pressa e desorganizados, mesmo que com boas intenções - também não irão gritar.

Os racionais não possuem muitos sentimentos. E quando os possuem, são cheios de dúvidas, deixados em segundo plano, sempre atrás da razão, da 'sempre correta' razão. Os racionais pensam e concluem que não existem muitas possibilidades, sendo que essa minoria improvável está cheia de contras, enfraquecendo-se por si. Então concluo que os racionais também não irão gritar.

Os injustiçados não possuem mais vontade para reagir. Ouvem gritos, acusações, palavras cheias de raiva, mágoa e ódio. Muitas vezes não tentam ou não conseguem se defender. Mas quando tentam, é em vão, pois há muito sentimento ruim indo contra si, ou há ao menos a cegueira e a surdez de pessoas que normalmente não agiriam de má fé, prejudicando o entendimento. Os injustiçados perdem suas forças, por isso, também não irão gritar.

Os idiotas não sabem nem ao menos o que está acontecendo. 'Quem é gay?' ou 'O que aconteceu com o Faustão?' perguntariam eles. Alienados, burros, idiotas. Pessoas que acham que a vida é um pão e circo interminável, com prazeres a toda hora e em todo lugar. Pessoas que não prezam por nada, a não ser por um churrasco na lage, o pagode e a novela das 8 - que começa às 9, piorando ainda mais a situação. Nem precisava ter dito mais nada, pois todos sabem que os idiotas também não irão gritar.

Os inteligentes não querem errar. Não querem pensar no impossível, nem ao menos no improvável. Os inteligentes conhecem a situação, sabem que as mudanças nunca terão boas consequências, e não querem fazer parte de mais esse fracasso. Eles são inteligentes, com ar de superior e uma boa quantidade de racionalidade, sem mantém afastados do que é provável que não dê certo. Confundem o aprender com a moral para ensinar. Esquecem de aprender, perdendo essa possível moral. Então, os inteligentes não irão gritar.

Quem sabe 90% da população se encaixe aqui. Não pelos adjetivos em si, pois todos eles resumem-se em apenas um: cômodas. Pessoas cômodas, desleixadas, preguiçosas.

Esqueçam o geral. A sociedade, o mundo. Se as pessoas fossem um pouco mais inconformadas nas suas próprias vidas, dificilmente teríamos generalizações tão grandes.

E essa eterna necessidade de que alguém grite para que outra pessoa, quem sabe, acorde. De que alguém fale para que outra pessoa escute(para quem sabe assimilar). De que alguém machuque para que outra pessoa sinta dor. Ou mesmo de que alguém viva, para que outra pessoa queira viver também.

Tente gritar enquanto estiver só. 

Você poderá acordar a si mesmo.


*coloque a tag #escutebeatlesesejafeliz no twitter, 
e ajude o @tosco_tosco

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Apenas um trecho, palavras simples. Necessárias.


Não saber explicar direito. Não conhecer tudo o que aconteceu. Não entender tudo o que acontece. É bem fácil achar que é tudo uma grande bobagem sem sentido, apenas história. Apenas história?! Nem conhecê-la por completo e achar ser apenas história acaba sendo uma grande... não sei o que colocar agora, talvez burrice.

Você não precisa saber tudo o que aconteceu. Ao certo como tudo aconteceu. Você nem se quer precisa mostrar ao mundo esse sentimento. Apenas não negue. Para o mundo, para si mesmo.

Hoje é sexta-feira. Santa. Àqueles que têm fé, um dia de reflexão, de silêncio, de respeito. Talvez um dia triste.

Mas a história nos prova que não há tristeza que dure para sempre. A luz da felicidade ilumina o caminho logo, logo.

Ele não precisava ter sofrido tanto. Mas se não fosse para ser assim, Ele, filho de Deus, teria gritado e uma legião de anjos teriam tirado-lhe de lá. Mas Ele aceitou que fosse assim. Sofreu tudo por todos, de uma só vez.

O bom é que Ele voltou, ressuscitado.

E aí é que começa a história.

*sempre quis colocar essa música como tema de um texto meu