domingo, 4 de abril de 2010

Quem gritará primeiro?


Os fracos não possuem força alguma, por isso são chamados de fracos. Não há como fazer alguma coisa, sequer gritar. Suas vidas ficam apenas nos seus imaginários, de maneira que ninguém há de saber como acontecem essas vidas. Esqueçam, os fracos não irão gritar.

Os hipócritas não possuem personalidade, caráter, verdade. Não fazem nada por si, movem-se para que os outros não façam por eles, ou para que ninguém faça nada por nada, nem ao menos por si mesmos. Os hipócritas são miseráveis, adaptam-se às suas ambições. Mas eles, por conveniência ou simples arrogância, também não irão gritar.

Os fortes não possuem discernimento para entender que não são apenas eles que precisam de suas forças. Os fortes podem confundir superação com vanglória, vontade com comodidade, personalidade correta com alter ego. E muitas vezes guardam para si essa força, achando que apenas seus exemplos de resistência a situações adversas serve. Os fortes não vão gritar.

Os arrogantes e egocêntricos não possuem olhos, ouvidos e tato externos. E se os possuem, não usam, vivendo assim em uma bolha forrada por espelhos. Eles, arrogantes e egocêntricos, não fazem nada por ninguém, pois seus mundos são muito mais importantes. Cada um por si e Deus por cada um deles. Contradizem-se por também não fazer nada por si, deixando que suas frases sejam apenas da boca para fora. Eles também não irão gritar.

Aqueles que possuem fé, católicos, protestantes ou judeus, não devem possuir a devida raiva para um grito forte e estridente, uma vez que os ensinamentos de amor a Deus e ao próximo eliminam a raiva, um sentimento que pode ser sincero, mas não é puro. Orando para que Deus os ajude, esquecem-se de abrir os olhos e sentir essa força que tanto pedem, deixando de fazer, de buscar, de lutar. Aqueles que possuem fé também não irão gritar.

Os conservadores não gostam de mudanças. Logo, aceitam a situação e tudo que ela possui de maneira calma e racional. Abafam os esforços dos radicais ou mesmo daqueles que querem pequenas mudanças, apenas para manter seus status de conservadores no poder, na situação favorável ao comando, político, social, religioso ou simplesmente vivencial. Os conservadores, e tampouco os radicais - cheios de pressa e desorganizados, mesmo que com boas intenções - também não irão gritar.

Os racionais não possuem muitos sentimentos. E quando os possuem, são cheios de dúvidas, deixados em segundo plano, sempre atrás da razão, da 'sempre correta' razão. Os racionais pensam e concluem que não existem muitas possibilidades, sendo que essa minoria improvável está cheia de contras, enfraquecendo-se por si. Então concluo que os racionais também não irão gritar.

Os injustiçados não possuem mais vontade para reagir. Ouvem gritos, acusações, palavras cheias de raiva, mágoa e ódio. Muitas vezes não tentam ou não conseguem se defender. Mas quando tentam, é em vão, pois há muito sentimento ruim indo contra si, ou há ao menos a cegueira e a surdez de pessoas que normalmente não agiriam de má fé, prejudicando o entendimento. Os injustiçados perdem suas forças, por isso, também não irão gritar.

Os idiotas não sabem nem ao menos o que está acontecendo. 'Quem é gay?' ou 'O que aconteceu com o Faustão?' perguntariam eles. Alienados, burros, idiotas. Pessoas que acham que a vida é um pão e circo interminável, com prazeres a toda hora e em todo lugar. Pessoas que não prezam por nada, a não ser por um churrasco na lage, o pagode e a novela das 8 - que começa às 9, piorando ainda mais a situação. Nem precisava ter dito mais nada, pois todos sabem que os idiotas também não irão gritar.

Os inteligentes não querem errar. Não querem pensar no impossível, nem ao menos no improvável. Os inteligentes conhecem a situação, sabem que as mudanças nunca terão boas consequências, e não querem fazer parte de mais esse fracasso. Eles são inteligentes, com ar de superior e uma boa quantidade de racionalidade, sem mantém afastados do que é provável que não dê certo. Confundem o aprender com a moral para ensinar. Esquecem de aprender, perdendo essa possível moral. Então, os inteligentes não irão gritar.

Quem sabe 90% da população se encaixe aqui. Não pelos adjetivos em si, pois todos eles resumem-se em apenas um: cômodas. Pessoas cômodas, desleixadas, preguiçosas.

Esqueçam o geral. A sociedade, o mundo. Se as pessoas fossem um pouco mais inconformadas nas suas próprias vidas, dificilmente teríamos generalizações tão grandes.

E essa eterna necessidade de que alguém grite para que outra pessoa, quem sabe, acorde. De que alguém fale para que outra pessoa escute(para quem sabe assimilar). De que alguém machuque para que outra pessoa sinta dor. Ou mesmo de que alguém viva, para que outra pessoa queira viver também.

Tente gritar enquanto estiver só. 

Você poderá acordar a si mesmo.


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4 comentários:

Jééh disse...

realmente se sobrou 10% da população mundial que não se encaixava nesse texto vc fez questão de classificá-los tbm no final.
adorei o texto, tbm fao essa pergunta "quem gritaria primeiro?" contra comodismo da população, a lavagem cerebral imposta pelos os meios de comunição, até mesmo contra a forma despreocupada com nos relacionamos com uns e as barreiras que impomos a outros, Vínicius um belo texto ^^

Vini Manfio disse...

sério, povo. Não é uma crítica com foco social, mas sim pessoal.

Érica Ferro disse...

Tô cansada de ouvir, de ver.
Vou me vendar e enxergar a mim mesma no escuro.
Vou gritar e me acordar.
E vou viver.
O comodismo me prende ao fracasso do passado e o medo de fracassar futuramente.

Rebeca Postigo disse...

Sempre procuramos maneiras de nos acomodarmos...
Mas deveríamos buscar maneiras de sempre ficarmos desconfortáveis...
Só assim seriamos pessoas melhores...
Incluo-me nesse nós...
Porque me pego às vezes buscando por comodismos...
Quando na verdade deveria buscar mudanças, melhorias...
Belo texto Vini!!!

Bjs