sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Histórias de uma vida não vivida (40)


*Caminhei, mais uma vez, cheio da alegria típica daqueles que esperam, que imaginam, que flutuam em pensamentos cheios de amor. A cada passo dado um novo detalhe era desvendado, nos pensamentos, levando cada vez para mais longe de mim - e mais perto do céu - tudo aquilo que vejo de bom na minha existência. Sonhos não são tristes, não são sequer muito reais ou próximos do tempo vivido, o presente. Da simplicidade natural das coisas à magnitude complexa de relacionamentos ou grandes conquistas, tem-se no sonho a grande prévia e, com alguma consciência, uma certeza de querer ou não aquilo. Não esperava que fosse assim entretanto, passo pós passo, a imaginação se tornou sonho e... eu quis. O erro não foi esse, querer. Muito menos foi caminhar com alegria. O erro foi imaginar.

Pedaços de um pensamento (32)


Não gosto de retrospectivas, de listas com lembranças ou planos, acho isso uma hipocrisia pois tudo é deixado para agora, final de ano, preferencialmente nos últimos dias. "Ano novo, vida nova" é, para mim, uma bobagem sem igual. Por que esperar um ano terminar e outro começar para então querer fazer algo novo, realizar sonhos e, por que não, mudar algo em si? A resposta é simples e, além de explicação, é consequência para esse comodismo. É cômodo escolher um dia, um período do ano - que, nesse caso, é sempre o mesmo - porque se faltar vontade para realizar coisas novas, ou mesmo para ver que, independentemente do que tenha acontecido, foi um bom ano, há a desculpa de que 'no ano que vem...', e por aí fica-se, circulando sem sair do lugar, dando desculpas para céus e terra sem a mínima vontade de, efetivamente, fazer coisa alguma.

Por si, pelos entes queridos, pelo mundo. Mas principalmente por si.

Chega de ficar agindo burocraticamente, enrolando e fazendo de conta que 'nesse ano sim, agora vai', saia do marasmo e comece, primeiramente, mudando essa mentalidade covarde e preguiçosa. Ninguém espera que você acabe com a fome no mundo porém aposto que algumas pessoas querem que você esteja mais presente na vida delas. Por elas e por você. Não há sentido em tanta ladainha para fazer coisas simples como permitir-se viver coisas novas. As oportunidades aparecerão todos os dias, você só precisa de um pouco de fé e um pingo de vontade, de desejo, de sede de crescimento, de mudança, de vida.

Sim, sede de viver.

Enquanto o marasmo imperar, enquanto for mais importante preocupar-se com listas, com organizações e com 'não comer galinha que cisca para trás mas sim porco ou peixe, que comem para frente' ou - a melhor na minha opinião - 'vestir branco para paz e vermelho para amor', não haverá novos anos suficientes para que um dia tudo se resolva. Acredite, nada cai do céu por si só, você precisa dar uma força para que aquilo que o Todo Poderoso lhe envia não seja desperdiçado e se torne apenas vida não vivida, oportunidade não aproveitada, crescimento não usufruído.

Assim como não listo, não faço promessas e, como já devo ter dito, não gosto de retrospectivas. Um ano de muita tristeza e, sem ironias, de muita felicidade, só isso. Que Deus continue tendo paciência para com as minhas limitações e não desista de me dar, a cada dia, uma nova chance de vida.

Mais um ano, mais uma oportunidade porém... por que esperar pelo ano que virá?

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Ecos da sinceridade - Com o desabafo


Enquanto ouço um desabafo espontâneo e um tanto contraditório - na medida em que não fica claro o sentimento atual para com tudo o que passou - viajo bem longe, em pensamento, para uma vida que nunca existiu, de verdade. Cada palavra parecia alterar de uma forma bem conhecida parte de uma vida que nunca foi minha, de uma história que nunca escrevi e que, exceto reviravolta absurda e imprevisível na existência humana, nunca poderá ser contada como verdadeira.

Deixando de lado, ao menos por um parágrafo, o que passou pela minha cabeça, fui percebendo uma grande mudança na origem desse desabafo, daquelas palavras convictas, seguras, que retrataram tão bem fatos vistos pelos mais diversos olhos. A lembrança de tempos distantes, de ausência, de certo abandono é compensada cada vez que o erro é reconhecido, e volta a existir toda vez que a contradição no discurso faz com que o arrependimento pareça, no mínimo, irônico - tendo em vista todos os fatores negativos que foram fatos, e não imaginação.

"... ou pelo amor ou pela dor..." disse bem e, chegando aos dias atuais, a dor parece ser a consequência de alguns erros de escolha. A impaciência para com a demorada superação do momento de, ainda, alimentação de tristeza é compreensível porém inaceitável quando há claras lembranças de tempos passados em que erros, semelhantes, foram cometidos por medo da solidão.

Chegando à solidão voltei aos meus pensamentos. Tantas vezes ouço, e leio, vagando por aí coisas como 'não dê valor a quem não dá valor a você' e, sinceramente, acho uma bobagem sem tamanho. A solidão torna essa pequena demonstração de orgulho uma grande bobagem, porque a solidão age não só em pensamento, como no emocional e, em alguns casos, no físico. A desmotivação oriunda de uma ausência de convivência social - porém, principalmente, íntima, como amizades e relacionamentos afetivos - supera qualquer 'ele nunca vem falar comigo'. Claro, na maioria dos casos.

Tudo isso, solidão, desabafo e orgulho, em meus pensamentos, somados com a imaginação de toda uma história boba e impossível, trouxeram uma sensação de que falta muito para que haja constância e, por consequência lógica, superação do complexo que persegue meus dias há anos. Não há como simplesmente virar as costas e deixar tudo para trás porque há coisas enraizadas na razão.

Ao ver, e ouvir, alguém remoendo lembranças - ainda com alguma amargura, embora confiante no presente - traz, analogamente, tranquilidade por ser, em qualquer situação, aceitável uma demora - mesmo que excessiva - no começo de uma nova série de histórias escritas com vida, na vida. Enquanto o meu repouso é leve, a minha paz inexiste e a sede não me faz buscar água, continuo pensando - cada vez menos, é verdade - em tudo e tanto que existe e que está longe do meu controle, na minha mente.

Talvez só falte uma nova razão. Talvez.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Ecos da sinceridade - Com a antiguidade


Tudo aquilo que não é, no presente, e ainda assim é real, faz parte do passado. Imediato e despretensioso ou já concreto e assumido, não importa, aquilo que é página já lida, quando voltada para releitura e possível entendimento, mais atrapalha, tirando o ritmo natural da leitura. Não que esteja tentando, de alguma maneira, dizer que é, foi e pronto, só isso. Enquanto caminhei com uma verdade visível a quaisquer olhos humanos, o fiz sinceramente, acreditando ser aquilo tão somente por ser, não somente, aquilo tudo.

Enquanto o que vem de fora, de pontos próximos dos mesmos olhos que tanto viram - aquela que chamarei de minha - a minha verdade, cada vez mais carrega o pretensioso status de 'eu estava certo o tempo inteiro, só você não quis ver', o que vem do mesmo lugar de onde saía a minha verdade agora junta-se a tal pretensão, só que de uma outra forma: imaginação.

Não imaginação condicionada à possibilidade ou estritamente pela falta da mesma. Imaginação, nesse caso, desenvolve o que aparenta para um ponto de vista realista - não julgando quantidade de verdade presente no mesmo - que induz pensamentos, infelizmente, tristes.

Poderia ser um 'nada disso estaria acontecendo se', que também traria alguma decepção, porém menos intensa e infundada. Entretanto - e aí vem a antiguidade da coisa - o que é demonstrado leva do simples e trivial para o, nada menos do que terrível, "você nunca conseguiria". É irônico constar que não é a derrubada de uma quase inexistente autoestima o que é tão terrível naquela negação atemporal.

O que coloca em um patamar tão negativo a frase é a maneira como está sendo - insisto que implicitamente - exposta. Deixando de lado a parte paranoica que, garanto, não influencia essa visão, e focando apenas na intenção, possível, por trás de tais demonstrações, bom, não há como ter certeza de coisa alguma. A aparência é essa, a sensação é de haver essa intenção, boba, de querer demonstrar que o ontem não pode ser comparado com o ontem - mesmo que nunca tenha sido dito que o ontem tenha sido um padrão e obrigatoriamente devesse ser comparado com tudo o que fosse surgindo - e que é incrível também, e o que vem agora acentua ainda mais as impressões negativas, por ser tudo aquilo que, no fundo, sempre se quis.

Que a impressão de mentira no que pareceu um dia ser via de mão dupla, desapareça. Pelo bem do que foi, de um jeito jamais comparável, único. Mesmo que apenas um par de olhos admita essa verdade. E mesmo que tudo seja, hoje, tão somente uma antiguidade.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Histórias de Bergamota (17)


Sem saber ao certo o porque, parei. E toda a dor veio à tona. O que antes pareciam leves arranhões agora eram, de fato, espinhos que perfuravam meu corpo. Poucas vezes senti tanta dor, tanta vontade de gritar, implorar por socorro. Tentava continuar, mas parecia em vão. Ir em frente, seguir o caminho que estava percorrendo, a missão a que tinha colocado-me à disposição. A dor aumentava a cada movimento, a cada indício de que continuaria independentemente da dor. Quanto mais doía, porém, maior era a vontade de alcançar meu objetivo, de desfrutar da vitória, da grande vitória após um longo e imenso sofrimento. O que vinha de fora machucava de um jeito único, imenso, porém não conseguia ser maior do que o desejo de satisfação, de dever cumprido. Era o meu objetivo, mesmo que cada vez mais sentisse dor. E como a dor aumentava a cada movimentação do meu tecido muscular.

Mesmo com tudo, e todos, querendo me derrubar e me tirar dali para evitar que sofresse ainda mais, não podia desistir. Não agora que faltava tão pouco. Para eles tudo seria em vão e, mesmo que conseguisse, não valia todo o esforço, toda a dor. Mais importante do que receber ajuda, do que perceber que outras pessoas se preocupam com o meu bem estar, seria saber que me apoiam independentemente do que estou tentando fazer. Pensando bem, não é muito racional nada do que está acontecendo. Talvez tenham razão mas...

Consegui. Optei e, a minha determinação, me fez conseguir. Cheguei ao topo. Estiquei o braço e peguei a bergamota mais alta do pé, a que mais recebe os raios de Sol e, por isso, a mais doce. Descasquei ali mesmo, em meio aos espinhos, em meio à dor. O sabor da vitória era doce.
E a bergamota também.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Histórias do Billi J. - Eu sou você amanhã (3)


(...)
Ficaram um tanto perplexos quando viram Rafael saindo do círculo que formavam em um canto do ambiente e indo até Andressa.

- Ele vai tomar um fora daqueles.

- E você é o culpado, Billi!

- Por que?

- Porque você encorajou-o a ir lá. Do jeito que ela é, orgulhosa que nem ele, vai estraçalhar ele de uma vez.

- Mas eu não mandei, só sugeri.

- Para quem arrebenta a cara, dá no mesmo.

- E se ela disser que sim, que o perdoa e que vão voltar?

- Acho difícil, ele sequer vai pedir perdão.

- Ãhn?

- Ele não vai falar nada, vai apenas olhar e gaguejar.

- Como o Billi fez, e faz, tantas vezes, na minha frente.

Riram.

- Como todo homem apaixonado faz quando realmente tem sentimentos por alguma mulher.

- Os homens são uns idiotas mesmo, as mulheres não valorizam o que fazemos por elas, o tempo que deixamos de passar com os amigos para estar com elas, os momentos que deveríamos ter com nós mesmos e passamos a ter ao lado delas, o trabalho que deixamos de lado para ficar ao lado delas enquanto tem cólica ou dor de barriga, sabe, é injusto mas os homens são idiotas por saberem de tudo isso e ainda assim sempre se colocarem a disposição das mulheres, mesmo que vejam que não são valorizados e que elas só nos querem por perto quando precisam.

Renata, Luiz e Billi olharam perplexos para Douglas. Renata até tentou pronunciar alguma coisa mas...

- É verdade, nesse ponto as mulheres são muito interesseiras.

- E no fim - continuou Douglas - te dão um pontapé na bunda e ficam com o primeiro vagabundo que oferece a elas uma volta em um carro importado.

- Eu não sou assim!

- Bom para você, Billi, que encontrou alguém que não quer se aproveitar do teu bom coração, da tua boa vontade, de todas as boas coisas que você aprendeu, também conosco, e que usa sempre. Porque, no fim, não nos levam a sério porque não somos como a maioria, não fazemos as coisas por fazer e, como o Billi diz, não vivemos por beber...

- Embora façamos isso com alguma frequência.

Riram.

- Enfim, não nos achamos os melhores, os mais bonitos...

- Porque não somos mesmo.

Riram.

- É, vocês entenderam.

- Não preciso nem perguntar se você ainda guarda mágoas dela.

- Nem sei, quero que vá para o inferno agora.

- Mas a história do carro é verdade?

- Claro que é.

- Mas você tem um carro.

- Mas não é uma caminhonete importada que custa uns trezentos mil.

Riram, contidos e um tanto decepcionados, mas riram.

- Voltando ao nosso assunto principal, olhem, ele continua parado na frente dela. É, Billi, você estava certo, ele não vai conseguir falar nada.

- Se ele não disser para a amiga dela que eu... ah, tanto faz, quero mais é chegar em casa e arrebentar minha cabeça na parede para ver se  esqueço daquela...

- Sim, daquela.

- É, com a Renata por perto fica chato falar palavrão.

Riram.

Enquanto isso, Rafael voltava de mãos dadas com Andressa. Ninguém perguntou coisa alguma, ninguém ameaçou indagar uma palavra sobre. Era como se não tivessem terminado o namoro há meses, como se nada tivesse acontecido. Amigos, reunidos, novamente. Ponto.

- Aaaaaaaaaah não, agora nós temos que sair daqui e fazer uns agitos.

Era Dancing Queen, Abba.

- Agora começou a festa.

Riram quando Douglas tirou os sapatos e as meias e começou a dançar, completamente fora do ritmo da música.

- Se vocês não começarem a dançar essa, vocês são uns...

Nem precisou terminar, todos riram. E começaram a dançar.

Rafael, discretamente, chegou perto de Billi e sussurrou:

- Obrigado.

Nada mais precisava ser dito. Aquele sorriso bobo, espontâneo, presente no rosto de cada ser movido pelo que beira o indescritível, tornava desnecessária cada palavra que pudesse ser dita.

- Billi!

- O que?

- Você dirige hoje, eu vou tomar mais umas geladas e me arrebentar dançando aqui.

Riram. Riram a noite inteira.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Histórias do Billi J. - Eu sou você amanhã (2)


(continuando)
- Então é isso, depois de uma rápida passagem no restaurante e quinze visitas ao bufete, estamos aqui, em um maldito baile de formatura de...

- Não me pergunte, não fui eu quem conseguiu os ingressos.

- Nem eu, queria mais era ver a novela das nove chupando uma bergamota.

E riram.

- É formatura de... deixa eu ver os ingressos... ah, sim, terceiro...

- ...semestre de que?

- Não, terceiro ano do ensino médio.

- Você me tira de casa para vir a uma formatura de crianças?!

- Concordo, isso não foi legal, onde fica a minha depressão medonha?

Riram.

- Foi mal, nem eu sabia que era uma formatura de...

(todos olharam para uma guria que passou vestindo uma saia mais curta do que dedo dobrado)

- Você, por acaso, ia dizer crianças?

- Veja bem, tenho que concordar com o Rafael, são crianças.

- Mas veja o tamanho daquele par de pernas expostas aos olhos de reles homens solteiros como nós.

- Rafa, mas só você e o Douglas estão solteiros, não se esqueça.

- É, só eu e o Douglas...

- Fala por ti, animal.

Riram.

Ãhn... pensaram, olharam um para o outro e depois apenas para Rafael.

- E jeito de dizer.

Riram.

- Então vamos.

- Espera, a minha namorada está vindo.

- De onde?

- Do carro, quis retocar a maquiagem.

- Como se precisasse, com um corpo daqueles, não precisa se enfeitar para te...

- Para me o que?

- Agradar.

Riram.

Depois de algumas horas, estavam os quatro, mais Renata, sentados em volta de uma mesa, escorados e...

- Que desânimo do caramba é esse, viemos aqui para nos divertir, certo?

- Eu vim para afogar as mágoas.

- E eu para me manter em uma terrível e profunda depressão pós pé-na-bunda.

- E eu porque não queria ficar em casa sozinho enquanto meus amigos ou enchem a cara de cerveja ou aproveitam uma festa infantil com a namorada, enquanto eu tenho que esperar a minha achar uma tomada para recarregar o telefone no fim do mundo para onde os pais dela levaram-na.

- Não prestei atenção depois que você disse cerveja.

- Mais uma, garçon!

- Não é bebendo que vocês vão curar essa tristeza.

- Tem razão, vou amarrar uma corda no pescoço e me atirar do alto da torre de celular.

- E eu vou junto garantir que a corda será amarrada também na torre.

Riram.

- Vocês sabem do que eu digo. E veja bem, um chora porque teve o relacionamento terminado e o outro porque terminou, quem sabe um não junta com o outro e...

- Termina essa frase e você nunca mais começará outra!

Riram.

- Tá, Billi, fala de uma vez, qual é o conselho milagroso dessa vez?

- Fica fazendo pouco caso e esse será o último copo de cerveja que você vai beber na vida.

- Vai me bater?

- Não, eu sou formado em Engenharia Química, lembra? Então, posso desenvolver algo para te tornar alérgico à cerveja.

- Depois da engenharia não prestei atenção em mais nada.

Riram.

- O que estava dizendo é que terminar uma relação é muito bom...

- Por que é muito bom, ein Billi? - Renata o olhava, curiosa.

- Para mim não seria, amor, mas para eles foi bom. Um reclamava do ciúmes e o outro da... do... de...

- Tudo! - gritaram, ao mesmo tempo.

Riram.

- Então, é uma boa hora de recomeçar. Vamos nos levantar, dançar, rir, cantar, nos divertir como sempre fizemos, com ou sem namoradas. Vocês são os caras mais autênticos que conheço, não é um... enfim, que vai fazer vocês deixarem de ser quem são!

- Você tem razão. Levantem daí seus dois deprimidos, vamos nos divertir!

- Para você é fácil dizer, em duas semanas vai ter 'o amorzinho' de volta.

- Mas hoje estou solteiro, como vocês.

- Então vamos conversar com aquelas três moças 'decentes' que estão olhando para cá.

- Eu disse que estou solteiro, não disponível e com vontade de pegar uma doença salivamente transmissível.

- Não ouvi mais nada depois do...

- Disponível?

- Não.

- Doença?

- Não.

- Então?

- Transmissível.

- Mas foi a última palavra que eu disse.

- Ah ta.

Riram, muito.

- Eles tem razão, Rafa, não é uma mulher que vai nos derrubar e nos fazer perder a oportunidade de diversão entre amigos. Porque os amigos são a prioridade na mi...

Douglas não terminou a frase ao ficar boquiaberto em ver...

- É a Andressa?

- Namorei com ela por três anos, conheço aquele jeito de mexer o cabelo. Só ela...

- Ai ai, perdemos nosso amigo.

- É, das duas uma, ou ele vai até lá ou termina a noite dizendo 'eu te amo' para o garçon.

- Pelo menos ele é um bom garçon.

Riram.

- Eu vou embora.

- Por que?

- Não suportaria a ideia de vê-la com outro cara.

- São dois  meses.

- E eu daria um braço... bom, uma perna... bom, uns cinquenta reais para voltar no tempo e não terminar o namoro.

- E o ciúmes, e a possessão, e a histeria e a falta de confiança?

- Quem se importa?

- Isso, gostei de ver, vai lá e fala com ela! - Renata empolgou-se.

- Claro que não!

- Por?

- Eu vou chegar lá e dizer o que? Andressa, sinto muito por ter terminado nosso namoro e ter te chamado de paranoica, birrenta, teimosa, ciumenta, possessiva...

- Chamou ela de tudo isso?

- Eu não acabei.

Riram.

- Arrogante, egoísta, ciumenta...

- Você já disse ciumenta.

- É que eu chamei ela de ciumenta umas seis vezes.

- Bom, não importa, se você ama ela, vai lá!

- Dizer o que, 'ó senhor da verdade'?

Riram.

- Diz que o Douglas quer conhecer a amiga dela e que só veio fazer esse meio de campo entre os dois.

- Mas tu é piá pançudo mesmo, tá louco.

- Gênio. Esse cara é genial. Não é atoa que ele...

Renata esperava o adjetivo ansiosamente.

- Que ele sempre dá bons conselhos.

Billi suspirou, aliviado.

Riram.

- Só isso, depois faço o que?

- Olha nos olhos dela, segura uma das mãos e pede perdão.

- Só não vai listar todos os adjetivos que você disse para ela.

- Parei em 'adjetivos'.

Riram.

- Olhando nos olhos e pedindo perdão, com aquela cara de coitado que só você sabe fazer, ou ela te perdoa com um beijo ou diz que não tem mais chance.

- Se ela disser que não tem mais chance, diz que o lance da amiga dela comigo ainda tá valendo.

- E depois você se joga do viaduto.

Riram, cada vez mais.

(continua)

Histórias do Billi J. - Apenas um email


"E aí, amigo, como estão as coisas?

Bom, não tenho muito tempo, então serei o mais breve possível. Eu sei, tão bem quanto você, o que é ouvir algo que desperta sentimentos passados de... enfim, esse tipo de sentimento que tanto tentamos controlar quando queremos ser coerentes com um propósito de vida diferente. Optar por não mandar a pessoa para a p... para o raio que o parta, é uma decisão sábia, moldada na busca pela tolerância, que evita que sejamos preconceituosos e tudo mais mas... é difícil.

Entendo que a pessoa seja, tão somente, uma cabeça-oca. Não sei se o termo está bem escrito assim, com hífen, mas não importa. Ela ter vindo dizer algo que te trouxe um grande desânimo é, sem dúvida alguma, uma provação pela qual você, ao menos à princípio, passou. Cuide ainda mais nesses próximos dias, uma vez que quando se supera uma provação, atacam direto nos nossos pontos fracos. Quanto a ela, bom, ignore, desfaça-se desses pensamentos e o fato de ter de aguentar uma gozação 'engraçadinha' de alguém que, de fato, não está se importando com o que você pensa ou mesmo tem conhecimento do porque você tem dificuldades em levar essas coisas adiante. Também, e isso é fundamental, não tente justificar, explicar, dar razões para ela entender os teus motivos, as tuas razões - que são a verdade dessa situação - porque... afinal, a vida é de quem?

Sei que entendeu. Ah, antes que eu me esqueça. Ainda nessas provações entendo que ter evitado fazer alguns comentários, hoje, foi uma boa escolha. Se os outros quiserem, que digam, você acabará ouvindo mas não estará alimentando uma corrente que só tem um fim quando alguém decide calar-se. Boa escolha e, mais cuidado ainda - vide o alerta anterior.

De resto, é complicado sim ter a certeza de uma avaliação condizente com o esforço e com a dedicação, ainda mais quando há tantos poréns nesse contexto todo. Enquanto tiver chance, supere um pouco mais o limite da sua própria atenção e aceite que você não consegue assimilar e prestar atenção com a mesma intensidade que outras pessoas. Sei bem como é isso pois, se tivesse prestado mais atenção, a Renata e eu... bom, você sabe a história até melhor do que eu, tantas vezes foram as que escrevi sobre ela. A história e, também, a Renata.

E sobre a... como é mesmo o nome dela? Ah, que burro, você não disse o nome. Bom, deixa para lá.

Abraço, amigo.

B.Johansson"

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Pedaços de um pensamento (31)


Quanto maior parece ser a vontade, mais lentamente o tempo parece passar. Horas que, com olhares aleatórios no mesmo lugar, fazem a noção de contagem de tempo se perder completamente pela ânsia de saber se, enfim ou não, todo e qualquer dizer é uma grande quantidade de incômodo, simples e diversificado incômodo. Não posso me colocar no lugar e imaginar que a resposta, para qualquer pergunta que possa sair do meu lado, é sim ou não como também não posso imaginar quaisquer coisas que independentes do meu pensamento. Assim como o céu, azul claro e sem nuvens, me traz a sensação de que estou desperdiçando vida aqui, o simples - e não menos irônico - fracasso em não conseguir qualquer conclusão dá a impressão de desperdício de pensamento.

Um tempo que não tenho para respostas que não sei de perguntas que não tenho coragem, e talvez nem oportunidade, de fazer. Quanto mais preciso me preocupar com o que vem pela razão, mais pareço me preocupar com  que foge dela. Irracional é tudo aquilo que não segue uma lógica, um sentido racional - e existencial - de ser.

Isso não quer dizer que perdi a razão. Apenas perdi a vontade de tentar encaixá-la em um grande espaço que, hoje, uma coisa chamada saudade - inexplicável e um pouquinho irônica - ocupa. O que não se perdeu, mesmo, foi o senso de 'não quero que nada meu atrapalhe o seu'. Talvez seja tempo de replanejar isso, também.

De qualquer forma, é sim, saudade, mesmo que não faça muito sentido. E, para não deixar de colocar uma verdadeira e grande ironia, mesmo que não faça sentido e seja um tanto irracional, há motivos (também) racionais para a saudade.

Para essa saudade.

*Até domingo, ou segunda, quando, 
provavelmente, 
colocarei palavras nada minhas aqui.
Porém, também nada irracionais.