quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Histórias do Billi J. - Eu sou você amanhã (2)


(continuando)
- Então é isso, depois de uma rápida passagem no restaurante e quinze visitas ao bufete, estamos aqui, em um maldito baile de formatura de...

- Não me pergunte, não fui eu quem conseguiu os ingressos.

- Nem eu, queria mais era ver a novela das nove chupando uma bergamota.

E riram.

- É formatura de... deixa eu ver os ingressos... ah, sim, terceiro...

- ...semestre de que?

- Não, terceiro ano do ensino médio.

- Você me tira de casa para vir a uma formatura de crianças?!

- Concordo, isso não foi legal, onde fica a minha depressão medonha?

Riram.

- Foi mal, nem eu sabia que era uma formatura de...

(todos olharam para uma guria que passou vestindo uma saia mais curta do que dedo dobrado)

- Você, por acaso, ia dizer crianças?

- Veja bem, tenho que concordar com o Rafael, são crianças.

- Mas veja o tamanho daquele par de pernas expostas aos olhos de reles homens solteiros como nós.

- Rafa, mas só você e o Douglas estão solteiros, não se esqueça.

- É, só eu e o Douglas...

- Fala por ti, animal.

Riram.

Ãhn... pensaram, olharam um para o outro e depois apenas para Rafael.

- E jeito de dizer.

Riram.

- Então vamos.

- Espera, a minha namorada está vindo.

- De onde?

- Do carro, quis retocar a maquiagem.

- Como se precisasse, com um corpo daqueles, não precisa se enfeitar para te...

- Para me o que?

- Agradar.

Riram.

Depois de algumas horas, estavam os quatro, mais Renata, sentados em volta de uma mesa, escorados e...

- Que desânimo do caramba é esse, viemos aqui para nos divertir, certo?

- Eu vim para afogar as mágoas.

- E eu para me manter em uma terrível e profunda depressão pós pé-na-bunda.

- E eu porque não queria ficar em casa sozinho enquanto meus amigos ou enchem a cara de cerveja ou aproveitam uma festa infantil com a namorada, enquanto eu tenho que esperar a minha achar uma tomada para recarregar o telefone no fim do mundo para onde os pais dela levaram-na.

- Não prestei atenção depois que você disse cerveja.

- Mais uma, garçon!

- Não é bebendo que vocês vão curar essa tristeza.

- Tem razão, vou amarrar uma corda no pescoço e me atirar do alto da torre de celular.

- E eu vou junto garantir que a corda será amarrada também na torre.

Riram.

- Vocês sabem do que eu digo. E veja bem, um chora porque teve o relacionamento terminado e o outro porque terminou, quem sabe um não junta com o outro e...

- Termina essa frase e você nunca mais começará outra!

Riram.

- Tá, Billi, fala de uma vez, qual é o conselho milagroso dessa vez?

- Fica fazendo pouco caso e esse será o último copo de cerveja que você vai beber na vida.

- Vai me bater?

- Não, eu sou formado em Engenharia Química, lembra? Então, posso desenvolver algo para te tornar alérgico à cerveja.

- Depois da engenharia não prestei atenção em mais nada.

Riram.

- O que estava dizendo é que terminar uma relação é muito bom...

- Por que é muito bom, ein Billi? - Renata o olhava, curiosa.

- Para mim não seria, amor, mas para eles foi bom. Um reclamava do ciúmes e o outro da... do... de...

- Tudo! - gritaram, ao mesmo tempo.

Riram.

- Então, é uma boa hora de recomeçar. Vamos nos levantar, dançar, rir, cantar, nos divertir como sempre fizemos, com ou sem namoradas. Vocês são os caras mais autênticos que conheço, não é um... enfim, que vai fazer vocês deixarem de ser quem são!

- Você tem razão. Levantem daí seus dois deprimidos, vamos nos divertir!

- Para você é fácil dizer, em duas semanas vai ter 'o amorzinho' de volta.

- Mas hoje estou solteiro, como vocês.

- Então vamos conversar com aquelas três moças 'decentes' que estão olhando para cá.

- Eu disse que estou solteiro, não disponível e com vontade de pegar uma doença salivamente transmissível.

- Não ouvi mais nada depois do...

- Disponível?

- Não.

- Doença?

- Não.

- Então?

- Transmissível.

- Mas foi a última palavra que eu disse.

- Ah ta.

Riram, muito.

- Eles tem razão, Rafa, não é uma mulher que vai nos derrubar e nos fazer perder a oportunidade de diversão entre amigos. Porque os amigos são a prioridade na mi...

Douglas não terminou a frase ao ficar boquiaberto em ver...

- É a Andressa?

- Namorei com ela por três anos, conheço aquele jeito de mexer o cabelo. Só ela...

- Ai ai, perdemos nosso amigo.

- É, das duas uma, ou ele vai até lá ou termina a noite dizendo 'eu te amo' para o garçon.

- Pelo menos ele é um bom garçon.

Riram.

- Eu vou embora.

- Por que?

- Não suportaria a ideia de vê-la com outro cara.

- São dois  meses.

- E eu daria um braço... bom, uma perna... bom, uns cinquenta reais para voltar no tempo e não terminar o namoro.

- E o ciúmes, e a possessão, e a histeria e a falta de confiança?

- Quem se importa?

- Isso, gostei de ver, vai lá e fala com ela! - Renata empolgou-se.

- Claro que não!

- Por?

- Eu vou chegar lá e dizer o que? Andressa, sinto muito por ter terminado nosso namoro e ter te chamado de paranoica, birrenta, teimosa, ciumenta, possessiva...

- Chamou ela de tudo isso?

- Eu não acabei.

Riram.

- Arrogante, egoísta, ciumenta...

- Você já disse ciumenta.

- É que eu chamei ela de ciumenta umas seis vezes.

- Bom, não importa, se você ama ela, vai lá!

- Dizer o que, 'ó senhor da verdade'?

Riram.

- Diz que o Douglas quer conhecer a amiga dela e que só veio fazer esse meio de campo entre os dois.

- Mas tu é piá pançudo mesmo, tá louco.

- Gênio. Esse cara é genial. Não é atoa que ele...

Renata esperava o adjetivo ansiosamente.

- Que ele sempre dá bons conselhos.

Billi suspirou, aliviado.

Riram.

- Só isso, depois faço o que?

- Olha nos olhos dela, segura uma das mãos e pede perdão.

- Só não vai listar todos os adjetivos que você disse para ela.

- Parei em 'adjetivos'.

Riram.

- Olhando nos olhos e pedindo perdão, com aquela cara de coitado que só você sabe fazer, ou ela te perdoa com um beijo ou diz que não tem mais chance.

- Se ela disser que não tem mais chance, diz que o lance da amiga dela comigo ainda tá valendo.

- E depois você se joga do viaduto.

Riram, cada vez mais.

(continua)

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