(continuando)
- Então é isso, depois de uma rápida passagem no restaurante e quinze visitas ao bufete, estamos aqui, em um maldito baile de formatura de...
- Não me pergunte, não fui eu quem conseguiu os ingressos.
- Nem eu, queria mais era ver a novela das nove chupando uma bergamota.
E riram.
- É formatura de... deixa eu ver os ingressos... ah, sim, terceiro...
- ...semestre de que?
- Não, terceiro ano do ensino médio.
- Você me tira de casa para vir a uma formatura de crianças?!
- Concordo, isso não foi legal, onde fica a minha depressão medonha?
Riram.
- Foi mal, nem eu sabia que era uma formatura de...
(todos olharam para uma guria que passou vestindo uma saia mais curta do que dedo dobrado)
- Você, por acaso, ia dizer crianças?
- Veja bem, tenho que concordar com o Rafael, são crianças.
- Mas veja o tamanho daquele par de pernas expostas aos olhos de reles homens solteiros como nós.
- Rafa, mas só você e o Douglas estão solteiros, não se esqueça.
- É, só eu e o Douglas...
- Fala por ti, animal.
Riram.
Ãhn... pensaram, olharam um para o outro e depois apenas para Rafael.
- E jeito de dizer.
Riram.
- Então vamos.
- Espera, a minha namorada está vindo.
- De onde?
- Do carro, quis retocar a maquiagem.
- Como se precisasse, com um corpo daqueles, não precisa se enfeitar para te...
- Para me o que?
- Agradar.
Riram.
Depois de algumas horas, estavam os quatro, mais Renata, sentados em volta de uma mesa, escorados e...
- Que desânimo do caramba é esse, viemos aqui para nos divertir, certo?
- Eu vim para afogar as mágoas.
- E eu para me manter em uma terrível e profunda depressão pós pé-na-bunda.
- E eu porque não queria ficar em casa sozinho enquanto meus amigos ou enchem a cara de cerveja ou aproveitam uma festa infantil com a namorada, enquanto eu tenho que esperar a minha achar uma tomada para recarregar o telefone no fim do mundo para onde os pais dela levaram-na.
- Não prestei atenção depois que você disse cerveja.
- Mais uma, garçon!
- Não é bebendo que vocês vão curar essa tristeza.
- Tem razão, vou amarrar uma corda no pescoço e me atirar do alto da torre de celular.
- E eu vou junto garantir que a corda será amarrada também na torre.
Riram.
- Vocês sabem do que eu digo. E veja bem, um chora porque teve o relacionamento terminado e o outro porque terminou, quem sabe um não junta com o outro e...
- Termina essa frase e você nunca mais começará outra!
Riram.
- Tá, Billi, fala de uma vez, qual é o conselho milagroso dessa vez?
- Fica fazendo pouco caso e esse será o último copo de cerveja que você vai beber na vida.
- Vai me bater?
- Não, eu sou formado em Engenharia Química, lembra? Então, posso desenvolver algo para te tornar alérgico à cerveja.
- Depois da engenharia não prestei atenção em mais nada.
Riram.
- O que estava dizendo é que terminar uma relação é muito bom...
- Por que é muito bom, ein Billi? - Renata o olhava, curiosa.
- Para mim não seria, amor, mas para eles foi bom. Um reclamava do ciúmes e o outro da... do... de...
- Tudo! - gritaram, ao mesmo tempo.
Riram.
- Então, é uma boa hora de recomeçar. Vamos nos levantar, dançar, rir, cantar, nos divertir como sempre fizemos, com ou sem namoradas. Vocês são os caras mais autênticos que conheço, não é um... enfim, que vai fazer vocês deixarem de ser quem são!
- Você tem razão. Levantem daí seus dois deprimidos, vamos nos divertir!
- Para você é fácil dizer, em duas semanas vai ter 'o amorzinho' de volta.
- Mas hoje estou solteiro, como vocês.
- Então vamos conversar com aquelas três moças 'decentes' que estão olhando para cá.
- Eu disse que estou solteiro, não disponível e com vontade de pegar uma doença salivamente transmissível.
- Não ouvi mais nada depois do...
- Disponível?
- Não.
- Doença?
- Não.
- Então?
- Transmissível.
- Mas foi a última palavra que eu disse.
- Ah ta.
Riram, muito.
- Eles tem razão, Rafa, não é uma mulher que vai nos derrubar e nos fazer perder a oportunidade de diversão entre amigos. Porque os amigos são a prioridade na mi...
Douglas não terminou a frase ao ficar boquiaberto em ver...
- É a Andressa?
- Namorei com ela por três anos, conheço aquele jeito de mexer o cabelo. Só ela...
- Ai ai, perdemos nosso amigo.
- É, das duas uma, ou ele vai até lá ou termina a noite dizendo 'eu te amo' para o garçon.
- Pelo menos ele é um bom garçon.
Riram.
- Eu vou embora.
- Por que?
- Não suportaria a ideia de vê-la com outro cara.
- São dois meses.
- E eu daria um braço... bom, uma perna... bom, uns cinquenta reais para voltar no tempo e não terminar o namoro.
- E o ciúmes, e a possessão, e a histeria e a falta de confiança?
- Quem se importa?
- Isso, gostei de ver, vai lá e fala com ela! - Renata empolgou-se.
- Claro que não!
- Por?
- Eu vou chegar lá e dizer o que? Andressa, sinto muito por ter terminado nosso namoro e ter te chamado de paranoica, birrenta, teimosa, ciumenta, possessiva...
- Chamou ela de tudo isso?
- Eu não acabei.
Riram.
- Arrogante, egoísta, ciumenta...
- Você já disse ciumenta.
- É que eu chamei ela de ciumenta umas seis vezes.
- Bom, não importa, se você ama ela, vai lá!
- Dizer o que, 'ó senhor da verdade'?
Riram.
- Diz que o Douglas quer conhecer a amiga dela e que só veio fazer esse meio de campo entre os dois.
- Mas tu é piá pançudo mesmo, tá louco.
- Gênio. Esse cara é genial. Não é atoa que ele...
Renata esperava o adjetivo ansiosamente.
- Que ele sempre dá bons conselhos.
Billi suspirou, aliviado.
Riram.
- Só isso, depois faço o que?
- Olha nos olhos dela, segura uma das mãos e pede perdão.
- Só não vai listar todos os adjetivos que você disse para ela.
- Parei em 'adjetivos'.
Riram.
- Olhando nos olhos e pedindo perdão, com aquela cara de coitado que só você sabe fazer, ou ela te perdoa com um beijo ou diz que não tem mais chance.
- Se ela disser que não tem mais chance, diz que o lance da amiga dela comigo ainda tá valendo.
- E depois você se joga do viaduto.
Riram, cada vez mais.
(continua)
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