quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Ecos da sinceridade - Com o desabafo


Enquanto ouço um desabafo espontâneo e um tanto contraditório - na medida em que não fica claro o sentimento atual para com tudo o que passou - viajo bem longe, em pensamento, para uma vida que nunca existiu, de verdade. Cada palavra parecia alterar de uma forma bem conhecida parte de uma vida que nunca foi minha, de uma história que nunca escrevi e que, exceto reviravolta absurda e imprevisível na existência humana, nunca poderá ser contada como verdadeira.

Deixando de lado, ao menos por um parágrafo, o que passou pela minha cabeça, fui percebendo uma grande mudança na origem desse desabafo, daquelas palavras convictas, seguras, que retrataram tão bem fatos vistos pelos mais diversos olhos. A lembrança de tempos distantes, de ausência, de certo abandono é compensada cada vez que o erro é reconhecido, e volta a existir toda vez que a contradição no discurso faz com que o arrependimento pareça, no mínimo, irônico - tendo em vista todos os fatores negativos que foram fatos, e não imaginação.

"... ou pelo amor ou pela dor..." disse bem e, chegando aos dias atuais, a dor parece ser a consequência de alguns erros de escolha. A impaciência para com a demorada superação do momento de, ainda, alimentação de tristeza é compreensível porém inaceitável quando há claras lembranças de tempos passados em que erros, semelhantes, foram cometidos por medo da solidão.

Chegando à solidão voltei aos meus pensamentos. Tantas vezes ouço, e leio, vagando por aí coisas como 'não dê valor a quem não dá valor a você' e, sinceramente, acho uma bobagem sem tamanho. A solidão torna essa pequena demonstração de orgulho uma grande bobagem, porque a solidão age não só em pensamento, como no emocional e, em alguns casos, no físico. A desmotivação oriunda de uma ausência de convivência social - porém, principalmente, íntima, como amizades e relacionamentos afetivos - supera qualquer 'ele nunca vem falar comigo'. Claro, na maioria dos casos.

Tudo isso, solidão, desabafo e orgulho, em meus pensamentos, somados com a imaginação de toda uma história boba e impossível, trouxeram uma sensação de que falta muito para que haja constância e, por consequência lógica, superação do complexo que persegue meus dias há anos. Não há como simplesmente virar as costas e deixar tudo para trás porque há coisas enraizadas na razão.

Ao ver, e ouvir, alguém remoendo lembranças - ainda com alguma amargura, embora confiante no presente - traz, analogamente, tranquilidade por ser, em qualquer situação, aceitável uma demora - mesmo que excessiva - no começo de uma nova série de histórias escritas com vida, na vida. Enquanto o meu repouso é leve, a minha paz inexiste e a sede não me faz buscar água, continuo pensando - cada vez menos, é verdade - em tudo e tanto que existe e que está longe do meu controle, na minha mente.

Talvez só falte uma nova razão. Talvez.

Um comentário:

Gabriela Marques de Omena disse...

Quando damos atenção ao desabafo alheio, podemos muitas vezes, ou não, dar de cara com uma história parecida; aquela verdade que todos nós negamos e que no fim alguém finalmente teve coragem de falar... Aquela sensação de identificação... Ou até mesmo quando as perspectivas de vida são diferentes. Uma loucura! Cada cabeça pensante esconde uma vida errante.

Beijo doce.
Preencheu minha noite.
Escreves tão bem... tão leve... gosto demais.
Boas festas pra você!