terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Histórias do Billi J. - Eu sou você amanhã (3)


(...)
Ficaram um tanto perplexos quando viram Rafael saindo do círculo que formavam em um canto do ambiente e indo até Andressa.

- Ele vai tomar um fora daqueles.

- E você é o culpado, Billi!

- Por que?

- Porque você encorajou-o a ir lá. Do jeito que ela é, orgulhosa que nem ele, vai estraçalhar ele de uma vez.

- Mas eu não mandei, só sugeri.

- Para quem arrebenta a cara, dá no mesmo.

- E se ela disser que sim, que o perdoa e que vão voltar?

- Acho difícil, ele sequer vai pedir perdão.

- Ãhn?

- Ele não vai falar nada, vai apenas olhar e gaguejar.

- Como o Billi fez, e faz, tantas vezes, na minha frente.

Riram.

- Como todo homem apaixonado faz quando realmente tem sentimentos por alguma mulher.

- Os homens são uns idiotas mesmo, as mulheres não valorizam o que fazemos por elas, o tempo que deixamos de passar com os amigos para estar com elas, os momentos que deveríamos ter com nós mesmos e passamos a ter ao lado delas, o trabalho que deixamos de lado para ficar ao lado delas enquanto tem cólica ou dor de barriga, sabe, é injusto mas os homens são idiotas por saberem de tudo isso e ainda assim sempre se colocarem a disposição das mulheres, mesmo que vejam que não são valorizados e que elas só nos querem por perto quando precisam.

Renata, Luiz e Billi olharam perplexos para Douglas. Renata até tentou pronunciar alguma coisa mas...

- É verdade, nesse ponto as mulheres são muito interesseiras.

- E no fim - continuou Douglas - te dão um pontapé na bunda e ficam com o primeiro vagabundo que oferece a elas uma volta em um carro importado.

- Eu não sou assim!

- Bom para você, Billi, que encontrou alguém que não quer se aproveitar do teu bom coração, da tua boa vontade, de todas as boas coisas que você aprendeu, também conosco, e que usa sempre. Porque, no fim, não nos levam a sério porque não somos como a maioria, não fazemos as coisas por fazer e, como o Billi diz, não vivemos por beber...

- Embora façamos isso com alguma frequência.

Riram.

- Enfim, não nos achamos os melhores, os mais bonitos...

- Porque não somos mesmo.

Riram.

- É, vocês entenderam.

- Não preciso nem perguntar se você ainda guarda mágoas dela.

- Nem sei, quero que vá para o inferno agora.

- Mas a história do carro é verdade?

- Claro que é.

- Mas você tem um carro.

- Mas não é uma caminhonete importada que custa uns trezentos mil.

Riram, contidos e um tanto decepcionados, mas riram.

- Voltando ao nosso assunto principal, olhem, ele continua parado na frente dela. É, Billi, você estava certo, ele não vai conseguir falar nada.

- Se ele não disser para a amiga dela que eu... ah, tanto faz, quero mais é chegar em casa e arrebentar minha cabeça na parede para ver se  esqueço daquela...

- Sim, daquela.

- É, com a Renata por perto fica chato falar palavrão.

Riram.

Enquanto isso, Rafael voltava de mãos dadas com Andressa. Ninguém perguntou coisa alguma, ninguém ameaçou indagar uma palavra sobre. Era como se não tivessem terminado o namoro há meses, como se nada tivesse acontecido. Amigos, reunidos, novamente. Ponto.

- Aaaaaaaaaah não, agora nós temos que sair daqui e fazer uns agitos.

Era Dancing Queen, Abba.

- Agora começou a festa.

Riram quando Douglas tirou os sapatos e as meias e começou a dançar, completamente fora do ritmo da música.

- Se vocês não começarem a dançar essa, vocês são uns...

Nem precisou terminar, todos riram. E começaram a dançar.

Rafael, discretamente, chegou perto de Billi e sussurrou:

- Obrigado.

Nada mais precisava ser dito. Aquele sorriso bobo, espontâneo, presente no rosto de cada ser movido pelo que beira o indescritível, tornava desnecessária cada palavra que pudesse ser dita.

- Billi!

- O que?

- Você dirige hoje, eu vou tomar mais umas geladas e me arrebentar dançando aqui.

Riram. Riram a noite inteira.

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