sexta-feira, 28 de maio de 2010

Histórias do Bandiolo - Mas... tá.


Perder tempo no trânsito é algo que quase todos perdem, porque no fim das contas até quem está dentro de um ônibus perde tempo com congestionamentos em cidades que nem sempre são muito grandes, mesmo sendo muito mais grandes do que a maioria das outras cidades. O fato é que o sujeito busca maneiras alternativas de passar esse tempo todo, para não se irritar, para não xingar o idiota que não atravessa a droga da rua... é, bom, vocês entenderam.

O sujeito em questão, cansado de tanto estress, tanta barulheira, com a mão machucada de tanto bater na buzina tentando apressar os idio... sujeitos que estavam na sua frente, decidiu que o amanhã dele seria diferente. Ele não se estressaria, não xingaria ninguém, nem se fosse muito... é, por aí mesmo. Começaria sem xingamentos e o resto viria por consequência. Ocuparia seu tempo com alguma coisa.

Ou algumas coisas.

Encheu o carro com livros de palavras cruzadas, o guia da copa do mundo, um estojo cheio de cd's para ouvir um bom e velho Bruce Springsteen e até um mini game para jogar snake e tetris. E foi indo, e foi fondo, e fondo, e fui. Digo, foi.

Primeira sinaleira, beleza, uma página inteira de palavras cruzadas. Chega né. E a cada sinaleira cansava de uma das atividades que havia preparado para passar seu tempo. E eram tantas sinaleiras, suas opções acabaram e ele não queria repetir. O que faria na próxima sinaleira? Ah, mas que... não queria que sua raiva saísse, para o seu bem e o de outros também.

Foi então que ele viu no chão do banco do carona a sua salvação. Não era muito grande mas deveria servir. Folhearia aquilo com um prazer que jamais havia sentido lendo... propaganda de loja de eletroeletrônicos. Fosse o que fosse, não importava, era a sua última sinaleira naquele trecho.

Sortudo, era o primeiro na frente da sinaleira. Sinaleira, semáforo, o que for. Logo que parou pegou o folheto e começou a olhar, oferta por oferta, produto por produto, todas as especificações. Em um momento de agilidade, viu que várias e várias pessoas estavam paradas prontas para atravessar, mas não o faziam. Estranho, pareciam estar xingando-no.

Tirou os fones e, além dos gestos obscenos que via dos pedestres estú... calma, muita calma... ouviu buzinas e xingamentos. Mas não fazia sentido, o sinal do semáforo ainda era o...

Bom, deixa pra lá.

*baseada em fatos reais, 
não necessariamente vividos por mim

terça-feira, 25 de maio de 2010

Histórias do Bandiolo - Eu nem queria mesmo


Encontrava-a todas as terças-feiras na porta do prédio. Porta, portão, seja lá qual for o nome pelo qual aquela chapa grande de metal receba das pessoas. E ela estava sempre lá, escorada ao lado da porta, no muro que dividia o terreno. Ela, ruiva, cabelos curtos e reluzentes. Sardenta, mas com muito estilo, muito charme e muita simpatia. Nas sardas. E só não são sardinhas porque ele odiava comer sardinha, a propósito, odiava qualquer coisa que lembrasse peixe. Seu irmão ter morrido por causa de uma espinha de peixe trancada na garganta bastava.

Seu irmão não importava para ele. Pelo menos não nas terças-feiras, embora ele nem cogitasse falar sardinhas. Onde eu, ou ele, estava? Ah sim. Ela. A ruiva. A ruivinha. De alguém, de ninguém. Quem sabe um dia ou por um dia dele.

Ela e aquele sorriso amarelado. Não que precisasse de um clareamento, mas sei lá. Era estranho alguém com tanto charme não ter um sorriso branco esplêndido. Era pedir demais de alguém que nem conhecia que tivesse um sorriso como a... aquela lá que fez o filme... como era mesmo o nome do filme?... não importa. Aquela atriz, morena... bom. Era melhor deixar que as ruivas tivessem o direito de terem sorrisos discretamente amarelos. É. Ruivas não devem gostar de comparações com morenas, ainda mais quando... chega, a baba começou a pingar.

Terças-feiras que a cada quarta-feira vivida começavam a ser ansiadas. Mas aquela ansiedade brutal, aquele desejo pelo dia, pelo sorriso discreto, pelas sardi... sardas, pelo cabelo ruivo e... ai. Uma dor no coração só por lembrar daquele oi desinteressado e ainda assim doce. Oi ou bom dia? Tanto fosse um quanto outro e seria a mesma ansiedade.

O que tanto queria aquela ruiva naquele prédio, nas terças-feiras pela manhã ele não sabia. Porque sempre perguntava se ela queria entrar e a negativa era feita do mesmo jeito: com desdém. Um desdém seco, com movimentação lateral daquela cabeça, o que induzia aqueles cabelos ruivos a igualmente moverem-se. Aqueles cabelos, como reluziam. Se fossem amarelos(não loiros) seriam confundidos com ouro. Ah é, o desdém. Apesar de ser o que era, com uma negação física e um olhar ao longe, era elegante. Porque ela era elegante. Aquelas sardas eram elegantes.

Nunca conhecera uma ruiva. Essa talvez fosse a sua única oportunidade nos próximos anos, ou quem sabe a única na sua vida inteira de conhecer uma ruiva. Porque ver e exaltar suas qualidades físicas e psicológicas(desdenhar com elegância é qualidade psicológica, tá?!) não bastava. Só que ele, o cara que encontrava a ruiva nas terças-feiras, não sabia o que dizer para ela.

Aquilo tinha que parar. A angústia que começava na quarta-feira e terminava só na outra terça-feira, semana após semana, tinha que acabar. Precisava mudar essa situação. Estava perdendo a cabeça por aquela ruiva elegante, charmosa e... olha só, novamente perdia a linha de raciocínio por pensar nela. Cabeça ao vento por alguém que dava certamente mais importância ao lixo que o vento carregava do que ao idiota que a cumprimentava todas as terças feiras.

Essa situação iria mudar. Cumprimentou-a mais uma vez e seguiu seu rumo, dessa vez sem perguntar se ela gostaria de entrar. Ela, indiferente, olhou para ele enquanto ele passava. Falaria alguma coisa, ele tinha certeza. Sim, falaria. E ele responderia e então ela responderia e assim sucessivamente, sim! Ele era um gênio.

De fato, ela abriu a boca e falou em sua direção:

-Ei...

Suas pernas tremeram. Seu mundo sumiu. Ela, a ruiva, falaria mais do que um oi e um não implícito para ele. Sim, ela, com aquelas sardas simpáticas e aquele cabelo reluzente, sim, ela, que há tanto tempo ele...

- ...você esqueceu o portão aberto.

Do céu ao inferno antes mesmo de um ponto final. Com as pernas pesando toneladas e o coração no zero absoluto, ele voltou, sem olhar para ela, fechou a porta e seguiu seu caminho. Não sabia o que dizer. O que fazer e o que pensar quanto ao que acabara de viver.

Logo ela, seu sonho consumo. Logo uma ruiva tão elegante, com sardas tão simpáticas...

Voltou a comer sardinha. Só de raiva. E a cada sardinha comida lembrava da ruiva. E só de raiva, comia outra, e outra, e outra e ainda mais outra. Comia latas e latas de sardinha por semana. Pura, com pão ou arroz.

Comia cada uma delas para se vingar da ruiva, daquela ruiva. Apesar da raiva, não podia negar que suas sardas eram tão simpáticas que mereciam mesmo serem chamadas de sardinhas.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Frase do dia


Mania de grandeza tem o sujeito 
que abaixa a cabeça ao entrar em algum lugar 
por achar que vai batê-la, 
mesmo que a porta, 
ou o que quer que seja, 
esteja 50 centímetros mais alta que ele.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Histórias do Bandiolo - Plano imperfeito. Felizmente imperfeito.


A menina escolheu o outro. Mais jovem, mais simpático, mais engraçado e com uma aparência melhor, mais atrativa. A menina o escolheu por isso, ou por nada disso. Sem sentimento, apenas aparência, o que ela negava. Esse não era o problema. Ela achava que ele, o outro, o mais jovem, era príncipe, era rei, era tudo que pudesse representar o máximo no meio dos mínimos. O outro que não o mais jovem era passado, aliás, nunca fora passado.

Ele, o outro, o mais velho, decidiu vingar-se. Não passou pela sua cabeça agressão física ou retaliação verbal ou de qualquer outra espécie. Não mesmo, isso era para os fracos. Sequer reclamou. Mas jurou, para si mesmo e para um mendigo que ouviu seus lamentos que iria vingar-se, que iria dar o troco naquele idiota que tanto fez para conseguir tirar o que era seu. Aquela que era sua. Idiota, só pela aparência. E ela, boba, ingênua, iludida com promessas, que assim como as políticas, jamais serão cumpridas.

Pensou, refletiu, perguntou ao bêbado quando encontrou-o novamente na praça tomando cachaça mas nada o ajudava. Era o mau sentimento, era a maldade na ação, na intenção, só podia ser isso. Castigo por querer vingança. Ainda assim não desistiu. Ônibus, carro e bicicleta, de todos os jeitos andou, buscando inspiração. Até pensou em atropelá-lo, mas não seria o suficiente.

Um dia, voltando para casa aos chutes em pedrinhas, encontrou a sua vingança. Ou melhor, quem o ajudaria a vingar-se. Pior do que essa vingança seria arrumar um jeito de fazer crescer chifres morais em sua cabeça ou tirar sua pose de galã atlético na frente de seus amigos, igualmente filhinhos de papai que não sabem diferenciar um ovo de galinha de um ovo de pata.

Não precisava chegar a tanto. Não seria uma vingança tão grande mas, como dizem por aí, pegar a irmã dele seria uma grande obra. Uma grande vingança. E uma grande sacanagem com a irmã em questão mas ele, cego, não importava-se com isso. Sedento por vingança, alucinado pelo sabor da gozação para com o tal sujeito. Ele não pensava em outra coisa, era o mínimo que poderia fazer.

Conquistá-la não foi difícil. Apesar de um olhar sério, tinha uma mentalidade infantil e um sorriso de criança. Era tão velha quanto ele mas não devia nada às menininhas, como era sua antiga paixão. Ele conquistou-a rapidamente, pois nem por um segundo aliviava sua carga cheia de raiva e más intensões para cima daquele quase doce de leite. Ela nem desconfiava. Ele cada vez mais se envolvia com a vingança.

Conseguiu. Conquistou-a, tomou-a por sua, sendo o estado civil qualquer um que não fosse solteiro. E jogou na cara do infeliz. Sim, um infeliz! Que foi ao chão de raiva quando viu que o ex de sua menininha estava tendo um caso, ou algo mais, com sua irmã! SUA IRMÃ. Desgraçado. Logo percebeu que era intencional, que ele não queria nada com sua irmã e alertou-a sobre isso. Ela, cega de amores por aquele poeta digno da fase romântica da literatura brasileira, não deu ouvidos ao seu irmão pirralho, idiota e que queria atrapalhar sua felicidade. Já ele, o homem vingativo, foi ao chão. Sua vingança foi alcançada e por isso cantava alto aos céus por sua vitória. Porém, passou a sentir irmã de seu, agora antigo, desafeto, que fora enganada

Sentia pena dela, daquela mulher com mentalidade infantil, sorriso encantador, simpatia sem igual, INFERNO! Fora enganado pelo cupido idiota, que lançou uma flecha de cima do seu ombro que acertou o coração dela. Cupido burro, guardasse para alguém mais... não conseguia completar a frase. Vingança que resultou em paixão e quem sabe até algo mais. Não pensava mais em ninguém, nem na sua antiga... paixão?, nem no seu antigo desafeto e agora cunhado, nem em nada. Seria impossível se não estivesse acontecendo.

Pensou em contar. Desistiu. Não poderia mais viver sem ela. Mas era sincero, precisava contar. Nunca seria perdoado, então recuava em sua intenção. Questão de caráter, muito mais do que de verdade ou lealdade. Más intenções que resultaram no sentimento dos sentimentos. Incrível seria se não fosse visto, concluído, sentido. Seria qualquer coisa que não acontece se não tivesse acontecido.

Raios o partissem, mentia para seu amor quando dizia que a amava? Não, não mentia. Agora. Antes mentia, mentira, e muito. O começo, o fim. Algo justifica? O presente justifica o passado? Não era para ser assim, então não havia justificativa. Injustificável, isso era. Entretanto, não poderia ser perdoado pelo arrependimento... arrependimento? Concluíra seu plano original. Seria um canalha completo se não a amasse tanto agora...

Não sabia mais o que fazer. Foi falar com um grande homem. O bêbado. Entre um gole e outro, eles brindaram à vida, às mulheres e ao Esporte Clube Rio Grande. Brindaram às maravilhas de Deus, dentre elas as morenas voluptuosas e as loiras de olhos azuis. Brindaram com goles no bico da garrafa, de plástico, daquela cachaça vagabunda. E o bêbado disse-lhe o que deveria fazer, e ele, o ex-vingativo e agora apaixonado, fez.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Como se fosse a primeira vez


Como se fosse a primeira vez. Ou da mesma maneira de uma vez ou duas, anteriores à primeira. Aquela sem conhecimento, sem saber quem ou o que é, o que faz, quais músicas gosta ou  quando perdeu os dentes de leite. Foi assim, simples, desse jeito único. Porque da primeira vez eu não lembro. Nem da vez antes da primeira. Eu só lembro depois, bem depois. Como se antes não existisse, pois diferença alguma fazia.

Ontem. Um dia que não pareceu ser o dia que acabou por ser, na beira do fim, próximo do seguinte. A noite de um dia que pode ser generalizada como o dia em um todo, sem uma noite em si. Não havia nada escuro, escondido, em fuga por motivo qualquer. Nada que voltasse tempos de dor, de sofrimento, embora esse tenha sido sentido no fim, sem razão aparente. Havia luz, muita luz.

Foi, pareceu, sem nada acontecer. De repente um grande lago se formou, a muito custo pela insistência da terra em pegar para si essa água. Vantagem nisso foi apenas não haver afogamento algum, nem sonho deixado de lado por alguma perda. Mas talvez fosse melhor jogar tudo para baixo das águas calmas e, contra a natureza, salgadas daquele lago irregular.

Nada mudou ou irá mudar. A perda é irreparável, erros em diferentes instâncias que não podem ser corrigidos, apenas colocados no papel para um dia virarem pó, como tantos outros casos já julgados, justa ou injustamente, por juízes honrados ou corruptos. Pó esse que ficará à espera de um vento, de preferência monstruoso, que espalhe por todos os cantos, de modo não haver chance alguma de lembrar o que estava escrito na terceira ou última linhas.

Um fim. Deprimente fim. Mas isso não impediu que ontem eu voltasse no tempo e lembrasse da primeira vez.

Ou como se fosse a primeira vez.

sábado, 15 de maio de 2010

Uma rua, várias pedras. Apenas uma rua. E várias pedras.


Bastaram algumas pedras soltas, buracos aqui e ali, fotos novas na vitrine e um silêncio louvável para que um sentimento nostalgicamente incrível despertasse e fizesse valer-se por si só, sem interferência humana, talvez Divina. E no meio desse silêncio, buscado por muito tempo, fez valer a máxima de que não há lugar como o lar, mesmo que nem no lar estivesse. As ruas, tão familiares e ao mesmo tempo tão distantes do presente e do passado, ah, as ruas. Retas e curvuolíneas, sem muita distinção, sem muita luz. Ah, as ruas. Nunca ficara tão feliz por poder dizer que estava caminhando em alguma rua. No meio de alguma rua.

Sem marcação de tinta, sem placa de pare. Apenas ruas. Apenas ruas de calçamento, sem asfalto. 

Apenas ruas.

Apenas sorrisos.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

De passagem sem passar


Quero ir para longe daqui. Embora. Sumir. E nem precisa ser ao vento, ao longe, em busca do pote de ouro no fim do arco-íris, como tantos já pensaram em buscar. Eu não quero ouro. Só quero sair daqui, desse lugar cheio de paradas, hipocrisias e galhos secos. Deixar esse ambiente deprimente e injusto. Não por não aguentar, mas por não querer mais permanecer. Sobe à garganta a repulsa pelo que meus olhos veem e meus ouvidos ouvem. Adjetivos faltam, vontade de ficar também. Permaneço, com tanta vontade de sair, tendo como única motivação uma foto, de momento algum, de coisa alguma. Apenas uma foto, que me traz alguma réstia miserável de consolo. Possibilidade, mas sem racionalidade de mudança. Não quero nem sonhar com outro lugar, nem mesmo à partir da foto. Porque fugir daqui permanecendo aqui é dar um tiro no próprio pé e acusar alguém, hipocritamente.


*a razão de existir desse fragmento pode ser real ou não.
Faz sentido pensar que apenas pensamentos o fizeram.
Como também faz sentido que não foram apenas pensamentos.

sábado, 8 de maio de 2010

Histórias do Billi J. - Eu queria que você soubesse


(escrito pelo Billi J. há alguns anos, em uma folha de caderno qualquer. É impróvável que essas palavras não tenham sido escritas para a Renata, embora não faça muito sentido ter sido escrito para ela, mas isso é uma outra questão)

Eu quero cobrar, exigir de você o mínimo de resposta que condiga com todas as palavras que te digo. Quero cobrar, exigir o mínimo de atenção a mais. Um pouco tempo a mais. Palavras que não precisam ser de apoio, motivação ou declaração. Não. Apenas um pouco de atenção. Eu quero, mas não consigo cobrar, exigir o que suponho merecer, pois deixo há algum tempo qualquer coisa que possa fazer para falar com você. Tudo porque eu amo você. E amo demais para estragar esse pouco tempo de atenção que recebo. Pequenos momentos, ótimos pequenos momentos.  Sinto-me como se estivesse muito mais vivo do que estou. Como se vivesse muito mais do que tenho vivido. Como se todo esse fardo pesado que carrego fosse tão leve quanto deve de fato ser. Como se eu fosse forte para fazer desse fardo pesado um fardo leve.

Queria só um pouquinho mais. Mas não posso exigir. Porque o querer é apenas meu. E talvez você não queira. Talvez. Provavelmente. Não importa. O que eu sinto é grande demais para deixar que esse mero detalhe atrapalhe. Porque você me faz bem. As suas palavras me fazem bem. E com elas você abre um espaço cada vez maior em um coração ainda murcho, fraco, que pulsa com ajuda de vários aparelhos, ainda.

Porém eu sei que, também por você, ele voltará ao normal.
De qualquer forma, mesmo que você não leia, obrigado. Eu amo você, muito.

Billi J. - 23/07/01

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Voltar ao lugar de onde nunca saiu. Caiu.


Quem consegue explicar um fogo que surge sem faísca, sem combustível e até sem oxigênio? 

Quem consegue explicar um vulcão em erupção cuja lava nada destrói?

Um atacante que gol algum marca?

E uma raiva que nada finaliza?

Torrar, tostar, fritar, queimar, jogar ao chão, destruir a matéria por si, só, e muito só.

A vontade é de pegar qualquer coisa e jogar na frente, ou para dentro, tanto faz. 

Destruir de uma vez. Entretanto, destruir o que, tudo está...estava remendado.

A vontade é dormir e acordar alguns meses, ou ao menos semanas depois.

Hibernar, como ursos polares. Polares? Bi, quem sabe. Polares, não sexuais, mentes poluídas.

Idiotas são os ursos se, vejam bem, SE acham que sua comida vai ficar pronta por conta, que os caçadores não estão mais atrás de si e que o aquecimento global faz parte de uma teoria da conspiração que irá destruir a raça humana em 2012. 

Acho que confundi as teorias conspiratórias.

Como idiotas são todos esses alienados estúpidos, viventes de mundos de puro sonho imaginário e desnecessário.

Tão desnecessário quanto a rima a cima. E essa agora, vinda por hora. Ridículo.

Como são ridículos aqueles... aqueles lá, alienados, alucinados, chapados ou não, doentes não, apenas alienados alucinados.

Preferem viver felizes em mundos pessoais, onde a felicidade reina.

Idiotas.

Isso não é viver. É imaginar. A vida, aquela que acontece, a realidade, os dias, horas e tudo mais, aquela vida, coisa de gente triste e sofredora, vai passando.

Não. Não. E não. Quer mais um? Então não.

Sem essa de aproveite a vida, cada momento como se blá blá blá. E mais blá blá para cá, para lá, aqui e acolá. 

Porque do lado de cá, aqui, ali ou lá, alguma coisa aconteceu para que algo como começo do texto trouxesse abaixo algo que eu já havia guardado.

Malditos fabricantes de guarda-roupas. Malditos marceneiros. Malditos infelizes que não sabem fazer um cadeado decente.

Só não é maldita a natureza. E apenas nela não irá respingar essa coisa que alguns chamam de ira, outros de fúria, outros mais idiotas chamarão de ciúme, a minoria talvez chame de transtorno mental ou coisa semelhante, mas eu chamo apenas de raiva.

Desses alienados, de mim, dos marceneiros, de vulcões que existem apenas em sonho e daquele maldito copo d'água que está quase sempre meio vazio. Por falta de água, ou de alguma coisa menos importante para a vida, porém mais importante para mim.

Espero um dia conseguir segurar nesse copo durante o acaso que impede o sempre da metade vazia.

Vazio, de certa forma oco. Comido por traças e cupins se fosse de madeira. Copo idiota.

Ei, guarda-roupas são feitos de madeira.

Abracadabra pé de cabrito, soco de Muhammad Ali... Culpa dos cupins!

Não importa. Porque hoje eu quero xingar os marceneiros.

Porque esses também são alienados.





*ninguém sabe o que tem acontecido comigo.
Prefiro que seja assim.
Só não venham com conselhos,
o texto não foi escrito para isso.  
Uma série de perdas sem equilíbrio com ganhos quase nulos. 
Mas eu já sei que aqueles que algum dia 
disseram que faria sentido 
não passam de bobos. 
Ou como está no texto, alienados.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Histórias de uma vida não vivida (20)

A vida é também feita de escolhas. Momentos e opções que se entrelaçam sem pedir licença, sem a menor razão. Trazem consigo um futuro escolhido e um futuro renegado. Já pensou que ao acordar você renegou um futuro presente que jamais será futuro? E no meio dessas escolhas, você decide pelo melhor pessoal, pela ambição, pelo desejo, pela facilidade, pela conveniência ou por influência. Você decide pela razão, pelo coração. Você decide. Você decide?

Deixou-o de lado como se ele fosse um mero objeto. Mero não, menos. Descartável talvez. Deixou-o esperando, uma palavra, um abraço, o mínimo gesto de carinho. Saiu e foi viver a sua vida, pois suas escolhas eram feitas pensando no melhor para si, na sua vida. Eram sim, as suas escolhas. Passou a ignorá-lo, fingir que nem existia. Ele, em contrapartida, tentou decidir se o pior do que ela fazia consigo era o desprezo ou a indiferença. Procurou uma resposta, aqui, ali, com pessoas desprezadas e desprezadoras, alvos de indiferença e com os próprios indiferentes.

Jamais achou resposta.

Pouco importava qual dos dois era pior. Eles estavam tirando de si uma parte de sua alegria, de sua consciência, de sua razão e da pureza de seus sentimentos. Coração que perdia a cor e acinzentado ficava. E tudo por ela. Custava acreditar que alguém a quem dedicou tanto tempo, tanta atenção e a quem entregou tanto amor, oh sim, sincero e puro amor, pudesse virar-lhe as costas e ignorá-lo, como se nada houvesse feito ou mesmo sido para si. Ela, não era a culpada. Ele a conhecia. Tão singela, simpática, um amor de pessoa, uma flor de menina. Flor, uma rosa amarela ou uma tulipa qualquer, ambas poderiam representá-la. E por conhecê-la, custou a acreditar que, sem que palavras fossem ditas, ela passasse a entregar-lhe sentimentos por gestos patéticos, frios e espinhosos.

Ele sempre soube também que, embora ótima pessoa, era vulnerável a ataques externos. Quantas foram as vezes em que ele fez ecoar em seu redor sinceras e consoladoras palavras para que seus olhos se abrissem e seu coração fosse visto como verdadeiro dono de sua vida. Tantas vezes, para nada. Descuidou-se, teve de afastar-se dela. E foi aí que aquelas pessoas conseguiram vencer. Sobre mim, mas principalmente, sobre aquela menina. Via nela agora uma menina pobre, sem forças, dependente da ajuda daqueles que têm, ou fingem ter.

Ela, por sua vez, via nele uma podridão, ausência de moral, um agora inimigo. Não queria mais vê-lo, não queria mais falar com ele. Mas estava aliviada que seus amigos lhe haviam aberto os olhos. Eles sim mereciam sua confiança, suas palavras e sua bondade. Eles eram seus amigos. Ele, idiota, que fosse para o inferno e de lá nunca mais saíssem.

Eles, os amigos dela, riram quando souberam que conseguiram mudar a opinião que ela tinha sobre ele. Riram, até suas barrigas doerem, até suas mãos cansarem de bater na parede, até seus olhos lacrimejarem, até que ela ouvisse as risadas e o deboche.
De onde vira a patética cena, saiu calada. Que fossem eles para o inferno. Arrependida, sabia que jamais conseguiria reconquistar a confiança daquele seu amigo que tantas vezes quis abrir seus olhos. E como ele, não emprestava, não vendia nem jogava mas dava seu tempo a ela. Sentia-se amada, por um amigo, um primo, quem sabe um irmão. E jogara aquilo fora, por uma bobagem. Dos outros, da sua cabeça. Fraca e vulnerável que agora estava sem um dos defensores, uma das barreiras que impediriam que ela voltasse a errar dessa maneira.

Mas ainda permanecia em dúvida. Embora tivesse visto o que aqueles que outrora julgaram-se seus amigos disseram e ironizaram, sentia-se culpada mas em dúvida. Tinham plantado nela a semente da desconfiança, da arrogância, da maldade. E ela não sabia como tirar essas sementes dali.

Não pediu perdão a ele. A sua dúvida era grande demais para que pudesse confiar em alguém.

Tanto que nem em seu coração confiava mais.

sábado, 1 de maio de 2010

Retratos de uma sociedade patética(8)


Hoje será sobre a permanência em perspectivas fadadas ao fracasso. Perspectivas falidas de um sucesso inexistente, no passado, no presente e no futuro. Perspectivas bobas, motivadas por aparências tão passageiras quanto uma nota de cem reais na mão de um pobre. Suposições e desejos de hoje que jamais serão hoje.

E tudo isso pela objetividade que transforma um sistema interno de entendimento de mundo em um sistema mais falido do que o comunismo ou, como queiram, tão fracassado quanto. Objetividade que reduz tempo e pode até ajudar em algum momento, mas não resolve perspectiva alguma, muito menos quando se está por baixo achando que poderia estar por cima, tudo por uma condicional tolamente... objetiva.

Disso e daquilo vêm o que eu quero tanto dizer, mesmo que ninguém entenda vírgula alguma. Porque ao invés de jogar-se de uma ver em um poço, com ou sem água, fica-se sentado na beira, esperando que alguém empurre para baixo aquilo que já deveria estar lá, tendo em vista que quanto antes se chega ao fundo, quanto antes se cai, antes pode-se voltar, levantar, enfim, sair do tal do poço.

A perspectiva de estar na beira do poço e achar que está tudo bem é tão tola quanto um ateu que abre os olhos e ainda nega uma Existência inegável. Você está na beira do poço e acha bom, mas não percebe que, estando na beira dele, está pior do que se já estivesse no fundo do mesmo, pois do fundo não se cai, mas da beira sim. Comentar sobre a espera pelo empurrão para uma mudança é cair em um lugar comum de palavras já ditas, repetidas e cansativas em outros dias.

Se joguem de uma vez e acabem com essas perspectivas ilusórias. Vocês na beira do poço fingem que não estão, mesmo estando. Enganam-se e julgam-se inteligentes ainda. Pensem com menos objetividade e quem sabe vocês entendam que, na real, já estão lá no fundo, chorando no meio da própria água.

Quem sabe assim vocês, eles ou aquela menina lá, passem a dar valor ao que ouvem daqueles que desistiram do objetivo há tempos. Abram os olhos para a mente, e não para a beira do poço, achando que ela é o vosso trono.

Cansa vê-los assim, iludidos em suas próprias luzes que não brilham, nem aqui e muito menos em algum outro lugar do universo, nessa ou em outra dimensão.