terça-feira, 25 de maio de 2010

Histórias do Bandiolo - Eu nem queria mesmo


Encontrava-a todas as terças-feiras na porta do prédio. Porta, portão, seja lá qual for o nome pelo qual aquela chapa grande de metal receba das pessoas. E ela estava sempre lá, escorada ao lado da porta, no muro que dividia o terreno. Ela, ruiva, cabelos curtos e reluzentes. Sardenta, mas com muito estilo, muito charme e muita simpatia. Nas sardas. E só não são sardinhas porque ele odiava comer sardinha, a propósito, odiava qualquer coisa que lembrasse peixe. Seu irmão ter morrido por causa de uma espinha de peixe trancada na garganta bastava.

Seu irmão não importava para ele. Pelo menos não nas terças-feiras, embora ele nem cogitasse falar sardinhas. Onde eu, ou ele, estava? Ah sim. Ela. A ruiva. A ruivinha. De alguém, de ninguém. Quem sabe um dia ou por um dia dele.

Ela e aquele sorriso amarelado. Não que precisasse de um clareamento, mas sei lá. Era estranho alguém com tanto charme não ter um sorriso branco esplêndido. Era pedir demais de alguém que nem conhecia que tivesse um sorriso como a... aquela lá que fez o filme... como era mesmo o nome do filme?... não importa. Aquela atriz, morena... bom. Era melhor deixar que as ruivas tivessem o direito de terem sorrisos discretamente amarelos. É. Ruivas não devem gostar de comparações com morenas, ainda mais quando... chega, a baba começou a pingar.

Terças-feiras que a cada quarta-feira vivida começavam a ser ansiadas. Mas aquela ansiedade brutal, aquele desejo pelo dia, pelo sorriso discreto, pelas sardi... sardas, pelo cabelo ruivo e... ai. Uma dor no coração só por lembrar daquele oi desinteressado e ainda assim doce. Oi ou bom dia? Tanto fosse um quanto outro e seria a mesma ansiedade.

O que tanto queria aquela ruiva naquele prédio, nas terças-feiras pela manhã ele não sabia. Porque sempre perguntava se ela queria entrar e a negativa era feita do mesmo jeito: com desdém. Um desdém seco, com movimentação lateral daquela cabeça, o que induzia aqueles cabelos ruivos a igualmente moverem-se. Aqueles cabelos, como reluziam. Se fossem amarelos(não loiros) seriam confundidos com ouro. Ah é, o desdém. Apesar de ser o que era, com uma negação física e um olhar ao longe, era elegante. Porque ela era elegante. Aquelas sardas eram elegantes.

Nunca conhecera uma ruiva. Essa talvez fosse a sua única oportunidade nos próximos anos, ou quem sabe a única na sua vida inteira de conhecer uma ruiva. Porque ver e exaltar suas qualidades físicas e psicológicas(desdenhar com elegância é qualidade psicológica, tá?!) não bastava. Só que ele, o cara que encontrava a ruiva nas terças-feiras, não sabia o que dizer para ela.

Aquilo tinha que parar. A angústia que começava na quarta-feira e terminava só na outra terça-feira, semana após semana, tinha que acabar. Precisava mudar essa situação. Estava perdendo a cabeça por aquela ruiva elegante, charmosa e... olha só, novamente perdia a linha de raciocínio por pensar nela. Cabeça ao vento por alguém que dava certamente mais importância ao lixo que o vento carregava do que ao idiota que a cumprimentava todas as terças feiras.

Essa situação iria mudar. Cumprimentou-a mais uma vez e seguiu seu rumo, dessa vez sem perguntar se ela gostaria de entrar. Ela, indiferente, olhou para ele enquanto ele passava. Falaria alguma coisa, ele tinha certeza. Sim, falaria. E ele responderia e então ela responderia e assim sucessivamente, sim! Ele era um gênio.

De fato, ela abriu a boca e falou em sua direção:

-Ei...

Suas pernas tremeram. Seu mundo sumiu. Ela, a ruiva, falaria mais do que um oi e um não implícito para ele. Sim, ela, com aquelas sardas simpáticas e aquele cabelo reluzente, sim, ela, que há tanto tempo ele...

- ...você esqueceu o portão aberto.

Do céu ao inferno antes mesmo de um ponto final. Com as pernas pesando toneladas e o coração no zero absoluto, ele voltou, sem olhar para ela, fechou a porta e seguiu seu caminho. Não sabia o que dizer. O que fazer e o que pensar quanto ao que acabara de viver.

Logo ela, seu sonho consumo. Logo uma ruiva tão elegante, com sardas tão simpáticas...

Voltou a comer sardinha. Só de raiva. E a cada sardinha comida lembrava da ruiva. E só de raiva, comia outra, e outra, e outra e ainda mais outra. Comia latas e latas de sardinha por semana. Pura, com pão ou arroz.

Comia cada uma delas para se vingar da ruiva, daquela ruiva. Apesar da raiva, não podia negar que suas sardas eram tão simpáticas que mereciam mesmo serem chamadas de sardinhas.

3 comentários:

Taw disse...

huahauahuaha

xD

po... o cara podia investigar sobre que assuntos ela dá trela... investigar e pesquisar os assuntos, aprender sobre tais... e praticá-los com ela...


hehehe

xD

:P

Jééh disse...

kkkkkkkkkkkkkkkk
nossa ri muito, mas se ela resolveu ignorá-lo não havia nada que ele poderia fazer/fato ^^

Mulher na Polícia disse...

Pra quem tem por uma mulher um "sonho consumo" ele até que recebeu atenção demais...

Merece se acabar na sardinha com pão, mesmo. Mas ele ainda aprende.

Beijo pra vc.