segunda-feira, 17 de maio de 2010

Como se fosse a primeira vez


Como se fosse a primeira vez. Ou da mesma maneira de uma vez ou duas, anteriores à primeira. Aquela sem conhecimento, sem saber quem ou o que é, o que faz, quais músicas gosta ou  quando perdeu os dentes de leite. Foi assim, simples, desse jeito único. Porque da primeira vez eu não lembro. Nem da vez antes da primeira. Eu só lembro depois, bem depois. Como se antes não existisse, pois diferença alguma fazia.

Ontem. Um dia que não pareceu ser o dia que acabou por ser, na beira do fim, próximo do seguinte. A noite de um dia que pode ser generalizada como o dia em um todo, sem uma noite em si. Não havia nada escuro, escondido, em fuga por motivo qualquer. Nada que voltasse tempos de dor, de sofrimento, embora esse tenha sido sentido no fim, sem razão aparente. Havia luz, muita luz.

Foi, pareceu, sem nada acontecer. De repente um grande lago se formou, a muito custo pela insistência da terra em pegar para si essa água. Vantagem nisso foi apenas não haver afogamento algum, nem sonho deixado de lado por alguma perda. Mas talvez fosse melhor jogar tudo para baixo das águas calmas e, contra a natureza, salgadas daquele lago irregular.

Nada mudou ou irá mudar. A perda é irreparável, erros em diferentes instâncias que não podem ser corrigidos, apenas colocados no papel para um dia virarem pó, como tantos outros casos já julgados, justa ou injustamente, por juízes honrados ou corruptos. Pó esse que ficará à espera de um vento, de preferência monstruoso, que espalhe por todos os cantos, de modo não haver chance alguma de lembrar o que estava escrito na terceira ou última linhas.

Um fim. Deprimente fim. Mas isso não impediu que ontem eu voltasse no tempo e lembrasse da primeira vez.

Ou como se fosse a primeira vez.