segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Histórias de uma vida não vivida (52)


*Fez promessas que sabia bem ser incapaz de cumprir. Ninguém no mundo - ao menos não humano - seria capaz de ir até o fim para com tudo. Disse, algum dia, que todo amor morre se viver apenas por si. A amizade é uma forma de amor e, portanto, quando por si, morre também. Suas palavras não eram pensadas, eram impulsivas. Falava o que estava sentindo, jamais pensaria que aquilo algum dia pudesse deixar de ser. O quase tocava seu rosto e acariciava-o como uma mãe demonstrando amor pelos filhos. Então o acaso vem e derruba. O quase, o amor... e a promessa. Não estava mentindo, de forma alguma. Apenas não compreendeu que por si, assim como o amor, o ato de amar não sobrevive. Em algum momento, cedo ou tarde, é necessário muito mais do que existir amor ou mesmo amar. É preciso cuidar. E é preciso deixar que Alguém cuide.

Eram duas da tarde e as nuvens tornavam o céu um quadro pintado pelo maior dos artistas terrenos. Aliás, nenhum deles conseguiria retratar aquilo. Divina criação, o azul claro e o branco intenso das nuvens destacavam-se de todo o resto. A montanha, aquela em que ninguém mais prestava atenção, dava à paisagem um toque terreno porém não menos incrível, mesmo que não houvesse uma árvore visível lá. Aquele, dito, troço marrom, trazia para perto um pouco do inalcançável do céu.

Dentre toda essa natureza, o contraste entre o impossível azul claro e o palpável marrom era, literalmente, uma grande analogia para o dono das mãos estaladoras de dedos. Parecia haver algo errado naquelas articulações, ele não parava um instante sequer com aquele 'tec tec' de dedos a estalar. Quando conheciam-no, antes mesmo do nome, perguntavam:

- Por que você não para de fazer isso? - sobre aquilo.

Não tinha resposta para a pergunta. Gostava daquilo. Tec tec tec. Esperando o ônibus. Tec tec. Lendo jornal. Tec tec. Esperando a fila do supermercado. Tec tec tec. Ouvindo um amigo falando sobre o futebol do final de semana. Tec tec. Ajudando sua mãe a lavar a louça. Tec tec. Tomando banho. Tec. E mais nada somente quando ela chegava perto dele, na sala de aula.

Ah, sim, não era sempre que estalava os dedos. Quando ela, sim, ELA entrava na sala, seus dedos paravam, como por encanto. O barulho de suas mãos era substituído pelo do coração. Felizmente ninguém mais tinha a capacidade de ouvi-lo batendo ensandecidamente. Ou será que alguém era capaz de sair do seu mundinho para escutá-lo, mentalmente? Claro que não. E, que diferença fazia, não conseguia abrir a boca para nada. Só sabia resmungar algum 'sim' ou 'claro' ou ainda, a palavra símbolo dos tímidos: 'aham'. Olhando para o chão e resmungando, claro.

Não que fosse novidade para alguém. Seus dedos inquietos eram a prova disso mas por que, então, ela... o que ela deveria fazer? Dizer algo como:

- Já reparei que você para de estalar os dedos quando estou chegando. Amo você, podemos conversar sobre o nosso futuro juntos?

Ou o clássico.

- Sim, eu também amo você. - mesmo que ele nada tivesse dito e, após isso, certamente enterraria a cabeça no chão.

Seus colegas insistiam que deveria falar com ela. Ele queria entretanto, né, pois é, não sabia como explicar. Era uma coisa de costume, entende? De criação, sabe? No fundo, sabia que suas desculpas eram mera covardia. Não julgava-se a pior pessoa do mundo, embora soubesse que seu hábito de comemorar, muito, no episódio em que o Tom finalmente captura o Jerry o impedisse de ser uma boa pessoa, em si. Ele era um covarde miserável, tinha medo de dizer para a atendente do supermercado que ela havia dado-lhe o troco errado. De tomar a frente na fila do ônibus mesmo quando estava carregando seis livros na mochila.

Enfim, agora vocês entendem o porquê do tique nervoso com os dedos, certo? Claro que faz sentido, não existiria outra razão para tal. E esse tec tec só parava porque ela era... ela. Daquele jeito que nenhuma outra pessoa conseguia ser. Mesmo que pouco conversassem, as palavras dela não saiam da cabeça dele. Ele lembrava como ela mexia os lábios para pronunciar 'legal'. Daquele jeito que só ela conseguia. E a simpatia, a alegria, o jeito espontâneo de atirar uma bolinha de papel no lixo e vibrar como se fosse a cesta do campeonato, o sorriso, o olhar carinhoso.

Estava cansado de tudo aquilo mas não sabia como reagir. Pensava, ensaiava e, até mesmo, treinava com suas amigas o que poderia falar quando estivesse perto dela e, na hora, claro, amarelava. Era um bobão. Um cagalhão, com o perdão do termo e da rima. Miserável sentia-se quando nem sequer olhar em nos olhos dela conseguia. Tinha medo. De que ela soubesse - o que provavelmente já sabia - pelo seu olhar de... apaixonado.

Desgraçada paixão. Desgraçado medroso.

Era mais fácil puxar uma bigorna atada nas orelhas do que dizer para uma colega que estava apaixonado por ela e que, por isso, conseguia superar seu tique nervoso.Aquilo precisaria acabar. Ah não, suas orelhas ainda não eram fortes o suficiente para puxar uma bigorna. Seu medo do nada teria de ser superado. Nem que fosse para que parasse de perder tempo inventando desculpas para quando perguntado sobre a razão de ainda não ter demonstrado aquilo que sentia.

Que ela o ignorasse, o chamasse de idiota, de bobalhão, de lunático, de maníaco pervertido, de qualquer coisa, que batesse nele com um estojo, com uma mochila, com um apagador ou mesmo com uma cadeira. Ela tinha de saber, por ele mesmo, o que já sabia pelos outros - e pelos seus dedos quietos em sua presença.

Iria declarar-se. Mesmo que, se por algum milagre absurdo e inimaginável, ela dissesse que sentia o mesmo, eles namorassem por uma semana e depois nunca mais olhassem um no rosto do outro. Mesmo que, depois de acertarem os detalhes - de alguma coisa - ele voltasse a estalar os dedos na presença dela e, portanto, o fogo da paixão fosse apagado pela água do descaso, da rotina ou da indiferença.

Ele iria declarar-se. Abriria seu coração e lhe diria o que ela (provavelmente) já sabia, só que por sua própria voz. Prometera até mesmo parar de estalar os dedos de uma vez por todas se conseguisse ao menos dizer a ela o quando estava apaixonado e todas aquelas coisas que somente uma pessoa nesse estado (deplorável) é capaz de expressar.

Na manhã seguinte, ela entrou na sala. Ele parou de estalar os dedos. Ele levantou-se e foi até ela.

Abriu a boca para falar mas ela o interrompeu:

- Bom dia! Você parou de estalar os dedos?! Que bom, já não aguentava mais esse tec tec chato. Você é bem querido mas esse barulho era irritante mesmo.

Desolado, machucado, derrotado, humilhado, decepcionado, inconsolável e destruído num todo, ele respondeu, ou melhor, resmungou apenas:

- Aham.

E estalou o mindinho esquerdo.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O vazio de viver e só (33) - Não sentir


Um amigo disse a mim, hoje:

"Me fala do que faz você feliz, não da sua rotina."

Não sei como pode ser tão difícil falar do que me faz feliz. De quem me faz feliz. Acho que, depois de tantas coisas, de tantas vezes em que a felicidade disse-me: "Entre!" e logo após fechou a porta, com alguma violência, na minha cara, fica difícil definir alguma coisa.

Jamais considerei-me infeliz. E jamais pensarei assim. Minha família é incrível, meus amigos são leais, meu grupo de oração é bom, Deus me ama e a cada dia permite-me viver. Senti-me, várias vezes, injustiçado por ter 'apenas' isso. A maturidade, e o crescimento também na fé, trouxeram isso abaixo, como grande bobagem.

Porém, é certo também - e Deus, em sua infinita sabedoria sabe, sem dúvidas - que faltam duas coisas, grandes, e duas pequenas para que eu consiga manter naturalmente um sorriso espontâneo no rosto. Discordo de quem disse que 'infelicidade é hereditário' - acredite ou não, alguém disse isso. Acho que isso é uma desculpa de um cientista cômodo e com complexo de inferioridade. 

E quem lê este troço dito blog sabe que posso falar com propriedade do complexo de inferioridade, ou síndrome de patinho feio. haha.

É paradoxal, porém muito poético, dizer que foi perdido aquilo que não se tinha. Por vezes tenho pensado assim - o que, felizmente, não faz de mim um poeta - só que isso nada quer dizer. Muito parece fugir mesmo, em algum momento, tendo estado tão perto. Não acho que tenha forças para, hoje, passar por cima de toda ansiedade e de todos os pequenos - e superáveis em momentos de tranquilidade - medos que tiram a concentração e a chamada 'paz de espírito'.

Estou cansado de ter de conformar-me com as coisas, ausências e portas na cara. Talvez ninguém entenda isso, mas é uma verdade.

Ainda não consegui voltar a escrever como algum dia escrevi. Não sinto vontade de fazer qualquer tipo de criação. Não tenho concentração para coisa alguma - ainda mais agora. O futuro, profissionalmente falando, é um ponto de interrogação, apenas - e isso é muita coisa.

Sem contar a incerteza. Aquela lá.

Pequenas e insignificantes coisas são aquelas. Essa última, é gigante, vem de um sentimento sincero, de uma vontade enorme de ser e deixar ser, de proporcionar, auxiliar, de amar. Pode parecer pouco para quem vê de fora, mas para quem não consegue mais achar meios de lidar com isso tudo, ao mesmo tempo, não é.

Jamais definir-me-ei como infeliz. Dei bons motivos para rechaçar isso.

Isso, entretanto, não tira de mim a possibilidade de escrever que não consigo sentir felicidade.

Infelizmente, com exceção de momentos, curtos ou longos, já faz algum tempo.

Talvez seja só um modo de ouvir, do Criador, que é preciso ir além e ter mais paciência do que qualquer outro ser. E isso está sendo difícil.

Porém, amém, Senhor.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Histórias do Billi J. - Uma lembrança, nenhuma saudade. Vida nova.

"Caro amigo!

A quantas andam suas insanidades? Se da mesma forma que as minhas, só tenho a lamentar, embora duvide que possa estar acontecendo tamanha confusão ao amigo quanto acontece comigo. Pois bem.

Lembra-se que relatei algumas das minhas consultas à psiquiatra? Então, foram várias consultas e ela não conseguiu fazer nada por mim. Pudera, somente Deus, em dia de excepcional e pontual genialidade, poderia interferir no meu livre-arbítrio e tomar uma decisão que somente eu tenho o poder de decidir.

Agora sim.

Dias atrás, fui a um estádio de futebol aqui da cidade e... bah, saí com uma sensação estranha de lá. Ter ido lá e visto um menino tirando uma foto do jogo em questão - eram uns amadores locais, fui porque gosto de jogos excêntricos e você sabe disso - trouxe à tona uma lembrança longínqua...

... em que a Renata estava presente. Acho que não te contei da vez que fui para Londres com ela, né? Não que tenha ficado triste ou com aquele clima de depressão mas... foi estranho lembrar porque... faz tanto tempo. Porque foram tão bons aqueles anos. Passado. Que voltou à lembrança. Só isso.

Tínhamos ido para Londres viajar. Ela conhecia tudo afinal morou anos lá. Então fomos aos pontos turísticos, que ela já conhecia e contou-me várias histórias - e você sabe Vini que eu sou apaixonado por histórias culturais - sobre os mesmos, e tal, sobre o costume do povo, do país em si, etc.

Até que ela, em algum momento, perguntou se havia algum estádio em especial que eu gostaria de conhecer.

Aí o coração balançou, você sabe bem por que.

Meu sonho sempre foi visitar aquele estádio clássico, pequeno porém acolhedor. Sim, o Craven Cottage do Fulham! Háaaaaa, nunca te contei isso? É fantástico aquele lugar, ainda mais estando embaixo daquela cobertura super clássica. O time é fraco, dificilmente fica entre os 10 do campeonato mas, não importava, meu sonho de estar lá tinha se realizado.

Claro que eu quis uma foto. Claro, também, que quis a Renata comigo na foto. Olhei, olhei e não achei um lugar bom para tirar uma foto com ela usando o timer. Porque, né, foto de muito perto não pegaria muita coisa do estádio. Então resolvi pedir, educadamente, que alguém tirasse a tal foto. Olhei para os lados e só vi um menino.

Então, né. Se não tinha outro, que fosse um pirralho.

Perguntei se sabia mexer na câmera, disse para ter cuidado e até como deveria tirar a foto. Ele disse 'ok' para todas as minhas frases. Deixei a câmera com ele e fui até a Renata para posarmos para a foto. Parece bisonho isso e, bom, foi mesmo bisonho essa de 'posar para foto' mas... era o Craven Cottage. Clássico!

Quando disse para o pirralho 'ok!', ele saiu correndo com a minha câmera. Sem tirar a foto, óbvio.

Eu estava cheio de roupas, porque né, faz frio demais em Londres, ainda mais no inverno. Então comecei a subir os degraus como podia. Nem conseguia gritar de tão... surpreso que estava. Persegui aquele pirralho por.... sei lá, uns 10 minutos. Ele entrava em um corredor, descia pelas escadas, entrava em outro corredor, subia uma rampa e... eu atrás, tentando não perdê-lo de vista. Aquela câmera tinha fotos de toda a viagem e... Londres é muito legal, você deveria ir para lá um dia... bom, enfim. Sem contar no preço dela. Novinha! Câmera novinha! Caramba.

Corri. Acho que ganharia do Bolt se ele estivesse treinando num daqueles corredores do estádio. Acho que o pirralho humilharia o Bolt se ele estivesse correndo a final dos 100m rasos na Olimpíada. Sério, ele corria demais. E não cansava.

Eu já não aguentava mais mas, felizmente, aquilo acabou.

A mãe daquele piá conseguiu encontrá-lo. Ah, bendito seja Deus pelas mães. Ela segurou ele, fê-lo devolver a câmera e ainda se dispôs a tirar a tal foto. Tudo terminou bem, blá blá blá.

Deve ser um saco ter de chegar aqui sem grandes emoções. Apesar de saber que a minha vida é assim mesmo, um tédio. Ao menos acredito que você pense isso. Embora seja um bom amigo e saiba lê-las com atenção.

Então. Essa história voltou aos meus pensamentos quando vi um menino com uma câmera na mão naquele estádio... varzeano, por assim dizer.

É engraçado, hoje, mais de um ano depois de terminarmos, a lembrança dessa história me fez sentir mais saudade da viagem e da companhia alegre da Renata do que da Renata propriamente dita.

Acho que foi bom que tenha terminado daquele jeito. Ainda conversamos. Ela está bem, conheceu um irlandês ruivo, parece que o cara torce para o Southampton e odeia cerveja. Literalmente, um cara excêntrico. Ela diz que eles estão apenas se conhecendo. Torço para que seja feliz. E acho que, se der certo com esse cara, a filha deles será uma linda ruivinha. Hahahaha.

Você está se perguntando 'e quanto a você?', certo?

Estou bem. Nada de muito diferente tem acontecido. É estranho, tudo tão parado, calmo.

Daqui a pouco isso muda.

Porque comecei a entrar, bem ou mal, naquela fase de "ãhn... será?".

Estou sentindo-me um adolescente, novamente.

Você deve estar rindo mas eu não acho graça.

Tá bom, só um pouco.

Saudações.

B. Johansson
"

domingo, 18 de novembro de 2012

Pedaços de um pensamento (62)

Desconhecer, hoje, as palavras que devem ser escritas acaba sendo, depois de muito tempo, algo bom.

Então eu sou, de fato, dono de paranoia análoga à vontade que um caçador tem de atirar. Não que isso seja ruim, embora não seja bom em si. O fato é que é aceitável, dados detalhes passados e, quase sempre, esquecidos.

De alguma forma é apenas uma ferida aberta em um coração que sente intensamente todas as coisas.

Não é difícil explicar por que ainda há ansiedade. Toda incerteza, principalmente em tempo futuro, gera um sentimento incômodo no presente.

Nada que destrua, de fato.

Estou, apesar da ansiedade, feliz por ter entendido errado e, com alguma espontaneidade, escrito as palavras abaixo.

Feliz por ter passado momentos muito bons. Momentos incríveis.

Estou feliz por estar sentindo-me vivo novamente.

Estou espontaneamente feliz. Sinceramente alegre. Convictamente tranquilo.

Mesmo que, ainda, inconscientemente ansioso.

sábado, 17 de novembro de 2012

O vazio de viver e só (32) - O nunca eu


Gloriosos, apesar de medíocres em grande parte, foram aqueles ditos poetas que de qualquer respingo salgado faziam jorrar palavras e subsequentes cheios de ardor. Bons foram, por tirar de si algo que jamais lhes pertencera e torná-lo, então, parte de um todo que renova-se ano após ano. Não posso dizer que gostaria de ser um deles - isso seria uma mentira infantil - porém, não posso mentir também ao dizer que pouco importa essa passagem do que faz parte de si para algo que passa a ser parte de outros. Distantes, desconhecidos e diferentes.

São tantos fatores para pouca coisa, muita bobagem para pouca vontade e um tanto de necessidade para um nada de capacidade. O que foge de mim, hoje, é justamente o que precisaria escrever. Quem sabe aos berros, como o vento lá fora insiste em fazer. Às vezes penso que não são gritos, e sim risos e que, óbvio, a risada vem de e para mim.

Isso, logicamente, não passa de paranoia minha. Embora toda paranoia parta de algo sensato e racional.

O que, entretanto, incomoda, não é a comparação com a antiguidade poética - antiguidade sim, pois rimas poéticas contemporâneas só servem para animar bailes funk - e sim a eterna, ao menos até hoje, negação sobre aquilo que, assim como poeta, não sou. Ser, como parte do verbo estar, é transitório, sim, mas ainda assim existente. O negativo atemporal, nunca, vem toda vez - embora pareçam inúmeras e incontáveis, são finitas, débeis e quase caem no esquecimento pela falta de alimento - que há algo contrapondo a sensatez.

E tudo o que foge da sensatez foge da sabedoria, já diria algum provérbio mundano, não muito inteligente, caso seja analisado o significado de ambas.

A fuga leva ao nunca, que faz parte de um sempre irônico - e possivelmente parte de uma maldição incompreensível - que, por sua vez, volta a jogar na lata do lixo páginas e mais páginas de poesias que não escrevi.

E mantém a falta de outras tantas páginas com poesias que também não escreverei, dessa vez não por falta de inspiração ou motivação e sim por falta de...

... capacidade. Ainda sou incapaz de transformar gritos em rimas.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Pedaços de um pensamento (61)

Da mesma forma que céu é infinito e parece abrir-se após cada pequeno deslocamento de nuvem, o chão, duro e teoricamente contável, também se abre a cada passo dado. A possibilidade de infinito está tão próxima daquilo que acaba logo ali que o melhor é esquecer que há condicionais e possibilidades, em si, e, então, apenas seguir como se nada fosse acontecer. Tentar antever é pior porque, além de ser inútil, acarreta em paranoia sem igual, hesitação infantil e ansiedade pré-mirim.

O que não tira tom humorístico de tudo isso é semelhante ao que dá a um 'frio na barriga' um gosto que pode se tornar doce ao ponto do elogio, ou do asco.

Em si, o limite entre dois opostos é largo, cheio de subidas, descidas e obstáculos até deixar de ser, de fato, um para tornar-se outro. Dizem que o amor e o ódio são coisas tão próximas que o tempo, a vida e o acaso - desconsiderando aqui qualquer crédito que a sociedade tenta dar a ele, uma vez que não passa de boa invenção dos covardes para separar o joio do trigo, a areia do pedrisco, enfim - encarregam-se de transformar o segundo no primeiro geralmente levando a um relacionamento hollywoodiano... tão inexistente quanto o acaso ou a sorte.

Essa história de proximidade se dá porque o meio termo, esconderijo da falta de personalidade crítica, é largo demais e engloba, em diferentes proporções, ambos os lados. É como sair para comer pastel e não saber decidir entre assado e frito, pedindo então uma pizza, assada, com baco, frito. Entre um e outro, há um pouco dos dois e, portanto, não há distinção.

Como, em questões condicionadas a vários fatores, definir o que é, ou não, torna-se complicado e, portanto, acaba sendo desnecessário a medida em que o tempo passa e a definição não leva a uma significativa melhora do estado de ser. 

E do ser.

Aquilo que é grande por ser visível está de um lado. O que é grande por ser invisível está de outro. Não é possível haver pequenez no meio termo desse e daquele porque a grandeza, vista ou não, exige do objeto que, de alguma forma, seja grande. Para os olhos, ouvidos ou coração.

Fugir do meio termo é, como disse antes, desnecessário. O importante é saber que há algo grande, em si, naquele espaço.

E que esse texto foi escrito às duas da madrugada de uma sexta-feira.

domingo, 11 de novembro de 2012

Reflexões de um maluco (20) - O cansaço das críticas


Talvez já tenha escrito isso porém, como não sou capaz de lembrar sequer do que estava vestindo hoje, tenho o direito, meramente, moral de reescrever. Com outras palavras.

Ou talvez sejam as mesmas.

Às vezes fico um tanto incomodado com algumas coisas que ouço. Sobre eu mesmo.

Parece, quase sempre, e é, geralmente, uma crítica indireta, disfarçada de 'construtiva' e que, por alguns momentos, parece mera hipocrisia. Vejamos.

Eu ouço sobre meus erros, meus defeitos, minhas limitações e blá blá blá. É visível grande parte desses erros, defeitos, limitações e blá blá. É muito visível porque, afinal de contas, a sinceridade também mostra aquilo que é ruim - em alguns casos, é apenas isso que se tem, logo, apenas isso é visto. Então, passa a ficar claro que grande parte das críticas não construtivas é, em si, mera banalidade pois o que é dito provavelmente já foi dito antes. E muitas vezes antes, aliás.

Logo, tornasse desnecessário uma vez que, antes mesmo de ouvir, aponto o que há de errado e problemático em mim. Não é desvalorizar opiniões ou desmerecer pessoas próximas que querem ajudar - algumas querem mesmo. É apenas questão de repetição desnecessária. Ou você gostava de ouvir sua mãe dizendo 'desliga esse computador' a cada cinco minutos? Uma hora aquilo ficava tão banal que nem irritação trazia mais.

Então, entenderam o que eu quis dizer? Né, fácil.

Fico, ultimamente tem sido constante, irritado por perceber que somente aquilo que é meu e, portanto, de mais ninguém, entra na mesa de debate. Eu tenho de reconhecer o que há de errado e ruim comigo e ainda ouvir dos outros o que pensam a respeito. Sobre meus erros e ruindades. Legal isso, não é? Então. Parece que sou a única pessoa com defeitos. Com limitações.

Não tento revidar, por assim dizer, apontando o que vejo naqueles que vem falar sobre mim. Não vejo muito sentido nisso, a não ser que isso seja um pedido. Jamais critiquei alguém ou pisei em um machucado propositalmente. E não o faria por qualquer motivo. Isso é covardia.

E fede à hipocrisia.

Porque é como se eu nada tivesse a melhorar e, portanto, pudesse 'tentar melhorar' outras pessoas. Infantil é pouco, essa atitude é pré-mirim. E cansa. E irrita. E tudo isso tem de ser contornado por uma tolerância que em dias de insônia não existe. Lá se vai o esforço para compreender as pessoas e tentar entender o porquê de dizerem isso ou aquilo.

Alguns são mesmo pessoas boas que querem ajudar. Outros, a maioria, não.

Continuo com meus defeitos entretanto, ao contrário do que querem fazer parecer, luto contra eles diariamente e não me conformo com qualquer um dos mesmos. É difícil entender por que sempre apontar para o que eu posso melhorar e nunca comentar sobre si. É difícil ter paciência para ouvir sempre o 'você é isso e aquilo' sem ouvir um 'mas entendo que faz isso por tal motivo uma vez que tenho tal problema que acarreta em tal blá blá blá'.

Entenderam, também, não é?

Talvez sejam pessoas ruins. Talvez sejam apenas hipócritas. Talvez sejam invejosos - haha, a possibilidade é quase nula, mas existe :P . Talvez queiram me ajudar. Talvez não conseguem falar algo sem criticar. Talvez eu seja uma grande porcaria, também.

Ou talvez seja, apenas, muito mais visível em mim esses defeitos, uma vez que vivo a sinceridade de maneira intensa.

Incerteza inútil.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Histórias do Bandiolo - Ela e o feminismo

- Não, não tenho nada em mente, por que?

Ela hesitou. Aquela história de 'liberação feminina', de que 'cavalheirismo é coisa do passado' soava tão idiota naquele momento. Tanto que não conseguia dizer o que queria. Era tão feio assim convidá-lo para irem ao cinema? Não havia problemas nisso, impedimentos, para eles, só no futebol. Ah, era tão divertido vê-lo jogando.

- Por nada, nada não.

- E você, o que vai fazer?

Será que o jogo havia mudado? Que ele iria convidá-la, então?

- Eu, nada. Estou disponível para qualquer coisa.

Mais claro que isso só se ela berrasse para todos que estavam passando pela calçada algo como 'me convida para sair seu idiota'.

- É bom ter um tempo para descansar, eu gosto.

Balde de água fria.

- Quando foi a última vez que você foi no cinema?

E lá estava ela indo, indiretamente, ao ponto.

- Bah, faz tanto tempo que... eu nem lembro qual foi o filme.

Silêncio mortificante porque ele não continuou o assunto. Não teria interesse nisso? Estaria ela sendo chata? Deveria engolir velhos preconceitos que voltavam e convidá-lo? Nem ou mal, de balde passou a tanque de água fria.

- Pois é, eu também. Queria muito ir.

A deixa final. Não havia como ele não entender a indireta.

- E por que não vai?

Agora sim, vai ser a última.

- Porque não tenho companhia.

Ela olhou para ele. Ele olhou para longe. Parecia cansado. Triste. Ou era só um disfarce para um oceano de água fria.

- Mesmo que sozinha, deveria ir assistir já que você gosta tanto de filmes e tem tempo livre.

Oceano gelado, buummmmm.

Decidiu não insistir mais. Talvez ele tivesse um bom motivo. Talvez não quisesse comprometer-se e depois, sei lá, dormir no cinema. Talvez não estivesse conseguindo sorrir. Talvez não tenha percebido que ela estava beirando a insanidade para ir no cinema com ele. Talvez...

De qualquer maneira, tomou uma decisão importante: nunca mais sairia de sua boca uma frase feminista. Queria ser convidada para sair, queria receber elogios, agrados, carinho. Queria sim, ser tratada como alguém única e, enfim, dependente de amor.

Queria ser amada à moda antiga, com romantismo puro, simples. Chega dessa história de feministas histéricas. Chega de dizer que não se importa, que a hora em que quisesse iria convidar. Tentou enrolar e não conseguiu. Chega de modernidade, de novidades banais e desnecessárias. De independência inútil. Chega de descompromisso. De enganar-se por nada. De culpar os homens por tudo, mesmo quando sequer sabiam ter feito algo.

Chega dessa bobagem sem fundamento.

Sequer era uma raquítica feia e pseudossocialista para tal.