sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Histórias do Bandiolo - Ela e o feminismo

- Não, não tenho nada em mente, por que?

Ela hesitou. Aquela história de 'liberação feminina', de que 'cavalheirismo é coisa do passado' soava tão idiota naquele momento. Tanto que não conseguia dizer o que queria. Era tão feio assim convidá-lo para irem ao cinema? Não havia problemas nisso, impedimentos, para eles, só no futebol. Ah, era tão divertido vê-lo jogando.

- Por nada, nada não.

- E você, o que vai fazer?

Será que o jogo havia mudado? Que ele iria convidá-la, então?

- Eu, nada. Estou disponível para qualquer coisa.

Mais claro que isso só se ela berrasse para todos que estavam passando pela calçada algo como 'me convida para sair seu idiota'.

- É bom ter um tempo para descansar, eu gosto.

Balde de água fria.

- Quando foi a última vez que você foi no cinema?

E lá estava ela indo, indiretamente, ao ponto.

- Bah, faz tanto tempo que... eu nem lembro qual foi o filme.

Silêncio mortificante porque ele não continuou o assunto. Não teria interesse nisso? Estaria ela sendo chata? Deveria engolir velhos preconceitos que voltavam e convidá-lo? Nem ou mal, de balde passou a tanque de água fria.

- Pois é, eu também. Queria muito ir.

A deixa final. Não havia como ele não entender a indireta.

- E por que não vai?

Agora sim, vai ser a última.

- Porque não tenho companhia.

Ela olhou para ele. Ele olhou para longe. Parecia cansado. Triste. Ou era só um disfarce para um oceano de água fria.

- Mesmo que sozinha, deveria ir assistir já que você gosta tanto de filmes e tem tempo livre.

Oceano gelado, buummmmm.

Decidiu não insistir mais. Talvez ele tivesse um bom motivo. Talvez não quisesse comprometer-se e depois, sei lá, dormir no cinema. Talvez não estivesse conseguindo sorrir. Talvez não tenha percebido que ela estava beirando a insanidade para ir no cinema com ele. Talvez...

De qualquer maneira, tomou uma decisão importante: nunca mais sairia de sua boca uma frase feminista. Queria ser convidada para sair, queria receber elogios, agrados, carinho. Queria sim, ser tratada como alguém única e, enfim, dependente de amor.

Queria ser amada à moda antiga, com romantismo puro, simples. Chega dessa história de feministas histéricas. Chega de dizer que não se importa, que a hora em que quisesse iria convidar. Tentou enrolar e não conseguiu. Chega de modernidade, de novidades banais e desnecessárias. De independência inútil. Chega de descompromisso. De enganar-se por nada. De culpar os homens por tudo, mesmo quando sequer sabiam ter feito algo.

Chega dessa bobagem sem fundamento.

Sequer era uma raquítica feia e pseudossocialista para tal.

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