terça-feira, 20 de novembro de 2012

Histórias do Billi J. - Uma lembrança, nenhuma saudade. Vida nova.

"Caro amigo!

A quantas andam suas insanidades? Se da mesma forma que as minhas, só tenho a lamentar, embora duvide que possa estar acontecendo tamanha confusão ao amigo quanto acontece comigo. Pois bem.

Lembra-se que relatei algumas das minhas consultas à psiquiatra? Então, foram várias consultas e ela não conseguiu fazer nada por mim. Pudera, somente Deus, em dia de excepcional e pontual genialidade, poderia interferir no meu livre-arbítrio e tomar uma decisão que somente eu tenho o poder de decidir.

Agora sim.

Dias atrás, fui a um estádio de futebol aqui da cidade e... bah, saí com uma sensação estranha de lá. Ter ido lá e visto um menino tirando uma foto do jogo em questão - eram uns amadores locais, fui porque gosto de jogos excêntricos e você sabe disso - trouxe à tona uma lembrança longínqua...

... em que a Renata estava presente. Acho que não te contei da vez que fui para Londres com ela, né? Não que tenha ficado triste ou com aquele clima de depressão mas... foi estranho lembrar porque... faz tanto tempo. Porque foram tão bons aqueles anos. Passado. Que voltou à lembrança. Só isso.

Tínhamos ido para Londres viajar. Ela conhecia tudo afinal morou anos lá. Então fomos aos pontos turísticos, que ela já conhecia e contou-me várias histórias - e você sabe Vini que eu sou apaixonado por histórias culturais - sobre os mesmos, e tal, sobre o costume do povo, do país em si, etc.

Até que ela, em algum momento, perguntou se havia algum estádio em especial que eu gostaria de conhecer.

Aí o coração balançou, você sabe bem por que.

Meu sonho sempre foi visitar aquele estádio clássico, pequeno porém acolhedor. Sim, o Craven Cottage do Fulham! Háaaaaa, nunca te contei isso? É fantástico aquele lugar, ainda mais estando embaixo daquela cobertura super clássica. O time é fraco, dificilmente fica entre os 10 do campeonato mas, não importava, meu sonho de estar lá tinha se realizado.

Claro que eu quis uma foto. Claro, também, que quis a Renata comigo na foto. Olhei, olhei e não achei um lugar bom para tirar uma foto com ela usando o timer. Porque, né, foto de muito perto não pegaria muita coisa do estádio. Então resolvi pedir, educadamente, que alguém tirasse a tal foto. Olhei para os lados e só vi um menino.

Então, né. Se não tinha outro, que fosse um pirralho.

Perguntei se sabia mexer na câmera, disse para ter cuidado e até como deveria tirar a foto. Ele disse 'ok' para todas as minhas frases. Deixei a câmera com ele e fui até a Renata para posarmos para a foto. Parece bisonho isso e, bom, foi mesmo bisonho essa de 'posar para foto' mas... era o Craven Cottage. Clássico!

Quando disse para o pirralho 'ok!', ele saiu correndo com a minha câmera. Sem tirar a foto, óbvio.

Eu estava cheio de roupas, porque né, faz frio demais em Londres, ainda mais no inverno. Então comecei a subir os degraus como podia. Nem conseguia gritar de tão... surpreso que estava. Persegui aquele pirralho por.... sei lá, uns 10 minutos. Ele entrava em um corredor, descia pelas escadas, entrava em outro corredor, subia uma rampa e... eu atrás, tentando não perdê-lo de vista. Aquela câmera tinha fotos de toda a viagem e... Londres é muito legal, você deveria ir para lá um dia... bom, enfim. Sem contar no preço dela. Novinha! Câmera novinha! Caramba.

Corri. Acho que ganharia do Bolt se ele estivesse treinando num daqueles corredores do estádio. Acho que o pirralho humilharia o Bolt se ele estivesse correndo a final dos 100m rasos na Olimpíada. Sério, ele corria demais. E não cansava.

Eu já não aguentava mais mas, felizmente, aquilo acabou.

A mãe daquele piá conseguiu encontrá-lo. Ah, bendito seja Deus pelas mães. Ela segurou ele, fê-lo devolver a câmera e ainda se dispôs a tirar a tal foto. Tudo terminou bem, blá blá blá.

Deve ser um saco ter de chegar aqui sem grandes emoções. Apesar de saber que a minha vida é assim mesmo, um tédio. Ao menos acredito que você pense isso. Embora seja um bom amigo e saiba lê-las com atenção.

Então. Essa história voltou aos meus pensamentos quando vi um menino com uma câmera na mão naquele estádio... varzeano, por assim dizer.

É engraçado, hoje, mais de um ano depois de terminarmos, a lembrança dessa história me fez sentir mais saudade da viagem e da companhia alegre da Renata do que da Renata propriamente dita.

Acho que foi bom que tenha terminado daquele jeito. Ainda conversamos. Ela está bem, conheceu um irlandês ruivo, parece que o cara torce para o Southampton e odeia cerveja. Literalmente, um cara excêntrico. Ela diz que eles estão apenas se conhecendo. Torço para que seja feliz. E acho que, se der certo com esse cara, a filha deles será uma linda ruivinha. Hahahaha.

Você está se perguntando 'e quanto a você?', certo?

Estou bem. Nada de muito diferente tem acontecido. É estranho, tudo tão parado, calmo.

Daqui a pouco isso muda.

Porque comecei a entrar, bem ou mal, naquela fase de "ãhn... será?".

Estou sentindo-me um adolescente, novamente.

Você deve estar rindo mas eu não acho graça.

Tá bom, só um pouco.

Saudações.

B. Johansson
"

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