sexta-feira, 12 de março de 2010

Histórias do Billi J. - o ontem explica muito do hoje


Essa é do tempo do kinder ovo a 25 centavos, de Cavaleiros do Zodíaco sendo novidade na TV, da Nigéria ganhando do Brasil nas olimpíadas, do começo do fim das patentes, enfim, por aí, uns anos mais ou menos à partir dessa época incerta.

O Billi J. nem era impopular. Pelo menos não tanto quando acabou sendo alguns anos mais tarde. Mesmo que por necessidade, seus colegas o chamavam para brincar. E ele ia. Chamavam-no na fila da merenda. Ele também ia. Chamavam-no de quatro olhos. E ele... bom, sei lá, nunca descobri se ele chorava ou ria, mas é provável que, como criança insegura, ele chorasse. Talvez não na frente dos colegas, mas chorava. Ou não.

Como quase toda turma, aquela do Billi J. decidiu viajar. Era um lugar mais desconhecido que o esconderijo do Bin Laden oua verdade no Lost. Porém era um lugar com boas recomendações, não importando aqui quem as deu. 

Coisa de criança, perturbação dos pais e a viagem foi organizada, agendada, cobrada e paga em um período de incríveis seis horas. Um recorde para uma escola pública(e talvez até para as particulares). Na madrugada seguinte saíram. Assim, do nada. Na primeira vez, sem o Billi J., que estava limpando os óculos que suas colegas haviam sujado de batom - o que explica a futilidade futura das mesmas.

Durante a viagem, sujaram o rosto do Billi J. com batom e pasta de dente. Nada estranho se não fosse dez e vinte e dois da manhã e se o Billi J. não tivesse sido segurado, inclusive por um professor, já que estava acordado naquele momento. Depois do proposital banho de refrigerante que tomou, o ônibus parou para que o Billi J. pudesse limpar-se. Então, para lhe dar um susto, o ônibus saiu antes que ele voltasse do banheiro.

Com o Billi J. novamente no ônibus, o destino final da viagem foi alcançado. Pararam em frente à entrada do local e todos desceram. Quase todos. O Billi J. só foi descer no estacionamento junto com o motorista, que não parava de rir da sua cara, já  que ele teria de subir um grande aclive até chegar onde seus colegas estavam. Para piorar, seus colegas cortaram os cadarços de seus tênis. Ainda assim o Billi J. sentia que algo bom iria acontecer naquele dia.

Discreto e simples, o Billi J. chegou ao local onde todos estavam e logo entrou na brincadeira. Brincou um pouco e correu outro tanto mas desistiu ao perceber que, não importava o que fizesse ou quem tocasse, era sempre ele o bobo no meio do círculo ou o que corria atrás dos outros no pega-pega. Então afastou-se, abriu sua mochila e foi ler.

Billi J. trouxera toda sua coleção de livros do Bichinho-da-maçã. Lendo, começou a pensar que de certa forma era parecido com aquele bichinho. Por ser feio, estranho, por viver longe dos outros, por ser diferente. Análise de gente grande feita por um menino de... poucos anos - isso explica sua complexidade futura -. Em um ataque fulminante de sua bexiga, deixou tudo para trás e foi ao banheiro, literalmente correndo.

Ao voltar, é óbvio que suas coisas não estavam no mesmo lugar.

Começou aí uma busca incessante pelas suas coisas. Parte de sua vida estava junto com aquela mochila. Além dos livros, seu óculos, o sanduíche de atum com pepino e chocolate em pó que sua mãe preparara, enfim, coisas importantes. Incluindo a mochila, que o Billi J. ganhara de seu avô, quando esse anunciou que separaria-se de sua mulher - ou seja, da avó do Billi J. - para viver com uma stripper em Santiago, no Chile. O Billi J. morreria quando sua mãe descobrisse que ele perdera a mochila e tudo que havia nela.

Enquanto seus colegas aproveitavam o lugar, o Billi J. procurava suas coisas, sem sucesso algum. Pediu para os colegas, para os professores, mas ninguém o ajudou. Ninguém sequer riu da desgraça do Billi J., pelo menos não na frente dele. E o Billi J. ainda perguntava-se quem poderia ter feito tamanho crime? Inocente, não acusou seus colegas, mas é tão óbvio que eles estavam por trás dessa sacanagem que eu nem precisaria ter escrito.

Sozinho e sem saber o que fazer, apelou. Pegou um megafone emprestado e gritou, até que um gari, lá no fundo, levantou a mão e o chamou para perto. O gari lhe devolveu suas coisas e disse que alguns meninos lhe haviam entregue aquilo para que ele jogasse no lixo. Disse também que só não fizera aquilo pois uma linda menina o abordou após a conversa com os meninos e pediu para ele não jogar nada fora pois o dono das coisas viria atrás delas, sendo elas importantes para ele, no caso, eram mesmo. Sem saber dizer o nome ou mesmo mostrar quem era a menina - o gari era quase cego - o gari agradeceu a atenção do menino e, ao virar-se, bateu a cara em um galho de árvore, encerrando ali o seu expediente naquele dia.

Aliviado e contente por ter achado suas coisas, o Billi J. conseguiu livrar-se da raiva que sentia dos seus colegas idiotas e só pensava em quem poderia ser aquela menina que, mesmo sem ele pedir, lhe fez um grande favor naquele complicado dia, entretanto com um final feliz. Ou nem tanto, já que a imaginação do Billi J. não tinha limites e o alvo era descobrir quem era ela.

Mal sabia ele que quando olhasse nos olhos daquela menina, alguns dias depois, descobriria o sentimento que mudaria a sua vida.

4 comentários:

Rebeca Postigo disse...

As histórias do Billi J. sempre me rendem boas risadas...
Mas também me leva a um passado obscuro...

Bjs

Camila disse...

Confesso que achei horrível, fiquei traumatizada por ele, que dó...ahuahuah

Taw disse...

eita, véio!!!

Que saudade daqui! hehehe

Cara, que maldade dos colegas!!! Isso não se faz!!!

ahuahauahauhaua


:P

Anônimo disse...

eu aço eu gosto muito de mais