sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Histórias do Billi J. - Uma história por cinco letras


O Billi J., quando com 5, 6 ou 7 anos, queria aprender a ler muito mais do que alguém quer aprender alguma coisa em qualquer fase da vida. Ele era sedento pela leitura, tanto que olhava fotos e balbuciava as frases das imagens dos livros que ganhava de sua mãe. Sabia o alfabeto inteiro de trás para frente, letra por letra, mas não conseguia juntá-las de maneira ordenada. Isso o intrigava, o motivava a querer aprender a ler, a juntar aquele alfabeto de maneira ordenada. Ele queria ser gente, poder ler, recitar, falar, aprender cada vez mais enquanto os outros meninos só se preocupavam com brinquedos e brincadeiras de criança. Sim, vocês sabem que o Billi J. não era um exemplo de criança com muitos amigos, uma vez que era excluído por seus colegas riquinhos e cheios de pré-conceitos caseiros contra meninos que usam óculos, andam sem roupinha de menino rico e afins.

O Billi J. procurava memorizar sequências de letras em todos os lugares. Placas, panfletos, jornais, revistas e televisão. A cada nova sequência de letras, chegava na aula, escrevia, ou tentava escrever, no quadro e pedia para a professora qual palavra era aquela. Encantou-se quando descobriu que maçã e melancia eram escritas dessa maneira, pois pensava serem palavras muito mais complicadas. Imaginem o prazer que ele teve quando conseguiu escrever anticonstitucionalissimamente pela primeira vez. Bom, deixa para lá, isso não vem ao caso agora. Porque ele ainda não havia aprendido a ler e aquele era seu maior sonho, no auge dos seus 5, 6 ou 7 anos, nem bem completos ou vividos.

A sua professora tinha paciência e gostava da sua curiosidade. O Billi J. ia atrás e a cada dia trazia uma nova sequência de letras para que sua professora o ensinasse a ler. Palavra por palavra. Muitas vezes repetia a palavra, ou melhor, a sequência de letras, mas não se importava quando percebia isso, pois o importante era estar em busca do aprendizado que a maioria não queria nem saber. E pensar que isso não vale apenas para as crianças pequenas, infelizmente.

O Billi J. decidiu que acertaria uma vez a palavra. Então ficou ouvindo na televisão o sorteio daquelas cartelas de... números. E quando apareceu o número e embaixo o seu nome, o Billi J. decidiu que ali conseguiria acertar, escrita e leitura da palavra. Cinco letras, sendo três consoantes e duas vogais. Decorou a sequência e a leitura. A leitura e a sequência escrita. E ficou assim das 3 horas da tarde de uma terça-feira até às 7 e 30 da manhã da quarta-feira subsequente. Pensava e dizia alto, letra, ordem, leitura da palavra. Sim, conseguiria mostrar para sua professora que valia investir nele, nessa sua sede por conhecimento e aprendizado.

Chegando na aula, na quarta-feira, sedento por mostrar que havia aprendido a escrever, e ler, uma palavra. Chamou a professora e escreveu no quadro, as três consoantes e as duas vogais, nas suas ordens corretas. Leu. E sorriu. Olhando para a professora, a decepção(mais uma...).

-Billi, é vinte, e não vinti.

Sério, o Billi J. quase chorou quando ouviu aquilo. O que fizera de errado? Não entendia.

- Billi, não fique triste. Você deve ter ouvido a pessoa dizer vinti, com i, mas se escreve vinte, com e, tá bom? Nem tudo o que se fala é como se escreve. Tà, mas que bom que você continua procurando aprender.

Aquele consolo ajudou muito aquela criança de 5, 6 ou 7 anos. Ele sorriu, engoliu o choro e voltou para sua mesa, não sem antes ser chacoteado, como de costume, pelos colegas que não sabiam diferenciar um r de um m.

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