sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O vazio de viver e só(14)


Quem olha para fora da janela com cara de bobo sempre quer tentar encontrar alguma coisa, nem que seja um sonho, que, ao menos momentaneamente, não pode ter. Quem olha para dentro da janela busca alguma coisa que quer ver, nem que seja pela, tantas vezes boba, curiosidade. Quem é uma janela, sem vidro ou trinco, é uma janela, não pensa, não sente, sequer percebe que alguém olha através de si. Quem é uma janela não é uma janela. As janelas são, apenas. Assim como as portas e os tijolos. Cada um com seu estilo, sua função, enfim. Tudo pré-conceituado por seres que deveriam ser muito mais do que executores de funções pré-definidas, pré-conceituadas, pré-entendidas. Seres bobos, paranoicos pelo banal, teimosos contra muitas verdades, acomodados por um tempo que passa muito mais rápido por ver que não vale à pena ficar esperando por eles. Sábio seria o tempo se fosse algo além de cronograma, história e conteúdo de física. Seria tão sábio quanto o mais sábio dos burros que tentam entender o tempo que passou, como se isso fosse fazer diferença no tempo que está passando e que passará, a curto, médio e longo prazo. Pensam no sempre, no nunca, no passado e no futuro. Pensam no que vão fazer no trabalho, sobre quem vão falar mal, contra quem vão agir, quem precisarão destruir ou atrapalha para conseguirem inflar seus egos cada vez mais gordos de tanta sujeira. Pensam em tudo menos no que vão deixar para seus filhos, para os filhos de seus filhos e dos outros. Acham que entendem sobre o tempo, a natureza, sobre política, Deus, o ser humano como parte do universo e horóscopos. O centro do mundo, de uma criação que é, e por muito tempo será, o centro da existência de alguma racionalidade livre-arbitrária. Escolham o que quiserem, disse o Superior. Agora estou aqui, lamentando por tantos que não sabem escolher, banais, egocêntricos, assassinos, pervertidos e, credo, donos do tempo, do seu tempo e do tempo de quem se faz necessário nos seus egos, pelos seus egos, para seus egos. Tudo bem. Afinal de contas, um dia vocês passarão. Embora eu tenha muito medo do que as gerações futuras às suas, seres inteligentes, poderão fazer com essa coisa toda chamada vida. Do viver à natureza, do pensar ao tempo, da laranja ao blog, da música ao esgoto. Sem sair de casa, sem trocar a estação de rádio e sem entender, no fim da vida, do viver e da música, quem é o tempo, o que é verdade, tampouco o que se quer quando se olha para fora da janela com cara de bobo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vini, que lindo o texto..


bejitoo