domingo, 26 de dezembro de 2010

Histórias do Bandiolo - Um sapo não chega às estrelas


Passos dados são passos dados. Voltar atrás é físico, espacial, jamais temporal. Enquanto caminhava lembrava de todo o tempo que perdia por estar pura e simplesmente caminhando ali, naquele lugar. Ruas fétidas, sujas, sapos e rãs caminhavam por elas e por pouco não eram esmagados pela raiva dos passos que meus pés pisavam.

Eu não queria ter estado lá. Meus passos raivosos, meus pés inquietos, minha boca silenciosa e meu olhar, que ia muito além das placas sujas, das pessoas mesquinhas e das lojas com decorações de um gordo com um saco nas costas, provavam isso. Era raiva, era nervosismo por estar onde estava, sem fazer diferença o tempo, o dia ou o dado momento presente.

Malditos foram meus passos, maldita foi essa história que não quis escrever. Meus passos pisaram, isso é história, chega. Lembrarei pela última vez agora que olhei para o céu e dei nome a duas estrelas. Imaginei se algum dia um astronauta ou qualquer coisa criada pela humanidade chegaria lá. Duas, nenhuma, todas, tanto faz. Estrelas distantes, como eu daquele lugar sujo, daqueles sapos que eram tão estúpidos que nem barulho faziam. As folhas secas quebravam em silêncio, a música não tocava, apenas ruídos foram ouvidos por mim, ao longe. Ouvidos que não ouviam e olhos que não viam nada que pudesse fazer essa raiva cessar.

Longe, sempre longe. Longe, demais, de tudo, em um parafraseamento de Frejat e seu Barão Vermelho, semelhante ao da Corrida maluca. Idiota, longe da ideia de um texto que não deveria existir, assim como a história escrita pelos meus passos curtos, pesados, cheios de raiva. Raiva por não querer estar, por não conseguir distinguir qual estrela, qual pensamento, qual era o motivo, para qual seriam cada um dos motivos. Indefinido, com raiva.

Da distância.

Como sempre, estava longe, dessa vez ainda mais, de onde queria estar.

Um comentário:

Rebeca Postigo disse...

Gostei!!!
Como sempre...
Me fez pensar um pouquinho...

Bjs